< Previouscom os ouvidos mais abertos”, considerou Joaquim Pires. Segundo o responsável pela unidade de Meetings & Incentives do Turismo de Portugal, a indústria dos eventos tem de ter “a capacidade de se reinventar e perceber que aquilo que aconteceu em março de 2020 não tem mais continuidade naquilo que são os projetos futuros”. Questionado sobre a necessidade de o destino Portugal encontrar novos argumentos para se vender e captar a realização de novos eventos, Joaquim Pires sublinhou que o mais importante é dar continuidade ao trabalho que tem sido feito. “Os novos argumentos não são propriamente novos. São aqueles que nós já temos, mas com interpretações diferentes. Nós não vamos tirar o nosso ADN. Porque se retirarmos deixamos de ser um destino diferenciado. Se nós nos vamos mapear com tudo aquilo que é feito nos outros países, acabamos por ser um bocadinho ‘copy paste’, um bocadinho mais do mesmo. E aquilo que nós até março de 2020 tínhamos efetivamente como ‘high point’ deve ser mantido, porque, se vamos retroceder em tudo aquilo que tínhamos como argumentos de venda, então significa que se calhar tudo o que tínhamos feito até à IBTM 2019 era uma coisa sem sentido”, explicou. O DESAFIO DE PASSAR EMOÇÕES Também Miguel Assis recusa a ideia de que a pandemia abriu portas a uma nova geração de eventos, mas antes a uma “transformação acelerada” dos eventos. Nos eventos online impostos pela covid‑19, a equipa da Voqin’ depressa percebeu que existia uma lacuna. “O que é que nós notámos que faltava? E aí é que há uma grande aceleração daquilo que nós passámos a fazer de uma forma digital mas que já fazíamos de forma física: o que faltavam eram as emoções. Porque as emoções na realidade são aquilo que faz com que o nosso cérebro tenha a capacidade de absorção de conteúdo”, sublinhou. Para o CMO da Voqin’, agência especializada na criação de eventos e experiências de marca, a oportunidade de criar emoções nos eventos digitais não podia ser desperdiçada, quando viram a pandemia cancelar e adiar cerca de 180 projetos que estavam confirmados. “E o que é que nós podíamos fazer? Ou cruzávamos os braços e ficávamos a rezar a Nossa Senhora de Fátima que realmente nos pudesse ajudar, WWW.EVENTPOINT.PT 40 DOSSIÊ TEMÁTICO que isto passasse rápido, ou então púnhamos mãos à obra. O que fizemos foi desenvolver uma plataforma que não é mais do que a experiência digital daquilo que nós fazíamos no físico. Claro que não tem os abraços! E por isso é que o físico é tão importante. Mas o conteúdo tem de ser passado. E o conteúdo muitas vezes é mais bem passado de forma digital do que de forma física”, adiantou. Rejeitando a ideia de que à boleia da covid‑19 a Voqin’ se transformou numa empresa tecnológica e adiantando que 70% dos projetos da agência são físicos com uma componente digital, Miguel Assis concluiu: “Hoje, cada vez mais, o híbrido faz sentido”. A TECNOLOGIA AO SERVIÇO DOS EVENTOS Também o grupo Sana teve de se adaptar aos novos tempos sem nunca quebrar com o que já era feito. Porque o caminho, explica Paulo Monge, há muito que começou a ser traçado. “A pandemia não nos veio mudar. Veio foi obrigar‑nos a acelerar algumas coisas que já estávamos a fazer. Nós, no grupo Sana, já há uns anos que começámos a apostar forte na tecnologia – temos o caso do Evolution, que abrimos exatamente como um projeto tecnológico – e tínhamos já uma preocupação. Nomeadamente, como nós somos uma cadeia que tem muitas salas de reunião, sempre apostámos muito na tecnologia”. De um dia para o outro, a realidade mudou e se antes da pandemia um congresso juntava 400 pessoas numa sala, depois da pandemia os eventos passaram a contar, por exemplo, com 400 pessoas em casa e apenas três numa sala de hotel. Apesar das mudanças, a transformação não foi difícil. “Temos em Portugal empresas de audiovisual que responderam muito rapidamente ao desafio, que rapidamente se adaptaram a esta necessidade, rapidamente ajudaram os hotéis a conseguir responder a esta necessidade e posso dizer que acho que foi fácil conseguirmos montar programas de ‘streaming’ com um orador na sala ou com um orador nos Estados Unidos para 400 pessoas em Singapura”. Paulo Monge reconhece que o setor hoteleiro teve sempre “a necessidade de ter as pessoas dentro dos hotéis”, mas a aposta tecnológica permitiu uma transição suave para eventos online e híbridos. “Nós vamos continuar, penso eu, a ter eventos com as salas cheias, mas não vai chegar só encher a sala. Além da sala vamos se calhar conseguir estar aqui a fazer um congresso para 400 pessoas e estão mais 300 em Singapura e mais 2.000 na China a ver. É isso que vai abrir. Não vai é condicionar a necessidade das pessoas se juntarem”, acrescentou. A IMPORTÂNCIA DO 5G Concordando que “a tecnologia vai ser um fator decisivo para a mudança e transformação dos eventos”, Pedro Magalhães, CEO da Europalco, afirmou na conferência que a pandemia precipitou