< PreviousEVENTOS: FORMAR PARA O QUE É NOVO Grande atividade - é esta a fase que os eventos estão a abraçar com muito entusiasmo e igual necessidade de preparação. Pode parecer uma questão já ultrapassada ou excessivamente discutida, mas não é: os efeitos do contexto pandémico no setor dos eventos não se limitaram às (graves) quebras económicas no setor nem às (impressionantes) adaptações alcançadas nos períodos de confinamento. Essas poderão ter sido as repercussões mais diretas que, à semelhança dos outros setores, estão agora a ser ultrapassadas. Contudo, nesta fase pós‑retoma, existem ainda múltiplas consequências indiretas perante as quais os profissionais dos eventos terão de continuar a provar o seu valor. Andrea Santos Filipe Trindade WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 100 OPINIÃO Nomeadamente, o período pandémico reforçou a ideia de que os eventos têm duas dimensões, que passaram a ser inseparáveis e interdependentes: o presencial e o digital. Deixámos, em definitivo, de falar de acontecimentos limitados no espaço ou no tempo, passando a considerar eventos que beneficiam, entre outros, de mecanismos de check‑in tecnológicos de público e equipas (longe ficou o tempo da acreditação em papel!), de informação disponibilizada digitalmente (com a renovada força dos QRcodes) e do conforto dos streamings. De um modo geral, a já irreversível digitalização veio aproximar públicos mais distantes, potenciando o alcance dos eventos, ao mesmo tempo que desmaterializou processos para quem os organiza. Isto não significa, porém, que a tarefa dos profissionais tenha ficado mais simples. Pelo contrário, as necessidades duplicaram‑se: um evento já não é pensado apenas para que as duas dimensões funcionem de forma articulada, sem sobreporem o potencial de cada uma delas. Neste contexto, adensou‑se a necessidade de formação especializada que a área dos eventos há muito identificava. Ou seja, quem integra este setor chega, tipicamente, de outras áreas tão diversas como a Gilda Mendes gestão ou comunicação, fazendo‑se a formação específica em eventos quase exclusivamente com experiência, tentativa e erro, trabalho e muita partilha em equipa – essenciais para o crescimento profissional, sem dúvida. O que começamos a identificar na oferta académica são formações que oferecem um intermédio entre estas duas fases. Isto é, após a base assegurada noutras áreas, surgem programas destinados a proporcionar aos profissionais uma visão abrangente e estratégica sobre o setor dos eventos, contando com exemplos das melhores práticas do mercado transmitidas por aqueles que melhor o conhecem. Entre os objetivos destes programas, já não consta apenas a compreensão das fases de planeamento de um evento ou da sua gestão financeira, mas também uma forte componente de liderança e gestão de equipas (fundamental no perfil de um bom gestor de eventos), de trabalho de imagem e comunicação e, indispensavelmente, de compreensão da digitalização que o setor atravessa. Neste último campo, não falamos, claro, de uma formação excessivamente técnica, que permita descortinar o funcionamento de equipamentos, até porque não será esse o papel de quem gere um evento. Falamos, sim, de um conhecimento alargado sobre as possibilidades que o mercado oferece, sobre os mecanismos digitais que estão a ser aplicados em conferências, festivais, cimeiras e tantos outros. Sem dúvida que as bases de conhecimento estratégico e especializado são fundamentais tanto no início de um percurso profissional como, mais tarde, para a atualização de competências. A elas, a experiência de “terreno” e os anos de partilha entre profissionais darão origem à construção de uma carreira longa e bem‑sucedida, pronta para as inovações futuras. Andrea Santos, Filipe Trindade e Gilda Mendes Coordenadores da Pós-Graduação em Organização de Eventos do ISAG – European Business School WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 102 OPINIÃO A FEIRA É UM PRODUTO ESTRATÉGICO NA PROMOÇÃO DA ESLOVÉNIA © Marko Delbello Ocepek WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 104 EVENTO CONVENTA APOSTA NA TRANSFORMAÇÃO SUSTENTÁVEL A bandeira de tornar os eventos cada vez mais sustentáveis e amigos do ambiente não é nova para a organização da Conventa. Nesta edição, a Conventa mediu a sua pegada carbónica, no sentido de conhecer os efeitos e de implementar medidas para reduzir o seu impacto. E tudo com vista ao bem-estar do ser humano e à proteção do planeta e do futuro. A Conventa voltou a juntar este verão, entre 24 e 25 de agosto, profissionais da indústria das reuniões e dos eventos em Liubliana, na Eslovénia. Integrado na Conventa Week, a par da conferência Conventa Crossover e do Conventa Best Event Award, o evento contou com a presença de 145 hosted buyers de 33 países e 93 expositores, como destinos, convention bureaux, venues, entre outros. A feira é um produto estratégico na promoção da Eslovénia como um destino MICE de excelência e como a ‘estrela’ da região definida pela Conventa como Nova Europa, que engloba os Balcãs, o leste europeu, a Grécia e a Turquia. O aumento da captação de eventos internacionais está na mira do destino, como confirmou Fredi Fontanov, do Slovenia Convention Bureau, coorganizador do evento, na conferência de abertura. A recuperação da indústria em Liubliana tem sido positiva e a capital eslovena ocupa mesmo um lugar no top 10 em termos de recuperação do turismo na Europa, segundo Petra Stusek, do Ljubljana Tourism, também coorganizador do evento. E iniciativas como a Conventa são a plataforma perfeita para reafirmar o potencial do destino para os eventos de negócios. Evento gerou 275,4 toneladas de emissões de CO 2 E se a localização e as infraestruturas adequadas para a indústria das reuniões e dos eventos são mais‑valias, como sublinhou Karmen Novarlic, do