Capital mutante
12-12-2016
Imagine uma cidade moderna em permanente e profunda mudança, como se alguém com muito poder e dinheiro ‑ vamos admitir que é um sheikh ‑, a tivesse transformado no cenário de um concurso internacional de arquitectura a céu aberto. Uma terra onde cada nova construção, cada novo edifício supera o anterior, em termos de altura, dimensão, beleza ou arrojo.
Pensou no Dubai? Está quase lá, mas ainda tem que percorrer 160 quilómetros para sudoeste, até Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU).
As primeiras impressões de um viajante que se aproxima de Abu Dhabi são as de uma cidade “a estrear”, construída em cima do deserto e plantada com vista para o Golfo Pérsico. Estradas e avenidas amplas, e um trânsito, ainda que congestionado a certas horas, nunca caótico. De resto, a urbanidade e a segurança são um dos argumentos para atrair visitantes, numa cidade onde, por contraste, a presença policial é discreta.
Se tem problemas com vertigens, planeie bem a viagem, porque muitos dos novos edifícios atingem alturas elevadas, com belas perspectivas e panorâmicas sobre a cidade, é certo, mas essa condicionante de ter que subir ao 60º andar para dormir, ou de ter uma reunião de trabalho a 300 metros do solo!
Neste frenesim de construção, operado por centenas, milhares de trabalhadores envergando fatos‑macacos de cores diferentes, nascem obras espantosas, como o Louvre Abu Dhabi (abertura prevista para 2017), um museu na ilha Saadiyat que resulta do acordo entre os governos dos dois países, e onde ficarão expostos manuscritos, peças de arte, objectos de valor histórico, cultural e sociológico, abarcando um período de milhares de anos e o mundo inteiro.
Impressionado? E se lhe dissermos que a seguir será inaugurado um outro colosso dos museus, o Guggenheim Abu Dhabi, projectado pelo famosíssimo arquitecto Frank Gehry? Vão ser 450.000 metros quadrados, também na ilha Saadiyat, para albergar uma colecção própria de arte moderna e contemporânea, assim como exposições temporárias oriundas do vasto espólio da Fundação Guggenheim. E para que não haja dúvidas, vai mesmo tratar‑se do maior Guggenheim no mundo!
Ainda no distrito cultural de Saadiyat ficará o Museu Nacional Zayed, que contará a história do falecido presidente Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan, a unificação que promoveu dos EAU, a história da região e as ligações culturais com o resto do planeta.
Braço aéreo
Não podemos esquecer, claro, o Aeroporto Internacional de Abu Dhabi (AUH) no meio de um projecto de renovação e de ampliação multi‑bilionário. Em 2015 o emirado teve um número recorde de visitantes, 4,1 milhões, o que corresponde a um crescimento de 18% face a 2014, mas pelo aeroporto passaram, o ano passado, 23 milhões de passageiros, o que explica bem a importância que Abu Dhabi assume enquanto hub entre o ocidente e o oriente. Só a companhia aérea nacional, Etihad, que tem aqui a base, transportou 17,4 milhões de passageiros em 2015, quase mais 20% do que em 2014, assegurando ligações para 116 destinos, sejam eles de passageiros e/ou de carga.
A expectativa, dizem os responsáveis políticos do emirado, continua a ser de crescimento, e a dois dígitos. Só assim se compreende o novo terminal que está a ser construído no AUH: capacidade inicial para 30 milhões de passageiros por ano, ou 8.300 em cada hora, design arrojado, 65 portas para os aviões, oito lounges, 156 balcões de check‑in e uma área construída de 700.000 metros quadrados, fazendo esta estrutura perfeitamente visível a 1,5 quilómetros de distância.
Enquanto principal porta de entrada em Abu Dhabi, o novo terminal vai desempenhar um importante papel na promoção do emirado como um hub de nível mundial, o que é mais relevante ainda quando sabemos que as ligações aéreas são um elemento decisivo na altura de escolher um destino para um evento internacional, seja ele corporativo ou associativo. Assim, Abu Dhabi ambiciona ser bem mais do que apenas um ponto de passagem de viajantes em trânsito para outros lugares.
A não perder
O Circuito Yas Marina é o palco das provas de Fórmula 1 em Abu Dhabi, mas é muito mais do que isso. Dispõe de diversas soluções, com espaços indoor e outdoor que pode alugar para os seus eventos. E a isto juntam‑se ainda uma série de experiências que pode tornar realidade, várias delas a ter lugar na mesma pista onde competem Lewis Hamilton, Sebastian Vettel, Nico Rosberg ou Fernando Alonso.
Mantendo‑nos ainda pela temática automóvel, uma outra opção é o Ferrari World, um parque temático cheio de experiências e exposições que pode fazer ou visitar, sempre em torno da histórica marca italiana do Cavallino Rampante. E se é adepto de montanhas‑russas, experimente a célebre Formula Rossa, onde vai ter a perfeita sensação de como um Fórmula 1 acelera, indo dos 0 aos 240 Km/h em apenas cinco segundos!
Num outro registo, vale a pena dedicar algum tempo para visitar a Grande Mesquita do Sheikh Zayed. É o maior e mais importante lugar de culto do emirado, e está mesmo ao lado do túmulo do falecido presidente, que de resto foi quem mandou construir e pagou a Grande Mesquita, oferecendo‑a ao povo que governou entre 1966 e 2004.
O lugar impressiona pela dimensão, pela beleza e pela qualidade dos materiais usados, ouro e pedras preciosas, mármores e cristais, madeiras exóticas e requintadas tapeçarias, nada parece faltar. Quando questionados sobre o preço da Grande Mesquita, os guias contornam a pergunta com as regras locais de boa educação: nunca se pergunta a alguém quanto pagou por uma prenda, e afinal esta foi uma oferta do Sheikh Zayed...
Aposta estratégica
Em entrevista em Fevereiro deste ano à Event Point, por ocasião da ibtm arabia, o director do Convention Bureau de Abu Dhabi, Mubarak H. Al Shamisi, descreveu a criação de uma unidade de business events que junta os sectores público e privado para discutirem regularmente o sector e encontrar formas de captar mais negócio.
Um novo website foi lançado, reunindo a oferta de venues, DMC, PCO. Existe um comité governamental que identificou 12 sectores estratégicos, nomeadamente o petroquímico e o farmacêutico, e tem como missão apresentar ideias que atraiam para a região empresas e iniciativas dessas áreas. Está em curso também um novo programa de embaixadores, académicos e outros, mais uma vez com a intenção de captar eventos para Abu Dhabi.
“Reconhecemos o impacto estratégico, e não apenas económico, dos eventos. Procuramos por isso criar boas facilidades para o segmento MICE, mas sobretudo apostamos numa relação muito pessoal, individual, com cada cliente”, concluiu Al Shamisi.
Os rankings da ICCA
Para se ter noção do modo como Abu Dhabi tem vindo a evoluir, olhamos aqui para 2014 e 2015 nos rankings da ICCA ‑ International Congress and Convention Association, e comparamos os dados com os do famoso vizinho Dubai:
2014
Dubai
56 eventos
44º no mundo
12º na região*
Abu Dhabi
22 eventos
108º no mundo
23º na região*
2015
Dubai
56 eventos
46º no mundo
10º na região*
Abu Dhabi
35 eventos
73º no mundo
17º na região*
* Ásia, Pacífico e Médio Oriente