Centro de Congressos e Reuniões do CCB: “Um caminho de evolução muito positiva”

Entrevista

14-12-2022

# tags: Lisboa , Centro Cultural de Belém , Venues , Eventos , Cultura , Congressos , Meetings Industry

Há cerca de três décadas que o Centro de Congressos e Reuniões do Centro Cultural de Belém (CCB) é um “espaço de eleição” para acolher eventos em Lisboa.

No primeiro semestre de 1992, o CCB acolheu a presidência portuguesa da União Europeia. Foi com um evento desta natureza e dimensão que teve início o trajeto deste venue, que abriu ao público na primavera de 1993 e que é composto por um centro de congressos e reuniões, um centro de espetáculos e um centro de exposições. A cultura e os eventos de negócios de mãos dadas.

O Centro de Congressos e Reuniões do CCB foi pensado para acolher qualquer tipo de congresso ou reunião, demonstrando ao longo dos anos a sua capacidade de adaptação, no sentido de dar resposta às necessidades que se foram colocando no caminho, e garantindo uma preocupação crescente com a sustentabilidade. As mais-valias são muitas, a começar pelo sítio onde se encontra.

“Uma das principais mais-valias do Centro de Congressos e Reuniões do CCB é a sua localização, na magnífica relação com a envolvente artística e monumental onde se encontram o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, o Museu de Marinha, o Jardim Botânico Tropical, o MAAT [Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia] e toda a frente ribeirinha com o rio Tejo aos nossos pés”, começa por destacar Madalena Reis, administradora do CCB.

A responsável sublinha que o venue “está vocacionado para a realização de todo o tipo de eventos” e que “já se afirmou como um espaço de eleição na cidade de Lisboa”. A partir desta premissa, “tem sido possível construir um caminho de evolução muito positiva, graças ao know how das equipas, que trabalham com grande entusiasmo, e à confiança dos clientes, que não hesitam em entregar-nos grandes desafios.”

O Centro de Congressos e Reuniões do CCB “oferece um serviço ‘chave na mão’”; serviço esse que inclui espaços, soluções audiovisuais, catering, serviços TIC, recursos humanos, entre outros. “Aquele que mais tem evoluído é, claramente, o audiovisual e todas as soluções digitais, que ganham muito quando são concebidas de raiz e com um modelo criativo forte.”

A componente digital tem sido, aliás, uma aposta forte do CCB. Há três anos, foi lançado o programa de transformação digital ‘CCB Cidade Digital’, que é “transversal a toda a instituição” e que “teve um impacto muito positivo” no centro de congressos, dotando-o com mais meios e soluções. “Chegámos a construir um estúdio virtual, para reuniões digitais ou gravação para posterior difusão, em resposta às necessidades” de momentos como o da pandemia, que levou à reinvenção e a uma maior aposta no digital – aposta essa que é para manter.

“No futuro, vamos continuar a apostar nesta frente digital, com atualização de equipamentos, mas também dedicaremos muita atenção aos temas da sustentabilidade (ESG), pois queremos continuar a implementar soluções de eficiência energética, na renovação e adequação das salas, na melhoria das acessibilidades e também na incorporação de mais projetos com impacto social, como a cafetaria Único. Acreditamos que esta combinação de esforços em todas as frentes é o que torna o CCB num espaço realmente especial para a realização de encontros”, frisa Madalena Reis.

A sustentabilidade e a tecnologia são uma preocupação do CCB, que, “além de um rigoroso trabalho de manutenção e renovação dos espaços e de todo o edifício”, tem apostado em “instalar e oferecer soluções digitais que deem conforto aos clientes e proporcionem uma boa experiência durante os eventos, nomeadamente através de eventos híbridos, eventos 100% digitais e com a componente streaming”.

“A preocupação ambiental está presente nas tecnologias e na eficiência energética que utilizamos nos nossos eventos, minimizando a pegada ecológica. Em 2023, vamos continuar a investir nesta frente e vamos lançar um programa bastante ambicioso com soluções que nos permitam reduzir o consumo, mas também com capacidade de produção própria de energia”, revela Madalena Reis.

