< PreviousGO DIGITAL OR GO HOME? Não gosto de clichês mas é um facto que éramos felizes e não sabíamos. Começámos o ano de 2020 a um ritmo alucinante, ao ponto de termos cometido a heresia de nos queixarmos de excesso de trabalho para, subitamente, batermos numa parede de cimento. WWW.EVENTPOINT.PT 90 OPINIÃO Em março o mundo parou. E num confinamento inédito, provocado por uma pandemia que só achámos possível de acontecer na Netflix ou na HBO, o nosso setor parou também. Passado o choque inicial, quando a economia lentamente foi retomando a normalidade possível, num novo mundo de constrangimentos e medidas de mitigação de risco, descobrimos que seríamos das áreas mais afetadas e das últimas a regressar à normalidade possível. Dois meses e meio separam o enquadramento normativo que permitiu o retomar dos espetáculos (28 de maio) face aos eventos corporativos (12 de agosto), apesar de regras e recomendações serem em tudo idênticas. Dois meses depois, com o setor a tentar reerguer‑se lentamente, e com a chegada do estado de calamidade e emergência, nova proibição no que toca a “eventos e celebrações” acima das seis pessoas nos principais concelhos do país. A cronologia destas autorizações e proibições revela um abandono e negligenciar do setor dos eventos, que gostava de um dia perceber se aconteceu por negligência, falta de peso político de quem tutela esta área ou por outra razão. Mas, no fim do dia, quem assume a responsabilidade pela destruição do setor dos eventos em Portugal? É uma questão bombástica e alarmista? É! Mas qual a diferença entre espetáculos e eventos corporativos que justifiquem esta diferença absurda de tratamento dos dois setores? Não havendo uma diferença logística, na atividade de ambos os setores, existe uma falta de confiança nos organizadores de eventos? Quase tenho inveja dos empresários da restauração e dos espetáculos quando se queixam das suas quebras. É que esses, e outros setores, podem trabalhar com as devidas limitações enquanto o setor dos eventos foi impedido de trabalhar e remetido ao esquecimento. É um milagre quem sobreviver neste contexto tão adverso. O tempo dirá quantas empresas e profissionais do setor vamos perder pelo atual contexto e parcos apoios.Mas, mais do que tudo, falta‑nos algo fundamental para lutarmos por aquilo que é nosso por direito. Reconhecimento! Falta‑nos a capacidade de mostrar o real peso do setor dos eventos na economia e no importante setor do Turismo em Portugal. E não é agora, em modo de luta pela sobrevivência, que o devíamos estar a fazer. Este era um ponto fulcral que já devíamos ter conquistado há muitos anos. Agora retomemos o título do artigo: Go Digital or Go Home. Esta é a realidade a que foi remetido todo o nosso setor. Ou fazem eventos digitais ou não fazem nada. Abraçámos esta nova realidade com o profissionalismo e paixão que nos caracterizam e o balanço não poderia ser mais positivo com o mercado a apresentar eventos, neste formato, de elevada qualidade. Por outro lado, foi a forma de conseguir que os clientes, e as marcas, conseguissem continuar a comunicar e motivar as suas equipas e os seus públicos. Mas, a verdade é que não temos outra opção. Ou faturamos desta forma ou estamos impedidos de exercer a nossa atividade. Viveremos ainda meses complicados de pandemia, e rescaldo da mesma, onde o setor dos eventos e os seus profissionais continuarão na luta possível pelas suas empresas e pelas suas equipas e parceiros. Mas não vão ser meses fáceis e, provavelmente, continuaremos por nossa conta do ponto de vista do reconhecimento e dos parcos apoios disponíveis. Resta‑nos manter a resiliência, acreditando na tese brasileira da “demanda reprimida”. Aquele jeitinho simpático de dizerem que muitos dos eventos, e do negócio, que não está a acontecer agora, acontecerá quando voltarmos à normalidade possível. E temos mesmo que acreditar! Eu acredito! Apesar de todas as adversidades estou focado e motivado para ir à luta pela minha empresa, pela minha equipa e por este setor de que tanto me orgulho! Assim, vamos com tudo em 2021! Pedro Rodrigues Diretor Geral da Desafio Global WWW.EVENTPOINT.PT 92 OPINIÃO A HISTÓRIA E AS HISTÓRIAS DE QUEM FAZ DOS EVENTOS A SUA VIDA A vida de eventos é a sua vida. Conheça as histórias e o percurso de Luís Miguel Lopes, Marjolaine Diogo da Silva e Rui Batista. LUÍS MIGUEL LOPES “SÃO AS PESSOAS QUE MAIS ME MOTIVAM NESTA ÁREA” A paixão pela música e pelos eventos corre‑lhe nas veias. Luís Miguel Lopes conta à Event Point o percurso até chegar a diretor geral da PRE – Pro Rent Events, empresa que criou há dois anos. “A minha família sempre nutriu um interesse pela música, então, desde cedo, aprendi música, subi a palcos, montei equipamentos de luz, som, vídeo, organizei festas e eventos, ainda que