Slovenian Tourism Board, há que ainda ter em conta o facto de a Eslovénia ser um país amigo do ambiente. “Trabalhamos muito a sustentabilidade” em diferentes setores, onde estão incluídos os eventos, complementou Petra Stusek, do Ljubljana Tourism. “Queremos viver de forma sustentável”, implementando essa forma de estar no dia‑a‑dia. E o quotidiano envolve os eventos que a cidade acolhe. É com este pensamento ‘verde’ que decorre a Conventa, que tem sempre em vista a redução dos seus impactos ambientais. E para perceber os efeitos e o que pode ser feito depois para os contrariar, a Conventa avançou este ano, em parceria com a Climate Partner, com a medição da pegada carbónica do evento. E na edição de 2022 foram geradas 275,4 toneladas de emissões de CO 2 , o equivalente a 255 quilos diários por participante – o mesmo que a média anual das emissões de carbono de 30 cidadãos da União Europeia, refere a organização. Destes valores, 88,2% resultam do transporte dos participantes para a Conventa; 6,1% do alojamento em hotel; 2,5% do transporte de equipamento e equipas técnicas; 1,9% do venue, 1,2% do catering (alimentação e bebidas), entre outros fatores. “Os próximos passos são cruciais. 275 toneladas de CO 2 são um ótimo ponto de partida para atualizar o nosso sistema de sustentabilidade e a metodologia 5R (Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Recusar)”, na qual a organização do evento assenta, como sustentou Gorazd Čad, cofundador da Conventa, em comunicado. Depois de calculados estes valores, a organização vai proceder à análise detalhada dos números para que se possa passar à ação, no sentido de tornar a WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 106 EVENTO próxima edição da Conventa ainda mais sustentável. A organização já incentiva os participantes a utilizar meios de transporte alternativos, para que sejam reduzidas as suas emissões. Também está prevista a obtenção da certificação ISO 2021, relativa a eventos sustentáveis, e a realização de cursos de formação online dedicados ao mesmo tema. Medidas no âmbito da metodologia 5R A Conventa acredita que os organizadores de eventos têm o poder de tornar a indústria mais ‘verde’ e, da mesma forma que as suas escolhas podem deixar pegadas significativas, as suas ações podem resultar numa redução da quantidade de dióxido de carbono gerada. A par da medição da pegada carbónica, a Conventa levou a cabo uma série de ações que se prendem com a metodologia 5R. No âmbito do ‘Repensar’, foram encomendados menus mais amigos do ambiente (77,8% de pratos vegetarianos e 22,2% pratos de carne); foram realizadas duas sessões educativas para os parceiros do projeto, visando a construção de uma cultura de transformação sustentável; foi implementada a campanha ‘10 dicas para reduzir a sua pegada de carbono na Conventa’, dirigida a todos os participantes; e houve uma ação de consciencialização da equipa e partilha de boas práticas. No capítulo do ‘Reduzir’, a Conventa avançou com a digitalização do sistema de matchmaking, através da plataforma B2Match, com acesso através de uma aplicação no telemóvel; com a digitalização dos sinais de direção e informação; com a introdução de carros elétricos; com a redução do © Marko Delbello Ocepek consumo de papel em 40%, através da digitalização dos processos da organização e do marketing do evento; e com a promoção da redução da pegada carbónica gerada pelas deslocações diárias da equipa para reuniões. No contexto do ‘Reutilizar’, foram reaproveitados 2.850 caixotes de madeira, usados nos stands da feira, que serão novamente reutilizados; e também as placas de cartão dos expositores, que vão ser usados na próxima edição da Conventa. No âmbito do ‘Reciclar’, houve uma gestão das sobras da alimentação, com um sistema de embalagens de catering pré‑preparadas e de armazenamento de alimentos, havendo ainda a possibilidade de os participantes guardarem sobras em embalagens de cartão. E no capítulo do ‘Recusar’, foi proibido o uso de plástico, medida implementada junto de parceiros e fornecedores, e foi eliminada a utilização de carpetes descartáveis no venue. Estas e outras boas práticas vão ser partilhadas num manual a ser lançado pela organização da Conventa. Evento regressa no inverno Na Conventa, foram realizados inúmeros encontros e reuniões de negócios, entre expositores e hosted buyers escolhidos a dedo – foram selecionados 22,9% dos profissionais registados. Uma aposta na qualidade dos participantes, no sentido de agregar valor ao evento. A par das sessões educativas e de networking, a organização promoveu também visitas guiadas ao centro de Liubliana e fam trips, para dar a conhecer nove destinos em quatro países. “Uma das maiores vantagens da Conventa são as fam trips, que são a principal razão pela qual acolhemos no evento os melhores organizadores de eventos europeus. É isso que diferencia a Conventa de outras feiras”, frisou Miha Kovačič, cofundador da Conventa, em nota de imprensa. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 108 EVENTO A Conventa Week contou ainda com a Conventa Crossover, que tem como mote o fim dos ‘eventos chatos’. Na edição deste ano, cerca de uma centena de participantes analisaram o futuro e as inovações da meetings industry, bem como a responsabilidade ambiental da indústria. A semana não terminou sem a entrega do Conventa Best Event Award, que tinha em competição 28 projetos. Destes foram premiados cinco: OneTonne Island, Velo‑City 2022, Planet Budapest, Cupra Hero e Open Eyes Summit. A Conventa vai regressar no inverno, estando a próxima edição já agendada para os dias 1 e 2 de fevereiro de 2023, em Liubliana. Por seu lado, o Conventa Crossover mantém‑se na época de verão, estando marcado para 28 e 29 de agosto. Maria João Leite* *Viajou a convite da Conventa 2022 © Marko Delbello Ocepek Next >