“A retoma faz-se todos os dias”


“A retoma faz-se todos os dias”, afirma a administradora do CCB, num tempo que é de recuperação. E, em muitos casos, a retoma “faz-se do contacto pessoal com os clientes com quem mantemos proximidade, mesmo quando estivemos de portas fechadas. E só isso explica que tenha sido possível superar as nossas expectativas de faturação para 2022”. Segundo Madalena Reis, “apesar das incertezas que todos sentimos, reforçámos a nossa comunicação no sentido de dar a conhecer todas as novidades e acontecimentos do Centro de Congressos e Reuniões”.

Neste trajeto, há hoje desafios que antes não existiam. E um dos principais que atualmente se colocam “prende-se com a capacidade de resposta num curtíssimo espaço de tempo”, refere. “Verificamos que os pedidos nos chegam cada vez mais ‘em cima do acontecimento’, porque não há tanta antecipação no planeamento dos eventos que se decide realizar e que se concretizam num espaço de tempo muito curto. Esta capacidade de reação rápida, com disponibilidade de espaços e soluções técnicas adequadas ao evento que se idealizou, colocam um grande desafio, que só uma equipa com experiência e know how técnico pode garantir. Queremos estar lá quando o cliente nos procura e apresentar a melhor proposta, e este é, sem dúvida, um grande desafio.”

A capacidade de dar resposta, de ir ao encontro das necessidades, a diversidade da oferta e o acompanhamento ao cliente são mais-valias do venue, que “foi pensado de raiz para oferecer diferentes tipologias de salas, foyers e auditórios, capazes de se articular e complementar entre si, para acolher todo o tipo de eventos e reuniões”.

“Associado à qualidade dos espaços, aquilo que mais nos distingue de outros venues – e que os nossos clientes mais valorizam – é a possibilidade de organizar um evento (pequeno, médio ou grande) sempre com o mesmo interlocutor. Ter uma gestora de eventos alocada a cada projeto é a nossa imagem de marca na qualidade do customer service do CCB”, complementa Madalena Reis.

Além de tudo isto, o CCB alia os negócios à cultura, numa combinação harmoniosa. “A nossa capacidade de realização de grandes eventos, com base na experiência de produção de eventos culturais e espetáculos, é um fator de diferenciação que ainda pode ser mais explorado pelos nossos clientes. Gostaríamos que as propostas culturais fossem incorporadas no dia de evento, tornando-o num encontro ímpar, diferente de todos os outros. Por isso, oferecemos a possibilidade de realizar eventos seguidos de um espetáculo cultural nos auditórios e também visitas exclusivas às nossas exposições, ou aos bastidores do CCB, onde se visitam os camarins e as áreas técnicas que são fascinantes e habitualmente inacessíveis ao público.”

A responsável continua: “Além desta combinação de programas, que podem enriquecer muito a experiência dos convidados e participantes, é importante que os nossos clientes saibam que toda a atividade que desenvolvemos no Centro de Congressos e Reuniões é fundamental para o equilíbrio financeiro da fundação e para a concretização do projeto cultural do CCB.”

O ‘aquário’ partido e o filme em suspenso


O Centro de Congressos e Reuniões recebeu a presidência portuguesa da União Europeia em 1992, evento marcante que voltaria ao espaço lisboeta em 2021. Esse regresso “comprova bem a qualidade do espaço e a capacidade de adaptação e qualidade técnica que as equipas mantêm para podermos continuar a acolher eventos desta envergadura à data de hoje”, sustenta Madalena Reis.

Mas desde aquele primeiro grande evento, muitos foram os que se realizaram no centro de congressos ao longo de três décadas. A administradora do CCB destaca alguns: o lançamento do Twingo (“com o início da atividade do Centro de Congressos e Reuniões”), várias edições do Rally Paris Dakar, uma edição do Laureus World Sport Awards e o encontro da Cultura com o Papa Bento XVI. “Mas há muitos outros eventos, que continuam a trazer até ao CCB empresas e marcas como a Google, Porsche, JWThomson, Santander, Apifarma, Linklaters, Delta, Redbull ou a NOS_Lusomundo.”

