Isabel Amaral: “Os empresários estão cada vez mais conscientes da importância do protocolo”

12-07-2018

Muitos anos se passaram desde a primeira edição do livro “Imagem e Sucesso”, da autoria de Isabel Amaral, que, após várias actualizações, conhece a sua nona edição. A ideia é que continue a ser “um guia prático e actualizado de regras de protocolo para pessoas e empresas”, ajudando quem tem de organizar eventos e reuniões ou quem tem dúvidas sobre o comportanto a adoptar em determinados momentos, como referiu à Event Point.

Especialista em Imagem, Comunicação e Protocolo, Isabel Amaral é mestre em Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. É presidente da APorEP – Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo, dirige uma empresa de consultadoria, realiza acções de formação, em Portugal e no estrangeiro, e é também autora do livro “Imagem e Internacionalização” e co-autora do “O cerimonial por cerimonialistas” e da “Enciclopédia de Relações Internacionais”.

 

Que significado tem a reedição deste livro?

Quando o livro ‘Imagem e Sucesso’ foi lançado, há 21 anos, esgotou sucessivas edições. Depois de a última edição esgotar, muita gente queria saber quando saía a nona edição. Infelizmente, não conseguia responder-lhes porque a editora tinha fechado as suas portas. No ano passado, fui contactada pela Leya que manifestou interesse em republicar o livro e que me pediu para fazer as alterações que entendesse de modo a corresponder à realidade do protocolo no século XXI. E foi o que fiz. As regras mudaram muito desde 1997, mas, como continuei a dar formação nesta área, estava plenamente consciente dessas mudanças e de que tinha de renovar o conteúdo do livro se queria que continuasse a ser um guia prático e actualizado de regras de protocolo para pessoas e empresas.


Que mudanças sofreu esta nova edição? O que foi importante incorporar?

Sofreu mudanças profundas, quer no seu conteúdo, quer a nível gráfico. Para as alterações introduzidas muito contribuíram as reflexões feitas nos cursos, conferências e workshops que ministrei em Portugal e no estrangeiro. As perguntas feitas, os problemas levantados, os casos estudados nessas acções de formação permitiram-me compreender melhor as dúvidas e as dificuldades que, aqui e ali, podiam surgir. Este livro procura ajudar todos os que têm de organizar eventos e não possuem conhecimentos de protocolo, mas também todas as pessoas que no dia-a-dia da sua vida pessoal ou profissional têm dúvidas sobre o comportamento a adoptar em certas circunstâncias.


Qual é o público-alvo do livro “Imagem e Sucesso”?

“Imagem e Sucesso” é um guia que se destina a toda a gente que trabalha em empresas privadas ou instituições e organismos públicos que se deparam com dúvidas na preparação de encontros, reuniões, recepções, inaugurações, etc. Mas também se dirige a quem entra agora no mercado de trabalho, indicando-lhes uma série de normas de vestuário e de comportamento no local de trabalho, que lhes permitirão ter mais sucesso na carreira e mais segurança no dia-a-dia.


É também autora do livro “Imagem e Internacionalização” – e a ‘imagem’ está novamente presente. Qual o peso deste factor nos dias de hoje?

Vivemos num mundo em que a exposição mediática é total e em que qualquer pequeno passo em falso pode ser divulgado imediatamente nas redes sociais e, ao tornar-se viral, vai prejudicar gravemente a imagem dessa pessoa. A nível internacional existem muitas regras que devemos conhecer para não criar barreiras na comunicação com os nossos interlocutores estrangeiros. Gestos que para nós significam uma coisa, noutras paragens podem ter um significado totalmente diferente. A forma de cumprimentar varia de cultura para cultura e existem muitos tabus culturais que convém conhecer antes de se lançar no mercado internacional. Para dominar a comunicação intercultural temos de sair da nossa zona de conforto e encontrar um espaço entre as duas culturas em que ambos nos sintamos confortáveis.


Considera que as empresas e organizadores de eventos estão cada vez mais atentos e preocupados com as regras protocolares?

As empresas estão conscientes de que o protocolo é um sistema de comunicação verbal e não verbal, que aplica técnicas de ordenamento sistemático de pessoas e símbolos e regras de comportamento e vestuário no dia-a-dia da empresa e na organização de eventos privados ou públicos. Nenhuma empresa se lança nas comemorações do centenário da fundação ou na organização de um congresso sem pedir a ajuda de um especialista de protocolo que os oriente na elaboração dos convites, definição do programa e acompanhamento das várias fases do evento. Quanto aos organizadores de eventos, julgo que a maior dificuldade está sempre no assentamento das chamadas altas entidades. Existem regras de protocolo na lei 40/2016 de 25 de Agosto que não podem ser ignoradas, mesmo em cerimónias não oficiais. E nenhum organizador de eventos quer que aquilo que lhe deu tanto trabalho a organizar apareça no dia seguinte nos jornais pelas piores razões. O livro tem muitos esquemas de assentamento em plateia, em palco, em mesas de refeição, bem como as regras para o endereçamento correcto dos convites, a ordem das intervenções, os vocativos, etc.

 
Que erros vê com mais frequência e que a preocupam?

Os erros que vejo com mais frequência dizem respeito à colocação da bandeira nacional em eventos. Apesar de não ser indispensável ter bandeiras só porque estão presentes algumas altas entidades, em termos de comunicação não-verbal, um palco com bandeiras confere autoridade e credibilidade ao evento. Mas os organizadores não podem ignorar a legislação específica sobre esta matéria, o Decreto Lei nº150/87 de 30 de Março. Por isso dediquei um espaço considerável do livro ao tema das bandeiras e hinos. Existem diversas interpretações deste diploma, que precisaria talvez de ser revisto para que não restassem dúvidas de que o que a legislação estabelece sobre bandeiras “colocadas em edifício” tanto pode ser na fachada, no telhado, como dentro de uma sala ou de uma tenda.

 

Como vê a formação e o ensino destas matérias actualmente?

Em 1996 não havia nenhum livro português de protocolo empresarial, mas já havia em espanhol e em inglês. Hoje existem vários. Os empresários estão cada vez mais conscientes da importância do protocolo para a transmissão de uma imagem empresarial positiva. E, ao convidarem-me para dar formação aos seus colaboradores nesta área, demonstram que existe procura de formação de qualidade nesta área. Quanto ao ensino, seria bom que, como acontece em Espanha, houvesse uma licenciatura, ou até mestrados, em universidades públicas sobre estas matérias. Em Portugal ainda só temos pós-graduações, como aquela que coordeno na Coimbra Business School sobre “Eventos, Protocolo e Comunicação Estratégica” e cuja segunda edição terá início em Novembro deste ano.

 

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Cláudia Coutinho de Sousa e Maria João Leite

©António Camilo