< Previoussomos uma equipa que não baixa os braços e temos pessoas espetaculares, dissemos: ‘nós não vamos parar’. E além da nossa equipa temos também todo este histórico, temos os nossos parceiros, clientes que acreditam em nós, por isso vamos dar continuidade a isto. Começámos a fazer reuniões com parceiros para perceber qual era o caminho e aparece‑nos assim, de facto, a oportunidade de fazermos um evento, na altura inédito, o primeiro que se fez em chroma, com a Europalco, e com o nosso cliente BP, que também nos desafia sempre. Fizemos um evento em chroma, mas em que o cenário mexe. Fizemos um cenário contínuo, em exterior. Foi o primeiro passo para começarmos a não baixar os braços. Foi um desafio. Felizmente todos os clientes que tínhamos continuaram connosco, conseguimos rapidamente adaptar‑nos, as pessoas facilmente entraram no digital. Também fomos disruptivos quando começamos a pensar que é digital ok, mas porque é que tem que ser num estúdio? E então também sugerimos começar a fazer eventos digitais em casa dos clientes, em locais exteriores. Foi difícil convencer os clientes a arriscarem? Sim, porque eles próprios durante este tempo não sabiam muito bem o que era isto. Têm dúvidas e vão continuar a ter, e não foi fácil convencer muitas vezes os clientes a serem disruptivos. E também por causa do investimento: os clientes achavam que o digital era baratinho. Se fizermos comparação entre ter 500 ou 1.000 pessoas num espaço, em que temos que dar refeição, sim, o digital é mais barato, mas depende do investimento que se quer fazer ao nível do digital. Temos eventos digitais que têm investimentos muito altos. Estarmos em quatro ou cinco locais do país significa termos de replicar recursos, meios, equipas. Nós cada vez mais precisamos de mais pessoas nos eventos. Hoje, um evento presencial não deixa de ser digital também. Para além da gestão que temos de fazer ao nível do presencial, temos de ter equipas só focadas no digital. Como é que foi a retoma no final de 2021, de repente com imensos eventos a acontecerem? Como sentiu as equipas? O ano de 2021 também foi desafiante a esse nível da retoma. Foi um ano espetacular, muito bom. Percebo que o mercado não esteja bem e que haja WWW.EVENTPOINT.PT 40 GRANDE ENTREVISTA empresas em dificuldade, estamos longe de faturações que tivemos anteriormente, mas ao nível de conjugação de esforços de equipa, de apoios, de layoffs a que tivemos de submeter a equipa, do trabalho e da resiliência que tivemos todos, o ano de 2021 foi um ano forte. O que é que nos custou neste final de ano? Ter que dizer que não a muitos clientes, mas não tivemos capacidade, mesmo com a equipa grande que temos, de conseguir responder a tudo a tempo e horas. Os clientes queriam fazer coisas, pequeninas, grandes, para amanhã, ou daqui a 15 dias, e entre produção de proposta e implementação tínhamos que saber dizer que não. Houve clientes que perceberam, outros que ficaram um bocadinho mais perplexos, ‘então vocês não estão aflitos?’, ‘mas a área dos eventos está a queixar‑se de que não tem trabalho’. O trabalho deu muito mais trabalho, os eventos deram muito mais trabalho, mais investimento e mais dedicação das pessoas. Se me comprometo com um evento tenho de o fazer bem do princípio ao fim, seja pequeno, grande ou médio, e não podia estar a comprometer as coisas que já tinha adjudicado e que estavam em curso para agarrar coisas novas. Estes dois anos foram de altos e baixos, de esperança, de desilusão, de ansiedade, muitas mudanças. Como é que se consegue manter a motivação das pessoas? Como é que os empresários se conseguem manter motivados para continuar com os seus projetos? Sim! Nós temos de motivar as equipas e às vezes perguntamos: quem é que nos motiva a nós? E de facto o que nos motiva é ver a equipa motivada. Mas não é fácil. Em dois anos não regressámos à iMotion. Não regressámos porque tínhamos de assegurar que conseguíamos fazer eventos e só agora, precisamente, em 2022, se houver alguma situação de um caso covid positivo dentro de uma empresa, a empresa não vai toda para casa. Não podíamos arriscar. Temos de saber agradecer sempre e saber pedir desculpa quando erramos, e nós sabemos que erramos no início, acho que comunicamos pouco com a equipa, podíamos ter comunicado mais, e de facto tivemos alguns alertas. Comunicámos, como é óbvio, fizemos muitas reuniões no Teams, mas