Com os eventos, vêm episódios e memórias que vão ser para sempre lembrados. Alguns engraçados, outros curiosos, outros ainda que podiam não ter corrido como esperado, mas que terminaram bem. “Um dos episódios mais ‘famosos’ na longa história de eventos do CCB aconteceu no decorrer do Festival Internacional de Ilusionismo e Magia. O ilusionista que executava a sua performance perante uma plateia de experts desta área, ao iniciar o seu número, que constava de um mergulho, vendado e algemado, num ‘aquário’ de vidro com cerca de quatro metros cúbicos de água, viu o ‘aquário’ partir-se.”

De acordo com Madalena Reis, “em resultado deste momento inesperado, o palco e parte da plateia ficaram inundados, o que obrigou a interromper a sessão e a uma intervenção imediata. Para além disso, a grande preocupação com os danos que se previam nos sistemas de palco, como, por exemplo, o fosso de orquestra, e a necessidade de se cumprirem todos os trabalhos previstos no Grande Auditório no decorrer do referido festival e com a atuação de outros mágicos e ilusionistas com números igualmente arrojados e inéditos”.

Um outro episódio que a administradora do CCB recorda “causou grande stress”. Mas tudo acabou bem. “Aconteceu na antestreia do filme ‘Bruce – O Todo-Poderoso’. A película partiu-se no decorrer da projeção do filme, tendo ficado no ecrã a imagem do ator Jim Carrey (com um grande sorriso) parada. O projecionista teve de colar a fita, mas com a dúvida se estaria do lado correto... Arriscou e acertou, tendo o filme continuado. Minutos nestes casos transformam-se em horas de ansiedade!”, conta.

“A expectativa é de crescimento”


A celebração do 30º aniversário do Centro de Congressos e Reuniões do CCB vai ter início com a estreia da ‘Ópera Paraíso’, “que junta música eletroacústica, voz e a encenação e coreografia de Marcos Morau, da companhia La Veronal de Barcelona, uma encomenda do Centro Cultural de Belém”. Este é um primeiro momento. Seguem-se outros.

“No final do ano teremos outra estreia, desta vez uma obra de Luís Tinoco, também encomendada pelo CCB, para assinalar a efeméride. Mas das comemorações dos 30 anos farão parte um conjunto alargado de iniciativas, que incluem momentos altos de programação e também ações de maior divulgação como a criação de um podcast, a gravação de espetáculos e making of, por exemplo. Temos muita vontade de dar conhecer os bastidores e de disponibilizar espetáculos apresentados no CCB em 2023 e nos 30 anos que já passaram.”

Madalena Reis acrescenta que “a melhor forma de celebrar é em estreita relação de partilha com o público”, pelo que a instituição vai continuar “a trabalhar as questões de acessibilidade, integrando, ao longo do ano, algumas atividades em língua gestual portuguesa ou audiodescrição. Deste modo, o CCB dá expressão aos objetivos estratégicos a que se propôs para o triénio 2022-25, na concretização de mais ações com impacto social”.

O CCB recorda e celebra o passado, mas mantém os olhos postos no futuro. E “a expectativa é de crescimento, como tem sido desde o pós-pandemia”. Madalena Reis refere que “a reintegração do Módulo III representa um momento importante para o CCB, que retoma a gestão integral dos espaços nos três módulos. Num momento em que o CCB assinala 30 anos de vida, a reintegração do Módulo III na sua atividade regular permitirá realizar cruzamentos e intersecções com todas as áreas de programação, ampliando o sentido do mote: Um Chão Comum.”

“Esta realidade é válida também para a área de eventos e para a atividade do Centro de Congressos e Reuniões, devidamente enquadradas. Mantém-se na agenda a concretização da expansão do CCB e o lançamento do novo procedimento público para a construção dos Módulos IV e V. Este projeto não só permite ‘fazer cidade’, como terá um impacto muito relevante no equilíbrio financeiro da FCCB [Fundação Centro Cultural de Belém], pelo que continuaremos a envidar todos os esforços para conseguir relançar a consulta pública em 2023”, conclui.

© Maria João Leite Redação