As Fábricas de Eventos em série – Missão Criatividade!

06-09-2017

Podemos nos dias de hoje comparar os eventos a puzzles.

Apresentamos a imagem e o conceito ao cliente. É pedido para se dividir a proposta em 1.000 peças, retirar 500, acrescentar 50, manter o conceito e o orçamento inicialmente apresentado. Resumindo, um desafio ou mesmo um quebra-cabeças!

Esta abordagem prende-se na maioria dos casos com os pressupostos base dos briefings, “fazer mais com menos”, sendo que muitas vezes só temos acesso a estes pressupostos após a apresentação do “sonho”. O que resulta na maioria dos casos na duplicação do esforço investido em cada projecto. Primeiro apresentamos a proposta “perfeita” e só após este passo vamos pensar o evento ajustado aos reais pressupostos do briefing, tentado sempre manter, ou não desvirtuar, o conceito inicialmente apresentado e o qual o cliente “aprovou”.

Existem, mas são cada vez mais escassos, os briefings e as oportunidades para fazer eventos totalmente originais e diferenciadores. Às marcas e aos seus gestores falta ambição, vontade de sonhar e arriscar. É cada vez mais habitual passarmos o dia a dar respostas a propostas mais simples, com uma criatividade limitada pelo budget e pelos timings de apresentação e tendo o preço e a logística como foco principal. Estes pressupostos estão a conduzir grande parte dos eventos para um caminho em que a criatividade se torna um factor secundário, representando uma ameaça para a evolução do mercado e dos eventos enquanto ferramenta eficiente de comunicação. Esta realidade transforma as empresas de eventos em “Fábricas de eventos” com “produções em série”. As “fábricas” são o resultado da quantidade de trabalho ao qual se tem que dar resposta em timings recorde, o que não é necessariamente negativo, porque mostra que continuamos com um mercado que investe e precisa de investir em eventos. A “produção em série” resulta da utilização repetida do mesmo tipo de soluções.

Considero que é nossa obrigação, enquanto organizadores de eventos, contrariar algumas destas tendências e desafiar os clientes a dar prioridade à originalidade dos projectos, pois a criatividade tem que ser a prioridade número um. Essa criatividade tanto pode estar visível em grande plano numa cenografia inovadora, como em pequenos apontamentos criativos e diferenciadores. Estes pequenos apontamentos por vezes não implicam um investimento financeiro adicional por parte das marcas, implicam apenas que as marcas permitam às agências ter a confiança e o tempo necessário que estas precisam para ser uma mais‑valia para os seus projectos.

Há anos que trabalhamos com as limitações e pressões de um mercado assombrado pelos “fantasmas” financeiros e estruturais e mesmo assim fazemos acontecer e ainda ganhamos prémios pelo que fazemos. Acredito que os próximos anos são de mudança, com reforço do investimento e da confiança e que a criatividade será fundamental para as marcas atingirem os seus objectivos.

Miguel Perdigão
Team Leader da Desafio Global