Manifestação da APEFE: o que será de um país sem cultura?

23-11-2020

As grandes malas pretas, onde os produtores técnicos de eventos guardam e transportam os seus equipamentos, mudaram novamente a paisagem de Lisboa, chamando a atenção da população para o trabalho invisível de milhares de profissionais do setor de eventos. Era este o cenário à entrada do Campo Pequeno, o palco escolhido para a manifestação da Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), que decorreu no passado sábado e na qual participaram outras associações do setor, bem como artistas, produtores, técnicos, agentes culturais e outros profissionais.

Ricardo Ribeiro, Mariza, Carminho, Aurea, Kalú e Salvador Sobral foram alguns dos muitos nomes do meio artístico que engrossaram a plateia, onde mais de 1.200 pessoas aplaudiram entusiasticamente os discursos que destacavam a situação alarmante da cultura e dos seus profissionais. Em discursos breves e contundentes, artistas e responsáveis de organizações questionaram “quem assume a decisão de acabar com a cultura” e “o que será de um país sem cultura”.

 

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Sandra Faria, presidente da APEFE, falou sobre os 130 mil trabalhadores em situação vulnerável, com as quebras em 87% dos contratos; Pedro Magalhães, da APSTE – Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos, mencionou um sentimento de injustiça perante as medidas governamentais que omitem o setor; João Carvalho, promotor do festival Paredes de Coura, falou que os festivais são um ativo económico importante para os destinos; o ator José Raposo perguntou porque é que a ministra da Cultura não estava presente no evento que lhe diz respeito; e o ilusionista Luís de Matos acusou o Governo de anunciar medidas hipócritas, que não levam em conta as características do setor, e acrescentou: “Seria também bom que não deixassem morrer todos os técnicos, senão, para o ano, não haverá comícios e campanhas partidárias.”

Álvaro Covões, da Everything is New e da direção da APEFE, referiu que o setor da cultura precisa de ser apoiado ao abrigo da 'Bazuca Económica', que vai chegar da União Europeia. O responsável afirmou que, “em 45 anos, nunca fomos apoiados pelo Governo” e que o setor “substituiu, inclusive, o Estado na geração de público e na sua oferta cultural”. Passados nove meses do início da pandemia em Portugal, Álvaro Covões sublinhou o sofrimento do setor e a luta que este faz “para se manter vivo”, lembrando os profissionais e as empresas que fizeram investimento em formação e tecnologia e que assistem hoje à dissolução dos seus negócios. “Uma verdadeira situação de miséria e fome.”

“É preciso que o Governo reconheça que a oferta cultural é importantíssima para a sociedade e para a economia, pois o turista não vem cá só ver azulejos, beber vinho ou comer bacalhau. Os 27 milhões de turistas vêm a Portugal também pela sua riqueza cultural, pelos seus espetáculos, convenções, congressos e festivais topo de gama. Temos de manter a nossa diferenciação como destino e a cultura e o setor dos eventos pode ajudar a garantir isso”, frisou Álvaro Covões, que adiantou que o setor está a dar “um grito de alerta” aos governantes “para que olhem por nós e que nos vejam como um investimento”. “A cultura é um dos pilares da democracia e da liberdade, bem como da saúde mental dos cidadãos. Se quiserem manter o setor, é preciso investir e injetar capital nestas empresas”, adiantou.

 

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A manifestação no Campo Pequeno promovida pela APEFE, que seguiu à risca todos os protocolos de higiene, distanciamento e segurança exigidos pela Direção-Geral da Saúde, contou também com a participação da APSTE, da Associação para Gestão e Distribuição de Direitos (AudioGest), da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) e da Associação Portuguesa de Empresas de Artistas de Circo (APEAC).