< PreviousA pandemia colocou a vida pessoal num lugar central e, por isso, os recursos humanos são agora mais exigentes, naquilo que cobram, nas expetativas que têm. Têm mais poder de negociação. Isso implica uma grande mudança para este setor, conhecido pela falta de horários, pelos picos de trabalho, pelo compromisso total. A dificuldade de fidelizar recursos humanos é uma realidade, também neste setor. Bem como a regeneração dos profissionais, uma vez que não estão a chegar pessoas novas aos eventos. Todo este contexto poderá levar, eventualmente, a uma nova filosofia de contratação. E se a pandemia deixou marcas nos hábitos de trabalho, que ainda não foram recuperados, e no mindset, isso obriga atualmente a outros timings de execução dos eventos. O número de horas de trabalho influencia também o preço dos eventos e essa necessidade tem de ser explicada ao cliente. Com todas as incertezas atuais, ter uma relação de grande transparência com o cliente torna‑se cada vez mais importante. Importa que ele perceba o que aumentou e porquê e o que lhe pode ser imputado. O setor deve ter orgulho na sua capacidade de resistência, de adaptação, de flexibilidade, de resolução de problemas, e estas mesmas habilidades vão permitir ultrapassar as situações que se lhe depararem no futuro. O sentimento é de confiança. Um brinde a isso! AEVP: CENTRO DE EVENTOS EM VILA NOVA DE GAIA A AEVP é uma associação que reúne 18 empresas de vinho do Porto e tem como missão a “representação e proteção do interesse dos seus associados e na promoção e defesa da Indústria e Comércio dos Vinhos do Porto e Douro e outros produtos vínicos da Região Demarcada do Douro em todo o espaço nacional e estrangeiro”. As instalações localizam‑se em Vila Nova de Gaia, bem próximo do rio, e podem receber eventos empresariais e particulares. Os espaços têm capacidade para até 300 pessoas e foram pensados para proporcionar comodidade, conforto e tranquilidade num ambiente alusivo ao Vinho do Porto, à sua história e às suas caves. A AEVP conta ainda com um Centro Multimédia que dá a conhecer a história deste vinho, da produção ao consumo final. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 40 DEBATE “OS EVENTOS MUDARAM, SENDO QUE ACONTECE TUDO MUITO MAIS RÁPIDO” WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 42 VIDA DE EVENTOS JOANA LOURENÇO “SÃO SEMPRE AS PESSOAS QUE FAZEM A DIFERENÇA” Joana Lourenço conheceu cedo o mundo dos audiovisuais para eventos, por via familiar. “Desde cedo, os audiovisuais para eventos fazem parte da minha vida, pois o meu pai trabalhava numa empresa da área. Coluna de som, câmara de vídeo ou projetor faziam parte do vocabulário habitual lá de casa”, conta a event manager da New Audiovisuais. No seu percurso académico seguiu Humanidades e tirou o curso de Relações Internacionais na Universidade do Minho, em 2006. Terminado o curso, “parti um ano para a Bielorrússia, num programa da Comissão Europeia, para trabalhar numa ONG local. Aqui era responsável pelas relações externas, onde se incluíam os eventos e intercâmbios com organizações de outros países”. E foi aqui que teve “o primeiro contacto com o mundo dos eventos, tratando das reuniões, alojamento, transportes e programas culturais dos grupos que recebíamos”. Em 2007, estava de volta a Portugal e, “num estalar de dedos, entro no mundo dos audiovisuais, onde me mantenho até hoje”, refere.A sua motivação passa por “estar em contacto com pessoas e projetos diferentes todos os dias”, diz Joana Lourenço, adiantando que a diversidade é muita: “Tanto estamos a tratar do projeto audiovisual de um congresso, com todo o formalismo que exige, como estamos a pensar qual o melhor cenário para uma empresa que pretende divulgar o seu produto ou ideia.” E do que mais gosta na sua atividade é “usar a tecnologia para a completa transformação de um espaço e permitir aos clientes transmitirem a sua mensagem da forma mais criativa e original possível”. Do outro lado da balança, Joana Lourenço gosta menos de “não controlar a minha própria agenda”. E acrescenta: “Especialmente depois do fim das restrições da pandemia, os eventos mudaram, sendo que acontece tudo muito mais rápido, tornando o planeamento do dia‑a‑dia mais difícil.” Evento no aeroporto “foi muito desafiante” São muitos os eventos marcantes na memória de Joana Lourenço. Ainda assim, a event manager da New Audiovisuais destaca um que a marcou especialmente, a inauguração da rota Porto‑Dubai da Emirates Airline. O evento decorreu no aeroporto Francisco Sá Carneiro, em 2019. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 44 VIDA DE EVENTOS “Fazer um evento na área internacional do aeroporto, fora do espaço Schengen, foi muito desafiante, desde a descarga de todo o equipamento a todos os procedimentos de segurança inerentes a um evento deste formato”, explica. E ainda a propósito deste evento da Emirates, Joana Lourenço recorda que “uma simples ida à casa de banho ou a uma pastelaria do aeroporto para comer qualquer coisa tinha de ser escoltada por um segurança”. Fazem parte da vida de eventos episódios em que as coisas poderiam não ter corrido tão bem como planeado. “Nos audiovisuais há muita coisa que pode correr menos bem, afinal estamos a falar de tecnologia que pode ser falível”, sublinha. Há situações que podem exigir alterações, pelo que é preciso estar atento, prevenido e ter uma equipa capaz. “Por outro lado, os programas dos eventos podem mudar à última da hora e o que podemos fazer é tentar prevenir estes cenários e poder contar com uma equipa de técnicos capazes de resolver situações mais complicadas”, afirma Joana Lourenço. E conclui: “Afinal de contas, podemos ter toda a tecnologia do mundo, mas são sempre as pessoas que fazem a diferença.” Maria João Leite“HÁ MUITO TRABALHO ATRÁS DO PALCO QUE PASSA DESPERCEBIDO A QUEM SE SENTA NA PLATEIA” WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 46 VIDA DE EVENTOS JORGE BARROS FERREIRA “DESENVOLVO UMA ATIVIDADE DE QUE GOSTO E QUE ME FASCINA” Jorge Barros Ferreira é um dos fundadores da BestEvents, que atua maioritariamente no segmento dos casamentos. Gosta de “pessoas, projetos e desafios” e gosta “muito mais de falar no plural” do que no singular. Foi a sua formação em Comunicação Empresarial que o levou a criar um negócio próprio, impulsionado “pela dificuldade de encontrar emprego no pós‑formação académica”. E o percurso traçado levou a que a empresa, a BestEvents, “se focasse no desenvolvimento de projetos próprios, fundamentalmente eventos dedicados ao setor do casamento”, refere. Em termos de motivação, Jorge Barros Ferreira conta que o motiva “o reconhecimento pela capacidade de realização. E gosto muito mais de falar no plural. O facto de organizarmos eventos bem‑sucedidos e de sermos reconhecidos pela vida que damos aos eventos é fundamental para estarmos no mercado”. E sublinha que os eventos que organizam “contribuem, em grande parte, para o sucesso de muitas empresas que operam no setor wedding”. “Pessoas, projetos e desafios” é do que mais gosta nesta área dos eventos. “Desenvolvo uma atividade de que gosto e que me fascina. O facto de lidar com pessoas e de contribuir para o sucesso dos negócios dos nossos clientes transforma o nosso dia‑a‑dia sem monotonia e com uma constante motivação”, acrescenta. Por outro lado, do que menos gosta nesta atividade é algo que “infelizmente acontece”, diz. “Preocupa-me a falta de capacidade e de visão empreendedora de alguns empresários, que se traduz numa incompreensível desvalorização da necessidade de comunicar para criar valor nas marcas.” “Dar a volta” às contrariedades Como evento mais marcante, Jorge Barros Ferreira destaca, sem qualquer dúvida, a BragaNoivos. “Foi o primeiro, é o mais antigo, o mais prestigiado”, frisa o gestor de eventos da BestEvents. São muitas as memórias guardadas e, muitas vezes, são marcantes aquelas histórias onde as coisas podiam não ter corrido como previsto, mas onde foi sempre possível “dar a volta”. Jorge Barros Ferreira conta que, numa das edições de um dos eventos da BestEvents, “em pleno certame houve uma revolta quase corporativa contra um dos nossos expositores, cuja estratégia estava a ‘perturbar’, chamemos assim, todos os restantes”. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 48 VIDA DE EVENTOS Explica que era “uma espécie de ‘ou ele ou nós’”, mas que, “graças à capacidade de comunicar e de gerir o conflito, conseguimos evitar efeitos quase devastadores para o futuro desse evento”, sustenta Jorge Barros Ferreira. Num outro episódio, o gestor de eventos recorda que, na animação de um desfile, “uma das cantoras caiu num pequeno fosso que havia na passerelle”. A artista estava grávida, o que levantou muita preocupação, “mas, felizmente, foi só o susto”. Depois da queda, “levantou‑se, subiu novamente à passerelle como se nada fosse e continuou a animação, com grande profissionalismo”. Mas há mais histórias. “Imaginem que numa das nossas feiras, com milhares de visitantes naquele momento, nos apercebemos que havia um grupo organizado a preparar um assalto a uma ourivesaria, nossa expositora.” O enredo, que parece cinematográfico, “aconteceu e ninguém se apercebeu”. Contudo, “conseguimos evitar males maiores e entregar os criminosos às autoridades”. Uma aventura que terminou da melhor forma, graças ao trabalho de bastidores. “Nos eventos há muito trabalho atrás do palco que passa despercebido a quem se senta na plateia”, conclui Jorge Barros Ferreira. Maria João LeiteNext >