< PreviousDez perguntas a Jorge Trindade Se pudesse convidar qualquer pessoa para uns copos, quem convidava? O Nick Cave. Tem algum ídolo? Tenho vários, de áreas diferentes. O maior de todos é o Bob Dylan, que é incrível. Não é por acaso que é o único músico que ganhou o Nobel da Literatura. Há uma música do Dylan para cada situação da nossa vida. Instagram ou Tik Tok? Instagram. Uma música para trabalhar. The Times They Are a‑Changin’, do Bob Dylan Livro da cabeceira História do Al‑Andalus. Um calhamaço que ando a ler devagarinho. Que país lhe falta visitar e que quer mesmo ir? A Rússia. Há alguma receita que faça melhor do que a sua mulher [a apresetadora Filipa Gomes]? Não! Evento mais espetacular a que assistiu? Rock in Rio. Fiz parte dele em todas as edições. Se não trabalhasse nesta área, em que área se via a trabalhar? Estava aí fechado a pintar, a fazer umas telas. Um dia, se calhar, volto a tentar. Onde é que tem as melhores ideias? Normalmente entre os miúdos estarem a dormir, quando se consegue ver um episódio de uma série, ou um filme, há ali um momento em que entramos numa zona mental em que se dão flashes muitas vezes. É mágico. Não consigo explicar. WWW.EVENTPOINT.PT 70 GRANDE ENTREVISTA DE 2020 A 2021 DESAFIOS E TAREFAS Não podemos falar de expectativas para 2021 sem analisar, mesmo que simplificadamente, o ano de 2020. Chegamos ao fim do ano mais improvável da vida do turismo, e nem os melhores analistas conseguiram prever o que realmente se passou. Perante a situação, a APECATE reagiu na defesa do setor e dos seus associados. WWW.EVENTPOINT.PT 72 ESPAÇO APECATE ‑ Trabalhar com as diferentes instituições, organismos, ministérios e autarquias, que tutelam e interferem com o setor; ‑ Continuar a trabalhar com o Turismo de Portugal, no desenvolvimento de medidas que ajudem o setor a sobreviver; ‑ Trabalhar proximamente com a Secretaria de Estado do Turismo na defesa do setor, propondo medidas e soluções. Foram muitos os problemas, as guerras, as reuniões, as discussões e sessões de trabalho, mas sempre na lógica de cumprir os objetivos traçados. Algumas vitórias, empates e derrotas, mas sem perder o foco. Sabemos que, em tempos de crise, nem sempre o timing em que conseguimos obter soluções é o mais adequado, que algumas medidas são prometidas e não realizadas, outras já saem muito tarde, algumas das nossas propostas são recusadas, etc., mas tudo isso não nos demove de continuar a lutar pelo setor. De acordo com o balanço já partilhado, a ação da APECATE teve por base uma série de objetivos: ‑ Garantir a sobrevivências das empresas; ‑ Garantir a manutenção dos ativos das empresas, nomeadamente dos seus recursos humanos (os mais importantes) e da sua capacidade logística; ‑ Garantir a capacidade financeira e operacional das empresas; ‑ Trabalhar com todo o setor, associados e não associados; ‑ Reforçar a colaboração e a defesa no setor dentro da CTP, Confederação do Turismo de Portugal, elemento essencial de comunicação com o governo; ‑ Reforçar a comunicação com as outras associações do setor; ‑ Reforçar a comunicação com todas instituições da academia, reforçando parcerias e as ligações entre o setor empresarial e o setor da educação e investigação;Da nossa luta, para além das medidas de apoio como o reforço de tesouraria, lay‑off, etc., que foram extensíveis a todo o setor do turismo (onde atuamos principalmente através da CTP), podemos destacar como ações mais específicas: o Grupo Interministerial para a Animação Turística, a lei da abertura das praias, o Despacho n.