< PreviousA comissão da DGS dirigida por António Marques já entregou, em abril passado, um documento em que define uma série de procedimentos e as regras com que será possível organizar eventos. Mas, como recordou o responsável, falta agora haver uma decisão política e a publicação definitiva dessas regras. O que se percebeu da apresentação de António Marques no congresso da APECATE, em Peniche, é que, do ponto de vista dos técnicos, não há nenhuma razão para não se poder ser mais audaz e aumentar, por exemplo, o número de participantes permitidos nos eventos. Isto atendendo à evolução do conhecimento que se tem sobre a pandemia, mas sobretudo ao avanço da vacinação em Portugal. António Marques defende ainda que, com procedimentos claros, e havendo a prova, por parte dos organizadores, de que todas as regras estão a ser cumpridas, ao fim de um período definido de tempo, os eventos estejam autorizados pela DGS, ainda que de uma forma tácita. O professor e médico recordou várias vezes ao longo da sua intervenção que dirige uma comissão consultiva e que, por isso, não lhes cabe a eles o poder executivo. “LAMENTAMOS QUE O PROCESSO ESTEJA A SER FEITO SEM OUVIR O TURISMO DE PORTUGAL E AS ASSOCIAÇÕES” Comentando a intervenção de António Marques, o presidente da APECATE, António Marques Vidal, desabafava: “Lamentamos que o processo esteja a ser feito sem ouvir o Turismo de Portugal e as associações”. WWW.EVENTPOINT.PT 80 RADAR Marques Vidal contou mesmo que Rita Marques, secretária de Estado do Turismo, manifestou “a intenção de questionar os colegas da saúde”, sobre o porquê de mesmo ela não saber dos avanços deste grupo de trabalho, “que só sabíamos que existia”. E acrescenta que ficaram a conhecer uma metodologia e um conjunto de processos de trabalho “que nos parecem corretos. Não sabemos é quais são as conclusões, e esperamos que elas sejam postas cá fora o mais rapidamente possível”. Durante o painel em que participou António Marques, Filipe Silva, da direção do Turismo de Portugal, já tinha instado a que fossem tidas em conta as propostas do Turismo de Portugal e das associações do setor para fixar as regras com que os eventos vão ser organizados. “GANHAR O FUTURO” O mote deste IX Congresso da APECATE, “Ganhar o futuro”, realizado em formato presencial, e com transmissão online, foi desdobrado por quatro painéis e duas dezenas de oradores convidados, entre gestores, profissionais da indústria dos eventos, a atual e dois ex‑secretários de Estado do Turismo. E nele se abordaram temas como os desafios da retoma, a reforma do Estado, regras para atividades e eventos seguros ou os apoios que estão previstos para o setor.“É POR ISSO QUE INVESTIMOS NESTE EVENTO” WWW.EVENTPOINT.PT 82 OPINIÃO O CHÃO PODE SER INTELIGENTE Na preparação da nossa conferência anual, tive uma reunião com um dos nossos oradores, Wictor Bourée. Ele é o CEO da Technis e foi selecionado, pela Forbes, para o ranking anual 30 com menos de 30 (30 Under 30). A sua empresa transforma o chão dos centros de congressos em plataformas inteligentes. Não só esta foi uma conversa energizante, mas também um ótimo exemplo do tipo de valor que os centros de congressos vão providenciar no futuro: dados. O tema da conferência deste ano é Elevar – é sobre reabrir para eventos e elevá‑los a um nível mais alto. E esse nível mais alto não se consubstancia apenas num serviço de excelência. É também no apoio dado ao consumidor para justificar o investimento que ela/ele está a fazer no evento. Foi uma lição que aprendi há muitos anos, quando organizei o evento de finanças da SIBOS. Durante a reunião anual, as discussões não eram sobre preço, localização, oportunidades de possibilidade, mas nas formas como nós – como organizadores – podíamos ajudar os expositores a assegurar (ou aumentar) o budget anual necessário para participar no evento. Os elementos‑chave eram dados e velocidade. Depois de