Faro: Genuíno e marcante

17-08-2020

# tags: Algarve , Eventos , Portugal , Faro , Turismo , Destinos

Um destino, tantas escolhas. O claim, que encontramos no material promocional turístico da Câmara Municipal de Faro, não podia fazer mais sentido nesta versão da cidade, mais dinâmica, mais atraente, com mais potencial para eventos.

Por ocasião do Congresso da APECATE, em fevereiro, a autora desta peça teve a oportunidade de regressar a Faro, depois de muitos anos. E a surpresa não podia ser maior. Faro mudou. Além do interesse patrimonial, que sempre teve, e da maravilhosa Ria Formosa, linda como nunca, a capital do Algarve tem agora um charme e uma ‘movida’ que talvez lhe faltasse no passado. Tendo sido durante muitos anos considerado apenas uma porta de entrada no Algarve, o destino vale hoje por si só e merece estar no radar de quem visita a região ou de quem quer fazer um evento ou incentivo.

Muito importante para o setor dos eventos é a questão da acessibilidade. Um aeroporto a cinco minutos de distância da cidade é uma grande mais‑valia. Mas há outras. Anabela Freitas, da XPTO Events and DMC, enumera mais algumas: “a riqueza histórica da cidade e o facto de se situar no coração da Ria Formosa, que permite a realização de atividades náuticas e acesso às ilhas”. Outro ponto positivo dos últimos anos foi o aumento da oferta de restauração e winebars.

Cristina Nugas, da Portugal No Limits, nasceu e cresceu em Faro, e por isso acompanha muito de perto a evolução do destino. “Costumava dizer que a maior vantagem da cidade é ser um local completamente desconhecido turisticamente, o que conferiu à cidade um ambiente muito local, sem grandes ‘franchisings’, onde ainda se sente um ambiente recatado e muito português”, refere. O centro histórico é beneficiado ainda pela existência de restaurantes e cafés “de cariz bem local” que conferem uma animação à Cidade Velha. É por isto que Faro “sempre fez parte dos meus programas recomendados”, conta Cristina Nugas, “por ser diferente, único, genuíno e uma combinação perfeita entre histórico, shopping local e natureza, pela proximidade do parque natural da Ria Formosa”.

A oferta hoteleira em Faro é marcada pela existência de dois hotéis de maior dimensão, o Hotel Eva e o Hotel Faro, algumas unidades mais pequenas e uma grande oferta de alojamento local. Estará o destino bem servido neste aspeto? “Penso que está fornecido qb, tem duas boas unidades hoteleiras com facilidades para eventos, mas com características um pouco diferentes de outras unidades noutros destinos algarvios mais conhecidos, mas penso que é assim que se quer manter Faro: histórico, típico, ainda com alma”, afirma Cristina Nugas, da Portugal No Limits. Anabela Freitas, da XPTO Events and DMC acha que existe alguma oferta, “no entanto considero que, no geral, Faro tem a necessidade de maior e melhor oferta hoteleira que possa oferecer bons e modernos espaços para conferências e reuniões”.

Espaços

A falta de um multiusos é muitas vezes apontada como uma carência na cidade. Anabela Freitas afirma que é necessário um novo espaço, ou a renovação de um antigo espaço, “uma vez que na cidade existem vários espaços com grande potencial para serem reabilitados e renovados cujo foco deverá ser exactamente uma oferta versátil e moderna”. A diretora da XPTO, aliás, preferiria esta última opção, “visto que poderiam ser aproveitadas infraestruturas já existentes e que estão com um ar abandonado, e ao mesmo tempo seria uma reabilitação de determinadas zonas da cidade”. Cristina Nugas tem “mix‑feelings” em relação ao multiusos. “Penso que um espaço destes pode despontar o desenvolvimento desenfreado da cidade e tornar Faro numa outra cidade turística sem alma”. Mas por outro lado “poderia dar à cidade outro tipo de oportunidades para capturar outro tipo de eventos”. A diretora da Portugal No Limits lembra, por exemplo, que se poderia aproveitar o Estádio do Algarve e transformá‑lo num espaço polivalente, que pudesse acolher outro tipo de eventos, “até porque penso que neste momento é difícil rentabilizar o espaço e seria bom a entidade gestora pensar ‘fora da caixa.”