a nova realidade desta indústria, considerando que o período de 2020 a 2022 “foi uma antecipação dos cinco anos que teríamos pela frente, se fossem anos normais”. Pedro Magalhães disse não ter dúvidas de que “eventos físicos, presenciais, têm uma força completamente diferente de um evento online”, mas sublinhou a urgência em “procurar soluções muito mais inovadoras do que aquilo que estamos a fazer”. Até porque, acrescentou, “ninguém suporta mais estar no Zoom, ninguém suporta mais estar em qualquer outro interface de ligação remota. Temos que melhorar e pensar e há já alguns caminhos que nos indicam que vamos ter boas soluções”. WWW.EVENTPOINT.PT 42 DOSSIÊ TEMÁTICO E o futuro dos eventos em Portugal, lembrou, precisa de uma rede de internet móvel de 5ª geração, para que os intervenientes tenham “acesso a uma boa internet, a uma velocidade suficiente para conseguir usufruir daquilo que se está a oferecer. Esta é a base de tudo, para tudo o que aí vem de tecnologia, são as conectividades. O 5G será garantidamente mais uma evolução nesse caminho, que é muito importante”. A rede 5G permitirá ainda, segundo Pedro Magalhães, contribuir para eventos mais sustentáveis, evitando um vaivém de pessoas e bens não essenciais. “Os espaços vão ter que investir em ligações à internet de grande velocidade. Isto não pode ser um problema. Os próprios espaços têm que criar condições, isto é importantíssimo. E depois, do lado das empresas, criarem também essas condições para, no fundo, irem diminuindo o movimento de pessoas, de cargas, de equipamentos e quando lá chegarmos, sim, estaremos a falar de eventos verdadeiramente sustentáveis, porque nós estamos a fazer alguma coisa por isso”. EVENTOS MAIS FLEXÍVEIS E IMPACTANTES Sofia Tenreiro acredita que a nova geração de eventos “já começou”, pelo menos fora de portas. “Há 10 anos que tenho eventos virtuais, eventos híbridos, eventos sustentáveis. Se calhar não em Portugal, mas nos EUA há 10 anos que existe esta nova geração de eventos”, partilhou a advisor de várias empresas, focada na transformação digital, cultural e do negócio, sublinhando aquele que diz ser o maior desafio: criar impactos e momentos de lazer através da tecnologia nos eventos profissionais. De acordo com a especialista na área de Tecnologias de Informação, “a tecnologia já vive na nossa vida. O que temos que perceber é como é que essa tecnologia pode estar ao serviço dos eventos, do turismo, para essa tecnologia complementar o outro lado que é muito humano”. Perante uma plateia que voltou a estabelecer relações ao vivo, e desafiada pelos oradores a projetar a realidade dos eventos daqui a cinco anos, Sofia Tenreiro acrescentou: “Cada vez mais o fator humano vai ser mais importante. E por isso é que Portugal se distingue muito dos outros países. A verdade é que a maior parte dos estrangeiros quando chega a Portugal lembra‑se do fator humano. Não diz que nós temos imensos tablets e imensa tecnologia. Eu acredito muito no híbrido”. No mundo atual, considerou ainda, já não há espaço para eventos 100% presenciais ou 100% digitais, pois “o mundo é híbrido, é flexível”. “O nosso cliente o que nos vai pedir é: ‘ajuda‑me a impactar os meus clientes’. E depois vamos ter de ver que há uns que vamos conseguir pô‑los ali todos juntos e que vai ser ótimo, há outros, porque estão do outro lado do Atlântico e não queremos gastar dinheiro, tempo, etc, vão ter de estar remotamente. Mesmo os que estão ali juntos, se calhar daqui a seis meses, como queremos que continuem a ser impactados, vamos ter que ter uma plataforma para todos os dias eles irem lá fazer qualquer coisa. Portanto, o mundo é mesmo híbrido hoje em dia. Se nós pensarmos, na nossa vida é tudo híbrido, não há nada que seja ‘black & white’”, rematou Sofia Tenreiro. WWW.EVENTPOINT.PT 44 DOSSIÊ TEMÁTICO A PALAVRA DE ORDEM É APRENDER A VIVER COM A INCERTEZA WWW.EVENTPOINT.PT 46 ESPAÇO APECATE EM TEMPOS DIFÍCEIS, ASSOCIAÇÕES FORTES FAZEM A DIFERENÇA Após 25 anos de trabalho associativo, primeiro na PACTA, depois na APECATE, tomei a decisão de abandonar todos os cargos que tenho vindo a desempenhar, sem que isso signifique, obviamente, deixar de ser associada ou de dar o meu contributo como membro “normal” deste colectivo. No momento em que tomei a decisão, e porque já não tenho responsabilidades executivas desde 2016, logo não me sinto juiz em causa própria, senti que gostaria de partilhar com o sector, em particular com todos os que, ao longo destes anos têm dado importantes contributos ao trabalho associativo, uma preocupação/interrogação que sempre me acompanhou: o que é que pode explicar que os empresários não dêem às suas associações a importância que elas efectivamente têm? A situação que vivemos hoje é clara. Somando a pandemia, a guerra e os retrocessos que ambas estão a trazer à causa da sustentabilidade do planeta, não há dúvida de que os próximos tempos vão ser difíceis