< Previousconseguir trabalhar bem esta questão porque o mercado do Brasil, para terem ideia, é o quinto mercado do país, mas já era o terceiro do Porto e Norte em 2019. Ainda no que diz respeito à captação de eventos, temos trabalhado muito com o Turismo de Portugal, no programa de apoio à realização de eventos, que permite uma majoração adicional a eventos híbridos, e onde o alojamento local já é contemplado na contagem das bed‑nights, um apoio extraordinário e impulsionador face à fase de retoma de eventos. Era por isso importante falar neste Portugal Events. E como vê o papel da TAP? Em primeiro lugar, eu não ataco a TAP pela existência da TAP, ou pelo investimento que se faz na TAP. Sou dos que defendem que é importante uma companhia aérea de bandeira, que é importante e compreensível que a aposta principal seja feita no aeroporto de Lisboa, local onde a TAP tem o seu hub. À exceção da Alemanha, nenhum país consegue ter dois hubs. É por isso uma aposta compreensível no aeroporto de Lisboa. Não só é compreensível, como também defendo a existência desse hub. É importante, é estratégico para o país. Mais, defendemos e somos solidários com a construção urgente de um novo aeroporto. A não construção desse aeroporto poderá prejudicar em breve o país. O que nos custa é que, estando também nós a pagar esse esforço, não sejam depois dadas às regiões condições para que esta questão seja trabalhada da melhor forma. A operação da TAP em 2019 não era o que nós desejávamos. Compara‑se com 2019, mas já em 2019 tínhamos capital de queixa porque achávamos que era preciso fazer mais. Se as outras companhias acreditam no Porto e Norte, acreditam que aqui há mercado ‑ prova disso é que estão a crescer ‑, não há razão para que a nossa companhia de bandeira também não cresça. Mas se for uma questão de opção estratégica não crescer ‑ sabendo nós o investimento que os cidadãos a Norte, e no Centro, e no Algarve, fazem para esta companhia ‑, não há dramas. Mas que tenhamos financiamentos para poder trabalhar com outras companhias. Acho que é só uma questão de tornarmos isto tudo claro. Temos uma infraestrutura aeroportuária excelente, que crescia 10% ao ano, com um mercado muito grande à volta, de cerca de 5 milhões de pessoas. O aeroporto serve o Porto e Norte, serve também o Centro e serve a Galiza. WWW.EVENTPOINT.PT 30 GRANDE ENTREVISTA Sente que faltam mais espaços para eventos na região? Acho que estamos bem servidos. O nosso problema não é ter falta de espaços, o problema do Porto e Norte, às vezes, é o país acreditar que o Porto e Norte tem espaços para conseguir realizar grandes eventos. O inquestionável sucesso turístico do Porto, da região, pode ser uma ameaça para determinados segmentos como a meetings industry, limitando a capacidade de resposta do destino para acolher eventos? Não há ameaça nenhuma. O destino é capaz de continuar a gerir este sucesso. Felizmente o destino tem hoje uma grande capacidade hoteleira. Mais, durante a pandemia foram projetados ou estão em construção novos hotéis. O destino é reconhecido também pela qualidade das suas infraestruturas, consegue ter já alguma diversidade dos locais para receber eventos. Não têm de estar todos concentrados no Porto, já podem sair da área metropolitana. Braga já tem hotéis que vão dando resposta e está a construir mais. Por todo o território estão a surgir novos hotéis. Não considero essa uma questão, portanto. Além de que é preciso perceber que há aqui alguma lógica quando se definem as datas para estes eventos. Normalmente não são na época alta, o que nos permite fazer alguma gestão, porque quando diminui o lazer, temos oportunidade de receber os eventos de negócios. DIGITALIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE Todos vivemos um processo de digitalização acelerada nestes últimos anos. Acha que a região está preparada para responder às necessidades? Em primeiro lugar, a região está no mesmo