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Museu Arqueológico | © Associação Turismo do Algarve
 

Mas por não existir ainda um multiusos, não quer dizer que não haja espaços para eventos. Cristina Nugas enumera alguns dos que utilizam: os claustros do convento de Nª Senhora da Assunção (atual Museu Arqueológico da cidade), o Estádio do Algarve, as Muralhas de Faro, um espaço privado parte da Cidade Velha, o Teatro Lethes, o Clube Farense, ou o Claustro do Convento S. Francisco, atualmente a escola de Hotelaria e Turismo de Faro. Anabela Freitas, e porque trabalham sobretudo o setor MICE, afirma que utilizam muito frequentemente o Museu Arqueológico, “que oferece espaços interessantes para a realização de eventos, nomeadamente recitais de Fado, jantares no claustro e outras atividades inseridas numa visita de cidade”. A responsável lembra ainda a Cidade Velha, com recantos pitorescos, e a Ria Formosa, que “oferece também espaços interessantes para a realização de atividades nomeadamente passeio pedestres e de bicicleta, actividades nas ilhas cujo acesso pode ser feito a partir de Faro”.

Animação e experiências

Uma cidade sem animação é menos atraente para um congressista ou um participante de um evento. Muitas vezes eles trazem as famílias aos destinos e este têm de ter algo a oferecer. Cristina Nuga não hesita, a dinâmica da cidade é fantástica. E dá alguns exemplos, “O Festival F é já um dos mais conceituados festivais da região pela sua originalidade e pelo facto de ser inteiramente realizado na parte velha da cidade. O Teatro das Figuras e o Teatro Lethes complementam a oferta cultural que agrada a todos: locais e estrangeiros”, refere a diretora da Portugal No Limits.

“Nos últimos anos a oferta a nível cultural tem aumentado na cidade, nomeadamente o Teatro das Figuras apresenta um cartaz bastante interessante com vários espetáculos durante todo o ano”, diz Anabela Freitas, da XPTO. E lembra também o contributo das empresas de animação turística, elas próprias agentes dinamizadores da cidade, e que têm tido um “trabalho fantástico”. A responsável aplaude também o trabalho da autaquia, que “se mostra bastante empenhada no desenvolvimento turístico‑cultural da cidade”. Para eventos é possível apresentar propostas diferenciadoras na cidade. “Na XPTO Events and DMC valorizamos bastante o contacto com a cultura local, gostamos de dar a conhecer a nossa história e tradições”, sublinha Anabela Freitas. Propostas que têm que estar alinhadas com o perfil do cliente. “Consideramos que a experiência tem de ser enriquecedora e que fique na memória do visitante, até porque muitas vezes os ‘delegados’ viajam para o Algarve no âmbito de um evento da sua empresa e mais tarde poderão voltar inseridos num outro evento ou até mesmo a nível pessoal”.

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Atividade da Portugal No Limits

“A Portugal No Limits criou uma experiência, que é também uma história, à qual dei o nome de Clam Picking. É basicamente a minha história de infância ligada à atividade piscatória local, algo que vivia durante as férias de verão na minha infância, com o meu avô que era pescador e que tinha um pequeno barquinho de madeira, localmente chamado Saveiro”, conta a responsável. Assim, a empresa adquiriu duas embarcações, dois saveiros, que licenciou para atividade marítimo‑turística. Ali conta e mostra a história. “Trata‑se de um passeio de barco na Ria de Faro, acompanhado pelo cão de água português, a minha cadela Nina que acompanha desde sempre esta experiência, com paragem num dos ‘baixios’ em maré baixa, para explicar ao visitante a variedade de fauna e flora existente, incluindo as técnicas de apanha de marisco”. Para melhor comunicar experiências como a do clam picking, foi criada a marca Unique Algarve.

A Portugal No Limits desenvolve, em Faro, várias atividades de team‑building, aproveitando a geografia, os venues da cidade e os agentes locais (restaurantes, tasquinhas, mercearias antigas). “Este é um conceito de muita interação com os locais, mas também permite ao participante não só visitar a cidade de uma forma diferente como degustar os pequenos tesouros gastronómicos locais que lhes proporcionamos como parte da atividade”, refere Cristina Nugas. Um incentivo que assiste a uma cada vez maior procura por parte do mercado nacional, sobretudo desde o ano passado. Mas os mercados principais da empresa são claramente os internacionais, com destaque para o Reino Unido, Alemanha, França, Benelux e Estados Unidos. A XPTO Events e DMC, em termos de eventos, recorre a Faro sobretudo para reuniões, conferências e incentivos. A empresa trabalha essencialmente com o mercado internacional, nomeadamente o do Reino Unido, França e Alemanha.