para todos os agentes económicos. E nós não seremos excepção. São conhecidos os efeitos multiplicadores da actividade turística, dos eventos e dos congressos mas, quando a roda da crise começa a girar, surge o reverso da medalha e costuma doer. As certezas que alimentávamos sobre o futuro são chão que deu uvas. A palavra de ordem é aprender a viver com a incerteza, o que significa coisas complexas como planear a prazo e gerir o efémero. A sensação de impotência é grande, mas não pode paralisar a acção, pelo contrário, tem que nos obrigar a focar no que podemos fazer. E há, pelo menos, uma coisa evidente em que não nos é permitido falhar: responder ao discurso europeu e nacional sobre os chamados “apoios à retoma” e dizer “presente”, a uma só voz, com toda a força que conseguirmos mobilizar. É aqui que, na minha opinião, entra a importância do associativismo e o trabalho que todos temos que fazer com quem ainda não a percebeu. No que respeita à APECATE, nestes últimos tempos, foram muitos os empresários que compreenderam a sua valia, graças ao trabalho, esforçado e sem tréguas, que foi desenvolvido durante a pandemia. Não foi possível ganhar todas as guerras, mas conduziram‑se com sucesso vários dossiers e, o que não é de somenos importância, evitaram‑se muitos males maiores. Que o digam os organizadores de eventos e os operadores marítimo‑turísticos. No entanto, se compararmos as potencialidades de actuação da APECATE, o que consegue movimentar e realizar de facto, e a sua expressão numérica associativa, forçoso será reconhecer que está muito aquém do que pode e deve ser. Porquê? Vou deixar de lado juízos de valor sobre as limitações que todas as associações têm. Perante os resultados alcançados, em condições que do exterior nem se imaginam, seria tão enorme a desproporção entre os elogios que teria de fazer ao trabalho e à dedicação da Direcção e as eventuais críticas aos seus defeitos, que, para não me desviar do tema que me propus tratar, não vou por aí. Quem dirige a APECATE tem dado provas de grande lucidez e não é, seguramente, a fonte deste desequilíbrio. Também deixarei de fora as chamadas “vantagens dos associados” porque não são elas, que até existem e são várias, que nos vão ajudar a enfrentar os tempos que se avizinham. A razão de fundo que gostava de tratar aqui tem a ver, não com quem anda a dar tempo e vida própria para defender os nossos interesses, mas connosco, profissionais do sector: é a menor lucidez (ou a pouca visão, se ninguém se ofender com a expressão) de grande parte dos empresários, talvez decorrente de uma dimensão que os incapacita de pensarem para além da sua casa, de assumirem que fazem parte de um colectivo de quem podem receber e a quem devem dar. WWW.EVENTPOINT.PT 48 ESPAÇO APECATE Vejamos apenas dois aspectos desta questão. O primeiro decorre de uma premissa que deveria ser evidente para todos e, pelos vistos, não é: os Governos não falam, e muito menos negoceiam, com empresas enquanto entidades individuais; falam e negoceiam com quem as representa. Primeira conclusão, simples e directa: quem quer ter voz activa junto de quem decide dos nossos destinos não pode estar ausente, tem que se associar a quem os representa. Na minha opinião, é esta a primeira causa do absentismo associativo: grande parte dos empresários não interiorizou ainda esta dimensão do trabalho. Mas têm que o fazer e sem demora. Têm que se interrogar se querem mesmo ficar de fora, se querem mesmo prescindir de participar nestes processos. Estamos em tempos acelerados e podem acreditar: não são só os clientes que pedem propostas para ontem. Segundo aspecto, decorrente de uma outra premissa, talvez menos evidente, que justifica quer o absentismo associativo quer a pouca pró‑actividade dos que já se associaram: a compreensão da importância da informação recolhida em directo, bebida do próprio sector. Podia ser um factor de grande mobilização mas ainda não é. Absorvidos como andam com a sobrevivência das suas empresas, muitos empresários não compreendem que não é possível actuar, com todo o peso que a nova situação vai exigir, sem uma informação credível, sustentada em dados que só o sector pode dar. Se não tivermos a capacidade de expor claramente a dimensão dos problemas que nos ameaçam e de demonstrar o alcance de medidas que até podem ser simples e fáceis de tomar se bem fundamentadas, não vamos conseguir realizar os nossos objectivos. Não vamos mais longe: pensem nos tão falados custos de contexto que, no fundo, correspondem a tudo o que nos faz perder tempo que é dinheiro e nos leva o dinheiro que custa tanto tempo a ganhar. Quantos empresários estão dispostos a responder a inquéritos de uma associação que tenha como finalidade inventariar e medir os custos efectivos a que nos obrigam os licenciamentos, taxas, burocracias inúteis, incomensuráveis períodos de espera para autorizações sem sentido? Quem é que já fez as Next >