< Previouspelo que, para as empresas MICE e para as DMCs em geral, apresenta‑se como uma oportunidade de inovação na oferta complementar e na organização de eventos, tirando partido igualmente do investimento promocional que todas as entidades turísticas regionais e nacionais lhe vêm dedicando”. Os responsáveis lembram ainda as oportunidades de iniciativas transfronteiriças. O Caminho de Santiago é, para Paulo Lopes, “a aventura de uma vida”, uma “jornada de introspeção e transformação”. E em grupo “cria uma união e cumplicidade entre os elementos que perdurará no tempo”, referem Sónia Matos e Luís Guilherme Negrita. “’Especial’ não é o Caminho, mas sim o que o Caminho nos faz a nós”, rematam Paulo Cavaleiro e Catherine de Freitas. Fairway Santiago: uma feira que aborda o fenómeno do Caminho “A Fairway é o ponto de encontro profissional sobre o Caminho de Santiago e um espaço onde se aborda o Caminho em toda a sua amplitude”, conta à Event Point Ana García Calvo, codiretora da Fairway Santiago. Expõem nesta feira as instituições que gerem os Caminhos e as empresas de serviços e produtos para os peregrinos, sejam hotéis, albergues, transportes, empresas de aluguer de bicicletas, guias, entre muitas outras. A par da feira, que este ano se realiza em novembro, decorre um congresso, que é um espaço de reflexão e de conhecimento onde se abordam temas sobre a gestão dos Caminhos, como a sinalização, a segurança, a sustentabilidade, a coordenação administrativa, etc.”, refere a responsável. Foi criada também a Fairway Academy, no sentido de dar formação às empresas do Caminho. WWW.EVENTPOINT.PT 50 DOSSIÊ TEMÁTICO “Entre os temas a abordar, destaque para, por exemplo, a gestão empresarial, o marketing digital, a dinamização ou a comunicação”. A vertente do networking é fundamental e, por isso, a feira organiza um workshop onde conecta a oferta e a procura em reuniões one‑to‑one”. Este ano, de Xacobeo, a feira conta com a participação de expositores nacionais, nomeadamente o Turismo do Porto e Norte, com os concelhos que estão no Caminho português. “Até agora, a experiência tem sido muito boa, com expositores portugueses, e estamos contentes de continuar a contar com eles. De facto, uma das novidades desta nova edição é que as nossas famtrips adquirem dimensão internacional, já que a apresentação do Caminho Português, que antes era iniciada em Tui, passa a ser no Porto”, explica Ana García Calvo. Espanha estará, porventura, mais adiantada do que Portugal na promoção dos Caminhos junto da meetings industry. Há muito tempo que é feito um trabalho de “dar a conhecer e potenciar o Caminho como recurso do turismo de congressos e reuniões, mas ainda falta fazer muita coisa, mas já são muitas as empresas nacionais e internacionais que encontram no Caminho uma alternativa saudável, diferente e experiencial às suas atividades complementares”. Mas esta promoção não pode ser feita “a qualquer preço”, avisa a responsável. “O Caminho é o complemento perfeito de um evento como uma atividade social, desde que se respeite a tradição, a sustentabilidade e se o viva como algo íntimo”, refere. Além de complemento a um evento, os incentivos são uma oportunidade, “por esse valor acrescentado de ser uma atividade especial”. “O perfil que temos é de um alto executivo que leva uma vida frenética, a quem custa desconectar, mas, quando faz o Caminho e se encontra no meio da natureza, pouco a pouco, começa a sentir a calma. Passa de falar de reuniões de trabalho a brincar com os colegas e a falar da família”, descreve Ana García Calvo, que diz que isto é uma prova do potencial da rota. Um mosteiro como paragem no Caminho Fazer do Mosteiro de Leça do Balio, em Matosinhos, um ponto de introspeção para quem percorre o Caminho de Santiago e recuperar esse espírito de contemplação. Contemplação interior ou de um monumento anterior à própria nacionalidade, construído perto de uma antiga estrada romana e, por isso, testemunho de passagem de muitos