A moderação ganha nova importância
11-12-2020
A sofisticação dos eventos digitais a que vamos assistindo deve ser acompanhada pela qualidade dos conteúdos, dos oradores e dos moderadores. Estes últimos são, muitas vezes, relegados para segundo plano, mas o seu papel é “crucial”, como afirma Jan‑Jaap in der Maur, da Masters in Moderation. “Ainda mais do que no palco, as pessoas quando estão online precisam de ser ouvidas, vistas e apreciadas”, refere o moderador, destacando a capacidade desta figura do moderador para manter a interação necessária para que os participantes mantenham o interesse no evento. Para Jan‑Jaap, no online “perdemos a sensação de que estamos ‘a lidar com humanos’ e o moderador pode ajudar a construir uma ‘tribo temporária’, que faça com que as pessoas sintam que fazem parte de um grupo”.
O nosso entrevistado não tem dúvidas: é muito mais difícil moderar um evento digital ou híbrido do que um presencial, pela circunstância de não conseguir “ler o grupo”. E sobretudo nos eventos híbridos, porque estamos a falar de dois grupos/públicos diferentes, o que está no computador e o que está presencialmente e é preciso atender a ambos. Mas um moderador experiente e qualificado ajuda bastante. E se o evento estiver bem desenhado mais exequível se torna. O responsável da Masters in Moderation vê com bons olhos que os eventos híbridos tenham dois moderadores, porque as duas vertentes têm requisitos diferentes, mas avisa: “É crucial que os dois mundos (palco e online) pareçam apenas um, pelo que os dois moderadores devem cooperar bastante”.
O moderador não deve ser o centro das atenções
Que tipo de competências deve então um moderador possuir? “Sensibilidade, compaixão e amor por todos, uma liderança de serviço e carisma sem ego”. A liderança de serviço prioriza as necessidades dos outros e tem como objetivo ajudá‑los a desempenhar as funções da melhor maneira possível. E por isso faz todo o sentido usar aqui uma aproximação ao futebol. Por um lado, o moderador não pode ser o centro das atenções, porque é uma espécie de árbitro, por outro, pode ser equiparado a um número 10, a distribuir jogo. Jan‑Jaap alerta que o moderador não deve ser envolvido apenas no final da preparação do evento. Idealmente até deve ser envolvido logo no início. “Se quiser aproveitar a experiência do moderador, junte‑o à conversa quando ainda há tempo para fazer modificações”. Até porque, num certo sentido, o moderador pode ajudar o orador a desenhar a sua apresentação para ter mais interação e provocar mais envolvimento por parte da audiência.
Uma questão sempre sensível para um moderador, mas também para um orador é o uso do humor. “É algo perigoso”, alerta Jan‑Jaap in der Maur. “Uma dose equilibrada de humor ajuda muito, mas o tipo errado de humor pode provocar muitos estragos”, refere. E desmistifica: “As pessoas pensam erradamente que o moderador precisa de ser engraçado e dinâmico o tempo todo (às vezes sendo engraçado às custas dos participantes). Eu acredito que o moderador precisa de estar constantemente e deliberadamente a mudar o tom, o ritmo e o estilo”. Num mesmo evento, termina Jan‑Jaap, “posso usar o humor, uma reflexão séria, ser muito dinâmico e usar o silêncio”.
Cláudia Coutinho de Sousa