se calhar devíamos ter feito mais, passámos muito também aquilo que estávamos a sentir. Nós também somos pessoas, também temos a nossa família, crianças aqui aos gritos, era tudo novo, confuso. Tínhamos de ter tido mais tempo para estar com as nossas pessoas, mas ainda assim acho que conseguimos saber pedir desculpa, e acho que eles compreenderam que houve alturas em que também foi muito difícil para nós. E assumindo essa culpa, acho que também conseguimos trazer as pessoas para nós e elas perceberem que também precisávamos de ser motivados por elas. Já temos tido algumas reuniões no escritório, reuniões de brainstorming e acho que muito em breve estaremos a regressar. Faz muita falta estarmos juntos. © Sérgio Garcia | Yourimage WWW.EVENTPOINT.PT 42 GRANDE ENTREVISTA “ESTOU MUITO POSITIVA” E como é que olha agora para 2022 em termos de negócio? Estou muito positiva, sou positiva por natureza. Começamos muito bem o ano e tenho uma esperança enorme de que vai ser um bom ano. Vamos continuar com o digital, não tenho dúvidas nenhumas, mas o presencial vai regressar com muita força. No segundo trimestre acho que vão cair os eventos presenciais, porque as pessoas precisam. O digital é bom, é uma componente que não vai desaparecer das nossas vidas, e ainda bem que apareceu, mas vai ser complementar. E não teme vir a ter de novo o problema da capacidade de resposta? Este ano nós vamos investir, vamos investir em pessoas, porque precisamos. Precisamos que as nossas pessoas tenham mais tempo para elas, que não têm, precisamos que as pessoas tenham mais tempo para pensar, mais tempo para conseguir entregar um trabalho ainda de maior qualidade ao cliente. Os prazos de entrega estão cada vez mais apertados. Nós não abrimos gavetas e temos propostas lá dentro. Tudo é feito de raiz, tudo é pensado para o cliente. Sabemos que, tendo mais pessoas, vamos ter mais trabalho, e esperamos antecipar‑nos. E não teme que os fornecedores com quem trabalha não tenham a mesma capacidade de resposta? Nós, nestes dois anos, também tivemos de ir à procura de coisas novas e tivemos boas surpresas. Por vezes é mais confortável trabalhar com os parceiros que conhecemos, que já nos conhecem e nos leem nas entrelinhas. Mas tivemos que arriscar e as coisas correram muito bem. Acredito que, também do outro lado, se estão a munir de outras ferramentas. Nós falamos com os parceiros e eles dizem‑nos que tiveram de crescer e recrutar. Acho que o mercado também alargou um bocadinho. Da nossa perspetiva tivemos de olhar para outro tipo de empresas e fomos felizes com isso. Temos de acreditar em quem temos do outro lado. O que é que espera do comportamento dos clientes? Acha que eles vão pressionar preços? Acho que sim, alguns vão espremer ou querer continuar a espremer. Mas os clientes também sabem que nós não comprometemos o nosso trabalho. E muitas vezes perdemos por preço, e sabemos, estamos a concurso. Esta área dos eventos tem essa vertente menos positiva: estamos sempre a concurso, somos muito pressionados com preço, mas felizmente, hoje em dia, não ganhamos só propostas por preço. A maior parte das propostas que se ganham é pelo conceito, pela ideia, pela criatividade, pela confiança que se tem na agência para implementar as ideias que tem. Não sei se as empresas vão ter budgets mais reduzidos, acho é que vão querer fazer mais por menos. Acredito que as empresas precisam de comunicar mais e o mais tem que ser presencial. E também vão perceber que o nível de investimento é diferente. Já são dois anos, já perceberam que conseguem fazer eventos digitais a médio preço, mas já perceberam que passam para um evento presencial e o retorno é completamente diferente. Os gestores de marketing, quando estão a fazer o seu planeamento, vão ter isso em consideração. Sabem que vão ter de investir mais porque já estamos há muito tempo afastados e 2022 é o ano do investimento das empresas no presencial. Estamos já a trabalhar muita coisa lá mais para a frente e é tudo presencial, nada digital. WWW.EVENTPOINT.PT 44 GRANDE ENTREVISTA E nesse planeamento, que tipo de eventos vamos ter? Mais pequenos, com menos gente? Acho que sim e é o que está a acontecer, porque ainda há o receio de juntar muitas pessoas. A tendência é um bocadinho essa, eventos com menos pessoas, mas com mais conteúdo, mais interação, mais experiência, mais envolvência do público que está