No Carmo, contou‑se a história de Portugal debaixo das estrelas
17-04-2019
O evento, chamado “Lisbon Under Stars” ganhou o prémio de “Melhor Evento Cultural” nos prémios do ano passado, que tiveram lugar em Coimbra, partindo de um budget zero e apenas dependente das receitas de bilheteira. Durante estes dois meses, o Convento recebeu milhares de visitas, para verem um espectáculo que encheu as antigas paredes do edifício de cores, imagens, histórias, dança e música.
Nuno Maya, director criativo do atelier, contou à Event Point que a ideia foi “criar algo para o Ano Europeu do Património Cultural”, tendo resolvido avançar para um projecto mesmo sem cliente. “Tivemos mais de 30 mil visitas, em menos de 2 meses, portanto uma média de 600 pessoas por dia, o que para nós é fantástico”, avançou o responsável.
O Convento, que não tem tecto, foi assim palco de um espectáculo imersivo, “debaixo das estrelas”, onde o público, no qual se contavam muitos estrangeiros, “descobriu a nossa história, mas também os portugueses que acabaram por ir novamente, ou pela primeira vez, a este sítio”, salientou Nuno Maya.
“O Lisbon Under Stars é um projecto de cultura, é um projecto para todos, que as pessoas podem visitar num espaço cultural. Conta a história da Igreja do Carmo, de Lisboa e até de Portugal, porque essas histórias estão todas ligadas”, referiu o director do atelier Ocubo.
Aposta na tecnologia
A empresa montou um pequeno estúdio, com fundo verde, onde gravou actuações de Mariza, Rão Kyao, Teresa Salgueiro, entre outros. A Companhia Nacional de Bailado e a Orquestra de Câmara da GNR estavam entre os vários convidados, num espectáculo narrado por Catarina Furtado.
Durante duas semanas, o atelier filmou os artistas, incluindo oito bailarinos, que interpretaram vários estados de espírito do filme, relacionados com uma altura específica da história portuguesa. Os músicos foram filmados ao vivo e depois colocados no filme digitalmente, para a audiência assistir à sua performance virtual.
Nuno Maya deu conta da importância crescente da área tecnológica no negócio do atelier, numa altura em que, cada vez mais, as agências procuram diferenciação. “No Ocubo somos um atelier multifacetado, temos a parte criativa, que é o nosso coração, foi aí que nasceu o atelier, e pouco a pouco fomos criando a nossa área tecnológica, exactamente para dar resposta aos desafios do ponto de vista criativo, e para não estarmos sempre a depender de terceiros, e de empresas de renting de audiovisual”, salientou.
O resultado desta estratégia foi que o atelier acabou “por criar um parque tecnológico”. A empresa é autónoma a nível de servidores, de projectores, e “isso também foi positivo do ponto de vista de alguns projectos” para clientes corporativos, marcas multinacionais e mesmo eventos totalmente culturais com museus e Câmaras Municipais, segundo o responsável. “Tudo isso permitiu-nos, para cada projecto, ter o equipamento próprio e poder dar a melhor resposta a nível de evento. É uma autonomia muito importante que acreditamos que nos vai permitir continuar a crescer nesta área dos eventos”, referiu Nuno Maya.
O responsável deu ainda conta da experiência do atelier na área cultural, com “eventos em locais património da UNESCO, em grandes cidades, em Singapura, em Wellington, nos Estados Unidos, e todos esses projectos têm um fundo cultural”, referiu o director. “Mesmo os trabalhos que fazemos na área corporativa para grandes marcas, costumam escolher-nos sempre para ter esse lado artístico em prol do evento que estão a fazer”, salientou.
O Convento
Datando inicialmente do século XIV, a construção da igreja do Carmo remonta ao ano de 1389, com o apoio do Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, que quis lá ser enterrado. A sua dimensão e beleza rivalizavam com a Sé de Lisboa e o Convento de São Francisco, em Lisboa, tendo recebido, ao longo dos séculos que se seguiram, numerosos acrescentos e melhorias. Em 1755, o terremoto de Lisboa quase destruiu o edifício, sobretudo devido ao incêndio que se seguiu. Em 1756 começou a sua reconstrução, interrompida definitivamente em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas. O facto de o corpo das naves se manter a céu aberto contribuiu para aumentar o misticismo do Convento, que é hoje um monumento ao terremoto. Um cenário ideal para contar a história de Portugal, com tecnologia do século XXI.