º 7900‑A/2020, que permitiu o esclarecimento e funcionamento dos eventos, em agosto, o Selo Clean & Safe para o setor dos congressos e eventos, entre outras menos visíveis. No entanto, apesar de todos os imprevistos e da situação atual, que é muito complicada, se conseguirmos um distanciamento racional do que se passou podemos retirar algumas conclusões. Todos sabemos que o setor do turismo é muito permeável, como é transversal, e qualquer problema social, ambiental, económico ou de saúde afeta diretamente o turismo, sendo esta crise um desafio enorme para os empresários. No imediato a aposta foi, e é, sobreviver, conseguindo manter a capacidade operacional (recursos humanos, materiais e económicos). Com esta crise, as fragilidades do setor ficaram ainda mais realçadas e a necessidade de as trabalhar ganhou ainda mais importância. O facto de não existir um setor de congressos e eventos claramente definido em termos de questões legais (a falta de um registo para o setor dos congressos e eventos), quer a sua interligação com o setor da cultura e dos espetáculos, levou a que o governo não tenha tido as melhores respostas, quer em termos de timing para a saída das medidas, quer nas próprias medidas, excluindo muitas empresas nos apoios publicados. Esta é uma velha luta da APECATE, mas que no atual contexto se revelou ainda mais pertinente. No setor da Animação Turística, os problemas de fundo também interferiram com a capacidade de o setor resistir, a transversalidade dos programas que nos levam a ter de articular com 11 tutelas, mais as autarquias, e apesar do avanço que foi a criação do Grupo de trabalho interministerial, os eventuais resultados só se vão ver mais para o final de 2021. WWW.EVENTPOINT.PT 74 ESPAÇO APECATE Mas, apesar de tudo isto, a APECATE e o setor não deixam de lutar, mostrando uma resiliência notável, destacando‑se pela positiva. Deste já longo combate, retiramos algumas ilações que são importantes referir, sendo a primeira a necessidade de união, não só dos associados, mas de todo o setor. As estratégias separatistas e individuais não são o caminho, só criam dispersão e enfraquecimento quando temos de disputar os poucos recursos ou provocar mudanças legislativas. A segunda é não abandonar a luta pela necessidade imperiosa de reforçar os apoios de tesouraria e o acesso aos diferentes programas de promoção e desenvolvimento que garantam a sobrevivência das empresas. Em 2021, o cenário mudou e não vai voltar a ser o que era. A gestão de risco tem uma nova dimensão, a da saúde, das respostas às ameaças de pandemias generalizadas. Em conformidade, vão existir ajustamentos no modo de fazer congressos, eventos e animação turística. Quando for possível viajar, conviver com o mínimo de restrições, vamos ter de manter alguns cuidados básicos, planos de gestão de risco e programas B, onde a questão da pandemia vai ser muito presente. Certamente que, a partir de 2021, vamos passar a ter muitas mais reuniões via web, eventos completamente virtuais e outros híbridos, mas a força da necessidade da relação humana, do poder reagir com estímulos dos nossos cinco sentidos, vai continuar a ser dominante. Os programas presenciais vão ser mais exclusivos, importantes, e isso será uma oportunidade de valorizar, tendo, por isso mesmo, de apostar na qualidade e segurança. Para isso, o setor tem de melhorar a qualidade dos seus serviços, aproximar os seus produtos das necessidades, criar parcerias mais fortes com outras empresas alargando a oferta, ganhando escala, melhorando a comunicação com os clientes, apostar no ganho de dimensão internacional, sem esquecer a sustentabilidade e a rentabilidade dos programas e eventos. Vamos apostar ainda mais em eventos e programas de animação turística personalizados, sustentáveis e sociais. António Marques Vidal Presidente da APECATESERÁ ESTE O ANO EM QUE O CALENDÁRIO DE EVENTOS COMEÇA A NORMALIZAR‑SE? © Desafio Global/Europalco WWW.EVENTPOINT.PT 76 DOSSIÊ TEMÁTICO TENDÊNCIAS PARA EVENTOS EM 2021: O QUE ESPERAR APÓS O ANO EM QUE