< Previousárea de comunicação que mais a seduzia. “Nessa área comecei pelo vitrinismo e, depois, fui‑me profissionalizando. Antes, a área académica dos eventos era um percurso com muitas curvas: para ter formação académica em eventos tive que licenciar‑me em Marketing e Comunicação, depois fiz um Mestrado em Design de Comunicação para conseguir fazer tese em Design de Eventos. Hoje é tudo muito mais a direito, felizmente!”, conta à Event Point. Este investimento na formação permite que hoje Márcia Ferreira conjugue o trabalho na Mainvision com o de professora na Escola de Comércio de Lisboa, lecionando as disciplinas de Produção Técnica de Eventos e a de Marketing e Comunicação. No setor dos eventos propriamente dito começou como organizadora de eventos na Connect. A experiência levou‑a a perceber que era na parte técnica que se sentia como peixe na água. “A área de produção técnica era a que mais me fascinava, talvez por ser a que considero que concorre para um maior impacto num evento, aquela que tem ligação direta com o efeito ‘uau’ que um evento pode e deve ter. O facto de conhecer as dores dos organizadores, porque as senti todas, ainda hoje nos é facilitador”, sublinha. Na atividade o que mais gosta é do rigor e da possibilidade de poder acrescentar valor a um evento. Mas nem tudo são rosas, e há sempre o lado menos positivo. Perguntamos qual era. “Os pedidos de orçamentos cujo objetivo é um evento em grande mas com um budget em pequeno”. WWW.EVENTPOINT.PT 70 VIDA DE EVENTOS Saudades dos eventos presenciais A lista de eventos presenciais marcantes é vasta, e as saudades de os fazer enorme, mas se tivesse de salientar um, Márcia Ferreira aponta o primeiro evento digital feito no estúdio da Mainvision. “Não só pelo evento em si, que foi espetacular, mas também pelo que aquele evento representava: a audácia de em tão pouco tempo nos termos conseguimos transformar, reinventar, superar e apresentar ao mercado um conceito com a qualidade com que conseguimos. Foi marcante porque estávamos na altura a viver um período naturalmente instável e inseguro onde arriscar e investir não era propriamente uma decisão líquida, mas para nós não havia outra opção: era ir ou ir, porque sabíamos que a atitude de não reagir e desistir podia durar para sempre”, refere, resumindo: “aquele primeiro evento digital teve sabor a superação”. Na Mainvision é considerada “a cliente mais exigente”, mas mesmo o rigor que sempre impõe naquilo que faz, não a isenta de ter alguns episódios em que os imprevistos aconteceram. “Há 12 anos a fazer eventos, já tivemos algumas situações difíceis, mas que no limite se resolveram graças à equipa que temos. Diria que há duas formas de minimizar problemas: ter uma equipa top, porque são as pessoas que fazem as empresas, e apostar no planeamento porque acho que a nossa área é onde a lei de Murphy mais se aplica”, avisa. E um momento mais hilariante? “Ainda enquanto organizadora estava em contacto com o José Cid para articular uma participação sua num evento corporativo. O meu cliente insistia para negociar o valor a pagar‑lhe e o José Cid a dada altura disse‑me: ‑ Márcia, eu vou pedir‑te um favor, vou pedir que digas ao teu cliente que eu vou fazer anos em breve, e que adorava que a Madonna viesse cantar na minha festa. Mas eu não tenho dinheiro para lhe pagar. Por isso ela não vem. Não é propriamente hilariante, mas foi uma aprendizagem descontraída que me ficou para a vida, e que tantas vezes me lembro dela, pela quantidade de vezes que acontece, sobretudo na nossa área”, termina.MIGUEL RIBEIRO “Criar momentos únicos e diferenciadores” O percurso de Miguel Ribeiro até à constituição de empresa própria, Miguel Ribeiro Eventos, é bastante rico. “Comecei como bailarino profissional no início dos anos 90 na área televisiva e em eventos corporativos e, mais tarde, como coreógrafo e produtor. Presenciei a evolução da indústria onde pude acompanhar o que de melhor e pior se fez, vi impérios nascerem e outros desaparecerem, espaços outrora básicos, hoje cruciais, simples funcionários, hoje figuras de relevo nos eventos, basicamente todo um ecossistema reformulado, transformado e modernizado”, conta. No início dos anos 2000 decidiu seguir o seu próprio caminho, criando com os sócios uma empresa de entretenimento direcionada para agências, marcas e privados. “Desde então fui acumulando os papéis de diretor WWW.EVENTPOINT.PT 72 VIDA DE EVENTOS artístico, outras vezes de conselheiro e criativo para agências de eventos, comunicação e DMC, outras de produtor de eventos 360, outras de coreógrafo, outras de agente, outras de criação artística de conteúdos audiovisuais”. O que mais motiva Miguel Ribeiro neste exigente mundo dos eventos é ver a satisfação do cliente pelo trabalho feito. “Definitivamente