de uma forma não profissional, mas sempre com uma enorme paixão! Durante a vida académica, sempre estive ligado a instituições onde tive a oportunidade de organizar eventos e produzir espetáculos. Sempre com uma enorme vontade de surpreender, na tentativa de fazer coisas que ainda não tinham sido feitas.” WWW.EVENTPOINT.PT 94 VIDA DE EVENTOS E foi com este “espírito irrequieto” que, aos 21 anos, criou uma empresa na área dos espetáculos, com outras duas pessoas. “Fundámos uma estrutura que, nesse segmento de mercado, se tornou uma referência e que se destaca pela irreverência dos seus espetáculos. Foi a ela que estive ligado até criar a minha própria empresa em 2018, a PRE – Pro Rent Events.” As pessoas são o grande foco de motivação de Luís Miguel Lopes. “São as pessoas que mais me motivam nesta área. A ideia de criar emoções, criar experiências, desenvolver todo o trabalho de preparação, criação, execução, para que, na hora de acontecer, tudo esteja preparado até ao mais pequeno detalhe, é isso que me motiva”, refere. Afinal, um “cliente satisfeito” é sinónimo de uma “equipa orgulhosa”. O ritmo dos dias que são sempre diferentes e o desafio de pensar em eventos diferenciadores são fatores que marcam esta atividade. E é disso de que Luís Miguel Lopes mais gosta. “O ritmo eletrizante é uma característica muito desgastante, mas, ao mesmo tempo, muito motivante para quem está ligado à área dos eventos. O facto de cada dia nunca ser igual ao dia que passou é algo que me motiva diariamente. Criar narrativas nos eventos, despertar emoções para que possam ser surpreendentes, marcantes e únicos. Aprendi com um grande senhor da música que ‘não devemos dar ao público aquilo que o público quer’, mas aquilo que ainda não sabe que quer e, desde então, tento ir mais além sempre que possível”, frisa, acrescentando que do que menos gosta nesta atividade é o “ter de abdicar do tempo em família, que tanto prezo. E, embora tenha um enorme apoio familiar, que tem sido essencial, sentimo‑nos sempre em dívida com os nossos.” Luís Miguel Lopes “HÁ MOMENTOS IRREPETÍVEIS!” Luís Miguel Lopes não consegue destacar um evento especificamente mais marcante, até porque “todos os eventos são, em boa verdade, bastante diferentes e bastante especiais”. O diretor da PRE afirma que “há momento irrepetíveis”, que esta é uma área que “tem a capacidade de nos envolver de uma forma única” e que é como se fosse um “vício” para quem vive neste universo dos eventos. No entanto, sublinha o momento de reinvenção da equipa: “Confesso que vivi este período de confinamento e de pandemia com uma mistura de sentimentos. Se, por um lado, a conjuntura que atravessamos provocou um receio e uma desconfiança do futuro, a forma como a equipa se reinventou é algo extraordinário e que será marcante no nosso percurso enquanto empresa. Estamos hoje mais bem preparados do que alguma vez estivemos, com soluções próprias para dar resposta aos vários desafios e com um trabalho que prima pelo rigor e profissionalismo.” Não faltam histórias para contar. Afinal, a “vida de estrada” traz uma diversidade de “estórias” que vão permanecer na memória. “Desde peripécias nas viagens com a logística à chegada de eventos, a equipamentos que, à última da hora, têm de ser substituídos com os eventos prestes a arrancar, ou ao telefonema do apresentador a uma hora do início do evento a dizer que está preso no trânsito e que não vai conseguir chegar a tempo para a apresentação do evento, e a equipa ter de se mobilizar para encontrar imediatamente uma solução de última hora, para que o evento possa decorrer naturalmente… Enfim, há um ‘cardápio’ para todos os gostos e com toda a certeza que já se escreveria um ‘bestseller’ à conta de tanta história que temos para contar. Normalmente, são o argumento nos momentos de descontração da equipa.” Mas há também momentos marcantes em que as coisas podem não correr conforme os planos. E sobre esses momentos, Luís Miguel Lopes lembra que “o fator risco é sempre uma característica associada a quem produz eventos. É a nossa adrenalina! O maior desafio é a equipa trabalhar sistematicamente na diminuição dos riscos associados àquilo que projetamos. No entanto, nem sempre as coisas correm conforme nós planeamos. Há sempre uma série WWW.EVENTPOINT.PT 96 VIDA DE EVENTOS de imponderáveis que, por mais que nos possamos preparar, nem sempre as coisas correm da melhor maneira”. São muitas as memórias guardadas e Luís Miguel Lopes relembra uma delas: “Recordo‑me de uma situação, em que fomos contratados por intermédio de um hotel para fazer a produção audiovisual de um evento. Chegados ao local, é‑nos indicado o espaço do suposto evento, onde começamos a fazer a montagem. Contudo, esta não era a sala do evento para o qual tínhamos sido contratados, mas