no espaço a usufruir. O que está também a acontecer é fazer o mesmo evento em vários locais e isso significa um investimento maior. O que será mais desafiante nestes tempos? Onde é que haverá pontos de pressão maiores? Acho que na rapidez de resposta, da realização das propostas e da implementação. Temos sentido mais dificuldade e daí também eu dizer que precisamos de mais pessoas. Precisamos de mais pessoas para fazer o mesmo tipo de eventos. Que tendências é que lhe parecem mais interessantes, já olhando para 2023, 2024? Já referiu que o híbrido é para ficar... Acho que sim. A tendência é continuarmos a usar as tecnologias que estão à disposição. São ferramentas que utilizamos sempre, às vezes um bocadinho a muito custo porque são ferramentas caras e os clientes não querem usá‑las. Acho que estão mais evoluídas e que as vamos usar a médio prazo. E mais experiencial, as pessoas estão nos sítios e querem viver aquilo que está a acontecer naquele sítio. Vai viver muito da emoção e do conteúdo que se passa no evento presencial. E a sustentabilidade, vê como uma tendência? Cada vez mais. Estamos a trabalhar muito nisso, estamos proativamente a propor aos clientes. Agora, a sustentabilidade tem custos. Quando, por vezes, pensamos em materiais sustentáveis ou recicláveis o cliente diz, “sim, mas isso é muito caro”. E também acho que faz parte da nossa obrigação informar os clientes. Não basta parecer, tem de ser. O plástico é reciclado, o cartão plastificado não é reciclado, vai para o lixo comum. Às vezes as pessoas não sabem disso, quando falam dos copos de plástico. Temos a obrigação junto das empresas de as alertar para estes pontos. Claro que nos eventos tentamos o mais possível que as garrafas de água não sejam em plástico, sejam em vidro. Tentamos não plastificar os badges, inclusivamente ter badges com sementes, que depois se plantam. Estamos a ser proativos nessa comunicação com os clientes. E estes estão muito recetivos a esta problemática e têm vontade de fazer diferente. Cláudia Coutinho de Sousa OITO PERGUNTAS A ANGELINA CASTEL-BRANCO Viagem de sonho? Há um destino que quero muito ir: Argentina. Cidade para viver? Cascais. Um restaurante? Mini Bar, do chef Avillez. Hobby? Bicicleta... na montanha. Um evento inesquecível? Foi um evento que marcou pela confidencialidade, e que foi o lançamento da nova Bimby. Se tivesse que se descrever com uma palavra, qual seria? Amiga, talvez. Quem mais a influenciou no seu percurso profissional? A minha mãe foi uma pessoa muito presente e sempre me deu a liberdade para eu escolher aquilo que queria. Um ensinamento da pandemia? Humildade. WWW.EVENTPOINT.PT 46 GRANDE ENTREVISTA NÃO SE ENCONTRAM BOAS SOLUÇÕES SEM A PARTICIPAÇÃO ATIVA DO SETOR WWW.EVENTPOINT.PT 48 ESPAÇO APECATE 2022: OS DESAFIOS DO SETOR E DA APECATE Chegados a 2022, o cenário de incerteza tornou-se uma certeza. Esta aparente contradição é o reflexo do sentimento do setor. A pandemia está em vias de se tornar uma endemia, mas os seus efeitos vão perdurar e alterar o modelo de negócio das empresas. Hoje podemos ter já alguns padrões de referência. O primeiro diz respeito às questões de saúde, nomeadamente as ligadas à pandemia, que vão interferir com mais peso na estratégia e planeamento das empresas do setor, tendo como consequência que o negócio seja muito mais imprevisível. As empresas vão planear os seus eventos e programas de animação turística sempre em contingência, sujeitas a decisões mais próximas das datas de realização. Teremos de evoluir para programas e eventos mais flexíveis e ajustáveis. Vai ser necessário reorganizar todo o processo de produção e venda dos programas de animação turística e dos eventos, nomeadamente quanto ao assumir das reservas e dos cancelamentos, tornando o negócio ainda mais arriscado e com custos mais elevados. Por outro lado, as condições de saúde vão criar ciclos de maior ou menor incidência, criando momentos de muita procura e momentos de estagnação. É uma nova e forte variável a ter em conta no combate à sazonalidade e na luta pela sustentabilidade dos programas e dos destinos. Esta instabilidade vai ter grandes impactos não só na gestão logística como na dos recursos humanos, criando problemas operacionais: as empresas vão ter de investir e reinventar novos modos de captação e fixação de recursos humanos e de manutenção da capacitação de resposta.Next >