< Previouscomunicação como a sua tradução na experiência de festival”, refere. Isso consubstancia‑se em novas temáticas, outras propostas de entretenimento, e ações concretas. “Por exemplo, o Super Bock Digital Stage é um palco dedicado aos novos desafios de um mundo digitalizado, que traz desde os mais recentes fenómenos das medias sociais como TikTok, formatos digitais que evoluíram muito na pandemia como podcasts, a espetáculos de musica, dança, com uma ligação muito forte ao digital e à tecnologia através da interatividade”, detalha a responsável. Ao todo serão 14 horas de entretenimento por dia, ocupadas por concertos e uma série de experiências no recinto. No entender de Roberta Medina, e de forma geral, “a pandemia não veio mudar o planeamento do evento, mas trouxe, sim, um novo olhar na avaliação destas mesmas regras de comportamento, sendo ainda cedo para dizer o que vai mudar nesse sentido”. A vice‑presidente lembra que a estrutura do evento é grande e conta com muitas entidades envolvidas, de forma a garantir a segurança de todos. Ainda assim, há vários desafios no regresso. “Falamos de uma indústria que viu muitos dos seus profissionais migrarem para outras áreas, muitos dos quais mesmo após esta retoma ainda não voltaram ao setor. Encontrámos, por isso, fornecedores mais frágeis, obrigando a uma adaptação do nosso planeamento”. O aumento de custos é outra preocupação e “impacta toda a cadeia produtiva”. “A quebra de rotinas também é um desafio ao regresso. As equipas estão de volta ao escritório e ao terreno e é preciso voltarmos a criar novas rotinas, nunca desvalorizando as necessidades dos colaboradores depois de dois anos a trabalhar de casa”, afirma. Mas um dos maiores desafios, para Roberta Medina, tem a ver com a capacidade de Portugal absorver toda a oferta de festivais e de live entertainment. “Está na altura de fazer uma campanha forte de promoção internacional, que use a cultura como pilar do turismo e que mostre num calendário todos os eventos que acontecem ao longo do ano, atraindo novos públicos e, assim, alimentando a cadeia produtiva da indústria e gerando receitas para o país.” WWW.EVENTPOINT.PT 70 RADAR A edição de 2022 “vai ser um momento muito especial” para o público, equipa do festival, parceiros e artistas, comenta Roberta Medina. “Há uma vontade enorme de voltar a viver a vida do jeito que deve ser vivida – ao vivo” e é por isso que acredita que, “quando este ano voltarmos a abrir portas, as pessoas não vão correr em direção à primeira fila do Palco Mundo ou às experiências espalhadas pela Cidade do Rock…. As pessoas vão voar!” “VAI SER OBVIAMENTE UM MOMENTO ESPECIAL” “Os grandes festivais estão aí e vieram para ficar”, diz com satisfação Álvaro Covões, diretor do Nos Alive, festival que vai encher o Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras, no mês de julho. Depois de três anos, objetivamente, sem festivais de música, no recinto vão encontrar‑se “aqueles que costumavam ir e é um retorno a algo de que se viram privados” e os que vão pela primeira NOS Alive vez a um festival. Esta é uma mistura “muito interessante” e “sob o ponto de vista de experiência, de emoção, vai ser obviamente um momento especial”, refere o responsável. O formato vai‑se manter, ainda que com pequenas alterações. “Vamos manter os sete palcos, vamos manter toda a estrutura que tem sido uma experiência positiva. Quando as coisas correm bem, vamos mantê‑las e não mudá‑las”. Mas a forma de o organizar sofreu algumas alterações. “É, acima de tudo, um trabalho muito mais árduo, no sentido em que temos de garantir um conjunto imenso de fornecedores diferentes, que todos juntos fazem com que o festival aconteça. E, como sabemos, o impacto da pandemia fez com que algumas empresas passassem dificuldades, nomeadamente porque perderam