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Evento da XPTO Events and DMC
 

Faro tem cada vez mais condições para receber eventos

O Hotel Faro, um Urban Resort de 4 estrelas, está localizado mesmo no centro da cidade, a olhar para a Ria Formosa. A unidade está habituadíssima a receber eventos e estes, juntamente com os incentivos, representam 33% da faturação do hotel. Esta percentagem “tem estado sempre em crescendo”, conta‑nos a diretora, Sofia Hipólito. Isso deve‑se, por exemplo, ao serviço, e às quatro salas de reunião com luz natural. “O parque de estacionamento nos pisos ‑1 e ‑2 do Hotel tem acesso direto à receção e salas de reunião e o restaurante de cozinha de autor, com uma vista inigualável para a Ria Formosa, permanece na memória clientes de eventos são sobretudo nacionais, explica a responsável. “São as empresas de cosmética, farmacêuticas e de tecnologia que têm eventos e reuniões numa base mais regular no Hotel Faro. Também recebemos com frequência ações de recrutamento de empresas internacionais de aviação”.

Faro tem cada vez mais condições para receber eventos, acredita Sofia Hipólito, que diz que “Faro é uma cidade cada vez mais conhecida pelos melhores motivos”. “Enquanto que há uns anos era considerada uma cidade dormitório e de serviços, nos últimos anos temos presenciado uma evolução enorme na dinâmica da cidade a nível da oferta cultural, animação turística e restauração”, considera. A isto acresce um bom clima, o fácil acesso, a localização mesmo no centro do Algarve, e o cenário da Ria Formosa. Faz no entanto falta um centro multiusos. “Muitas das empresas com que trabalhamos têm dificuldade em encontrar espaços para conferências onde consigam realizar as reuniões e as refeições, uma vez que o que existe tem uma capacidade muito limitada”, refere Sofia Hipólito. A responsável dá nota positiva à animação cultural da cidade e ao cartaz diversificado de eventos. A relação entre os players da cidade é complementar e só assim “é possível atrair novos negócios para os quais não existiria capacidade se não se unissem esforços”, refere Sofia Hipólito. “ A título de exemplo, se existir uma conferência com 200 ou 300 pessoas na universidade, estas ficam alojados nos hotéis locais”.

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Cinco perguntas a Carlos Baía, vereador da Câmara Municipal de Faro

Qual é a estratégia de Faro para este setor do turismo de negócios e eventos?

É importante voltar um bocadinho atrás e explicar o que era Faro. Faro, há seis ou sete anos, era uma cidade maioritariamente virada para os serviços: serviços descentralizados da administração pública, hospital, escolas. Portanto este fenómeno do turismo, que já tem muita tradição no Algarve, não era ainda acompanhado por Faro. Fomos percebendo, também pela dinâmica do turismo, que tínhamos aqui um grande potencial num conjunto diversificado de áreas. Temos a natureza, a nossa Ria Formosa, temos património, temos cultura, gastronomia, enfim temos aqui um conjunto muito diversificado de ativos que são importantes. Temos, ainda, um aeroporto que movimenta milhões de passageiros e que está a cinco minutos do centro da cidade. O ano passado, nessa lógica de perceber a importância que o turismo pode ter para a economia do concelho, criamos uma divisão de promoção turística. Achamos que o turismo não era apenas mais uma atividade económica, mas que tem características muito próprias, e com um potencial que merece ser trabalhado de forma autónoma. Dito isto, temos noção que, do ponto de vista dos congressos, as nossas estruturas são limitadas, ou seja, nós não conseguimos trazer congressos de muitas centenas de pessoas. Mas conseguimos mais pequenos. Aqui também não há um trabalho único da câmara por si, há um trabalho de parceria, dos privados, dos institucionais, e portanto nesse sentido já temos alguns espaços. Temos o nosso Teatro das Figuras, com 700 e tal lugares, temos a Universidade, e depois outras salas mais pequenas com 100 a 200 lugares.Mas está na calha algum tipo de investimento num espaço multiusos? É um projeto que temos. Não vai acontecer dentro de um ano ou dois, seguramente, mas é uma conversa que este executivo já vem tendo sobre a necessidade de no concelho haver um espaço polivalente, um multiusos, onde possamos acolher um conjunto muito diversificado de eventos e atividades. Ainda assim, até chegarmos lá, achamos que temos aqui um potencial, temos equipamentos, temos condições que podem permitir acolher um determinado conjunto de eventos. A câmara quer assumir Faro como um destino de congressos. Sabemos que o mercado de congressos atualmente movimenta muitos milhões de pessoas e de euros, e queremos, dentro do que são as nossas condições, os nossos equipamentos, podermo‑nos também posicionar no segmento.

