Resistência, oportunidades e esperança no futuro
28-04-2021
Participantes: Curador ‑ Pedro Rodrigues (Desafio Global e Go Live Digital Events); Bernardo Corrêa de Barros (Turismo de Cascais); Gonçalo Oliveira (Desafio Global); Jorge Vinha da Silva (Altice Arena); e Pedro Magalhães (Europalco).
A indústria dos eventos está a passar por um período difícil, mas há esperança no futuro. O presente traz novos desafios aos gestores de eventos e aos fornecedores, mas também traz novas oportunidades, sentido de união e espírito de resistência.
O início do ano 2020 prometia ser um dos melhores de sempre da indústria, mas em março todas as expectativas se desvaneceram nos tentáculos de uma pandemia mundial. O impacto foi brutal. “Todos nós tivemos de fazer um exercício de adaptação. Ainda nos estamos a adaptar”, disse José Vinha da Silva. “O último ano foi um ano estrondoso e todos nos soubemos adaptar e reinventar, dentro de todas as condicionantes”, complementou Gonçalo Oliveira, lembrando que a tecnologia pode ser “uma oportunidade de futuro para as empresas”.
Bernardo Corrêa de Barros acredita que “Portugal vai ter muito a ganhar com o que aí vem”, já que a procura é grande por países com menor pressão turística e que passam uma mensagem de sustentabilidade, tal como é grande a vontade de consumir, de participar em eventos e de viajar...“E aí temos muitas oportunidades.” Mas há, por outro lado, preocupações a ter em conta, como a desvalorização do trabalho, lembrou Pedro Magalhães. “Se desinvestirmos nos eventos, não vamos ter fornecedores capazes, com qualidade, com tecnologia disponível, e não vamos ser capazes de conseguir responder aos eventos internacionais.”
Esta indústria já não é invisível e já todos têm noção da sua importância. “Mostramos que somos um setor, que estamos fortes e que estamos unidos”, adiantou Pedro Magalhães. E Bernardo Corrêa de Barros sustentou a necessidade de a indústria estar unida e de trabalhar em conjunto, pois “só juntos é que vamos mesmo ultrapassar esta crise”.
A tecnologia veio para ficar e todos reconhecem a importância dos eventos híbridos. Pedro Magalhães acredita neste tipo de eventos e considera que “é possível fazer eventos espetaculares”. Contudo, ressalvou que um evento híbrido não é um evento com uma câmara a transmitir, mas um evento com uma produção para os participantes presenciais e outra realização para quem está em casa. “As experiências são distintas.” E, por isso, o serviço “tem de ser sempre mais caro”.
A pandemia introduziu novos desafios aos gestores de eventos. Gonçalo Oliveira defendeu que, enquanto “maestros de orquestra”, os gestores de eventos precisam de aprender a trabalhar com os novos “instrumentos”, as novas ferramentas que a pandemia trouxe. Esta opinião não foi consensual, pois, para Pedro Magalhães, um gestor de eventos “não tem de ter o conhecimento técnico” em absoluto. Em vez disso, numa analogia com o futebol, ele tem de ser “um treinador que consegue reunir uma equipa e fazer um evento de sucesso”.
"Vamos sair mais resistentes"
A sustentabilidade é outro tema incontornável. “Vejo aqui uma grande oportunidade, mas vejo também uma responsabilidade tremenda da nossa indústria”, considerou Jorge Vinha da Silva, para quem faz sentido uma estratégia conjunta de todos os players. Mas estarão os clientes dispostos a pagar mais por eventos sustentáveis? “A indústria tem de se adaptar e há aqui um caminho longo a percorrer.”
E no final de tudo isto, vamos ser melhores pessoas e profissionais? Em resposta à questão de Pedro Rodrigues, Bernardo Corrêa de Barros afirmou que “fará de nós melhores pessoas, naturalmente, porque pudemos compreender uma série de coisas”, ter novas perspetivas e, no campo profissional, “ganhamos novas competências”. Gonçalo Oliveira referiu que “o que aprendemos neste último ano foi importantíssimo” para os anos que se avizinham: “Como profissionais, acho que vamos ser melhores, pelo menos, a interpretar o evento de uma forma diferente e a agir de forma diferente. Tenho a certeza absoluta que o próximo evento físico vai ser totalmente diferente do que era feito há uns tempos.” Por seu lado, Jorge Vinha da Silva acrescentou: “Não sei se vamos sair melhores, eu gosto de acreditar que sim, mas de certeza que vamos sair mais resistentes.”
A mensagem final foi de esperança. Gonçalo Oliveira está “muito entusiasmado” com o futuro. “Acho que vão ser criadas muitas oportunidades para as agências de eventos, para os gestores de eventos, para esta nova comunidade event tech.” Também Jorge Vinha da Silva acredita que “todas estas novas valências que todos nós tivemos de abraçar, a prazo, vão‑nos dar mais opções enquanto indústria e acho que o número absoluto de eventos vai ainda crescer, o que vinha sendo a tendência na última década”.
Bernardo Corrêa de Barros sublinhou a necessidade de garantir primeiro a sobrevivência e de fazer um trabalho conjunto. Defendeu que ninguém deve ter medo de falhar, pois “estamos na altura de falhar e de cometer erros, e de aprender com os erros para sermos melhores do que os outros lá fora”.