< PreviousAs bandas e o público ficaram satisfeitos com o seu trabalho, o que a levou a pensar em transformar o hobby em profissão. Juntou‑se ao amigo e músico Nelson Oliveira e formaram a Luta Sistemática que, durante o ano de 2009, organizou concertos de bandas amadoras. Com a música como motor, surgiu ainda outra ideia: a organização de excursões para festivais e concertos em Portugal e Espanha, atividade que se manteria durante vários anos. A OPÇÃO PELOS EVENTOS A Engenharia Civil foi ficando pelo caminho, até porque a oferta profissional nessa área era bastante limitada. Os dez anos seguintes seriam já longe das obras, mas a fazer outro tipo de planeamento: “A Luta Sistemática estava no seu auge, pelo que aprofundar conhecimentos na área pareceu‑me mais do que fundamental. Em 2013, ingressei na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto, no Curso de Gestão de Turismo. Fiz o meu estágio na The House of Events. No final, fui convidada a integrar a equipa e permaneci até 2019.” Entretanto, nunca deixou de tentar aprender mais. Em 2016, frequentou o Master Executivo de Gestão e Organização de Eventos da Associação Nacional de Jovens Empresários e, em 2020, o curso Wedding Planning Certification e Events Management Certification, promovidos pela New Skills Academy do Reino Unido. No fim de 2019 fundou a sua própria marca, 3C Events, com o objetivo de realizar pequenos eventos sociais. WWW.EVENTPOINT.PT 130 PASSAPORTE PORTUGUÊS O CAMINHO PARA A GRÉCIA A ida para a Grécia foi uma consequência da experiência profissional anterior. “Na The House of Events era responsável pela organização das viagens de incentivo e foi onde consolidei todos os conhecimentos aprendidos, onde explorei o meu lado mais criativo e tive os primeiros contactos com outras culturas no âmbito profissional. Este contacto fez crescer em mim uma curiosidade em saber como outras culturas organizam os mesmos eventos que eu. Em Portugal, oferecemos bacalhau e fado, viagens de elétrico e de barco rabelo, trabalhamos de uma determinada forma, fruto da nossa cultura… Mas e em Espanha? No Reino Unido? Na Grécia? Que soluções oferecem para o mesmo tipo de eventos que fazemos em Portugal?”. Enquanto organizava pequenos eventos com a 3C recebeu uma proposta de trabalho para a DMC Liberty International, em Atenas. Começou a trabalhar em janeiro de 2020 e, dois meses depois, devido à pandemia, acabou por ser despedida. Apesar da curta experiência, conseguiu perceber “alguma diferença no método de trabalho”. “É uma cultura mais relaxada em comparação com a portuguesa mas, ao mesmo tempo, mais burocrática. Mas, como têm noção disso, disponibilizam‑se muito para ajudar e tentar acelerar processos”, revela. Diz também que “a diferença salarial entre géneros continua a ser um problema transversal a ambos os países, e não só, apesar do turismo ser uma das áreas profissionais na Europa com maior empregabilidade do género feminino”. O último ano foi desafiante para o setor. Claudia de Vasconcelos acredita que a pandemia já mudou os eventos, obrigando à criação de novas soluções. Fala, por isso, numa “alteração de conceitos e de tipologias de eventos”, dando como exemplo o seu próprio caso. “Quando a pandemia foi oficialmente declarada, desenvolvi uma oferta de eventos online. Em maio de 2020 terminou o lockdown na Grécia e iniciei os Meetings Foreign Women Living in Athens e Foreigners Living in Athens. Nestes meetings conheci várias pessoas de diferentes partes do mundo e travei algumas parcerias para outros projetos.” Acabou por organizar noites temáticas e outros eventos, sempre com a capacidade limitada. Mas o final de 2020 trouxe nova alteração de planos: “Em novembro de 2020 iniciou‑se um novo lockdown, que ainda hoje permanece, pelo que mantive apenas a oferta de eventos online.” “Com a situação atual torna‑se muito arriscado fazer planos a longo prazo. Pretendo explorar ainda mais o turismo na Grécia a nível profissional, dado que não tive a oportunidade, mas tudo depende dos impactos da pandemia a médio prazo”, reconhece. Com o desconfinamento planeado para maio, Claudia espera regressar aos pequenos eventos e ao que mais gosta de fazer: “No caderninho das ideias estão outros projetos que a seu tempo serão promovidos.” Olga Teixeira WWW.EVENTPOINT.PT 132 PASSAPORTE PORTUGUÊS ENGENHARIA CIVIL E MÚSICA: DUAS LIÇÕES PARA OS EVENTOS A Engenharia Civil, ponto inicial do seu percurso profissional, acabou por não ser totalmente esquecida: “Quando se estuda uma área científica desenvolvem‑se competências ao nível da análise do que nos é proposto, um olhar mais clínico. Um evento poderá ser comparado a um laboratório onde preparamos uma fórmula com os diferentes elementos disponíveis. Depois há disciplinas não tão específicas do curso, que mais tarde se revelaram úteis como Matemática, Desenho e Arquitectura ou Gestão e Contabilidade.”