Em termos de investimentos hoteleiros, há alguma coisa que nos possa contar?

A cidade cresceu muito fundamentalmente baseada no alojamento local. Nós hoje em dia temos cerca de 800 empreendimentos, em que 18 são empreendimentos turísticos, e os restantes são integrados na categoria de alojamento local. Estamos a falar de uma disponibilidade para receber seis mil hóspedes. Temos alguns projectos em carteira que vão acontecer; alguns projetos de investimento sinalizados que ainda não arrancaram, mas não queria avançar muito. O mercado está a mexer. Vamos tendo também na área do alojamento local alguns investimentos, não numa lógica de pequenas unidades, mas unidades de maior dimensão. Por outro lado, nós município também estamos a investir e temos alguns projetos de melhoria da cidade. Estamos a trabalhar as questões da mobilidade, temos um conjunto de projetos que achamos que vão mudar a face da cidade relativamente à sua frente ribeirinha, estamos a trabalhar com as entidades competentes, envolvendo aqui um conjunto de autorizações e parceiros, porque não depende só da vontade da autarquia. Pensamos, dentro de dois ou três anos, ter a face da nossa cidade transformada, nomeadamente naquilo que é a ligação com a ria Formosa. Sabemos que todas as cidades que têm algum tipo de mar/água, e que conseguem potenciar efetivamente essa ligação entre o visitante e a água, funcionam muito bem e tornam‑se mais agradáveis e mais atrativas. Temos a ria Formosa que é uma das Sete Maravilhas de Portugal, portanto estamos a apostar nisso, não perdendo de vista as questões ambientais, e as questões de sustentabilidade, sabemos que hoje são fundamentais, e não queremos destruir aquele ecossistema que é único, mas podemos dentro de determinados parâmetros naturalmente tirar partido dele e disponibilizá‑lo a quem nos visita.

Uma coisa muito importante neste setor é a animação das cidades, os eventos próprios que elas têm, para os congressistas que queiram ficar mais algum tempo ou trazer as famílias. Qual é a política cultural, de animação da câmara?

Acho que os turistas hoje não se limitam por barreiras e muito menos por barreiras concelhias. Acho que na questão da animação, mais do que olharmos para o concelho, temos de olhar para a região no seu todo e aí temos muita atividade. Por exemplo o programa 365, durante a época baixa, e efetivamente durante a época alta já há muita atividade. O concelho tem neste momento um projeto para apresentar uma candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, tem um conjunto de infraestruturas, seja o Teatro Lethes, que é um bocadinho o nosso mini‑Scala, com características muito próprias, seja o Teatro das Figuras, que tem cada vez mais atuações, sempre com a sala cheia e com cada vez mais procura de ano para ano, temos os nossos museus. E depois temos um conjunto de atividades; o Festival F, o Luza, o Festival de Rooftops, o FolkFaro. Vamos tendo ao longo do ano um conjunto de eventos que já estão consolidados. Julgo que essa questão da animação existe. E depois, noutra óptica temos um conjunto de empresas de animação turística que também, por si, trabalham para dar a conhecer aos visitantes o melhor que a cidade tem. Já temos aqui uma oferta bastante interessante.

Quais são os próximos passos em termos de promoção da cidade e do concelho neste segmento?

Julgo que há que consolidar. É um segmento muito próprio, com características muito próprias, o que haverá aqui a fazer é perceber, falar com os operadores, que por si já dinamizam e organizam este tipo de grupos; há que participar eventualmente em feiras onde de facto esses profissionais se encontram para dar a conhecer Faro. Embora aí me pareça também, numa lógica regional, que muitas vezes a marca Faro aparecer por si só poderá não ter o mesmo impacto que tem aparecer a região do Algarve, que já tem uma marca consolidada. O nosso desafio e a nossa vontade é efectivamente aparecermos, darmos nota do nosso interesse e disponibilidade em entrar neste tipo de mercado de congressos e incentivos, mas se possível sempre associado à marca do Algarve, o que será benéfico para Faro, mas também para o Algarve. Não podemos perder de vista, e eu reforço isto, e este aspecto é fundamental no mercado de congressos: temos um aeroporto que está a cinco minutos do centro da cidade, já temos a facilidade para chegar à região, agora temos é que reforçar essa promoção e dizer que queremos entrar nesse mercado, o que julgo que a própria região de turismo e associação de turismo já estão a fazer. Estamos alinhados nessa matéria.
 

Cláudia Coutinho de Sousa 

 

© Cláudia Coutinho de Sousa Redação