Francisco: Um Papa que modernizou o cerimonial do Vaticano

12-04-2017

“O protocolo é factor de resolução de problemas e funciona como integrador das pessoas na Igreja.”

O Papa Francisco virá a Portugal no próximo mês de Maio, mais precisamente a Fátima, como peregrino, para “ver a Senhora”, e não numa Visita de Estado. Isto não é inédito pois o Papa Paulo VI, em 1967, também visitou o Santuário de Fátima sem ser em Visita de Estado. O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente tinha afirmado que “se o Papa não vier a Lisboa, vai Lisboa a Fátima”, pelo que à sua chegada à base aérea de Monte Real, Sua Santidade deverá receber em privado os cumprimentos do Presidente da República e de outras entidades, iniciando de seguida a sua peregrinação.

Por que se fala em Visita de Estado (ou não) quando nos referimos ao Sumo Pontífice? Situado no centro de Roma, o Estado da Cidade do Vaticano é um estado de direito internacional. Foi uma longa história a que levou ao reconhecimento, por parte do estado italiano, do território como independente e à configuração que resulta dos Pactos de Latrão, assinados entre a Itália e a Santa Sé no ano de 1929, e que garantem a sua soberania sobre o território. Assim, o Papa, além de ser Bispo de Roma e Sumo Pontífice, é também o Chefe de Estado do Vaticano, detendo os poderes executivo, legislativo e judicial.

Desde que foi eleito Papa, o Sumo Pontífice tem adaptado o pesado protocolo do Vaticano, modificando e inovando cerimoniais e regras, consciente dos seus gestos e simbolismos.

Numa entrevista ao El País salienta que “uma Igreja que não está próxima das pessoas não é uma Igreja”. Não muda o protocolo, mas sim o cerimonial para agir segundo o seu modo de ver, tocando, abraçando ou beijando as

pessoas, criando uma relação de proximidade, em claro contraste com os seus antecessores. Como padre jesuíta, habituado a uma vida frugal e despojada, adaptou os símbolos papais (o anel, os sapatos ou a cadeira papal) a versões mais modestas, modificando a forma como se apresentam, mas não o seu fundamento.

Noutras circunstâncias o protocolo foi intencionalmente alterado pelo Papa. O decreto da cerimónia do lava‑pés da Semana Santa, de 1955, indicava que o mesmo deveria ser feito a “doze homens” durante a Missa. Com este Papa, esse lava‑pés passou a ser feito aos “escolhidos entre o povo de Deus”, devendo incluir homens e mulheres representativos do seu povo. Também no que diz respeito aos cônjuges dos chefes de estado e de governo recebidos pelo Papa, e que não se encontram casados num regime reconhecido pela Igreja Católica, o protocolo foi alterado. No regime anterior, os cônjuges deveriam esperar numa outra sala, e só no fim das audiências dos chefes de estado ou de governo com o Papa o podiam cumprimentar. Agora podem estar presentes durante a audiência e aparecer na fotografia oficial. As mudanças do protocolo da Santa Sé vão ao encontro dos objectivos do Papa para a integração nos rituais da Igreja daqueles que se encontravam excluídos pelas mais variadas razões. Aqui, como noutras áreas, o protocolo é factor de resolução de problemas e funciona como integrador das pessoas na Igreja.

Isabel Névoa Tavares
Direcção da APOREP – Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo