“Queremos um dia voltar”
12-08-2020
“Estamos aqui parados e em silêncio para mostrar a nossa força e pedir que não se esqueçam de nós. Durante anos proporcionamos emoções e imensos aplausos, apontamos as luzes para que todos aqueles que subissem ao palco pudessem ser vistos. Hoje estamos aqui para pedir que não apaguem as luzes da nossa vida”.
Foi o que se ouviu, alto e bom som, esta terça-feira, na praça do Comércio, em Lisboa, na manifestação da Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE), que juntou centenas de profissionais de eventos.
As mais de 400 flight cases pretas, caixas que os profissionais utilizam para carregar os equipamentos necessários aos eventos, enfeitaram silenciosamente o emblemático local e chamaram a atenção para o setor. A projeção em video mapping ressaltava palavras como Respeito, Colaboração, Cooperação, Incentivo e Trabalho, tudo o que a associação pede às autoridades.
Segundo Pedro Magalhães, presidente da APSTE, a “indústria dos eventos tem sido devastada pelos impactos da Covid-19 e fomos esquecidos pelas autoridades. Mais de uma centena de empresas, responsáveis pelo serviço técnico de eventos em Portugal, que representam uma faturação superior a 100 milhões de euros no ano passado e emprega mais de mil trabalhadores diretos e quase três mil indiretos, está completamente parada e necessita de ajuda”, afirmou em entrevista à Event Point na noite de ontem.
Vestidos de preto, usando máscaras e mantendo o distanciamento social, os técnicos de som, de iluminação, de vídeo, operadores de riggers, stage hands e outros profissionais do setor, juntamente com clientes, organizadores de eventos e congressos e representantes de outras entidades, uniram-se no protesto.
Paulo Dias e Luís Pardelha, da Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos, por exemplo, estavam solidários entre os manifestantes, não só porque os espetáculos precisam de serviços técnicos mas também porque entendem que é preciso unir esforços para dar visibilidade ao setor e exigir das autoridades uma atenção especial.
“A maior parte das empresas e dos profissionais não vão resistir muito mais tempo, as câmaras municipais, o próprio governo, as entidades públicas também não têm sido até agora muito fortes na ajuda à retoma”, afirmou Paulo Dias, enfatizando que “se calhar não voltamos mais a estar juntos, porque daqui a quatro ou cinco meses muita gente já não vai estar no mercado, as empresas não vão existir”.
Da mesma opinião é Paulo Pinto, da Imppacto. Apesar de a empresa ser do ramo de catering, estava solidário e presente no movimento. Alega ainda que “esperamos bem que o governo nos oiça e comece a olhar para este setor com outros olhos. Fazemos parte do turismo, na medida em que damos o suporte aos congressos e eventos corporativos”.
Já Armando Pilar, da Upalco, empresa de montagem de estruturas, como palcos ou plateias, lembra que a retoma de outros serviços já aconteceu, pelo que não há razão para não se retomarem os eventos. “Esta manifestação foi uma ideia fantástica, e o português nunca tinha visto algo assim. É esta criatividade que move o nosso setor e precisa de ser valorizada por todos”, afirmou.
O presidente da APSTE sublinha que “não estamos a aguardar por subsídios, queremos medidas de layoff simplificado como tinhamos no mês anterior, ou seja, que ela se prolongasse no tempo”.
Outras medidas apresentadas pela APSTE passam por: isenção da TSU - Incluindo os não abrangidos pelo Layoff e sócios gerentes; apoio à formação dos colaboradores; extensão das moratórias para, pelo menos, um ano; linhas de crédito sem juros para todas as empresas do setor, independentemente da sua dimensão e do seu CAE; suspensão do pagamento por conta; isenção de IUC e seguros (estendendo o prazo do seguro) para viaturas não utilizadas devido ao layoff, até dezembro; inclusão dos associados da APSTE no regime de isenção de tacógrafo ao abrigo da Portaria n.º 222/2008 de 5 de março, incluindo no livrete essa homologação; adiamento do pagamento do IMI - a ser diluído nos próximos anos; bem como a definição de um CAE para o setor - criação de um contrato coletivo de trabalho específico para o setor, à semelhança do Turismo, que observe, entre outras características, a flexibilização do horário, nomeadamente as horas de entradas e saídas, carga horária diária e o descanso semanal não obrigatório ao fim de semana”.
No final do protesto, a associação foi contactada para agendar uma reunião com o secretário de Estado de Comércio e Indústria.