colaboradores ou porque inclusivamente fecharam”, lamenta Álvaro Covões. E por isso é que, há vários meses, tem sido feito um trabalho para garantir que tudo acontece. “Depois, por outro lado, se para o público foram três anos sem terem a experiência de um festival, obviamente para quem trabalha nesta área também foram três anos sem trabalhar num evento desta dimensão”, lembra o diretor do Nos Alive, e por isso, “do ponto de vista de organização e de exigência, vamos estar e estamos muito mais atentos para que tudo corra bem”. Algumas rotinas perderam‑se, mas “a indústria da música, dos eventos, é como andar de bicicleta, nunca se esquece…” Um tema que preocupa Álvaro Covões é o do aumento dos custos. “No caso do Nos Alive, são três campanhas de marketing, porque fizemos campanha para a edição de 2020, que foi adiada para 2021, fizemos para 2021, foi adiada para 2022, e estamos a fazer agora a de 2022. É pegar no orçamento e triplicá‑lo”, refere. O momento que vivemos, pós‑pandemia e com o conflito na Ucrânia, contribui para o aumento dos custos, mas a resposta passa por “fazer uma gestão mais eficiente, sem perder qualidade”, afirma Álvaro Covões. “Mas, de resto, o que esperamos é que corra tudo bem e que entremos rapidamente numa normalidade, sem estar permanentemente a olhar para trás. WWW.EVENTPOINT.PT 72 RADAR Em termos de público internacional, uma imagem de marca do Alive, a procura tem sido “normal”, só “talvez um pouco mais tardia, porque as pessoas habituaram-se e guardam tudo mais para a última hora. Mas está a correr bem. Venham daí os festivais”. “TUDO LEVA A CRER QUE VAI SER UMA EDIÇÃO HISTÓRICA” “O que vai mudar são os custos”, atira João Carvalho, diretor da Ritmos, empresa responsável pelo Vodafone Paredes de Coura, que regressa em agosto às margens do Taboão. “Tudo aumentou”, lembra o responsável, dos cachets às infraestruturas, aos transportes, mas a confiança é total nos fornecedores. “Os nossos fornecedores não nos vão falhar. Agora, temos é outros custos, porque tudo aumentou e não há milagres. Neste momento há matérias‑primas que nem existem, que vamos ter que substituir, e as que Álvaro Covões existem aumentaram todas. E são aumentos significativos, entre 20 e 30% e algumas até mais”, lamenta. A falta de recursos humanos é uma questão que também preocupa o diretor da Ritmos, uma vez que houve pessoas que trabalhavam na música e que saíram com a pandemia. “Vai haver quase uma fornada, permita‑me a expressão, de pessoas novas nos eventos, pessoas que vão ser formadas. Isso é uma dificuldade de algumas empresas que já nos passaram esses stresses, mas acredito que, com as parcerias que temos, tudo vai correr naturalmente”. O grande desafio passa então por “fazer um festival para as mesmas pessoas, não aumentando o preço do bilhete e tentar que ele seja viável”. E as notícias em termos de vendas são muito animadoras, já que estão acima da edição de 2019. “As pessoas não estão céticas, pelo contrário, estão positivas, desejosas de voltar a encontrar‑se, e então num festival tão especial como é o Festival de Paredes de Coura, mais se sente isso. É um festival de afetos, de cumplicidades e tudo leva a crer que vai ser uma edição histórica”, afirma João Carvalho. João Carvalho WWW.EVENTPOINT.PT 74 RADAR Vodafone Paredes de Coura A novidade desta edição é que vai haver mais um dia de evento. “O festival já era o único no país que tinha quatro dias de palco principal e palco 2, agora vamos ter exatamente cinco dias, e mais de 80 bandas. Nunca o festival teve tanta banda, tantos dias, e portanto o que se espera é uma enorme celebração e que possamos olhar para trás e ver estes dois anos como um pesadelo, que já passou”, refere o responsável da Ritmos. Cláudia Coutinho de Sousa © hugolima.com O HÁBITO FALA PELO MONGE WWW.EVENTPOINT.PT 76 ESPAÇO