Vida de eventos: Cláudia Lopes

10-09-2020

O que mais motiva Cláudia Lopes, da MUD.E é a criação de conceitos.

O arranque da carreira de Cláudia Lopes na área dos eventos coincide com o fim do curso da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE). Mais concretamente duas semanas antes. “Estava na reta final e ligaram‑me a dizer que me queriam. Que não aceitasse mais nenhuma oferta.” Já na ESHTE ajudava na organização de pequenos eventos, do qual se destacou uma iniciativa que desenhou juntamente com um colega de curso, o 1º Seminário de Organização de Eventos, e “que foi um sucesso”. “Não cheguei por engano, nem por acaso. Estudei para gerir e produzir eventos. Há quase 20 anos que cá ando e por cá quero continuar.” E hoje está na MUD.E, empresa que fundou.

Os eventos são algo que a apaixona, mas sobretudo “motiva‑me a criação de conceitos e temas para os eventos”, sublinha. “Mais do que juntar pessoas, cadeiras e um palco pomposo, gosto de tudo o que gira em torno do conceito do evento, desde o dress code, à decoração, aos elementos únicos no catering e aos momentos de entretenimento pontuais. Tento sempre que tudo seja alusivo ao tema que se criou para o evento.”

Borboletas na barriga é o que sente quando as ideias começam a sair do papel e se tornam reais. “E, como não poderia deixar de ser, motiva‑me o momento em que vou apresentar as propostas aos clientes. Gosto de lhes contar a história daquele evento, de lhes fazer sentir a emoção que o público vai sentir. Sei que a forma mais autêntica de o fazer é levar no meu olhar o brilho que quero impor ao evento.”

O que mais gosta na atividade é “da adrenalina que sinto quando ‘abrimos portas’ ao público. É aí que começa a imprevisibilidade. Até esse momento estamos a ‘jogar em casa’, perante uma adversidade podemos reagir como quisermos: gritar, chorar, dar dois murros na mesa e mais um sem fim de reacções exageradas, mas depois de termos o público no evento, tudo isso tem que se transformar em calma e segurança. Não há tempo para vacilar”. Mas como em qualquer outra profissão há situações menos positivas. O amadorismo é algo com que não convive bem. Além disso, “detesto perder concursos, a menos que seja por preço. Um Volvo não é um Fiat. Cada um tem o seu valor”.

Um avião numa sala de cinema 

Um momento marcante da carreira aconteceu recentemente, “em que transformámos uma das maiores salas da cidade numa viagem de avião, proporcionando toda uma experiência em torno dessa atmosfera. Foi um evento cheio de detalhes, com um guião exaustivo e com algumas personalidades conhecidas. Foi um enorme desafio. No fim, recebemos largados elogios dos vários parceiros e do próprio espaço, pela subtileza e pelo primor que se sentiu ao longo dos dois dias. Gostamos de ser conhecidos por isso”.

Mas há outros eventos especiais, nomeadamente alguns de responsabilidade social. Cláudia Lopes destaca um, “pelo público a que chegámos, na Santa Casa da Misericórdia de Albufeira. Senti na pele o alcance que um evento pode ter. Foram apenas algumas melhorias nos dormitórios, cantinas, salas comuns e jardins exteriores, mas que levaram uma alegria imensa àqueles adolescentes desprotegidos, mães solteiras e vítimas de violência doméstica. Foi incrível”.

E nem nos momentos mais pessoais se consegue desligar dos eventos, ou os eventos se desligam dela. “Fui mãe num sábado quente de junho. Daí a dois ou três dias tínhamos um evento em Belém. Trabalhei normalmente até à véspera. A minha equipa já sabia todos os detalhes, mas um dos fornecedores ligou‑me na véspera para tirar umas dúvidas simples. O telefone vibrou, levantei‑me como pude (foi cesariana!) e fui ao corredor atender. Falei baixinho. Do outro lado ouvi:

‘Olá Cláudia, tudo bem? Desculpa ligar‑te a esta hora. Estás a almoçar? Queres que ligue mais logo? Porque estás a falar tão baixinho? Estás bem?’

Eu: ‘Sim, sim tudo bem. Podes falar. Estou na maternidade, mas há algum problema?’

De lá: ‘Problema nenhum. Falamos depois quando saíres daí. Foste visitar alguém?’

Eu: ‘Podes dizer, só devo sair daqui a uns dias. Fui mãe.’”

Um aceno especial

A vida de eventos tem o condão de proporcionar várias histórias, muitas delas inesquecíveis. O momento mais hilariante para Cláudia Lopes envolveu a figura de Marco Paulo. “Há uns anos, em Tróia, organizámos uma Gala de entrega de prémios em que o Marco Paulo tinha um papel fundamental. Fiz questão de o acompanhar no camarim, de o ajudar com os ensaios, de aprumar os colarinhos da camisa impecavelmente engomada, tudo. Foram largos quartos de hora com ele. No dia seguinte, quando estávamos a preparar a saída dos convidados, ouvi o meu nome muito ao longe. Era ele, o próprio do Marco Paulo a acenar‑me euforicamente da janela da sua suite do último andar e a mandar‑me beijinhos. Que emoção. Muito envergonhada devolvi o aceno e o beijinho, claro!”

Mas também há momentos de muito stress em que as coisas podiam não ter corrido bem. “Numa sala bem conhecida da cidade de Lisboa, não tivemos como reservar os dois dias para montagens. Tínhamos 24 horas para tudo: montagens, evento e desmontagens. O evento teria que arrancar às 19h00. Começámos cedo e tudo corria como o previsto, mas ao fim da manhã uma das plataformas elevatórias que afina o material que está suspenso avariou. Estávamos em plena época alta de eventos corporativos e não havia mais plataformas para alugar ou que chegassem em pouco tempo. O stress instalou‑se com o tempo a passar e ainda tanto por montar e afinar. Foram duas horas que me pareceram dois dias. Foi‑se montando o que se podia até à chegada do novo equipamento.

Estávamos a três horas do evento e a dita plataforma ainda lá andava a afinar. As equipas do catering, da decoração e da animação num verdadeiro corropio para terem tudo pronto. Parecíamos aqueles filmes em fastmotion. Lembro‑me bem do silêncio que se ouvia. Apesar de tudo, estávamos todos altamente concentrados no que tínhamos para fazer. Faltavam 15 minutos para as 19h00 e estava tudo pronto a abrir as portas. Fazia um frio de rachar mas nunca eu senti tanto calor na minha vida. É nestes momentos em que somos obrigados a aprender e a corrigir erros. Tenho a certeza de que todos aprendemos muito com aquela sexta‑feira de dezembro.”

Cláudia Coutinho de Sousa