a satisfação de um cliente, o gosto pela constante procura de conhecimento nesta área, a satisfação e alegria em contratar serviços e poder pagar o que eles valem e merecem, o contacto com possíveis futuros clientes e sentir que posso criar uma mais valia, a vontade de ser mais e melhor”. De todo o trabalho em que está envolvido, o que mais gosta é “de criar momentos únicos e diferenciadores, das energias de equipa, dos momentos de bom humor com clientes e fornecedores, de pôr em prática o que me surgiu na cabeça, de ver um cliente arriscar, de pagar aos fornecedores a horas, de conquistar clientes pelo trabalho que desenvolvi, de sentir que o alinhamento do evento foi cumprido sem percalço e, por fim, do glamour”, elenca. Mas há sempre espinhos em qualquer atividade. O que menos gosta na área é da “falta de budget para o que inicialmente idealizava, da falta de uma entidade que nos represente, de ver o que se faz lá fora e não acontecer em Portugal, de nem sempre estar presente no evento que adoraria estar, dos meses de espera para poder receber e do pagamento do IVA quando ainda não recebemos do cliente”. Um evento arrebatador Pelo simbolismo, o evento que elege como o mais marcante na carreira foi a cerimónia da final do Campeonato da Europa de Futebol, em 2004, no Estádio da Luz. Miguel Ribeiro explica o porquê da escolha: “Tínhamos 200 bailarinos com uma equipa gigantesca associada, todo o relvado tinha que ser coberto numa questão de segundos por uma lona com a imagem da calçada à portuguesa, invadimos o campo onde estava uma bola enorme insuflável com uma caravela lá dentro, onde demos mote para a entrada da Nelly Furtado (“Como uma força”). Tudo isto cinco minutos antes do jogo mais importante de sempre de Portugal começar”. As emoções ficaram ao rubro. “Os gritos, a euforia, a responsabilidade, a emoção e o orgulho em Portugal foi simplesmente arrebatador”, partilha. Mas há muitos outros momentos e histórias fantásticas que ficaram na memória. Num evento da Desafio Global, para uma marca de telemóveis, “estavam reunidos os representantes asiáticos da marca num jantar e eu propus algo muito simples, mas deveras arriscado para o cliente. Uma intervenção musical com um cantor, um pianista com piano de meia cauda e um beatboxer (percussionista vocal). Como amante do beatbox convidei o vencedor do Portugal Got Talent para acompanhar a dupla e criar, ao vivo, efeitos sonoros ao som de músicas de blues e jazz. A forma como me foi dada total confiança com a simples frase ‘se tu acreditas avança’, sem saberem se iria resultar, foi para mim um exemplo do que me faz acreditar todos os dias e que posso fazer a diferença”. O resultado ficou acima das expectativas. “O espetáculo correu tão bem que, após o mini concerto, a pedido da marca, o beatboxer acabou por fazer uma intervenção de 20 minutos, a solo, onde inclusive estiveram presentes em palco algumas figuras de relevo numa interação de música, humor e boa disposição”. “Cada macaco no seu galho” Desafiamos Miguel Ribeiro a escolher um momento hilariante que se tenha passado num evento e a história não desilude. “Estava a Manuela Moura Guedes (MMG) e eu a dois minutos de entrar em direto para a abertura dos Globos de Ouro, no Coliseu dos Recreios, após três semanas de árduos ensaios com as maiores figuras do canal. Éramos responsáveis pela conceção da abertura, artistas e guarda‑roupa. As cortinas por abrir, às escuras, a sala cheia e o assistente de realização a dar a contagem decrescente e vira‑se a MMG agarrando a minha mão com muita força e diz‑me: ‑ Estou a tremer e não vou ser capaz de entrar, não sei como consegues Miguel! ‑ A MMG já fez centenas de diretos com as WWW.EVENTPOINT.PT 74 VIDA DE EVENTOS maiores figuras do Estado Português e do estrangeiro com assuntos controversos e delicados, e não se sente capaz de fazer uma simples performance? ‑ Não, daria tudo para trocar, comparado a isto o meu trabalho é fácil. ‑ Já no meu caso eu era incapaz de fazer o que faz, entretanto estamos a 30 segundos da cortina abrir e eu estou preocupado se deixei o meu carro bem estacionado junto ao Coliseu. Foi a risada total e uma conclusão mútua de que cada profissional tem o seu dom e mérito, como quem diz ‘cada macaco no seu galho’”. No final tudo correu bem, seguramente, mas há alturas em que o desastre está à espera de acontecer. Miguel Ribeiro lembra um episódio em que tudo podia ter corrido mal. Foi num evento para uma farmacêutica, na Cordoaria Nacional. A função da equipa, de cerca de 30 pessoas, era fazer o entretenimento durante a refeição. “Todo o processo de produção foi feito com antecedência e baseado na data que nos foi enviada por email no pedido inicial. Semanas de emails e telefonemas decorreram sem nunca mais voltarmos a falar na