Retoma lenta e os eventos híbridos na agenda

18-06-2020

Voltamos a entrevistar seis editores de revistas da meetings industry para saber em que ponto está a retoma dos eventos noutros países europeus.

Em março, no começo da pandemia, a Event Point entrevistou seis editores de revistas congéneres para saber como estava a situação nos respetivos países: Bélgica, Alemanha, Espanha, Eslovénia, Holanda e Finlândia. O trabalho resultou neste artigo: A situação na Europa: “A indústria dos eventos foi dos 100% aos zero em dez dias”. A realidade na altura era mais ou menos semelhante em todos os países. E neste momento?

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Sjoerd Weikamp | ©️ https://aromilehti.fi/


Holanda
 

Em março, Sjoerd Weikamp, da Event Branche, estava bastante pessimista para o setor dos eventos do país. E os piores receios confirmaram-se: muitas empresas ligadas aos eventos faliram nestes meses. Desde 1 de junho é possível fazer eventos com 30 pessoas, respeitando a distância de 1,5 metro, e depois de 1 de julho com 100 pessoas. São possíveis eventos com um maior número de pessoas, desde que sejam ao ar livre. Os grandes eventos estão proibidos até 1 de setembro.

A Event Branche fez um inquérito junto da indústria e de clientes corporate que concluiu que “a nossa indústria não é uma indústria chave”, e que as regras levantam muitas questões e “são estranhas”. O mesmo inquérito mostra muitas iniciativas online, mas que estas representam uma percentagem baixa de faturação. Segundo Sjoerd Weikamp, os eventos híbridos serão “o novo normal” e a expectativa é que um conjunto de participantes esteja fisicamente no evento, e haja audiências maiores online.

Mas o começo vai ser lento. Clientes corporate e marcas já avisaram que têm menos orçamento disponível, conta o editor da Event Branche.

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Jean-Paul Talbot | ©️ Bedouk


Bélgica

Quando tudo começou, Jean-Paul Talbot, da revista Experience, contava-nos que as perspetivas eram dramáticas para o setor. Em junho já é possível realizar alguns eventos na Bélgica, com o limite de 30 pessoas. As distâncias de segurança de 1,5 metros têm de ser respeitadas.

Uma aliança entre as associações da indústria dos eventos resultou num documento com 18 parâmetros para uma retoma segura. Esta ferramenta de trabalho não será, no entanto, oficial antes do verão.

A Experience realizou em conjunto com vários parceiros estudos para identificar a realidade atual do mercado. Esse estudo mostrou que as empresas pretendem começar a realizar eventos presenciais o mais rápido possível, provavelmente a partir de setembro. “Mas com menores orçamentos, menos gente, e provavelmente usando diferentes formatos (híbridos, mais pequenos)”, refere Jean-Paul Talbot. O editor acrescenta: “a maior parte dos eventos internos, tradicionalmente organizados em dezembro, não devem acontecer este ano e mais de metade dos inquiridos (corporate) esperam que os orçamentos de reduzam entre 25-50% em 2021”.

Na Bélgica a confiança é baixa por parte das agências de eventos e se o governo não lançar mais medidas de apoio, as falências são inevitáveis.

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Jens Kahnert | ©️ https://www.virtualmarket.stage-set-scenery.de/en/Jens-Kahnert,a1768656


Alemanha

Kerstin Meisner, da Memo Media, contava-nos, em março, que a indústria de eventos alemã estava “num coma artificial”. Recentemente voltamos à conversa, desta vez com Jens Kahnert. O editor lembra que cada estado alemão tem as suas próprias regras de retoma e por isso é difícil dar um panorama geral. Os eventos em drive-in estão a ressurgir, conta, e em alguns estados é possível fazer eventos até 100 pessoas.

Espaços maiores e menos pessoas será o novo normal e, muito importante, registo de participantes para poder rastrear cadeias de transmissão do vírus. Mas o panorama não é muito claro, algumas empresas estão com vontade de fazer eventos e de planear a segunda metade do ano, mas exigem regras claras do governo, algo que não existe ainda.

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Heli Koivuniemi


Finlândia

Heli Koivuniemi, da Eventolehti, explicava em março que o quadro na Finlândia era muito complicado e que as empresas precisavam de apoio monetário da “Business Finland”. Junho marca a abertura dos restaurantes no país e a partir de 31 de julho caem os limites de pessoas nos eventos. Até essa data, os eventos públicos eram limitados às 500 pessoas e os privados até às 50. Como noutras regiões da Europa, os eventos híbridos estão na ordem do dia, mas exigem muitos recursos e competências e, por isso, só algumas agências estão a focar-se nesta vertente.

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Gorazd Cad


Eslovénia

Sediada na Eslovénia, a Kongres tem um âmbito mais alargado, cobrindo as regiões dos Balcãs e da Europa Central. Gorazd Cad partilhava que os organizadores desta região da Europa estão “mais ou menos pessimistas”, mas acreditava que a indústria se ia reerguer. Hoje, Cad refere que na Eslovénia, tal como na Croácia, são permitidos eventos B2B até 500 participantes. Os eventos públicos não podem exceder as 50 pessoas. O setor, conta o diretor da Kongres, “está a lutar para o levantamento gradual destas restrições”.

Cad conta que a pandemia fez com que, pela primeira vez, a indústria dos eventos juntou-se e procura desenvolver em conjunto standards para a organização de eventos na Eslovénia. Também a iniciativa “Vamos salvar a meetings industry da Eslovénia” teve um grande apoio e como resultado “o governo reconheceu a nossa indústria como um setor importante e posicionou-a no campo do turismo”.

O editor da Kongres acredita que o desafio neste momento é trazer a confiança para a organização dos eventos presenciais.

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Pepe Aguarod | ©️ Eventex


Espanha

Pepe Aguarod, um dos diretores da Eventoplus, que publica a Eventos Magazine, partilhou, em março, o que estava a acontecer em Espanha. “A indústria dos eventos foi dos 100% (ou 120%) aos zero em dez dias”. “Há uma grande surpresa na velocidade e magnitude de tudo isto”, referia Aguarod. Atualmente o setor de eventos espanhol começa a mostrar alguma atividade. “Há alguns eventos programados para setembro e alguns festivais de música, por exemplo, que não foram cancelados, adaptaram o programa para incluir artistas locais e formatos mais pequenos”.

“Os eventos online vieram com muita força”, conta Aguarod, mas acredita que os “eventos ao vivo vão regressar porque são mais eficazes, mas com uma componente muito mais forte de interação online”.

Em termos de restrições, Aguarod lembra que o país está a abrir por fases. As regiões que estão na fase dois permitem eventos indoor até 50 pessoas, usando um terço da capacidade máxima do venue). Mas a indústria, de um modo geral, acredita que os eventos vão voltar mais a sério no último quadrimestre e que 2021 será um ano de retoma.

Cláudia Coutinho de Sousa