. Já a experiência com bandas e concertos foi fundamental para desenvolver outro tipo de competências. “Foi onde aprendi a gerir alterações de última hora, cancelamentos de bandas, gestão de reclamações, contacto com fornecedores e onde desenvolvi as minhas capacidades de proatividade e antecipação de problemas, além de ter desenvolvido o website, newsletters e a criação de formulários… Mais tarde, com o aparecimento das redes sociais, aprofundei conhecimentos na área do marketing digital para a promoção dos meus eventos e das excursões. Todos estes pequenos detalhes contribuíram para me desenvolver enquanto organizadora de eventos.” Lidar com o inesperado foi e continua a ser um desafio para quem vem da área científica. “A maior dificuldade que sinto é a gestão de alterações ao programa durante o evento. Sou muito perfeccionista e quando tudo está organizado ao milímetro e algo que foi pensado e estudado em todas as formas tem de ser alterado é um verdadeiro desafio”, admite. Mas há um lado positivo nesse esforço: “Acaba por se tornar numa oportunidade para impressionares o teu cliente e te superares a ti própria.” Na sua opinião, “os momentos mais gratificantes são todos os finais dos eventos, sejam eles de que tipo forem, quando o cliente te agradece, fechas a porta e sentes o dever cumprido”.“COMUNICAR E DIGNIFICAR O PODER DE INSTITUIÇÕES E PESSOAS” WWW.EVENTPOINT.PT 134 CONSULTÓRIO DE PROTOCOLO ANÁLISES PROTOCOLARES #SOFAGATE, OU QUANDO O PROTOCOLO SE TORNA VISÍVEL PELAS PIORES RAZÕES OS FACTOS A 6 de abril de 2021, em Ancara/Turquia, o Presidente Recep Tayyip Erdoğan recebeu Charles Michel, Presidente do Conselho da União Europeia, e Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, com o objetivo de debater o futuro das relações entre a União Europeia e a Turquia. Nesse encontro oficial, os representantes da UE expressaram ao Presidente Erdogan que a UE está pronta para debater uma agenda concreta e positiva, baseada em três pilares: cooperação económica, migração e contactos, mobilidades interpessoais. Igualmente estão em causa diálogos sobre questões de interesse mútuo, como temáticas regionais, saúde pública, clima e combate ao terrorismo. Note‑se que a UE é o maior parceiro comercial da Turquia. Considerando que o estado de direito e o respeito pelos direitos fundamentais são valores basilares da UE, os seus representantes partilharam com o Presidente Erdogan as profundas preocupações sobre os últimos desenvolvimentos na Turquia a esse respeito, em particular quanto à liberdade de expressão e à segmentação dos partidos políticos e dos media. A promoção dos direitos das mulheres e a retirada da Turquia da Convenção de Istambul suscitam, também, sérias preocupações na Europa. A QUESTÃO DIPLOMÁTICA E PROTOCOLAR Contudo, um incidente ocorrido neste encontro manchou totalmente a agenda de trabalho, tornando‑a invisível aos olhos da opinião pública, provocando um verdadeiro tsunami mediático que, em horas, proliferou nas redes, apelidado como #sofagate e #giveheraseat. Com efeito, sucedeu que, após o protocolarmente correto acolhimento do Presidente Erdogan à porta do palácio presidencial a ambos os representantes da UE, à chegada à sala, e aquando do momento de as três entidades se sentarem, verifica‑se que só existem duas poltronas na zona principal, uma para o anfitrião e outra, à sua direita, rapidamente ocupada por Charles Michel, enquanto Ursula von der Leyen, visivelmente constrangida e incomodada, se vê obrigada a sentar‑se num sofá lateral (em frente ao Ministro dos Negócios Estrangeiros turco). Objetivamente, a mensagem visual transmitida foi a de que a Presidente da Comissão Europeia fora relegada para um lugar secundário e, claramente, de menor visibilidade e maior distância face ao anfitrião, num momento genérica e universalmente considerado pela opinião pública como humilhante. A ANÁLISE PROTOCOLAR Do ponto de vista estritamente protocolar, o Conselho da União Europeia (representado por Charles Michel) precede a Comissão Europeia (representada por Ursula von der Leyen), pelo que se poderia considerar, numa visão apenas técnica, estar correta esta distribuição de lugares. Discordamos, contudo, desta interpretação, por a considerarmos parcial. O Protocolo, além de sistema normativo, consiste numa técnica de ordenação, cujo principal objetivo é, sempre, comunicar e dignificar o poder de instituições e pessoas. A este propósito, recorde‑se que em inúmeras ocasiões e contextos, aquando da presença dos dois representantes destas instâncias europeias (quer dos atuais quer dos seus antecessores) noutros encontros, ambos eram colocados lado a lado, à direita do anfitrião em questão. O mesmo sucedeu, até, aliás, na Turquia, com os anteriores presidentes de ambas as instituições da UE. WWW.EVENTPOINT.PT 136 CONSULTÓRIO DE PROTOCOLO Como acontece neste tipo de circunstâncias, especialistas em Diplomacia, em Relações Internacionais e em Protocolo (e também em “tudologia”…) foram