tentativa e erro, fomos capazes de apresentar um relatório contendo dados sobre o impacto dos seus investimentos. Alguns aspetos eram claros, como o número de visualizações da publicidade ou do perfil das pessoas que assistiram a uma sessão da conferência. Outros eram mais complexos, como fornecer mapas de calor, que mostraram o número de pessoas que visitam o stand. Esses dados foram então combinados com os dados que o expositor já tinha recolhido, como número de reuniões, leads gerados, etc. Mas o que tornou tudo realmente impactante foi o facto de termos entregado os relatórios duas semanas após o evento, o que fez com que quem decide os orçamentos e assistiu à conferência ainda se lembrasse do que aconteceu, o que torna a história do “é por isso que investimos neste evento” ainda mais convincente. Os centros de congressos podem desempenhar um papel fundamental em fazer acontecer histórias como estas, investindo em tecnologia e demonstrando o valor que os dados recolhidos podem trazer para os organizadores e expositores, por exemplo, fornecendo relatórios como os citados acima. A meu ver, este tipo de serviço será ainda mais importante daqui para a frente, uma vez que os executivos ‑ especialmente a nível corporativo ‑ terão de ser convencidos novamente do valor dos eventos organizados. A implementação deste tipo de tecnologia oferece, pelo menos, três oportunidades para centros de congressos. Em primeiro lugar, permite criar novos fluxos de receita ou proteger os existentes. Em segundo lugar, permite obter um melhor entendimento de como funciona o centro de congressos em termos de fluxo, e como o seu design pode ser aproveitado para atender às expectativas dos clientes. E, em terceiro lugar, o facto de ser baseado em dados também significa que pode ser rastreado em relação a indicadores de desempenho, tanto ao nível do venue, quanto do organizador e do expositor. Como em todas as oportunidades, é claro que existem alguns desafios. Primeiro, há a seleção da tecnologia a ser usada num mercado em rápida evolução. Em segundo lugar, há uma governança relacionada à recolha e uso de dados a serem definidos e implementados. E em terceiro lugar ‑ como demonstrado por casos recentes de hackers ‑, a segurança não deve ser subestimada. Conversar com pessoas como Wictor Bourée permite perceber que o mercado de eventos está a passar por uma transformação, que a crise da covid‑19 acelerou. O próximo normal é fascinante, oferecendo grandes oportunidades para aqueles que o abraçam. Temos muito o que discutir durante a Conferência Anual da AIPC no próximo mês… Sven Bossu CEO AIPC WWW.EVENTPOINT.PT 84 OPINIÃO A PAIXÃO PELOS EVENTOS SURGIU AINDA ENQUANTO ESPECTADOR WWW.EVENTPOINT.PT 86 PASSAPORTE PORTUGUÊS “UM MUNDO DE OPORTUNIDADES” NUM PAÍS QUE É QUASE UM CONTINENTE Bruno Abrantes é hoje diretor da OMA Media (México), mas a carreira começou há uns anos, entre aniversários e festas na praia. Tal como aconteceu em Portugal, a pandemia obrigou‑o a trocar o presencial pelo híbrido ou virtual, mas admite que nada se compara a “essa adrenalina de montar o evento”. A paixão pelos eventos surgiu ainda enquanto espectador, mas seria mais tarde, quando estava a estudar gestão hoteleira e, em simultâneo, trabalhava no Hotel Quinta da Marinha, que se tornaria uma opção de carreira. Os eventos corporativos despertaram‑lhe o interesse e quem diria que, anos mais tarde, estaria a trabalhar nesta área, mas noutro continente. Antes do avançar da história, há que regressar a um aniversário, que foi, como admite, “o grande passo” que o levaria da gestão hoteleira para a organização de eventos. “Decidi passar do tradicional jantar com amigos a realizar uma festa com concerto, DJ e decoração alusiva ao Halloween. No ano anterior, juntámos mais de 70 amigos num restaurante e o espaço ficou pequeno, porque depois do jantar chegaram ainda mais amigos e conhecidos”, recorda.Assim, decidiu juntar ainda mais amigos: os de sempre, os do emprego, da universidade, do futebol (que praticou entre os 10 e os 27 anos), do trabalho. E, logo aí, se perceberia que poderia estar talhado para grandes eventos: “Esperava cerca de 150 pessoas e, à medida que se aproximava a data do aniversário, vários amigos perguntaram se podiam levar uns amigos… e chegaram 421 pessoas!”