Os grandes congressos vão voltar

28-04-2021

Esta é uma das grandes conclusões da primeira ICCA Iberian Chapter Talk.

O Capítulo Ibérico da ICCA organizou no passado dia 19 de abril uma “talk” para debater o futuro dos eventos associativos. A principal conclusão é a de que os grandes congressos vão regressar. Assim o indica o padrão de marcações para os próximos anos no CCIB - Centre de Convencions Internacional de Barcelona. Carolina Garcia Sierra diz que o nível de confirmações para o longo prazo é o mesmo dos anos anteriores. O mesmo não se passa no curto e médio prazo, porque depende das restrições. O digital vai ser um add-on aos eventos, acredita a responsável, que diz que “mesmo ao falar com os clientes corporativos eles estão dispostos a recomeçar com o presencial”.

Andre Vietor, da BCO Congresos, empresa que trabalha com grandes associações médicas europeias, refere que a grande maioria delas tem optado, e vai optar, pelo virtual em 2021. “A grande interrogação é o que vai acontecer em 2022 e depois disso”, reconhece. O responsável está em contacto com as associações e revela que elas próprias não sabem como vai ser, especialmente em 2022. Segundo Andre Vietor, há um grande cansaço do ecrã e por isso há grande vontade de realizar eventos presenciais. E acredita que o número de pessoas a assistirem o evento onsite vai regressar, a longo prazo, a níveis pré-pandemia, e com mais delegados online do que nunca.

Vasco Noronha, da Factor Chave, é da mesma opinião, os grandes congressos vão ter as mesmas pessoas, e talvez ainda mais, a longo prazo. Acredita também que os pequenos eventos, especializados, vão aumentar. Joaquim Pires, do Turismo de Portugal, lembra que o conhecimento tem sido muito partilhado online, e muito mais do que em anos anteriores, e este avanço permite que no futuro os eventos tenham mais audiência. O mercado interno deve ser o primeiro a arrancar, diz o responsável, com eventos mais pequenos e com menor duração, e isso vai permitir aumentar a confiança de fornecedores.

Begoña Ruiz, da Kuoni Congress, fez uma reflexão daquilo que funcionou no último ano. O online foi uma forma de associações conseguirem sobreviver e partilhar conhecimento. O número de inscritos nos congressos subiu, embora a assistência real tenha diminuído, por força de todas as distrações que acontecem no ambiente online. Mas “foi super difícil mudar a percepção de que o conteúdo online deve ser gratuito e convencer os delegados a pagar por eventos digitais”, revela a responsável da Kuoni. Também não está resolvido o problema dos fusos horários nos programas dos eventos, bem como a fadiga que estes acarretam. O networking é também ainda um problema, sobretudo para os patrocinadores. “Ainda há uma diferença em comparação com os eventos presenciais”, refere. Vasco Noronha diz que vão continuar a existir eventos digitais nas sociedades médicas, por exemplo no que diz respeito à formação. Vietor concorda, e reforça que para a partilha de conhecimentos ou discussões mais urgentes, o virtual vai continuar a acontecer, porque é rápido de implementar. O virtual pode também ser usado na preparação ou antecipação dos congressos presenciais, e depois de eles acontecerem, como forma de expansão do mesmo.

David Noack, do CVB Madrid, também acredita que os formatos digitais vão manter-se até para se poder chegar a um maior número de pessoas. Vamos ter dois tipos de audiência, segundo Noack: a presencial, que vai viajar ao congresso, e a que se junta de forma digital. Rui Vieira, Turismo da Madeira, destaca a grande importância do presencial para ativar outros segmentos do turismo também. Manuel Macias, CVB Sevilha, recorda um evento realizado na cidade em dezembro de 2020, com mais de 1200, e que não houve uma única infeção relacionado com o mesmo. Os profissionais relacionados com os congressos estão preparados e habituados a seguir todas as guidelines de segurança, refere.

Eventos multi-hub, será um formato de futuro? Para Carolina Garcia Sierra esta é uma resposta à situação atual, até porque, no seu entender, estes eventos não são muito económicos para o organizador. Portanto é mais uma transição do que algo que fique para sempre, segundo a responsável do CCIB - Centre de Convencions Internacional de Barcelona.

E o que vai mudar nos congressos?

Algo que vai mudar nos venues, por exemplo, é a importância da conectividade, relembra José Carlos Coutinho, da Altice Forum Braga, e os espaços para eventos têm que garantir grande capacidade de comunicação, e que esta aconteça de forma segura. Andre Vietor, da BCO Congresos, não tem dúvidas que com a vertente híbrida a impor-se, os congressos vão tornar-se cada vez mais complexos para quem organiza, e os PCO vão ter de adquirir mais conhecimentos tecnológicos. Begoña Ruiz, da Kuoni Congress, diz que o foco vai ter que estar também na segurança, na preparação para o inesperado, na reação às crises, algo secundado por Vasco Noronha, da Factor Chave, que acredita que os planos de contingência vão ser cada vez mais importantes no futuro. Manuel Macias, do CVB Sevilha, prevê que a sustentabilidade entre na ordem do dia. Também o interesse em criar legado e um impacto positivo nos destinos pode ser também uma tendência de futuro a longo prazo, refere David Noack, do CVB Madrid.

A nota dominante da primeira talk digital do Capítulo Ibérico da ICCA foi de grande otimismo. Há desafios pela frente, alguns bastante complexos, mas o setor quer continuar a ser relevante, como até aqui.

 

Cláudia Coutinho de Sousa