The Presidential Train: “Portugal precisa de projetos destes”

Entrevista

30-11-2022

# tags: Luxo , Portugal , Turismo

Gonçalo Castel-Branco, mentor do The Presidential Train, faz o balanço desta aventura pela linha do Douro, que terminou no final de outubro.

Ao longo de cinco edições, o The Presidential Train correu os trilhos ferroviários do Douro, transportando milhares de turistas para uma experiência de luxo fora do comum. O Comboio Presidencial, que saiu do Museu Nacional Ferroviário para levar a bordo turistas e chefs de renome, viajou pela última vez a 29 de outubro.

“O contrato que tínhamos com o Museu Nacional Ferroviário terminou com esta edição e, apesar da nossa vontade de continuar com o projeto, não foram encontradas até ao momento condições de o fazer”, conta Gonçalo Castel-Branco, mentor do projeto.

O The Presidential Train, comboio de 1890 que durante mais de um século transportou altas entidades e que foi restaurado em 2010, transformou-se num restaurante de luxo. A ideia surgiu da filha mais velha de Gonçalo Castel‑Branco e, cinco edições depois, o orgulho é “enorme”.

“Por mim, pela minha equipa, pelo Douro e pelo país. Depois de tantos prémios nacionais e internacionais, de estar em todas as listas de melhores comboios de luxo do mundo, de receber 12 nacionalidades por dia, não há outra maneira de olhar para este projeto do que como um dos projetos turísticos mais bem-sucedidos de sempre do nosso país”, sublinha.

A ideia surgiu no seio familiar, pelo que é obrigatório saber o que pensa hoje a família da realização deste projeto… “A minha filha julgo que o vê com uma mistura de orgulho e vergonha, como qualquer adolescente. O resto da família vê-o como um feito incrível, mas também duríssimo, ao qual demos muito mais do que algum dia alguém saberá.”

Um projeto “invulgar” com “resultados invulgares”


Todo o esforço traduziu-se em reconhecimento, nacional e internacional. O sucesso não era esperado, “até porque nunca trabalhamos para prémios, mas, sim, para os clientes e parceiros”, diz Gonçalo Castel-Branco, que frisa que, “mais do que os prémios, os 18 milhões de euros em retorno mediático para o país ou os 10,3 milhões de euros de impacto na economia local do Porto e Douro são métricas muito relevantes”.

Foi, de qualquer forma, um projeto bastante agraciado. Até porque reúne características diferenciadoras, como “a sua história invulgar – ter sido inventado por uma miúda de 10 anos, a partir de um comboio com mais de 100 –; o juntar privados e públicos numa ‘carta de amor’ a Portugal; o pegar num produto de museu e dar-lhe vida”.

“É um projeto, de facto, invulgar e talvez por isso tenha atingido resultados invulgares”, referiu o mentor do The Presidential Train, que considera uma tarefa muito difícil a de destacar um momento destas cinco edições, “especialmente para mim, que estive em todas as viagens e que falei com cada um dos quase 6.000 passageiros”. Mas, a ter de destacar, escolhe o último dia, “por ter sido tão emocional e bonito”.

Gonçalo Castel-Branco considera que Portugal deve apostar mais neste tipo de experiências turísticas. “É absolutamente estratégico, para um país do nosso tamanho, atrair turismo qualificado em vez de massificado. Se do ponto de vista hoteleiro a oferta para esse tipo de turista tem crescido na última década, do ponto de vista das experiências – particularmente no interior – temos pouquíssimas.”

“Portugal precisa de projetos destes e o turismo ferroviário tem condições de representar uma enorme oportunidade para os criar – em particular, com um governo que se tem revelado empenhado em investir na ferrovia. Espero que o Presidential sirva como exemplo para guiar essa conversa no futuro”, conclui Gonçalo Castel-Branco, que já tem novos projetos em vista.

© Maria João Leite Redação