Congresso da APAVT: Viagens de negócios estão a recuperar mais lentamente
02-12-2021
# tags: Eventos , APAVT , Turismo , Viagens
No decorrer da terceira sessão do 46º Congresso da APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, que decorre até amanhã no Centro de Congressos de Aveiro, debateu-se as tendências do consumidor, a capacidade de oferta e a velocidade da retoma – tema da terceira sessão do evento.
Tendo em conta que uma boa parte das reuniões de negócios passaram para o ambiente digital, como está a decorrer a retoma das viagens corporativas? Frédéric Frère, CEO Travelstore American Express GBT, vê esta questão com “muita humildade”, já que todas as previsões que são feitas são desafiadas pelos contextos que se vão alterando. “O que é certo é que temos de adotar uma postura bastante prudente, conservadora, no que toca à nossa atividade no corporate, porque temos assistido realmente à aceleração de algumas tendências”, como as videoconferências, explica. “E a obrigação de mantermos o distanciamento das pessoas veio, de facto, acelerar essa tendência.”
De acordo com Frédéric Frère, “as plataformas digitais têm melhorado as suas possibilidades, as suas capacidades” e certas viagens já não vão voltar a ser necessárias. Mas, ainda assim, “mais recentemente, quando se começou a assistir a uma atenuação do impacto da crise sanitária também fomos agradavelmente surpreendidos com um certo vigor na retoma das viagens de negócios, têm estado a superar as nossas previsões”. Apesar das turbulências e dos altos e baixos, “estamos numa rota de recuperação”.
Frédéric Frère considera que “há muitos fatores de ameaça, mas há muitos fatores de oportunidade e que vão estimular o mercado das viagens”. Fatores de ameaça passam pelas plataformas digitais, que vão substituir algumas viagens – embora, não haja plataforma “que substitua o que está a acontecer aqui” [num evento presencial] –; e o tema da sustentabilidade, uma vez que “muitas empresas estão cada vez mais a incorporar esse elemento nas suas políticas e estão a desafiar a necessidade de se viajar por qualquer motivo”. Mas há também oportunidades e o responsável da Travelstore acredita que a indústria das reuniões e dos eventos “vai, sem dúvida, beneficiar muito com o que tem acontecido”.
Silvia Mosquera
A TAP tem vindo a registar um “grande crescimento na procura, nas vendas, resultado da abertura das fronteiras com o Brasil e os Estados Unidos”, contou Silvia Mosquera, CCRO da TAP Portugal, que referiu ainda que a companhia aérea aumentou a capacidade de voo. No que toca à recuperação, o mercado doméstico, as viagens familiares estão a “recuperar bem”; já o do corporate está mais atrasada. “Há reuniões que não vão voltar a ser ‘face to face’. Mas é importante também manter o contacto”; contudo, a retoma será mais lenta neste segmento.
Sobre a estratégia comercial da TAP, a responsável apontou a necessidade de melhorar as vendas e a experiência do cliente. “E temos de fazer tudo isto reduzindo custos. Não é uma coisa fácil”, sublinhou.
Francisco Pita
Surto após surto, as reduções no tráfego têm sido significativas e isso tem feito com que a ANA Aeroportos /Vinci seja cautelosa nas previsões que vamos faz. No entanto, Francisco Pita, CCO da empresa, conta que, “agora, estamos numa situação em que a recuperação que estamos a ter é superior àquela do que tínhamos previsto inicialmente”. Ainda assim é uma recuperação “assimétrica” e “em velocidades diferentes”.
Nos aeroportos dos Açores e Madeira, o tráfego tem sido maioritariamente doméstico, “com recuperações mais rápidas”; nos de Lisboa e Porto, há grande percentagem de tráfego e uma recuperação “bastante grande”, apesar de uma recuperação mais lenta do segmento corporate; no do Algarve, há um tráfego de lazer que recupera muito rápido, apesar da dependência do mercado do Reino Unido e dos sobressaltos da pandemia… “Temos esta diversidade de comportamentos” e diferentes velocidades de retoma. “Claramente, o tráfego de lazer e o de vista a familiares e amigos está a recuperar muito mais rapidamente e com maior resiliência e o tráfego de negócios a recuperar mais lentamente.” Ainda assim, embora cautelosa, há confiança na recuperação deste segmento.
Sobre o tema do novo aeroporto de Lisboa, Francisco Pita recorda a posição da ANA, que diz estar preparada, ter uma proposta e conseguir concretizar em quatro anos no Montijo. “É fundamental ter aumento da capacidade de oferta. É impossível continuar a crescer sem aumento significativo da capacidade.”
Apelo à união e à flexibilidade
Joaquim Monteiro, diretor-geral da Luisa Todi DMC, contou que estas últimas incertezas pararam os pedidos. “Tudo o que estamos a fazer agora será para o próximo ano” e a retoma será feita efetivamente a partir da Páscoa, acredita.
Joaquim Monteiro
Para Joaquim Monteiro há cinco fatores fundamentais para a recuperação: a clarificação e harmonização das normas (tanto em Portugal, como além-fronteiras), a flexibilização por parte dos players do setor, a qualificação dos recursos humanos, a manutenção dos apoios às empresas (aliada à redução da carga fiscal das empresas) e a promoção externa do destino.
Ainda antes de terminar o painel, foi dada a conhecer a perspetiva de quem trabalha na meetings industry. Uma profissional da Inventivos contou que tudo parou, com os novos cenários pandémicos. “Tínhamos algumas perspetivas de recomeço; 2022 já se estava a desenhar, mas com a nova variante, de um momento para o outro, parou tudo.” Deixou um apelo à união da indústria, bem como à flexibilidade entre parceiros: hotéis, restaurantes, empresas de atividade, DMC, “para dar hipótese ao cliente de fazer o seu evento em pleno”.
Foi ainda levantada a questão da carga fiscal nos eventos. “O MI em Portugal é mais caro do que em Espanha”, não só pelas taxas, mas também pela possibilidade que as DMC espanholas dão ao cliente de reduzir o IVA, por exemplo. “De uma perspetiva fiscal e competitiva, o cliente tem muitas opções”, pelo que só vem para Portugal se quiser muito, acrescentou.
Marios Kammenos
No final, Marios Kammenos (Travel DMC, da Grécia) deixou algumas luzes sobre os cenários no seu país. No início, não imaginavam que esta questão da pandemia fosse duradoura, até acontecer o primeiro confinamento. “E aqui estamos.” Ainda assim, “não nos podemos queixar”, já que o país tem conseguido recuperar algum turismo.
Jornalista viajou a convite de APAVT
Foto de abertura: Frédéric Frère
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© Maria João Leite Redação
Jornalista