sim um outro, e na receção tinha havido um erro na passagem dos serviços. Conclusão, tivemos de recorrer ao equipamento que trazíamos connosco e, em vez de montarmos um evento, montamos dois em contrarrelógio com duas equipas em simultâneo. Final da história: acabou por tudo correr bem!” MARJOLAINE DIOGO DA SILVA “AQUELA EMOÇÃO QUE SENTIMOS NO FINAL DE CADA EVENTO NÃO TEM PREÇO”“Agora parece que nasci para trabalhar na meeting industry, mas a verdade é que, no início da minha carreira, esta não foi a minha primeira opção”, assim começa por contar o seu percurso Marjolaine Diogo da Silva, managing partner da Forum d’Ideias, que revela ter sido incentivada pelo diretor da empresa onde trabalhava e, desde então, nunca mais considerou outra área. “Estava a trabalhar no departamento de Incoming da Kuoni, na Suíça, e tanto eu como o meu diretor estávamos muito satisfeitos com o meu desempenho. Até que um dia ele me disse que, apesar de reconhecer que eu estava a fazer um excelente trabalho, gostava que eu experimentasse o departamento de congressos. Não esperava tamanho desafio para a primeira experiência… Eram 700 participantes, alojados em vários hotéis, e eu tinha que gerir 14 autocarros entre os hotéis e o centro de congressos (e viceversa), sem nunca ter feito algo sequer parecido e sem ter estes meios de comunicação fantásticos que temos hoje em dia. Logo em seguida, tive de ajudar no registration desk e de garantir o bom funcionamento dos coffee breaks e coffee stations. Sempre ouvi dizer: ‘If it excites you and scares you at the same time, it probably means you should do it!’.” E assim o fez. Bastou‑lhe esta experiência para ficar “apaixonada por esta área tão desafiante e gratificante”, frisa, acrescentando: “Foi uma viagem só de ida e a criação de uma empresa própria foi a evolução natural.” Não há dois dias iguais para quem trabalha nesta área e Marjolaine Diogo da Silva adora um bom desafio. “É muito bom sermos constantemente desafiados a fazer diferente e é muito gratificante a sensação de missão cumprida. Aquela emoção que sentimos no final de cada evento não tem preço!” A atualização e a aprendizagem a todos os níveis são constantes e “isso faz‑nos crescer e ter vontade de fazer mais e melhor”. Nesta fase, a managing partner da Forum d’Ideias já não se envolve na parte operacional, pelo que o que mais a motiva é “ver como a minha equipa cresceu com a empresa, como somos todos tão apaixonados pelo que fazemos e a garra que temos”. O ano de 2000 foi de aposta no digital e, sublinha, “o sucesso que temos com os nossos eventos virtuais é mérito desta equipa lutadora, forte e unida”. WWW.EVENTPOINT.PT 98 VIDA DE EVENTOS Há várias coisas de que Marjolaine Diogo da Silva gosta nesta atividade. Afinal, esta é uma área “onde temos a possibilidade de ajudar as empresas a concretizar os seus objetivos, de mostrar o melhor deste país maravilhoso, de proporcionar experiências memoráveis aos participantes, de criar laços e relações duradouras com clientes e de nos desafiarmos diariamente a fazer diferente, mais e melhor”. E adianta: “Pessoalmente, sinto‑me muito privilegiada por poder combinar duas grandes paixões que tenho: a paixão pelo mar e pelos barcos com a paixão pelos eventos.” Por outro lado, o facto de os eventos “serem uma das primeiras coisas a serem desconsideradas quando o orçamento das empresas tem que reduzir” é do que menos gosta nesta área. “Infelizmente, apesar de estar comprovado que os eventos contribuem muito para o melhor desempenho e sucesso das empresas e associações, tanto com os funcionários, como com os clientes e membros, nem sempre são prioridade”, contesta. “É IMPOSSÍVEL NÃO PENSAR EM COMO CRESCEMOS E EVOLUÍMOS!” Na memória fica guardada a altura em que a Forum d’Ideias abriu, em fevereiro de 2000, e a tecnologia com que trabalhavam. Marjolaine Diogo da Silva recorda o quadro branco com marcador, o fax e as disquetes – “o CD só veio mais tarde” –, os recursos possíveis há 20 anos… “Na época, a empresa tinha poucas pessoas, a tecnologia era muito limitada, ocupando muito do nosso tempo, e a oferta a nível de alojamento, atividades, animação, venues, restaurantes e outros serviços não era tão diversificada. Estas limitações e outras, como o fotógrafo não ter um rolo extra, o orador esquecer‑se das transparências para as suas apresentações, não ter forma de entrar em contacto com as pessoas em situações urgentes ou o cheque não chegar, faziam parte do nosso dia‑a‑dia”, conta, frisando: “É impossível não pensar em como crescemos e evoluímos!” Como evento mais marcante Marjolaine Diogo da Silva poderia indicar o primeiro que organizou, “mas, na verdade, tive muitos primeiros; o primeiro de cada área diferente ou com um desafio diferente”. Também podia apontar “o Next >