Luís Sepúlveda: “A verdade é que não temos uma vida aborrecida”
14-06-2022
# tags: Eventos , Vida de Eventos
“É engraçado, mas jamais pensei que a minha vida profissional fosse passar pelos eventos”, começa por dizer Luís Sepúlveda, diretor-geral da Lastlap, quando questionado sobre como chegou a esta área.
Adianta que foi “uma sucessão de acontecimentos” que o levaram à empresa. Na altura em que estava na faculdade, realizava pontualmente alguns trabalhos como promotor e driver – “quem me conhece sabe que os automóveis são a minha paixão”. E, quando deu conta, recebeu um telefonema de uma agência de eventos espanhola para coordenar um roadshow para uma marca automóvel em Portugal.
Nessa altura, vivia em Madrid. “Estava no local certo, à hora certa e com a predisposição certa! Essa chamada levou a uma reunião, essa reunião levou a uma proposta, essa proposta transformou-se num desafio e numa relação profissional”, que durou cinco anos. Ainda na capital espanhola, abraçou um novo desafio, como responsável por eventos e produto da marca Mini, e nesse período conheceu a Lastlap Espanha. “Na relação quase diária entre cliente e agência surge o convite para assumir a responsabilidade da Lastlap em Portugal. Naquele momento não lhes prestei atenção.
Adorava o trabalho que fazia. Mas a verdade é que, entre a persistência, a inquietude e a enorme possibilidade de fazer algo novo, acabei por aceitar. Voltei para Portugal em fevereiro de 2011.”
A Luís Sepúlveda motiva-o fazer acontecer. “E diria que é essa motivação que me faz acreditar e que não nos permite, a mim e à equipa, baixarmos os braços.” Mas há mais focos de motivação: “Motiva-me o caminho que existe entre o briefing (quando o há!) e o resultado final. Perceber que, no mínimo, fomos de encontro às expectativas é do melhor que pode haver. Motiva-me, todos os dias, encontrar uma equipa bem‑disposta, comprometida, profissional, dedicada e talentosa. Motiva-me levar a emoção ao público, fazê-los viver experiências diferenciadas, com sentido, com propósito, com significado. E obviamente motiva-me o orgulho que os nossos clientes possam sentir. Motiva-me também o reconhecimento do cliente. A confiança que depositam em nós, e as palavras de agradecimento que surgem no final. Ainda que estejamos ‘apenas’ a fazer o nosso trabalho”, esclarece.
E a lista é longa também no que toca ao que mais gosta na área dos eventos. “Gosto de solucionar problemas. Gosto de trabalhar marcas e conceitos diferentes todos os dias. De ver e sentir a satisfação de todos durante um evento, seja do nosso cliente direto, seja dos participantes desse evento. É uma sensação de dever cumprido.
Gosto do facto de não haver dois dias iguais. É certo que há dias em que este ponto também pode ser considerado como algo negativo (risos). Mas a verdade é que não temos uma vida aborrecida.”
Ou seja, “inevitavelmente gosto de tudo o de bom que esta área já me proporcionou ao longo dos últimos anos. Temos que estar sempre à procura de algo novo, algo diferente, um espaço, um restaurante, um hotel, uma estrada, uma tecnologia, tudo. E tudo isto é um desafio, mas um desafio incrível que também acaba por nos enriquecer como pessoas. Acabamos por estar sempre um passo à frente (ou pelo menos tentamos) daqueles que nos rodeiam e que nada têm a ver com esta área. Gosto da agitação do dia-a-dia. Apesar de poder haver alguns dias em que nos queixamos dessa mesma agitação, se eventualmente temos alguns dias seguidos mais calmos, estranhamos e pensamos que algo não está a correr bem”.
No outro lado da balança, Luís Sepúlveda avisa que do que gosta menos é de perder. “Perder talvez seja uma palavra um pouco dura, mas a verdade é que é algo que, como líder, tenho de lidar e fazer com que a equipa não desmotive. Nesta área estamos constantemente em concurso. Depois de dias ou semanas em que a equipa se dedica a construir aquela que é para nós a melhor proposta, muitas vezes em tempo recorde, receber uma resposta negativa por parte do cliente, é muitas vezes frustrante. Principalmente quando essa resposta não vem acompanhada de uma explicação que nos faça perceber e melhorar numa próxima. Faz parte do nosso trabalho, todos sabemos isso, mas não deixa de ser duro”, explica.
Recorda os dois pesos e duas medidas do facto de não haver dois dias iguais – algo de que até gosta. Por um lado, pode ser encarado “como algo bom e positivo”, mas também é certo “que acaba por influenciar bastante a nossa vida familiar. Em janeiro ou fevereiro planear e marcar as férias de verão é algo utópico, por exemplo (risos)”.