data. Numa linda noite, liga‑nos o nosso cliente a perguntar a que horas ao certo chegaríamos amanhã ao espaço”. O pânico instalou‑se porque tudo estava previsto para um dia depois. “Incrivelmente, conseguimos durante a noite, até às 5 horas da manhã, falar com toda a equipa e, por milagre, todos, mas todos, estavam disponíveis para fazer o evento dentro de algumas horas. O evento foi um sucesso e o cliente acabou por reconhecer, após consulta dos emails, que não nos informou da mudança da data, por lapso”. Tudo fica bem quando acaba bem. Cláudia Coutinho de Sousa“QUANDO NOS ENCONTRAMOS, MUDAMOS O MUNDO!” WWW.EVENTPOINT.PT 76 OPINIÃO UMA LISTA CURTA DE COISAS A FAZER PARA A INDÚSTRIA SOBREVIVER DEPOIS DA COVID A lista é curta. É ridiculamente curta. Contém apenas um item: fazer tão bom trabalho no online como fazíamos onsite. pessoas, jantares fantásticos, um venue óptimo e um destino interessante. Os participantes iam para casa, de uma forma geral, mais conhecedores, mais bem conectados e felizes. E aí aparece a Covid‑19. E aparece o online. E agora? A resposta é: Webinars! Já não é necessário cumprir aqueles requisitos. Apenas UM. E mesmo esse sofre. Dez oradores num programa de O onsite vai voltar, mas este conjunto de novas skills ganhas no online não se podem perder quando isso acontecer. Fizemos grandes eventos e conferências onsite. Cumprimos estes três requisitos. Um: providenciamos o melhor conhecimento possível. Não perfeito, mas com bons temas, oradores especializados e um bom programa para escolher durante os dois ou três dias de evento onsite. Dois: oferecemos oportunidades de networking. Os coffee‑breaks e os almoços são o exemplo mais básico, e o melhor as sessões organizadas de networking. Três: demos energia às duas horas? Um novo orador a cada dez minutos? Uau, parece tudo tão dinâmico! Mas juntar muitos oradores num evento de duas horas NÃO melhora a aprendizagem. Mais conteúdo significa MENOS aprendizagem, mas está bem… em maio ou junho isto podia ser ainda aceitável. Não sabíamos fazer melhor. E o DOIS, networking? Conhecer outras pessoas? Falar com velhos amigos? Foi‑se! Zero oportunidades para falar, ver e reunir com outros participantes. Isso é tão triste que a Mariza podia cantar um grande fado sobre isso. E TRÊS: divertirmo‑nos? É possível, se tiver um orador palhaço. Energizar? É mais adormecer: temos uma expressão para isso – webinar fatigue (fadiga). (Assisti a um webinar, num destes dias, em que o orador falou sobre a fadiga provocada pelos webinars. Que sarcástico.) E divertirmo‑nos com amigos, visitar um sítio bonito, partilhar uma refeição? Desapareceu tudo! Não tem que ser assim! Espero que os líderes desta indústria, as grandes empresas, marcas e mesmo influenciadores aprendam rapidamente a fazer reuniões online em vez de webinars. Mas ainda não é o caso. Parecemos contentes, e mesmo complacentes, com a solução fácil e barata: webinars. Mas que grande contraste com o trabalho onsite que fazíamos. Nunca optando pelo mais barato, fácil, aborrecido. Fizemos grandes coisas, sessões inovadoras, atividades criativas, produções espetaculares. Tudo bem planeado e – mais importante – cumprindo os três requisitos (aprendizagem, networking, motivação). O onsite vai regressar, mas o online vai permanecer mais presente do que nunca. Pelo que a lista de coisas a fazer é realmente curta. Uma coisa: parem de fazer webinars e comecem a fazer grandes reuniões online. Grandes reuniões online são reuniões que… são reuniões. São eventos onde as pessoas se encontram e interagem. O número um é essencial. O mais importante no Design de Reuniões Online são as conversas entre grupos pequenos. Dividir 300 pessoas em 50 grupos de seis WWW.EVENTPOINT.PT 78 OPINIÃO em breakout rooms é o caminho a seguir. Dê‑lhes 10 minutos e elas falam umas com as outras. Sem oradores durante um tempo. Vai ficar surpreendido com o resultado de algumas métricas chave para qualquer reunião: consistentemente acima dos 90% para interação, conhecer novas pessoas e mesmo aprender com outros participantes. Nós conseguimos! Nós conseguimos escrever um guião, conseguimos ajudar oradores. Quando fizermos isto, ajudamos a meetings industry a avançar, o nosso trabalho terá sentido de novo e, quando o onsite voltar, estaremos mais bem equipados para fazer o melhor possível em termos de híbrido. E isso é importante porque, “Quando nos encontramos, mudamos o mundo!” PS: Se está a pensar em convidar‑me para um webinar sobre este tópico, pense de novo. Mas alguma formação pode ajudá‑lo a descobrir como são exequíveis as reuniões online. E quando estiver pronto, fico feliz em poder contribuir. Módulo de formação: https://meeting‑design‑institute.events.idloom.com/comd2020 Maarten Vanneste Fundador do Meeting Design InstituteNext >