Rob Davidson: “As coisas nunca mais serão as mesmas depois disto”
16-03-2020
Rob Davidson, managing director da MICE Knowledge, consultoria especializada em pesquisa, educação e serviços para a meetings industry, esteve em Portugal, a convite da Pós-graduação de Gestão de Eventos da Universidade Lusófona para uma Master Class, que acabou por ser cancelada. O motivo é o mesmo que tem levado ao adiamento ou cancelamento de eventos em todo o mundo, a Covid-19. “Não tenho dúvidas de que as coisas nunca mais serão as mesmas depois disto”, refere Rob Davidson, questionado pela Event Point. Para o especialista e figura de referência na meetings industry, há já um forte impacto do vírus no setor e, acrescenta, os profissionais da indústria devem preparar-se para o período de recuperação.
Qual a sua opinião sobre o impacto que a Covid-19 está a ter na meetings industry?
Não há dúvida que o impacto do vírus na nossa indústria é já devastador e que vai continuar a sê-lo a curto e a médio prazo. O desafio é que nós não temos ideia do tempo que vai durar o curto e médio prazo. O destino de todo o mundo está agora nas mãos dos profissionais de saúde em cada país. O seu nível de conhecimento e de engenho vai determinar quando poderemos ultrapassar esta nova ameaça terrível. No passado, esses profissionais adquiriram muito do seu conhecimento ao participarem em conferências. Agora, nós esperamos que eles usem esse conhecimento para que possamos regressar a algo parecido com a normalidade. Esta crise global de saúde desencadeou uma crise económica global de proporções imensas, com uma interrupção sem precedentes na oferta e na procura. Entre os mais afetados estão os trabalhadores independentes e os que administram pequenas empresas – em qualquer indústria. A meetings industry inclui inúmeros exemplos dessas pessoas, desde organizadores de eventos independentes e empresas de gestão de destino a intérpretes e facilitadores de conferências. Em comum com colegas nos setores do turismo e da hospitalidade, essas pessoas viram os seus resultados evaporarem da noite para o dia. Na minha opinião, é preciso haver um esforço coordenado por parte dos governos em todo o mundo para assegurar que todos os trabalhadores afetados pelo vírus, economicamente ou na saúde, devem receber uma determinada verba mínima até que a economia global volte a funcionar como antes. Tempos drásticos exigem medidas drásticas.
É um estudioso das tendências na meetings industry. Como compara esta mais recente crise com outras do passado?
Mantenho-me muito atento a todo o tipo de tendências na nossa indústria e já vivi uma série de crises globais anteriores que temporariamente dizimaram a meetings industry. Mas esta crise parece diferente, por ter sido precipitada por um formidável novo vírus que se espalha rapidamente com resultados devastadores para as suas vítimas. A forma como nós, raça humana, lidamos com este desafio vai dizer muito sobre quem somos. Será a compaixão e a cooperação ou o egoísmo e o segredo a definir o mote em todo o mundo nos próximos meses? Só o tempo o dirá.
Que mensagem quer passar para os organizadores de eventos e de reuniões, e destinos, nestes tempos difíceis?
Obviamente, fiquem seguros! Protejam-se e aos que estão próximos, porque ninguém é imune. Depois disso, recomendaria aos meus colegas da indústria que utilizem o tempo com sabedoria, preparando-se para o período de recuperação, seja quando ele for. Usem esse tempo livre extra para melhorar as suas próprias capacidades profissionais e conhecimento. Leiam aqueles livros que tencionam ler há muito tempo. Leiam blogues, leiam a imprensa profissional, leiam qualquer coisa que possa melhorar o vosso conhecimento e que vos dê ideias sobre como trabalhar de forma mais inteligente no futuro. Conheçam melhor os seus clientes e fornecedores visitando os seus websites. Preparem-se para competir num mundo pós-Coronavírus.
Como qualquer outra crise, esta irá passar, mas como vê o futuro dos eventos e da ‘live communication’ depois disto?
Não tenho dúvidas de que as coisas nunca mais serão as mesmas depois disto. Vai haver mudanças no comportamento dos clientes corporate e individuais, e algumas dessas mudanças não serão a nosso favor. Por exemplo, prevejo que muitas empresas vão habituar-se a utilizar a videoconferência para algumas das suas reuniões e que vão continuar a fazê-lo. Eles podem também questionar o envio de gestores em voos de longo curso para reuniões de curta duração – algo que já estavam a reconsiderar, no contexto ambiental. A meetings industry vai ter de demonstrar mais claramente do que nunca que os eventos de negócios adicionam valor considerável às empresas e individuais que investem o seu dinheiro e tempo nas reuniões.
Quais são os seus conselhos para as pessoas que estão a estudar para fazerem parte da meetings industry?
O meu conselho aos futuros profissionais da nossa indústria é que continuem a trabalhar arduamente na construção das suas capacidades e conhecimento para darem uma importante contribuição para a meetings industry. Lembrem-se que a meetings industry é um facilitador vital para juntar os profissionais de forma a melhorar o seu conhecimento e a sua habilidade na resolução de problemas. Os seres humanos são criaturas gregárias e a necessidade de reunião para troca de ideias e entusiasmo vai sempre existir. Esta indústria precisa de pessoas jovens, com energia, imaginação e criatividade, que nos leve a um futuro mais promissor. Por isso, se tem estas qualidades preciosas, bem-vindo à meetings industry!
Rose de Almeida