nível das outras regiões do país. Eventualmente, nestas questões da digitalização, poderá até estar um pouco à frente, uma vez que aqui estão concentradas muitas das empresas ligadas às novas tecnologias e, neste caso, da digitalização. De qualquer forma, é um trabalho que estamos a fazer. Recordo que o Porto e Norte se candidatou à Agenda do PRT [Plano Reativar Turismo] para a digitalização e fazemos parte de um conjunto de grandes instituições que apresentaram uma candidatura num valor à volta dos 140 milhões de euros, julgo. Temos esta candidatura precisamente para resolver a questão da digitalização, e resolver até a montante, porque não interessa estar a dar ferramentas quando temos problemas como, por exemplo, terminar com as zonas brancas que existem na região, onde não há acesso sequer a telemóveis. Depois, estamos a trabalhar a questão da sustentabilidade e da ecologia. Está a ser desenvolvido um selo para validação de boas práticas por parte da oferta turística do destino Porto e Norte. O projeto surge desta necessidade de acompanhar o que se tem vindo a fazer de mais atual sobre esta temática da sustentabilidade. Uma coisa muito clara: o Porto e Norte está a trabalhar a questão da sustentabilidade e ecologia, mas está a tentar trabalhála de uma forma muito profissional. Em WWW.EVENTPOINT.PT 32 GRANDE ENTREVISTA primeiro lugar, identificar quem são os parceiros que nos podem ajudar a trilhar e a certificar este caminho. Não queremos dizer que somos sustentáveis porque sim, porque fica bem para atrair mercados e turistas. Queremos ser conhecidos como sustentáveis, mas para isso temos que ser verdadeiramente sustentáveis. Já há muitas empresas que fizeram este caminho, mas não chega, e isto é uma prioridade também do Porto e Norte. Com este esforço que estamos a fazer, e também com esta candidatura que fizemos ao PRT, que julgo que vai ser aprovada, temos condições para enfrentar o futuro sem problemas. E acredita que este tema da sustentabilidade pode ser um bom argumento de vendas, ou de promoção do destino? Acredito que este é O tema. As novas gerações, os millennials, a geração zero, são extremamente tecnológicas, é verdade, mas, paralelamente a isso, são as que mais se querem aproximar da natureza, de hábitos de vida saudável, e não perdoam um destino que não tenha estas questões resolvidas. Já o ouvi falar muitas vezes da importância de trabalhar em rede. Como é possível envolver outras áreas, a Cultura, a Academia… de modo a poder trazer mais eventos para a região? Eu só acredito neste trabalho de articulação com outros setores de atividade. Em primeiro lugar, o turismo já tem à partida uma vantagem: se há setor que provoca o arrastamento positivo de outros é este. Quando o turismo está bem, estão bem os têxteis, os produtos agrícolas, a pecuária, as loiças, a construção civil. Mas uma coisa é ele acontecer quase de forma natural, outra coisa é nós trabalharmos para que isso seja visto como um esforço que fazemos para trabalhar em conjunto. Curiosamente este trabalho que estamos a fazer com a CCDR‑N tem muito este objetivo: conseguir cruzar o setor do turismo com outros setores. Aquilo que fazemos com a rota dos vinhos e do enoturismo. O que fazemos na área cultural com a rota do Românico ou com as novas rotas que estamos a criar de Arte Contemporânea, do turismo literário. Mas também o podemos ligar à indústria. O Porto e Norte faz parte do trabalho que o Turismo de Portugal está a fazer em termos de turismo industrial. E, de repente, 70% da oferta de turismo industrial deste primeiro conjunto que o Turismo de Portugal avançou está no Porto e Norte. Acredito muito que esse é o caminho. É possível fazer esse trabalho e captar eventos. Em relação a captarem‑se grandes eventos para a região, acho que o que falta às vezes é a vontade de resistir à tentação de centralizar os grandes eventos nos locais de sempre. Dito de outra forma, é sempre