TUDO MUDOU 2020 não acabou com os eventos como os conhecemos, mas mudou quase tudo. Como antigos cenários que são arrumados no fim de uma peça, os modelos e estratégias, que pareciam perfeitos até à pandemia, precisam de ser esquecidos, reciclados ou repensados para que se adequem à chamada “nova realidade”. A boa notícia é que novos cenários estão a surgir em resposta a novas exigências e são inspiradores. Conheça algumas das tendências para eventos em 2021. fazem? Em espaços gigantescos que permitam o distanciamento físico ou em locais ao ar livre? O que servir? Como manter o interesse dos participantes, garantindo também a rentabilidade e o retorno para os patrocinadores? Físicos, híbridos ou totalmente online? Com bolhas de segurança ou fazendo dos testes e vacinas um fator determinante para participar? Com mais tecnologia ou colocando um foco cada vez maior nas pessoas ‑ não só nas que participam, mas também nas que os Se é verdade que, de um modo geral, 2021 é um ano que começa cheio de incertezas, não será menos correto dizer que, no que aos eventos diz respeito, as dúvidas são ainda maiores. Começando, claro, pela maior de todas: será este o ano em que o calendário de eventos começa a normalizar‑se? Adivinhar o futuro é difícil, mas, e até porque o setor se tem centrado mais em procurar soluções do que em insistir nos problemas, é possível antever algumas tendências que vão marcar os eventos em 2021. Da necessidade e da criatividade surgem, assim, diferentes formas de idealizar, planear, montar e viver eventos. São respostas à realidade nascida com a pandemia, mas podem ser, também, conceitos que se vão manter para o futuro. “Em cerca de oito semanas avançamos cinco anos na adoção de tecnologia digital por parte das empresas e dos consumidores.” ‑ McKinsey & Company The COVID‑19 recovery will be digital: A plan for the first 90 day A utilização da tecnologia generalizou‑se também à área dos eventos e essa será, obviamente, uma das principais tendências a considerar. No entanto, e surpreendentemente (ou não), as pessoas e o contacto entre elas ganham, em 2021, uma importância acrescida. © Mikael Korhonen WWW.EVENTPOINT.PT 78 DOSSIÊ TEMÁTICO QUAIS SÃO, ENTÃO, AS GRANDES TENDÊNCIAS PARA OS EVENTOS EM 2021? Onde? Esta é, desde logo, uma das questões principais: onde fazer o evento? O que pressupõe uma grande decisão: físico, virtual ou híbrido? Para quem escolhe uma das duas últimas opções, há cada vez mais locais preparados para o fazer. Mas comecemos pelo “tradicional”, isto é, por um evento físico em que os participantes tenham de se deslocar. As restrições às viagens e o compreensível receio de as fazer estão a criar uma tendência que vai crescer durante o ano de 2021: os eventos mais perto, mais pequenos e para menos pessoas. IR, MAS FICAR PERTO DE CASA Se os eventos em locais distantes e exóticos eram, até ao primeiro trimestre de 2020, bastante apelativos, em 2021, e mesmo partindo do princípio de que a vacinação se generaliza, continuará a existir relutância em viajar. Assim, é de esperar que os eventos corporativos se realizem, cada vez mais, perto da sede das empresas. As viagens de incentivos não vão passar de moda, mas poderão ter de ser repensadas, de forma a que, em vez de grupos, possam ser feitas por uma pessoa sozinha ou com um acompanhante. O que deixa antever, desde logo, outra tendência trazida pela pandemia: quanto mais privada e exclusiva for a localização, melhor. Por um lado, porque o sentimento de segurança é reforçado. Por outro, porque uma experiência mais personalizada terá mais impacto em quem a vive. MAIS AR LIVRE Esta é uma tendência que, na verdade, todos já começámos a adotar nos nossos encontros familiares ou sociais, ou até num simples almoço: se puder ser ao ar livre, tanto melhor.Next >