APOREP VESTUÁRIO E COMUNICAÇÃO EM TEMPO DE GUERRA O vestuário fala. Fala por quem o usa. Ou, como dizia Umberto Eco, o hábito fala pelo monge. Por isso, a roupa há-de ser escolhida e usada para significar em cada momento, em cada lugar, em cada situação, a mensagem que o seu portador pretende transmitir. Os militares, por exemplo, têm uniformes. E a primeira mensagem que transmitem é o uso desse uniforme. Mas os uniformes variam conforme as ocasiões. Em princípio, há três tipos de uniformes: os de cerimónia (chamados grandes uniformes), os de representação ou serviço, e os de combate ou campanha. E cada um destes uniformes, ao ser usado, dá indicações. O seu uso não é indiscriminado, antes está claramente regulamentado. O grande uniforme, por exemplo, usa‑se na receção, apresentação e cumprimentos a chefes de Estado, soberanos ou príncipes estrangeiros, e embaixadores extraordinários; em jantares e bailes a que assistam chefes de Estado, soberanos ou príncipes estrangeiros; em funerais de chefes de Estado, soberanos ou príncipes estrangeiros ou embaixadores extraordinários; e em grandes solenidades, récitas de gala, com a presença de chefes de Estado, soberanos ou príncipes estrangeiros; em concorrência com a casaca civil ou o vestido comprido. O uniforme de campanha, por seu turno, é o que deve ser envergado em atividades operacionais, nomeadamente em combate. É o chamado «camuflado», o único uniforme militar que é usado pelos três ramos das Forças Armadas. E foi esse uniforme o que o almirante Gouveia e Melo decidiu passar a usar depois de ser investido no comando da Task Force para o Plano de Vacinação contra a covid‑19 em Portugal. Escolhendo esse uniforme, o almirante tornou bem claro, sem precisar de fazer muitos discursos, que se tratava de travar uma guerra e que era preciso combatê‑la de acordo com as ordens e os planos de quem tinha a responsabilidade do comando (que é como as guerras têm de ser travadas). Um outro episódio que ilustra o poder comunicacional do vestuário passou‑se em Reykjavik (ou Reiquiavique), na cimeira que reuniu, entre 11 e 12 de outubro de 1986, o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, com o líder da União Soviética, Mikhail Gorbachov. Apesar das temperaturas gélidas que se faziam sentir, o chefe de Estado norte‑americano partiu ao encontro do seu interlocutor de “corpinho bem feito”, vestindo apenas o fato completo, e cumprimentou com um largo sorriso o dirigente russo, que estava metido dentro de um grande sobretudo, tendo um cachecol ao pescoço e um chapéu na cabeça. Gorbachov, com menos vinte anos do que Reagan, percebeu logo (segundo depois escreveu nas suas memórias) que tinha perdido a guerra da imagem e da comunicação: Ronald Reagan, respirando saúde, aparentava energia e confiança, enquanto o pai da “perestroika” parecia um homem envelhecido e antiquado. No horror inimaginável da guerra que a Rússia faz à Ucrânia, o vestuário continua a falar. A roupa com que o presidente Volodomyr Zelensky se apresenta ao seu povo – e ao mundo todo – faz dele um soldado igual aos seus compatriotas, destemido e determinado, pronto para a luta, despojado de símbolos de poder ou prestígio. No despojamento daquele vestuário, no recurso ao verde militar, está inscrita a mensagem essencial – travar (e ganhar) a guerra. É o contrário do outro Vladimir, o Putin. O que não surpreende. Já Umberto Eco dizia que “a linguagem do vestuário, tal como a linguagem verbal, não serve apenas para transmitir certos significados, mediante certas formas significativas. Serve também para identificar posições ideológicas, segundo os significados transmitidos e as formas significativas que foram escolhidas para transmitir”. Isabel Amaral Presidente da APorEP e especialista em imagem e comunicação WWW.EVENTPOINT.PT 78 ESPAÇO APOREP Next >