ouvidos e fizeram‑se ouvir na praça pública (sobretudo nas redes sociais) defendendo, com maior ou menor propriedade, tudo e exatamente o seu contrário. Assim, e de imediato, o Presidente turco foi acusado de autocrata e misógino, o Presidente do Conselho da União Europeia de pouco solidário, machista e indelicado e a Presidente da Comissão Europeia considerada vítima perante tanta falta de escrúpulos por parte do seu anfitrião e do seu parceiro. Concentremo‑nos, porém, no essencial. Mesmo estando as precedências respeitadas, e mesmo tendo em conta que em protocolo o critério de género não é aplicável (e este não é um fator de somenos importância), neste contexto, neste país, com esta agenda, com estas personalidades, esta situação nunca poderia, nem deveria, ter acontecido. Falta de cuidado das equipas de Protocolo das instâncias europeias, má fé por parte do anfitrião, talvez nunca se venha a saber. Porém, aconteceu. E, também em Protocolo, não basta ser, é preciso parecer. Este encontro, além de tudo o mais, do ponto de vista meramente protocolar, é um exemplo perfeito de como tudo não deve suceder. Assim mesmo, defendemos que o Protocolo foi, é, e continuará a ser fundamental na cena diplomática internacional, enquanto elemento de transmissão de uma imagem de estabilidade do sistema, capaz de limitar eventuais pontos de fricção entre as partes. Neste caso, em Ancara, em abril de 2021, foi oferecida à opinião pública uma imagem nada dignificante: a de uma instituição supranacional, representativa de vinte e sete Estados, cujos dois representantes ali presentes atuam de modo fragmentado, respaldados por um staff pouco sensível, e a de um Presidente de um Estado cujas opções e atuações são verdadeiramente discutíveis sob vários pontos de vista e, também, na sua qualidade de anfitrião.Aplica‑se, afinal, a muita gasta e velha máxima de que “uma imagem vale mais do que mil palavras”, e nem sempre positivamente. FUNERAL DO PRÍNCIPE FILIPE, DUQUE DE EDIMBURGO Realizou‑se a 17 de abril de 2021, em Windsor, o funeral de S.A.R. o Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo, que falecera a 9, com 99 anos. Personalidade muito estimada pelo público britânico e da Commonwealth, fica para a história como o consorte de monarca britânico que mais anos esteve nessa posição, um marido dedicado e o apoio de uma vida à Rainha Isabel II durante os mais de setenta e três anos anos de matrimónio, caminhando sempre, dignamente, “dois passos atrás”. A cerimónia foi organizada tendo em conta o estrito cumprimento das normas sanitárias e restrições impostas pela pandemia, apenas com a participação de trinta pessoas, tendo a Rainha definido cada pormenor, no seguimento da vontade do Duque, prestando‑lhe, assim, uma última homenagem. Tratou‑se de um funeral de cerimonial real, familiar, privado e não de um funeral de Estado. Em todos os momentos da cerimónia se recordou o Duque de Edimburgo e se fez alusão ao serviço público, irrepreensível, por este prestado ao longo de mais de sete décadas. No que concerne ao vestuário, a etiqueta definida pela Casa Real foi de “luto civil”, ou seja, fraque para cavalheiros com medalhas militares (se aplicável) e vestido curto e chapéu para senhoras. Não sendo o falecido monarca reinante, o véu cobrindo os rostos não é aplicável. WWW.EVENTPOINT.PT 138 CONSULTÓRIO DE PROTOCOLO O féretro foi transportado até à Capela de São Jorge num Land Rover personalizado pelo próprio Duque, já em 2003. Atrás seguiu um cortejo em alinhamento par (filhos) ordenado pelo critério de idade, e netos, em alinhamento ímpar. A encerrar o cortejo, seguiram o Conde de Snowdon e o marido da Princesa Ana, o Vice Almirante Timothy Laurence. A apoiar o cerimonial, no exterior, militares da Marinha Real (Royal Navy e Royal Marines), do Exército Britânico e da Força Aérea Real. A urna foi coberta com o estandarte do Duque de Edimburgo dividido em quatro padrões: representação da sua origem dinamarquesa e grega, o sobrenome da sua família Mountbatten e o seu estatuto como Duque de Edimburgo. Por cima, o seu boné da Marinha e espada; também uma coroa com flores escolhidas pela Rainha, com um cartão pessoal e a mensagem “Your Loving Lilibet” inscrita. A Capela de São Jorge estava imponentemente vazia. A Rainha entrou acompanhada pelo Reverendo David Conner, Reitor de Windsor. A imagem da Rainha Isabel II sentada, sozinha, é uma das mais impactantes deste acontecimento. No altar foram colocadas algumas das condecorações atribuídas ao Duque de Edimburgo, sendo uma das mais importantes a da Ordem da Jarreteira. O alinhamento musical da cerimónia fora, também, selecionado pelo próprio Duque. O Duque de Edimburgo foi sepultado no Cofre Real da Capela de São Jorge. Após o falecimento da Rainha, está previsto que seja transferido para a Capela Memorial do Rei George VI, onde terão, juntos, o descanso eterno. Cristina Fernandes & Susana CasanovaNext >