< Previous2023: O QUE QUEREMOS PARA O SETOR DOS EVENTOS Início de 2023, não só é um novo ano, como temos uma nova tutela. Estamos perante mais uma oportunidade de partilhar os principais objetivos que este setor/indústria pretende para se desenvolver de uma forma sustentada. Todos sabemos que o principal problema deste setor/indústria é o facto de atravessar transversalmente toda a sociedade, sendo utilizado pelos mais diversos setores da sociedade, o que lhe confere, por um lado, uma grande importância económico‑social e, por outro, grandes problemas de enquadramento legal e conflitos entre as várias tutelas onde se situa a sua área de atuação. Ao ser tão impactante em vários setores, como o turismo, o desporto, a cultura, os espetáculos, entre muito outros, levanta a necessidade de existir capacidade de contextualizar este setor de uma maneira criativa, que não bloqueie as principais características, como a criatividade, flexibilidade, criação de conteúdos e resposta eficaz às necessidades. Para ultrapassar esta questão temos de assumir que esta é uma característica, enfrentar o problema e encontrar uma solução conceptual que favoreça a criatividade, potencie a sustentabilidade e eficácia. Para que se consiga encontrar as melhores medidas e estratégias WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 40 ESPAÇO APECATE é determinante conseguir medir e quantificar os impactos, assim como a produção de enquadramento legal e fiscal que consiga dar alguma sustentabilidade de políticas, quer na promoção do desenvolvimento, quer em linhas de apoio. Para se atingir esse objetivo existe já um meio disponível, a mudança para o CAE principal 82 300. Outro mais abrangente será a criação de um Registo de Empresas de Eventos (que poderá englobar um maior número de CAEs), enquadrando a diversidade de origem das muitas empresas de eventos. Articulando estas duas soluções, poderemos ter mais dados e perceber qual a verdadeira dimensão deste setor/indústria. É tempo das empresas aceitarem o desafio que só depende delas (assumir o CAE 82300 como principal) e da tutela do turismo fazer o que a APECATE propõe há vários anos: criar um Registo Nacional de Eventos para este setor do turismo, em que as empresas que desejassem assumir o setor de turismo como o seu principal campo de atuação se inscreveriam (a APECATE está disponível para partilhar a sua proposta que é muito simplex, sem burocracias). Além destas duas questões fundamentais, relembro os objetivos da APECATE para este setor/indústria que é claramente um dos que mais contribuem para o destino Portugal. Medidas ‑ IVA a 6% na inscrição e bilhetes para eventos e congressos (à semelhança da cultura). ‑ Redução do IVA, nem que seja por um período limitado, ajudando esta indústria a ser competitiva no mercado nacional e internacional. ‑ Facilitar o acesso ao trabalho pontual por parte de jovens estudantes, sem prejudicar os seus direitos futuros. ‑ Dedução, em sede de IRS, de despesas em eventos, em equivalência com outras despesas em subsetores do turismo, como a hotelaria e a restauração, assim como na cultura. ‑ Alteração das Leis do Trabalho ‑ não adianta ter normas que não são exequíveis para ramos da atividade económica como os dos eventos (e igualmente animação turística). Precisamos de uma definição clara da bolsa de horas individual e da criação de um quadro legal que permita o acesso dos jovens estudantes ao mercado de trabalho, sem serem penalizados. ‑ As associações do setor serem consultadas pelo Turismo de Portugal quanto ao plano estratégico de marketing para a área dos eventos, linhas de apoio, etc. Custos de contexto O setor dos eventos (e o da animação turística), no anterior governo, tinha de se articular com 12 tutelas, 308 municípios, 32 CIM e duas Regiões Autónomas. Só este enquadramento é potenciador de problemas e de ineficácia. Mas se a tudo isto se somar que, de acordo com a lógica de cada tutela, se criam leis e regras (que normalmente não têm em conta a globalidade, mas só uma visão corporativa e reduzida), múltiplas taxas e taxinhas (subvertendo a finalidade das taxas, que é prestar um serviço essencial) e procedimentos burocráticos que nos fazem gastar muito tempo e recursos, temos um cenário complicado. Além destas, sabemos que há muitas “guerras” de tutelas e desconhecimento entre si. É necessário articular todos estes “poderes” e, de uma vez por todas, transformar o simplex num instrumento de depuração de tudo o que impede o desenvolvimento económico. Ordenamento sustentável Este é o grande desafio. É muito importante rever os Planos de Ordenamento, incluindo os pilares da sustentabilidade, da transparência e da governabilidade partilhada entre o Estado central, regional, local e as associações representativas da sociedade civil. Da parte dos empresários, estamos a trabalhar ativamente neste caderno de encargos, agora falta o Estado e o Governo assumirem a sua parte. António Marques Vidal Presidente da APECATE WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 42 ESPAÇO APECATE “GOSTO DE FAZER DIFERENÇA NA VIDA DAS EQUIPAS” WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 44 VIDA DE EVENTOS JOANA ANDRADE NUNES UMA “PESSOA DE PESSOAS” QUE NÃO CONHECE A MONOTONIA Do Direito para o protocolo de eventos. O caminho pode não parecer o mais linear, mas para Joana Andrade Nunes foi o percurso natural de quem, além da paixão pela comunicação, gosta de dar vida a novos projetos e de estudar os comportamentos culturais diversos e o seu impacto. Mestre e licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, Joana Andrade Nunes é Consultora de Etiqueta, Protocolo e Comunicação. Uma atividade que, confessa, junta todas as áreas que a apaixonam: Direito (“não nos esqueçamos que o protocolo, per se, é direito”), comunicação, docência e a arte da diplomacia e de bem receber. Para percebermos como se conjugam estas paixões, é necessário recuar às anteriores experiências, profissionais e pessoais. Após o curso, foi assistente convidada na Faculdade de Direito de Lisboa e advogada numa sociedade de advogados.