peregrinos ao longo dos séculos. Este é o objetivo do Grupo Lionesa, que em 2016 adquiriu o mosteiro e que está, desde o início do ano, a fazer obras de reabilitação no local. WWW.EVENTPOINT.PT 52 DOSSIÊ TEMÁTICO A reabertura do espaço deverá acontecer na primavera de 2022, mas a zona envolvente terá, nessa altura, algumas novidades. O arquiteto Siza Vieira foi desafiado a criar uma escultura em betão branco com 400 m 2 . Vai surgir, então, o “Caminhante”, uma escultura que presta homenagem a todos os caminhantes e caminhos. Simultaneamente, e num trabalho conjunto com Sidónio Pardal, está a ser desenvolvido um jardim com 14 estações criadas para funcionarem “como um convite à pausa e à meditação”. O propósito é “voltar a abrir o mosteiro à comunidade”, apostando sobretudo em três públicos‑alvo: escolas; amantes da arte, arquitetura e história; e peregrinos. Foi criada a Associação Monasterium para gerir o mosteiro e toda a sua parte cultural. “O nosso objetivo é resgatar o mais antigo Caminho português, modernizando‑o e adaptando‑o a quem o procura. Um caminho ecuménico, que interpela a introspeção e sublinha o contemporâneo, quer seja na arquitetura, na cultura ou na gastronomia. Acreditamos que este projeto tem todo o potencial para ser o grande marco de um novo caminho nos Caminhos de Santiago – O caminho da arte”, explica Francisca Pinto, da Lionesa. Nesse sentido, estão a ser estabelecidos contactos com algumas entidades, para que possa ser dada continuidade ao conceito de criação de um produto cultural associando a arte aos Caminhos de Santiago. Cláudia Coutinho de Sousa Olga Teixeira Esquiços para a escultura “Caminhante”, do arquitetco Siza VieiraVENTILAÇÃO: A VARIÁVEL QUE PODE PERMITIR MAIS PESSOAS NOS EVENTOS Há vários meses que o Centro de Congressos da Alfândega (CCA) do Porto tem um estudo, elaborado por uma consultora especializada em medicina e saúde pública, a POC – Medical Care, que demonstra como é possível aumentar a taxa de ocupação dos espaços para eventos, mesmo durante este período de pandemia, mantendo a segurança dos participantes. A chave está numa variável chamada ventilação. Mas vamos explicar melhor. WWW.EVENTPOINT.PT 54 DESTAQUE Embora ninguém pareça saber exatamente de onde surge, nem porquê, o referencial de 0,05 pessoas/m 2 como taxa de ocupação máxima em eventos corporativos, por exemplo, a verdade é que continua a ser esse o valor que importa. E foi dele que André Tadeu, médico e especialista em saúde pública, partiu para estabelecer os seus cálculos. O CCA tinha‑lhe encomendado um extenso estudo com todas as medidas que deveriam ser adotadas por aquele espaço, incluindo medidas de higiene e de limpeza; organização do espaço e gestão do público; comunicação entre todos os envolvidos; possibilidade de rastreios; alimentação e bebidas; tabaco; condições próprias para trabalhadores, equipas de eventos, clientes e prestadores de serviços externos; etc., etc. Mas os responsáveis da Alfândega queriam também saber se tinham condições para aumentar a taxa de ocupação nos eventos que acolhem, mesmo em função das características próprias daquele espaço. André Tadeu partiu do tal referencial, 0,05 pessoas/m 2 , considerou que as salas da Alfândega não teriam mais do que 3 metros e 25 centímetros de pé direito (muito abaixo da realidade), contemplou diferentes situações de evento, congressos, seminários, palestras, conferência, exposição, e avaliou o impacto que a ventilação teria em cada uma destas situações. E o que as conclusões demonstram é que bastam duas renovações completas de ar por hora (algo que é perfeitamente banal em espaços para eventos) para podermos aumentar as taxas de ocupação inicialmente previstas, no caso dos congressos, seminários, palestras e conferências. Assim, onde antes da covid podiam estar 1.000 pessoas, com duas renovações por hora poderiam estar 600 (em vez das 500 permitidas pelas regras da Direção‑Geral da Saúde). Com três renovações, seria possível