Pedro Simas: “Se tudo correr bem, vamos ter um verão diferente”

15-03-2021

No APECATE Day, o virologista referiu que, vacinando os grupos de risco, "ganhamos a nossa liberdade".

Se tudo correr bem, em termos de eficácia das vacinas, “vamos ter um verão diferente, com mais atividade económica”. As palavras são de Pedro Simas, virologista do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, no último APECATE Day, a 11 de março (antes do anúncio do plano de desconfinamento), que teve como mote a preparação para a reabertura do setor dos eventos, congressos e animação turística.

Pedro Simas começou por explicar que “o problema da pandemia está muito bem identificado”, focando-se na “doença severa que leva ao internamento em unidades de cuidados intensivos e à morte das pessoas”. As vacinas, que são “eficientes” contra o problema, são uma solução. Para o virologista, ao protegermos e vacinarmos os grupos de risco “ganhamos a nossa liberdade”.E, quanto mais depressa isso acontecer, “mais depressa voltamos ao normal e desconfinamos”.

De qualquer forma, adianta, é importante continuar a respeitar as regras de distanciamento físico e do uso de máscaras, a sociedade colaborar com o Estado no cumprimento de rastreios, inquéritos epidemiológicos e quarentenas e, por sua vez, o Estado apoiar a sociedade nos testes, na comunicação e na política de vacinação.

Segundo Pedro Simas, há um “grande receio” de descontrolo e de, consequentemente, uma quarta vaga. “Apesar de ainda haver potencial para isso, todos os dias nós estamos a construir um muro que minimiza o potencial de uma quarta vaga”, defende, acreditando que “devemos chegar a meio de abril com grande atividade na sociedade”.

Para Pedro Simas, “temos de começar a desconfinar e a voltar à nossa vida”. Mas o regresso à realização de congressos e eventos vai depender, obviamente, “do estado em que estivermos”, no que toca à saturação do Serviço Nacional de Saúde e ao controlodos valores epidemiológicos. Contudo, o virologista acredita que dentro de seis semanas poderá ser possível, porque o cenário tem tudo para melhorar.

Justifica-se com os exemplos de Israel e do Reino Unido, países bastante avançados em termos de vacinação. “A vacinação está a ter uma evolução muito boa. Há uma proteção agora muito grande dos serviços nacionais de saúde e das pessoas, o número de internamentos baixou consideravelmente, nomeadamente nas unidades de cuidados intensivos, e a mortalidade baixou imenso, neste momento. Portanto, é isso que nos espera a nós também, quando conseguirmos cobrir as nossas populações. E, repare, isto não é uma coisa, como se fala às vezes, que vai durar para sempre, ou vai durar vários anos. Não. Nós vamos ter um verão, que vai ser muito diferente do verão passado.”

E os eventos de massas, festivais, maratonas? Só quando houver imunidade de grupo? Pedro Simas pensa que não. Acredita que em meados de abril, teremos “uma grande proteção das vacinas”. Depois teremos a segunda fase do processo de vacinação, “que ainda é extremamente importante”, mas, findada essa fase, “que se pensa que seja em junho ou julho”, estaremos próximos dos 50% da imunidade de grupo. “Aí a influência que tem na sociedade já é muito pequena, porque praticamente vamos estar a funcionar normalmente”, esclarece. E frisa: “Se tudo correr bem, e agora está tudo a correr bem, em termos de eficácia das vacinas, vamos ter um verão diferente, com mais atividade económica.”

 

Testes rápidos são úteis

A utilização de testes rápidos é um potencial recurso na reabertura do setor. Para Pedro Simas, os testes rápidos são complementares ao teste RT-PCR e foram úteis, por exemplo, no controlo de disseminação do vírus em empresas. “São muito úteis, porque são fáceis de executar e dão uma amostragem daquilo que está a acontecer numa fábrica que tem 300 ou mil funcionários. Se há casos positivos, então aí isolam-se os contactos diretos, e os contactos dos contactos são os indiretos, e testa-se por RT-PCR. E isso foi muito útil” na gestão de determinadas empresas e organizações em Portugal, permitindo que continuassem a laborar sem disseminações descontroladas.

Mas, sobre a sua utilização à entrada em eventos, “depende”. “É claro que é muito melhor fazer um evento em que as pessoas que participam nesse evento estejam todas vacinadas”, estejam já imunizadas, por infeção natural ou por vacinação, ou tenham sido testadas pelo teste rápido, pois “diminui imenso a probabilidade de entrarem pessoas que vão promover a disseminação do vírus”. Contudo, acrescenta: “Agora, se isso é viável ou não, exequível em termos práticos, eu não sei, portanto, depende da dimensão dos eventos e depende da organização da logística das coisas. Agora que não confere proteção total, não confere”, explicando que pode haver uma percentagem de positivos não detetados. No entanto, sublinha, isso minimizaria em muito o risco.

Até ao final da sua intervenção, Pedro Simas tirou várias dúvidas dos associados da APECATE relacionadas com a imunidade de grupo, com a sua duração ou com as variantes do vírus.

E, apesar de vivermos uma pandemia mundial, o virologista terminou com uma mensagem positiva. “Nós temos a solução nas nossas mãos e a solução está muito perto”, lembrando que a “grande prioridade é vacinar os grupos de risco. “Temos de ter um bocadinho de paciência e acho que devemos começar a desconfinar agora”, mas fazê-lo com cuidado, sublinha. E, “acho que não estamos a falar de meses, muito menos de anos, estamos a falar de algumas semanas”. Relembrou que este é um otimismo baseado na evidência científica, embora espere não haver nenhuma imprevisibilidade, “porque a vida é previsivelmente imprevisível”.

 

Maria João Leite