Cristina Siza Vieira: “O próximo verão será ainda um tempo de reorganização”

01-06-2020

A CEO da Associação da Hotelaria de Portugal respondeu a algumas questões da Event Point.

Aos poucos, as unidades hoteleiras estão a começar a abrir portas. O setor hoteleiro foi um dos que muito sofreu com o impacto da pandemia e tudo está a ser feito para reconquistar a confiança dos turistas. À Event Point, Cristina Siza Vieira, CEO da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), considerou que “o próximo verão será ainda um tempo de reorganização”, que “a retoma da hotelaria será feita sobretudo através do mercado interno, e eventualmente do mercado espanhol”, e que a meetings industry “será fundamental” para a retoma do setor, embora seja necessário repensar os modelos de reuniões e eventos.

 

Qual o impacto da pandemia no setor hoteleiro?

Em Portugal, como o demonstra a segunda fase do inquérito realizado pela AHP sobre os impactos da Covid-19 na Hotelaria, em 7 de abril os hotéis davam nota de que, até junho, estarão quase todos encerrados. O impacto na quebra da taxa de ocupação, a nível nacional, vai ultrapassar os 90%, de março a junho, o que significará cerca de 13,1 milhões de dormidas perdidas. De salientar que todos os indicadores, mundiais, europeus e nacionais, apontam para uma profunda crise no setor, de duração ainda indeterminada. Acresce que o Turismo em Portugal depende em cerca de 90% do transporte aéreo, cujo recomeço da operação continua indefinido e que, também por isso, são fundamentais as decisões tomadas a nível europeu.

Que medidas gostariam que fossem implementadas pelo Governo em relação ao setor?

Medidas de apoio ao setor e de estímulo à economia, de caráter fiscal e financeiro. Adicionalmente, a AHP enviou uma carta à Associação Nacional de Municípios e a vários Municípios portugueses com um conjunto de propostas (*) de estímulo às empresas hoteleiras e à economia local e estamos a verificar que já estão a ser tomadas e aplicadas várias dessas medidas.

Considera que um selo de garantia oficial vai transmitir uma mensagem de confiança?

O selo ‘Clean and Safe’ foi desenvolvido pelo Turismo de Portugal com os contributos da AHP no que respeita ao setor hoteleiro. A confiança é dos fatores que mais irão contribuir para o regresso dos turistas, tanto os portugueses, como os estrangeiros. Acreditamos que os empreendimentos turísticos que tenham este selo, e na nossa perspetiva todos irão querer, irão ser os mais procurados nesta primeira fase, até porque têm de cumprir um conjunto de requisitos de segurança e higiene sanitária.

Como imaginam a retoma na hotelaria? Pode o mercado nacional fazer a diferença este ano?

O próximo verão será ainda um tempo de reorganização, a retoma da hotelaria será feita sobretudo através do mercado interno, e eventualmente do mercado espanhol. De notar, todavia, que o encerramento das fronteiras terrestres irá condicionar muitíssimo a retoma. É preciso não esquecer que os dois mercados representaram, em 2019, cerca de 41% da quota de mercado nas dormidas em Portugal e 51% dos turistas. Mesmo que admitíssemos que todo este mercado se repetisse – o que é manifestamente ilusório, por várias circunstâncias – ainda assim estarão por preencher quotas fundamentais de mercado internacional. Acresce que ainda há muitas incógnitas relativamente a parte fundamental dos equipamentos de lazer e cultura; das condições das praias e outros espaços que geram grandes dúvidas e dificuldades. Apesar disso, é importante que haja uma campanha de promoção do nosso destino para estes mercados, que, segundo vimos noticiado, irá arrancar muito em breve.

 

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Muitas unidades hoteleiras contam com espaços para reuniões e eventos. Pode a meetings industry contribuir para a recuperação do setor?

A meeting industry tem um peso muito grande na hotelaria, 2020 estava a ser um ano excecional para este segmento, com muitos eventos internacionais a acontecer, dentro e fora dos hotéis. No entanto, o modelo de reuniões e eventos que existia até aqui vai ter de ser repensado, os espaços vão ter de ser adaptados, e até as visitas de reconhecimento dos espaços vão, muitas delas, passar a ser virtuais. Os hotéis com uma aposta forte nesta área vão ter de se preparar, até ao evento acontecer muita coisa se vai passar online. Para a retoma do setor, este segmento será fundamental. Resta saber quando é que estarão reunidas as condições para tal. Também para este segmento é importante continuar a promover Portugal e mostrar que continuamos a ser um destino seguro, agora também no que à higiene sanitária diz respeito.

 

Maria João Leite

 

(*) Propostas de Apoio e Estímulo às empresas hoteleiras e à Economia enviadas à Associação Nacional de Municípios e a vários municípios do país:

- Isenção da taxa turística até ao final de 2021 nos concelhos onde a mesma exista ou suspensão do procedimento com vista à aprovação e/ou entrada em vigor de qualquer regulamento tendo em vista aprovar essa taxa turística;

- Isenção, até ao final de 2020, de pagamento de algumas taxas e impostos municipais, como o IMI, Proteção Civil, Saneamento e gestão de resíduos;

- Prolongar o período de suspensão de cobrança de todas as taxas relativas a ocupação do espaço público e publicidade, até ao final do ano, bem como a suspensão da taxa de ruído; 

- Isentar integralmente do pagamento de rendas todos os estabelecimentos hoteleiros e estabelecimentos de alojamento local coletivo que se encontrem encerrados, arrendados em espaços municipais;

- Transportes públicos gratuitos para todos os turistas, residentes e trabalhadores durante os primeiros três meses da retoma, pelo menos até ao final de 2020;

- Isentar os hóspedes dos estabelecimentos hoteleiros e dos estabelecimentos de alojamento local coletivo do pagamento de entradas em todos os espaços culturais e equipamentos geridos pelas Câmaras Municipais nos primeiros três meses após a retoma, pelo menos até ao final de 2020, cabendo aos referidos estabelecimentos disponibilizar os bilhetes gratuitamente aos seus hóspedes. 

 

Foi proposto ainda à Câmara Municipal de Lisboa:

- Alocar maior parcela da verba da taxa turística para apoio a congressos e menos para outros investimentos;

- Aumentar na Associação de Turismo de Lisboa verbas de promoção para: (a) ativar megacampanha de comunicação de relançamento do destino, (b) adaptar instrumento de apoio à captação de rotas aéreas para a cidade, em parceria com a ANA e o Turismo de Portugal, (c) desenvolver novo instrumento de apoio à comercialização das empresas, em sistema de cofinanciamento altamente bonificado ou mesmo a fundo perdido;

- Suspender/adiar o projeto ZER (Zona de Emissões Reduzidas Avenida Baixa Chiado).