muito mais difícil ao Porto e Norte argumentar para trazer um grande evento para a região. Como vê a cooperação entre o Porto e Norte e os outros destinos do país? Também acreditamos muito nisso. Felizmente, vivemos num momento de grande articulação entre todas as regiões, e entre todas as regiões e o Turismo de Portugal. Aliás, aproveito para dizer que a prova disso é que conseguimos atravessar um período de grandes dificuldades, como foi a pandemia, e haver paz social neste setor. Isto só existiu porque houve, desde a Secretaria de Estado do Turismo, ao Turismo de Portugal, às Entidades Regionais, aos Municípios, às associações do setor, muito diálogo e muito trabalho. Por outro lado, eu e os meus colegas das outras regiões temos muito claro que não interessa nada a uma região ir sozinha, por exemplo, para o Brasil para se vender a um mercado tão grande, ou para os Estados Unidos, ou para o Canadá. Era perfeitamente insano alguém ter a veleidade de querer ir captar esse mercado sozinho. O que é que nós estamos a construir? Estamos a construir, também com o apoio do Turismo de Portugal, programas de promoção externa entre regiões. Por exemplo, o Porto e Norte, o Alentejo e o Centro estão neste momento a trabalhar várias ações de promoção externa, a serem feitas em conjunto. Com toda a lógica, primeiro, porque os mercados são muito semelhantes nestas três regiões, segundo, porque os produtos que temos a apresentar são muito semelhantes, e terceiro, o mercado é tão grande que dá para todos. Agora, indo unidos, ganhamos um bocadinho mais de escala. E também ajudamos a repartir despesas. WWW.EVENTPOINT.PT 34 GRANDE ENTREVISTA O que é que podemos esperar de interessante para o Porto e Norte com o PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]? O PRT, uma vez que o PRR não tem grande coisa, a não ser poder continuar a apoiar as empresas, que, muitas delas, não conseguiram recuperar ainda de dois anos de pandemia. Diria que o que nós temos de interessante para os próximos tempos é, em primeiro lugar, a capacidade da região poder receber grandes eventos internacionais. Por outro lado a capacidade da região conseguir resolver esta questão da conectividade aérea, uma vez que é fator crítico de sucesso. E depois a capacidade de poder trabalhar estas duas questões que também são fatores críticos de sucesso: a digitalização e a sustentabilidade. Permitam‑me só meter aqui um outro projeto, o da famigerada linha do Douro, que, esse sim, pode ser PRR, e que ajudava a região, pelo menos na questão da mobilidade, e de uma mobilidade sustentável. E se não for resolvido agora, com o PRR, não acredito que vá ser resolvido algum dia. A linha do Douro poder ser apresentada ao mundo como o troço de linha férrea mais bonito do mundo tem agora a sua oportunidade.O que é que retira como lição mais importante destes últimos anos de pandemia? Que as regiões precisavam de mais autonomia administrativa e financeira. E isso em nada coloca em perigo a estratégia nacional e a sua relação com o país. E tiro também a lição, se dúvidas tivesse, que este é de facto um setor muito, muito resiliente, muito combativo. É um setor que mostrou estar unido e que tem empresários notáveis, que conseguiram atravessar este período sem atirar a toalha ao chão. E o país às vezes é injusto, porque pedir aos empresários que tenham as suas empresas ativas já não é fácil, mas nós todos pedimos muito mais, pedimos que estejam abertos, com a máxima operação e com os níveis de qualidade de serviço a que habituaram os turistas. Isto sim, é de uma exigência incrível. Quando o setor reclama que tem que ter um olhar muito atento por parte do governo, que tem que ter apoios, e que merece uma atenção proporcional ao peso que tem na economia nacional, é muito justo esse pedido. E por isso é que o setor não achou motivadora esta solução de orgânica governamental, em que aparentemente diminui um pouco a importância