ter 690 participantes e, com cinco renovações por hora, atingir as 850 pessoas, aproximadamente. A partir daqui o esforço seria demasiado, para ganhos escassos, em termos de aumento da taxa de ocupação.Recorde‑se que estes valores são para um determinado tipo de evento em que as pessoas estão a maioria do tempo sentadas (congressos, seminários, palestras e conferências). No caso de feiras ou de exposições, porque as pessoas andam a pé e se deslocam dentro do espaços, os dados são bem diferentes e indicam taxas naturalmente menores de ocupação (ver quadro 1). Uma última nota para os eventos ao ar livre, no exterior, com um risco associado menor, cujas taxas de ocupação podem ser vistas no quadro 2. Em jeito de conclusão, André Tadeu diz que, assumindo as três regras básicas, essenciais, de prevenção contra a covid, distanciamento social, uso de máscara e regras de higiene, é possível ir além das 0,05 pessoas/m 2 , em termos de ocupação, desde que os espaços sejam capazes de ventilar bem as salas e renovar com frequência esse ar. WWW.EVENTPOINT.PT 56 DESTAQUE TIPO DE ESPAÇOCONGRESSOS, SEMINÁRIOS, PALESTRAS, TEATRO PROPORÇÃO DA OCUPAÇÃO MÁXIMA | RECOMENDADA PARA R0<1 | TAXA DE RENOVAÇÃO DE AR (H‑1) 11.52345 ESPAÇO INTERIOR‑ ‑50%60% Mais 15% da ocupação anterior Mais 12% da ocupação anterior Mais 10% da ocupação anterior CONFERÊNCIA PROPORÇÃO DA OCUPAÇÃO MÁXIMA | RECOMENDADA PARA R0<1 | TAXA DE RENOVAÇÃO DE AR (H‑1) 11.52345 ESPAÇO INTERIOR ‑ ‑50%60% Mais 15% da ocupação anterior Mais 12% da ocupação anterior Mais 10% da ocupação anterior EXPOSIÇÃO PROPORÇÃO DA OCUPAÇÃO MÁXIMA | RECOMENDADA PARA R0<1 | TAXA DE RENOVAÇÃO DE AR (H‑1) 11.52345 ESPAÇO INTERIOR ‑ ‑‑ ‑25% Mais 15% da ocupação anterior Mais 12% da ocupação anterior Mais 10% da ocupação anterior ESPAÇO INTERIOR COM CIRCUITO DEFINIDO ‑ ‑‑ ‑30% Mais 15% da ocupação anterior Mais 12% da ocupação anterior Mais 10% da ocupação anterior TIPO DE ESPAÇO SENTADOS PROPORÇÃO DA OCUPAÇÃO MÁXIMA | RECOMENDADA PARA R0<1 DIURNONOTURNO ESPAÇO EXTERIOR85%80% EM PÉ PROPORÇÃO DA OCUPAÇÃO MÁXIMA | RECOMENDADA PARA R0<1 DIURNONOTURNO ESPAÇO EXTERIOR80%75% ESPAÇO EXTERIOR COM CIRCUITO DEFINIDO OU ZONAS DELIMITADAS (ESPECIALMENTE FUMADORES E CONSUMO DE BEBIDAS) 82%77% + RESULTADO NEGATIVO EM TESTE RÁPIDO DE ANTIGÉNIO À ENTRADA DO EVENTO 85%80% QUADRO 1 QUADRO 2“TRABALHAR COM UMA MISSÃO E UM PROPÓSITO SÃO PARA MIM FUNDAMENTAIS” WWW.EVENTPOINT.PT 58 VIDA DE EVENTOS MARIANA SOUSA “UM GRÃO DE AREIA NÃO FAZ O AREAL” Para Mariana Sousa, é fundamental trabalhar “com uma missão e um propósito” e é imprescindível o trabalho em equipa. Afinal, “um grão de areia não faz o areal”, frisa a head of Business Events do Porto Convention and Visitors Bureau (PCVB). As suas atuais funções passam pela captação de eventos internacionais, parcerias internacionais e pela implementação da estratégia no campo da promoção internacional do destino Porto e Norte orientado para a meetings industry. Até chegar aqui, somou experiências ao longo do caminho e este começou fora do país. “A par de ter realizado a minha formação superior no estrangeiro, tive a oportunidade e sorte de trabalhar em alguns países e cadeias internacionais hoteleiras, que, além do rigor, visão empresarial e a formação constante, me permitiram proximidade, convivência e compreensão com outras nacionalidades e culturas. Creio que esta experiência é um fator fundamental para o mundo atual e globalizado em que vivemos”, conta. Regressada a Portugal, trabalhou num grande grupo hoteleiro, onde entrou em contacto com a indústria MICE, o que representou “uma enorme aprendizagem profissional e de conhecimento do setor”, sustenta. “A nossa participação, enquanto membro ICCA, e a minha recente entrada enquanto membro do Board da MPI Iberian Chapter deixam‑me extremamente honrada e privilegiada por estar a par e ter um papel ativo na estratégia e contacto direto com os principais players MICE ibéricos, europeus e norte‑americanos.”Next >