Pirotecnia: um ano sem o brilho do fogo-de-artifício
29-12-2020
2020 é um ano muito pouco luminoso para a pirotecnia. Foram poucas as noites de festa celebradas a fogo-de artifício e as empresas deste segmento estiveram praticamente paradas. Aproxima-se a passagem de ano – época habitualmente de muito trabalho para o setor – e o serviço é residual, comparado com anos anteriores. O impacto da pandemia foi grande e este foi um ano sem o tradicional brilho do fogo-de-artifício, como contaram à Event Point o Grupo Luso Pirotecnia, a H&C Filhos Pirotecnia e o Grupo Macedo’s Pirotecnia.
“A retoma não vai ser imediata”
“O impacto da pandemia na empresa é enorme, muito significativo”, começa por dizer Pedro Gonçalves, project manager do Grupo Luso Pirotecnia, que estima quebras superiores a 80% no setor, no decorrer deste ano. A Luso Events, uma das cinco empresas do grupo, praticamente não teve retoma da atividade. “Tínhamos alguma esperança agora na passagem de ano, mas a adesão dos municípios, enquanto principais clientes desta época, foi muito pouco significativa. Portanto, em relação ao ano anterior, é uma quebra praticamente total.”
©LusoPirotecnia | Comemoração dos 300 Anos do Palácio Nacional de Mafra
A empresa tem, no momento, apenas dois espetáculos contratados: um em Mafra e outro em Coimbra. Muito pouco trabalho quando comparado com o ano passado. As limitações impostas, devido à pandemia, complicam a recuperação e a atividade é pontual. As outras empresas que compõem o grupo “têm tido algum tipo de negócio na componente de produtos para o consumidor final”, como as baterias de fogo utilizadas para festas em casa, por exemplo. Mas mesmo nesse mercado, até ver, há quebras acentuadas em relação ao ano passado. Pedro Gonçalves lembra não só o atual contexto sanitário, “mas também a situação económica das pessoas, enquanto clientes, que não lhes permite, se calhar, despender daqueles valores que normalmente despenderiam noutros anos”.
A pandemia apelou à reinvenção de muitas áreas de negócio, mas esta é uma indústria muito específica. “Não temos a capacidade de nos reinventarmos assim facilmente como outras indústrias terão. Os nossos meios logísticos, as nossas instalações estão concebidas de forma muito específica, para aquilo que é a nossa atividade industrial, e não é fácil fazer uma adaptação direta para outro tipo de produção”, além de que seria necessário adaptar a equipa a outras atividades.
©LusoPirotecnia | Festival Eurovisão da Canção Lisboa 2018
A vacina para a Covid-19 traz “alento” e “esperança”. Até porque, sendo a pirotecnia uma atividade extremamente sazonal, caracterizada por três temporadas fortes – Páscoa, verão e passagem de ano –, é essencial regressar a uma certa normalidade assim que possível, pelo menos na época de verão. “Sabemos que a retoma não vai ser imediata, mas será muito importante que numa das principais épocas para o setor, que será o verão, já exista alguma normalidade para que nós possamos efetivamente trabalhar. Porque se até ao verão não houver trabalho, estamos a falar de mais um ano parados”, conclui Pedro Gonçalves.
“Paralisação quase total”
A paralisação foi “quase total” na Macedo’s Pirotecnia, que registou uma quebra de cerca de 95%, desde o início do ano. E perante um cenário tão desolador, a empresa esperava “retomar a atividade na passagem do ano, mas, com a obrigatoriedade de recolhimento obrigatório no dia 24 dezembro, foram canceladas a quase totalidade das encomendas”, conta Carlos Macedo, administrador da Macedo’s Pirotecnia, acrescentando que paraa passagem de ano a empresa tem apenas dois eventos agendados. O futuro próximo adivinha-se, por isso, “muito negro” e “sem perspetivas de recuperar nos próximos tempos”.
©Macedo’s Pirotecnia | São João, Porto 2019
É então preciso olhar para diferentes oportunidades e outras áreas de negócio. “Sendo o Grupo Macedos Pirotecnia composto por várias empresas em áreas diferentes de atividade e as quebras de faturação na pirotecnia a rondar os 100%, redirecionamos parte dos nossos meios humanos e materiais para outras áreas de negócio, nomeadamente para as iluminações natalícias que estiveram ao nível dos anos anteriores”, explica Carlos Macedo, adiantando: “Também aproveitamos a ‘desgraça’ para criar novos negócios em áreas diferentes dos eventos.”
©Macedo’s Pirotecnia | Passagem de Ano em Ponta Delgada
Cenário “muito preocupante”
Em nove meses, a HC&Filhos Pirotecnia só realizou dois serviços, o que torna “muito negativo” o impacto da pandemia na empresa, como conta Nuno Costa, coordenador. “Prevíamos uma retoma, com vista à realização dos espetáculos do fim de ano.” E a atividade foi temporariamente retomada para a preparação do espetáculo de fogo-de-artifício de Fim de Ano na Madeira, que a empresa venceu em concurso lançado pela Secretaria Regional do Turismo e Cultura. Contudo, os outros dez espetáculos que a empresa tinha em carteira no resto do país foram cancelados.
©HC&Filhos Pirotecnia
Ao longo deste ano, não foi possível uma reinvenção. “O problema não está nos produtos, mas, sim, na falta de eventos públicos e privados”, frisa. Todas as limitações que existem e a ausência de eventos programados para os próximos tempos tornam o cenário “muito preocupante”. De acordo com Nuno Costa, “os nossos clientes estão muito apreensivos com o ano 2021”, o que pode antecipar um futuro “catastrófico” e “sem trabalho”.
HC&Filhos Pirotecnia
Maria João Leite
Fotografia de abertura: ©Macedo’s Pirotecnia | Festas de Bragança, 2019