< Previousnossos competidores, todos eles sem exceção, são quatro vezes mais caros e às vezes com oradores e conteúdos que não têm a mesma qualidade. Portanto, eu acho que merecemos muito ser reconhecidos e apoiados pelo esforço. “Gostava de estar como um participante normal, porque adoro o evento” Que tipo de liderança assume na QSP? Eu fui evoluindo ao longo da vida. Quando somos muito novos temos aquela impetuosidade e nem sempre temos a flexibilidade que é necessária. Ao longo do tempo, e também com o estudo que fui desenvolvendo, a minha própria reflexão e desenvolvimento pessoal e académico, tornei‑me uma pessoa mais flexível e, enquanto líder, isso refletiu‑se. Sou mais de equipa, mais de gerir pessoas, mais de ouvir e decidir. Mas ouvir todos, sem exceção. Quando mandamos fazer esta mesa [em que estamos a fazer a entrevista], fizemo‑la propositadamente quadrada. Quando nos sentamos aqui somos todos líderes, todos temos opinião, a voz de todos conta. Não deixei de ser líder, quando é necessário decidir, tomar uma decisão difícil eu estou cá para o fazer. Mas procuro que toda a equipa se envolva nas decisões. Recordo‑me de, quando abri a QSP, ir comentando com as pessoas que entravam que, para mim, era mais importante a educação, a formação da pessoa, a humildade, a vontade de trabalhar, este tipo de características, do que propriamente a formação base, que sabia que todos os que concorriam iam ter. Hoje é o que se fala em todo o mercado, mas há 18 anos não era assim. Nós queremos um WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 30 GRANDE ENTREVISTA espírito de equipa, queremos quase uma segunda família, gente que se une com um fim. E também queremos pessoas que cheguem a determinada hora e tenham a sua vida privada, com os seus amigos, com a sua família ‑ procuramos não ir pela noite fora, ou fora do período normal de trabalho. O que é que ainda o motiva no seu trabalho? Sou uma pessoa de desafios. Quando me dizem que é impossível, estão a dizer a palavra‑chave para eu ir em frente. Quase todos os anos me dizem isso (risos). Quando chega ao fim uma edição, a maioria das pessoas diz‑me: melhor do que isto vai ser muito difícil vocês conseguirem. É impossível, vocês não têm recursos, os recursos de outros, estes são oradores de outro mundo, onde é que vais arranjar outros assim? Eu percebo e é de facto um desafio, mas é um desafio que aceitamos. Arregaçamos as mangas, pensamos, e todos em conjunto vamos chegar lá e vamos ver os pontos de melhoria. Vamos trabalhá‑los e estamos a preparar‑nos para que o próximo QSP Summit seja o melhor e maior de sempre. Em termos daquilo que é a área de estudos, obviamente desafia‑me sempre, a mim e à minha equipa, poder contribuir para um mundo melhor, para empresas que se desenvolvam, que criem emprego, que tenham uma marca consolidada. Nós recebemos briefings de todo o país, alguns até de Espanha, para determinado tipo de estudos e isso dá‑nos especial satisfação. O que nós queremos é isso mesmo, contribuir com o nosso know‑how e o nosso saber. A nossa equipa faz formação todo o ano, contínua, quer em Portugal quer fora, para com o nosso saber desenvolver e contribuir para que essas empresas sejam melhores. Nas duas áreas é isso que me motiva, é fazer crescer a empresa, mas contribuir com algo para a sociedade, para o desenvolvimento das [outras] empresas.No evento, gosta de estar no terreno? Gostava de estar como um participante normal, porque adoro o evento. Nós temos uma gravação privada, a que só nós podemos ter acesso, porque os oradores não permitem a divulgação, e depois tenho possibilidade de visualizar [as sessões], porque nos dias do evento é mesmo impossível. É um stress enormíssimo, ainda somos uma equipa pequena e cada um acumula várias funções. Recebemos muita gente, temos de dar atenção aos speakers, aos convidados, há uma série de aspetos organizativos que têm que estar coordenados para que tudo corra bem. Como participante, adoraria ir. Espero na próxima edição conseguir estar mais relaxado do que nesta, porque nas 48 horas anteriores dois oradores ficaram com covid e isso obrigou a trabalhar com várias empresas em todo o mundo para os substituir. Estamos a preparar o próximo com outra tranquilidade, admitindo que não haverá covid, e esperando que já não