APECATE Day: “É importante mantermos a porta aberta”
07-10-2020
Os próximos seis meses vão ser duros e, apesar do muito que já foi feito, é preciso fazer mais. A ideia foi deixada hoje pela secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, que também lembrou a importância de “mantermos a porta aberta” e de o setor continuar a trabalhar, mesmo que com limitações. Depois de Lisboa e Braga, foi a vez de Albufeira receber o APECATE Day, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos, que pretende refletir sobre a retoma da atividade turística.
“É bem verdade que fizemos tudo o que era possível, mas é bem verdade que ainda temos de fazer muito mais, porque aquilo que fizemos não é de todo suficiente face à situação que todos hoje vivemos”, começou por dizer Rita Marques, alertando que se avizinham “meses muito duros”. A secretária de Estado do Turismo lembrou o apoio do Estado a empresas do setor, os esforços para a criação de linhas de financiamento e de micro crédito, e também que se conseguiu minimizar alguns dos impactos da pandemia, criar estímulos à procura e intensificar os apoios ao nível da retoma aérea, entre outras medidas criadas em articulação com as organizações representativas do setor do turismo. Muito foi feito. “Mas, em boa verdade, nada disto nos consola. Teremos de fazer muito mais. Teremos seis meses árduos”, acrescentou, referindo que amanhã deverão ser anunciados os novos apoios adicionais.
E mais do que todos os reconhecimentos e louvores, Rita Marques, adiantou que “importa continuar a trabalhar, num registo muito coordenado, muito construtivo, com as associações, com as empresas, com os trabalhadores, porque tudo aquilo que fizemos é positivo, mas nós ainda temos de fazer muito mais, pelos menos nos próximos meses, no sentido de recuperar tudo aquilo que nos foi tirado por força desta pandemia”.
Rita Marques deixou ainda um repto a todas as entidades para que, dentro das possibilidades, “todos nós possamos manter aquilo que estava planeado para o último trimestre de 2020 e aquilo que estava planeado para 2021”. A governante referiu ser importante que congressos, eventos, concertos, animação turística, continuem a trabalhar, mesmo com menos procura dos serviços. “É muito importante mantermos a porta aberta e garantirmos alguma normalidade dentro destes tempos difíceis que todos vivemos.”
Diálogo, confiança e união
António Marques Vidal começou por agradecer o apoio da secretária de Estado do Turismo, pelo diálogo constante com a APECATE e a capacidade de “escutar antes de tomar uma decisão”. E dá o selo Clean & Safe como exemplo deste trabalho em conjunto e do esforço da governante, uma vez que, no início, este selo não abrangia as empresas de eventos e conseguiu resolver essa situação. O presidente da APECATE apelou ao diálogo entre todos, nomeadamente entre a Direção Geral da Saúde, autarquias e outras entidades públicas e os empresários, porque “sem diálogo não há democracia”.
João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, lembrou as especificidades do destino Algarve, que depende 75% da procura externa e que tem características de sazonalidade, o que fez com a Covid-19 tenha tido especial impacto. Apontou como aspeto negativo as diferentes políticas de nação para nação e as diferentes medidas sanitárias. Para fazer frente aos impactos da pandemia e para manter o Algarve na lembrança, a Região de Turismo desenvolveu um manual de segurança, uma newsletter semanal com a situação epidemiológica da região para transmitir confiança, visitas virtuais ao destino, campanhas-vídeo, entre muitas outras ações.
João Fernandes enalteceu também o apoio da Secretaria de Estado do Turismo e do Turismo de Portugal na conquista de eventos internacionais, grandes “âncoras” para o destino na época baixa. O presidente da Região de Turismo do Algarve lembrou ainda que, em 2019, o Algarve registou 21 milhões de dormidas e que, em janeiro e fevereiro, o crescimento de hóspedes já ia em 14,6% – sendo, assim, possível contrariar a sazonalidade e conquistar mercado. Mas este ano houve um primeiro revés com o confinamento e o segundo acontece agora, depois de um aumento das dormidas em agosto. “Vamos atravessar ainda um desafio grande”, frisou. Mas “ontem, como hoje, estamos cá para ajudar”.
José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, lembrou que os eventos, congressos e animação turística são atividades que não só complementam o turismo no Algarve, como têm um “peso extraordinário”, num ano normal, na época baixa. Muitos eventos, apresentações de produtos e congressos, alguns de cariz internacional, que são anualmente organizados nas unidades hoteleiras algarvias, “vêm de alguma forma ajudar que a sazonalidade seja um pouco mais diluída”, referiu o autarca, sublinhando a importância da realização destes eventos, que são também fonte de rendimento para outras atividades que vivem em torno dessa atividade, como restaurantes, empresas de transportes, entre outras. José Carlos Rolo recordou que as preocupações da região e do país são muitas, pelo que se torna fundamental “estarmos unidos”, e apelou à secretária de Estado do Turismo para que lembre ao Governo que pessoas e empresas da região estão fragilizadas e que precisam de apoio.
Importante “não desistir”
No primeiro painel do APECATE Day, Rui Cardoso, jornalista do Expresso, deixou uma reflexão sobre a pandemia e sobre a massificação do turismo, lembrando alguns dos problemas que Lisboa e Porto já sentiam, fruto de um “turismo pesado”, nomeadamente ao nível do alojamento local. No segundo painel, Madalena Miranda, da Agência AIM, referiu que esta segunda fase da pandemia é “muito crítica” para as empresas do setor, “que já estão a acusar o desgaste” e que, nas próximas semanas, muitas terão de tomar medidas “mais musculadas” nas suas estruturas, apesar dos apoios disponíveis.
Mário Ferreira, do Grupo Nau, lembrou que “estamos todos no mesmo barco”, pelo que é necessário ser flexível. O segmento dos eventos e congressos é importante para o grupo, que, para fazer frente ao impacto da pandemia, desenhou uma intensa campanha de comunicação, conseguindo bons resultados (embora inferiores aos objetivos traçados para este ano) nos últimos meses. Em tempos como este, “a palavra de ordem é não desistir”, sublinhando a necessidade que as empresas têm de se adaptar e de serem flexíveis. Por seu lado, Carlos Vieira, da Ski Molhado, frisou que há muita coisa para fazer, mas que sem turismo e sem pessoas “é impossível fazermos alguma coisa”. A visão é otimista, mas há receio. E, embora habituados à “travessia no deserto” durante o inverno, Carlos Vieira sublinhou que é importante discutir ao mais alto nível a animação turística, atividade tão importante para o desenvolvimento do turismo no país.
©APECATE
Maria João Leite e Cláudia Coutinho de Sousa