do turismo ao juntá‑lo com outros dois setores, o comércio e os serviços, numa mesma Secretaria de Estado. Esperemos que não seja verdade. A boa notícia é que a pessoa que ficou com a pasta é uma pessoa do turismo, já era secretária de Estado do Turismo, e isso pode ser uma vantagem. Em boa verdade, acho que o setor do turismo já provou que merecia um outro estatuto, mesmo dentro da estrutura governamental. Muitos dos nossos concorrentes têm ministério e nós não conseguimos ter uma Secretaria de Estado. Mas acredito que por trás desta estratégia está se calhar um reforço das regiões, e aí poderá fazer algum sentido a Secretaria de Estado estar partilhada com outros setores de atividade. Cláudia Coutinho de Sousa e Rui Ochôa WWW.EVENTPOINT.PT 36 GRANDE ENTREVISTA DEZ PERGUNTAS A LUÍS PEDRO MARTINS Cidade para viver? Porto. Viagem de sonho? Uma viagem por toda a América Latina, até à Patagónia. Destino de férias? Minho e Douro. Prato favorito? Posta Mirandesa ou um robalo de Matosinhos. Livro na mesa de cabeceira? Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar. Presencial ou online? Presencial. Um sítio onde gosta de levar quem não conhece o Porto e o Norte? À Serra do Pilar para olhar para a ribeira do Porto e para as curvas do rio até à Foz. A São Leonardo da Galafura, para se ver o local de onde Miguel Torga contemplava o Douro, ou, também um sítio muito desconhecido dos portugueses, Penedo Durão, em Freixo de Espada à Cinta. Subir ao Cervo em Vila Nova de Cerveira, a olhar para o rio Minho, também é alucinante. Que evento é que gostava mesmo de conseguir trazer para o Porto e Norte? Gostaria do regresso da Air Race e gostaria de conseguir que alguns dos eventos que o Porto e Norte já tem merecessem apoio para poderem escalar, como é exemplo a QSP Summit, ou um grande evento que estávamos a preparar com o Turismo de Portugal, mas que infelizmente os tempos não têm ajudado, que é fazer no Porto e Norte o maior evento de enoturismo a nível internacional, que juntasse vinhos, música e gastronomia. Uma figura da história que gostaria de convidar para jantar? Winston Churchill e Barack Obama, e dois nacionais: Aristides de Sousa Mendes e Sophia de Mello Breyner. E onde é que os levaria a jantar? Bacalhau no restaurante Vítor, em São João de Rei, na Póvoa de Lanhoso, ou polvo, no restaurante O Caneiro, no Arco do Baúlhe.A PANDEMIA SÓ VEIO ACELERAR AS MUDANÇAS E IMPOR MAIS ATENÇÃO WWW.EVENTPOINT.PT 38 DOSSIÊ TEMÁTICO MAIS EVENTOS HÍBRIDOS: O FUTURO JÁ COMEÇOU NO PASSADO Estamos, ou não, perante uma nova geração de eventos? Dois anos após o início da pandemia de covid-19 em Portugal, o futuro da indústria esteve em discussão na conferência “A próxima geração de eventos”, uma iniciativa da Fundação AIP, da Event Point e do MPI Iberian Chapter, que decorreu em Lisboa durante a BTL 2022. A moderação esteve a cargo de Rui Ochôa, da Event Point, e de Mariana Sousa Pavão, do Capítulo Ibérico da MPI. Foi num auditório com saudades de receber público que, ao terceiro dia da maior feira de Turismo em Portugal, evento este que também esteve suspenso nos últimos dois anos devido à covid‑19, se refletiu sobre as mudanças na indústria dos eventos impostas pela pandemia. É certo que as máscaras ainda estiveram presentes na plateia, mas os olhos e burburinho antes da conferência não conseguiram esconder a emoção de estar de volta a um evento presencial. E foi neste cenário de regresso aos eventos que Joaquim Pires (Turismo de Portugal), Paulo Monge (Sana Hotels), Miguel Assis (Voqin’), Sofia Tenreiro (AmCham – Câmara do Comércio Americana em Portugal) e Pedro Magalhães (Europalco) foram unânimes: o futuro dos eventos já começou há vários anos e a pandemia só veio acelerar as mudanças e impor mais atenção. “O que nós estamos a fazer neste momento é um pouco mais do que aquilo que já fazíamos anteriormente. Agora estamos é com mais atenção. Permitam‑me, estamos Next >