haja guerra. Mas, se houver, vamos ter que gerir, trabalhar como sempre fizemos, esperando que haja bom senso e a guerra acabe. O que nos pode revelar sobre a edição de 2023? Estamos a montar já há alguns meses a próxima edição. Vamos continuar no norte, Porto e Matosinhos, com a Exponor. A data será: 27, 28 e 29 de junho. Vamos manter aquela altura do ano, e ficar por ali nos próximos anos. Como somos uma empresa de estudos, de research, temos uma perceção do que se está a passar ao nível das empresas, seja em Portugal, seja nos outros países. Já falamos de encarar o desconhecido, que foi um tema surpreendente, porque tínhamos WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 32 GRANDE ENTREVISTA escolhido o tema antes de começar a pandemia e, por acaso, aconteceu a pandemia e foi uma coincidência. O que antevíamos que acontecesse era uma crise financeira, porque a economia estava a aquecer demasiado, mas não esperávamos uma pandemia. Felizmente, os oradores adaptaram‑se e reformularam os conteúdos em função não só desse perigo, mas também do desconhecido que era a pandemia. No último evento analisámos o pós‑pandemia e as oportunidades e deparamo‑nos agora com uma guerra. Mas mesmo que a guerra não tivesse iniciado, há um desafio que é evidente para toda a gente, para todas as empresas e profissionais, que é o desafio das lideranças. Os vários tipos de liderança, os desafios da liderança é o que vamos abordar na próxima edição. Penso que quer a nível de lugares públicos, quer privados, de empresas privadas, quer ao nível da nossa própria liderança, hoje é tudo muito diferente do que nos ensinaram, do que a nossa experiência nos deu ao longo da vida. Hoje ser líder é um desafio, de facto, grande. A indústria dos eventos em Portugal Organizar um evento há 15 anos faz com que tenha assistido à evolução do setor dos eventos em Portugal. Como é que avalia este setor em termos dos fornecedores, profissionais…? Acho que em termos de fornecedores o mercado tem evoluído muito bem. A oferta tem aumentado, e os fornecedores têm‑se esforçado para serem cada vez melhores, até porque trabalham com eventos cada vez maiores, ou com outras realidades, como, por exemplo, a área da música, e trazem know‑how dessa área. Mas há uma dificuldade que todo o setor tem e que se chama inflação. De ano para ano os custos aumentam, a receita não aumenta nessa proporção, e estamos a falar às vezes de diferenças muito grandes. Isso é um desafio para qualquer organizador, seja de conferências, seja da área dos festivais. Os custos estão a aumentar de uma forma exponencial e para um organizador torna‑se complicado, porque a receita não vai aumentar dessa forma. É preciso fazer a mesma coisa com recursos diferentes e nós trabalhamos muito perto dos fornecedores para ter soluções que são melhores, mas em que o custo se mantenha ou tenha uma subida que nos permita realizar o evento. Este é o desafio de qualquer evento de grande porte, chega uma altura em que o nível de custos é de tal ordem que tudo tem de ser planeado, como eu digo, ao tostão. Não há outra hipótese, é um planeamento mesmo muito rigoroso. Quando se previa que nós íamos ter um boom na área de eventos, um crescimento brutal, de repente, veio uma guerra, que esfriou e fez subir o preço das matérias‑primas e tudo o resto. É um setor muito castigado e que merece ser ajudado. Vamos ver o que acontece ‑ alguns players vão acabar por não conseguir, outros se calhar saem destas crises com mais força. Mas teme que estes problemas com os fornecedores, com os preços, pode beliscar a qualidade do serviço? No nosso caso, procuramos que isso não aconteça, mas acredito que nalguns eventos isso possa acontecer. No nosso, tudo faremos para que seja o contrário, que, apesar do desafio, trabalharemos com os fornecedores para arranjar uma solução ainda melhor, e isso levou‑nos a alguma criatividade nos últimos anos. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 34 GRANDE ENTREVISTA A parede era feita de uma maneira, passa a ser de outra ‑ e, por acaso, ainda é mais bonita e o efeito ainda melhor. Isso deve acontecer com os grandes festivais, suponho eu. É um desafio para quem organiza, é um diálogo permanente com os fornecedores, percebermos os problemas que eles têm, eles perceberem o desafio que temos pela frente e temos de nos encontrar. Para o público tem que ser sempre melhor. Mas é um processo contínuo ao longo do ano, de debate, de criação de soluções. Oito perguntas a Rui Ribeiro Cidade para viver? Vivo em Gaia, mas adoro o Porto e as cidades à volta. Gosto de onde vivo. Destino de férias? Sempre gostei das Caraíbas pelo descanso e a paz que permite. Hoje em dia, também gosto de destinos mais místicos. Prato favorito? Sou muito tradicional. Gosto de Tripas à Moda do Porto. Uma atividade no Porto que recomenda aos oradores do QSP? Temos um roteiro, preparado com o Turismo do Porto e Norte, de atividades e, portanto, não seria só uma. São várias! Tipo de música preferido? Gosto de muitos estilos de música. Hoje em dia gosto muito de DJs, também ‑ apesar da minha geração (risos). Qual é a conferência, excetuando o QSP, que é uma referência para si? O nosso farol é o SXSH, a maior conferência do mundo. Se pudesse convidar uma figura da história para jantar, quem é que convidava? O Dalai Lama. E onde o levava a jantar? A um local onde ele se sentisse bem. Cláudia Coutinho de Sousa, com Rui Ochôa WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 36 GRANDE ENTREVISTA COMO VÃO EVOLUIR OS PREÇOS DOS EVENTOS? Foi a pergunta-mote para o debate com Ana Fernandes, Eventors’ Lab, Carlos Furtado, Porto de Ideias, Gilda Mendes, No More, João Magalhães, Frontal360, e Rui Pinheiro, Mad4ideas. A conversa – animada, como sempre - decorreu na AEVP – Associação das Empresas de Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia. Ponto prévio para fazer uma contextualização do que se vive atualmente na indústria: ‘loucura’ de trabalho. Desde o segundo trimestre do ano o setor vive “em processo contínuo”, proposta atrás de proposta, evento atrás de evento, prazos de execução cada vez mais curtos, sem hipótese de parar, descansar e refletir. O feedback que a Event Point tem do mercado confirma‑se assim também neste debate. Acresce a isto uma situação geral complicada: inflação, preços crescentes da energia e matérias‑primas, uma guerra que se arrasta, falta de recursos humanos. São desafios atrás de desafios, e note‑se que saímos de uma pandemia devastadora, a que a indústria dos eventos respondeu com resistência, reinvenção, com força e otimismo. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 38 DEBATE Profecia autorrealizável Hoje em dia, a palavra crise volta a pairar no ar. Apesar de a economia estar a funcionar, quando toda a gente começa a falar em crise, ela tende mesmo a acontecer. É uma profecia autorrealizável: de tantos falarmos, contribuímos para o resultado. E assim, quando 2022 chegar ao fim e as empresas começarem a projetar 2023, esse cenário pode eventualmente estar na cabeça dos decisores. Alguns dos convidados apontam já uma certa retração, alguma cautela e hesitação, por parte dos clientes para o próximo, mas nada que os assuste muito, porque a vontade de fazer eventos continua bem patente. A área dos eventos atravessa uma boa fase, há, apesar de tudo, marcações já para 2023, e nos últimos anos os profissionais habituaram‑se a lidar com a incerteza. É um setor inerentemente flexível, e essa skill pode ajudar a ultrapassar os eventuais constrangimentos que virão. O sentimento dos participantes no debate é de otimismo e energia positiva. Recursos humanos: o maior desafio Os eventos vão ser mais dispendiosos, sobretudo se incluírem itens que obrigam ao uso de energia intensiva, transporte intensivo, matérias‑primas, produtos alimentares. Mas os salários podem ser o busílis da questão. “Se a inflação se mantiver alta, os trabalhadores vão perder poder de compra e os empresários vão ter de subir salários, e isso fará com que os preços disparem globalmente”, sublinha um dos nossos participantes. Note‑se que a duração desta inflação alta é uma incógnita, porque está muito ligada aos preços da energia. Os recursos humanos foram o tema de um dos últimos debates da Event Point, o panorama é complicado. É sobejamente conhecida a situação de falta de profissionais para trabalharem na hotelaria e catering, bem como a falta de técnicos nas empresas de audiovisuais (muitos saíram durante a pandemia), e os freelancers não têm mãos a medir, porque as empresas estão a recorrer a este grupo o mais possível.Next >