Desafios, soluções e aventuras
Como evento mais marcante, Luís Sepúlveda destaca um dos mais recentes, o BMW Music Experience, realizado em pleno confinamento, em fevereiro de 2021, “por todo o contexto envolvente”. A marca lançou o desafio de apresentar o novo BMW iX3 e a equipa desenvolveu o conceito à volta da música, com concerto e talk show, tendo contado com a participação de Marisa Liz, Carlão, Carolina Deslandes e de Rui Unas, como dinamizador do evento. Este decorreu no Capitólio, em Lisboa, e teve transmissão online. “Este evento surgiu depois de muitos meses sem trabalho e foi um boost de energia para toda a equipa. Todos estiveram envolvidos. O sentimento de união foi incrível. Incrível foi também a confiança por parte do cliente. Em todo o momento escolheu trabalhar connosco como parceiros, em vez de nos ver como um fornecedor.”
Quem trabalha em eventos sabe que há coisas que não se controlam, por mais planos alternativos que se façam. Luís Sepúlveda conta algumas situações em que as coisas poderiam não ter corrido como planeado...“Já tivemos a Proteção Civil a querer cancelar um grande evento, horas antes do mesmo acontecer, por ameaça terrorista”, exemplifica. E acrescenta: “Na altura da vitória de Portugal no Euro 2016, fizemos um evento de celebração com o Éder na loja da Nike do Chiado. Não tivemos noção das proporções que o evento podia ter, uma vez que nem sequer tinha sido comunicado, mas pouco depois fomos alertados pela polícia que tínhamos cortado todos os acessos ao Chiado, tal era a multidão de pessoas que queria chegar à loja para ver o Éder. Valeu-nos o espírito do Euro (e que os próprios polícias também queriam ver o Éder).” Além disso, lembra que a empresa faz vários eventos de running e que “a incerteza de que alguém se possa sentir mal durante o percurso é sempre algo que nos deixa bastante alerta”.
Entre o rodopio dos desafios e soluções, há sempre espaço para situações engraçadas. Luís Sepúlveda destaca dois momentos pré-evento diferentes, mas ambos relacionados com a Ponte 25 de Abril. “Há uns anos, para uma proposta que estávamos a desenvolver, tivemos a brilhante ideia de apagar todas as luzes da ponte, ou em alternativa, mudar todas as luzes de cor. Quando dirigimos o pedido à Junta Autónoma das Estradas, por email e telefonicamente, perguntaram-nos se aquilo era para os apanhados.” O diretor‑geral da Lastlap adianta que, mais tarde, “estávamos a desenvolver um projeto que consistia em montar um campo de ténis na base de betão do pilar sul. Isto obrigou a algumas visitas técnicas ao local. Acontece que o gestor de projeto sofria bastante de vertigens e de claustrofobia, pelo que cada visita era uma aventura”.E como se somam os anos nesta área, somam-se também as histórias. Luís Sepúlveda recorda-se de um “cúmulo de situações” que aconteceu no decorrer de um evento para a Audi Espanha. “Em resumo, o evento consistia em levar às 24 horas de Le Mans vários jornalistas”, uma viagem que seria feita de carro. Havia pouco tempo de preparação, mas havia confiança entre agência e cliente, pelo que o desafio foi aceite. “Os percalços foram-se sucedendo, mas sempre nos bastidores”, sem que ninguém se apercebesse. Por exemplo, “não conseguimos hotel para o staff e, durante os quatro dias do evento, o nosso quarto foi um Audi com os bancos traseiros rebatidos”.
Além disso, “a tenda insuflável que tínhamos que montar, para receber os jornalistas, vinha de Inglaterra. Coincidiu com um momento de greve dos transportes. Ao chegar a Le Mans recebemos a notícia que a tenda não chegaria para o evento. Solução? A nossa carrinha, que vinha de Portugal, parou em Le Mans para descarregar e seguiu para Inglaterra para ir buscar a tenda. No dia seguinte, à hora prevista estava montada”.
E continua: “Numa das noites tínhamos que servir um jantar numa zona adjacente ao Paddock. Quase tudo vinha de Portugal e/ou Espanha, mas algo tão simples como gelo para o bar aberto, compraríamos em Le Mans. Não existia. Solução? Comprar uma arca frigorífica numa loja de eletrodomésticos e bolsas de fazer gelo no supermercado. Ainda hoje temos essa arca frigorífica na Lastlap e dá-nos muito jeito.” O resultado? “Depois desta aventura voltámos a Le Mans mais quatro anos.”
© Maria João Leite Redação
Jornalista