. Uma casa tão cheia que o dono do bar, na praia de Carcavelos, lhe pediu que organizasse mais eventos. “Um mês depois organizei o aniversário de um primo e tive novamente mais de 400 pessoas. Depois desse evento decidi deixar o hotel e associei‑me com um grande amigo e colega da universidade e organizamos eventos como aniversários, festas temáticas, concertos de reggae, hip hop, Dj, moda, noites de fado, entre outros”. O facto de durante alguns anos ter participado como voluntário no Festival Musa Cascais também contribuiu para que se envolvesse nesta área. “Esse voluntariado sempre foi muito gratificante e uma grande aprendizagem”, salienta. BARCELONA OU MÉXICO? E como se passa de festas na praia de Carcavelos para a organização de eventos no México? Bruno Abrantes confessa que já andava “há um par de anos com muita vontade de sair de Portugal e conhecer outras culturas e formas de trabalhar”. “O segmento artístico em Portugal estava muito monopolizado e nunca conseguimos realizar concertos massivos. Nos eventos que realizávamos dependíamos sempre da venda de bilhetes, porque nunca tivemos patrocínios. Então, umas vezes davam lucro e outras vezes, depois de um trabalho enorme de produção e promoção, perdíamos dinheiro e sentíamos que não avançávamos”, recorda. Acabaria por ser o impulso que o levou a sair. Mas a história poderia ter sido diferente se tivesse optado por ficar mais perto. “Tinha a possibilidade de ir três meses para Barcelona ou de experimentar a Cidade do México e decidi pelo México, porque sabia que ia encontrar uma cultura totalmente distinta da europeia”, conta. Um grande amigo, WWW.EVENTPOINT.PT 88 PASSAPORTE PORTUGUÊS que já lá estava, disse‑lhe que ia gostar bastante da Cidade do México e que havia muitas oportunidades para profissionais especializados”. Resolveu ir, mas já com uma boa base para avançar: “Na bagagem levava um curso de hotelaria e turismo, vários anos de organização de eventos próprios e a representação para o México dos artistas Ana Moura e Blasted Mechanism”, recorda. A ajuda desse amigo de infância foi importante para que começasse a trabalhar na área dos eventos corporativos, mas havia ainda muito trabalho para fazer. “Foram vários meses de adaptação ao idioma e a entender como se fazem negócios no México. Tratei de fazer um networking importante e foquei‑me em conseguir reuniões com as pessoas importantes na área de programação artística, mas também apostar nos eventos corporativos (algo que me faltou na minha etapa profissional em Portugal)”. PORTUGAL AJUDA A ABRIR PORTAS O facto de ser português também foi importante para a adaptação inicial. Nas reuniões notavam o sotaque e perguntavam de onde vinha. “Os inícios das reuniões tornavam‑se numa conversa sobre o nosso país ou se já conheciam Portugal e isso quebrava o gelo e abriu muitas portas para realizar vários negócios”, admite. Bruno Abrantes conta também que “os programadores estavam muito abertos à nossa cultura e, um ano depois de chegar ao México, a Ana Moura e os Blasted Mechanism estavam a tocar em diferentes estados mexicanos”. Seguiram‑se outros, como António Zambujo, The Legendary Tigerman, Deolinda ou Júlio Resende, com salas esgotadas e até tours pelo país. O facto de Portugal e do México serem países latinos pode ter contribuído para este sucesso, mas Bruno Abrantes encontrou também bastante diferenças, sobretudo na dimensão. “Um país que é quase do tamanho da Europa e em que cada Estado é como se fosse um país novo pelas suas tradições, cultura Next >