“O curso de Direito (ainda) é um curso com um pendor tradicional e em que a exigência no domínio da arte de saber estar e comunicar é condição sine qua non para ter sucesso”, relembra, sublinhando que “saber estar, saber comunicar, saber respeitar o ‘código silencioso’ que o contexto profissional e académico nos exige, é fundamental para vingar no contexto jurídico”. “Não é, como tal, de admirar que muitos diplomatas e embaixadores sejam licenciados em Direito”, exemplifica. Um novo rumo “Em 2017, e não obstante continuar apaixonada pelo mundo do Direito — “uma vez advogada, advogada para toda a vida” — , decidi tomar um novo rumo”, conta. Nesta decisão terão também pesado algumas características pessoais (e até genéticas). Da mãe terá herdado “a paixão por comunicar e por criar / organizar eventos”: “É professora, mas o ‘bichinho’ por criar teatros, musicais, festivais, etc., falou sempre mais alto e dedicava o tempo livre a preparar os mesmos. Eu e o meu irmão rapidamente começamos a colaborar!”, recorda. Além disso, sendo beirã, admite gostar de “dominar a arte de bem receber”. A esta conjugação de fatores juntou‑se ainda “o gosto por dar vida a projetos ‘fora da caixa’ e de construir projetos à medida de cada cliente”: “Gosto de fazer diferença na vida das equipas; de dar aulas; de contribuir para o sucesso de cada equipa; de potenciar o melhor que cada profissional tem dentro de si, sedimentando a sua marca pessoal”. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 46 VIDA DE EVENTOS Fazer a diferença no “serviço público” É justamente essa perceção de que faz a diferença na vida dos colaboradores e das empresas que a motiva a continuar. “Tenho o privilégio de fazer o que me apaixona; de não sentir que trabalho um único dia na minha vida. Pode parecer um cliché, mas quando somos apaixonados pelo nosso trabalho, quando temos um propósito claro e somos reconhecidos, o nosso trabalho não é em vão”. Uma história marcante contada na primeira pessoa “Há uns meses, recebi um e‑mail de uma finalista do curso de Direito a agradecer o conteúdo que publico no meu site e, principalmente, no Instagram. Partilhou que se considera uma jovem bem‑educada e com valores, mas que vinha de um meio humilde e não teve oportunidade de conhecer as normas de conduta que, social e profissionalmente, são esperadas. Quando veio para Lisboa, sentiu um ‘choque cultural’, tendo alguma dificuldade em enquadrar‑se no mesmo. Agradecia, de coração, a informação que tenho partilhado, pois já a ‘salvou’ em diversas ocasiões. (...) Não há, para mim, maior reconhecimento do que saber que faço a diferença na vida dos outros, muitas vezes não tendo contacto direto”. À medida do cliente Do que gosta mais na sua atividade? “Tal como um alfaiate constrói um fato à medida para cada cliente, saber que tenho o privilégio de criar um plano de consultoria e formação à medida do meu cliente”. Já quanto aos aspetos menos positivos, apenas aponta “alguns espinhos” da vida de empreendedora: “As noites são muito longas; os fins de semana são tempo de trabalho e o conceito ‘férias’ sem trabalho tem sido uma miragem”. Mas isto, reforça, “é a outra face da moeda de quem gosta de dar vida aos seus projetos e de empreender”. O comensal distraído e o caos em Lisboa A vida de eventos é feita de risos, mas também de imprevistos. Joana Andrade Nunes partilhou alguns com a Event Point. Um deles aconteceu num jantar profissional, onde, devido à ausência de cartões na mesa, um comensal que estava ao seu lado não a reconheceu: “Na sequência do tema que estávamos a abordar (a ausência de resposta aos contactos profissionais), comentou que tinha lido um artigo sobre o tema, no LinkedIn, de uma consultora de etiqueta e protocolo que se chama Joana Andrade Nunes. Que concordava com o artigo e que o tinha feito circular pela empresa. Comentava que a autora partilha artigos muito oportunos e aborda, sem receio, temas fraturantes. Dirige‑se a mim e pergunta: ‘A Joana também concorda?’ Com um sorriso, respondi que sim e que agradecia o contributo”. O equívoco foi desfeito por outro comensal: “Dr. A., tem a autora dos artigos ao seu lado; pode sugerir próximos temas para reflexão”. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 48 VIDA DE EVENTOS Já no que respeita a imprevistos, Joana Andrade Nunes teve recentemente a prova de que, “por mais organização, planos B, C e D, e empenho na organização de cada evento, é impossível controlar todas as variáveis”. Nesse dia, uma terça‑feira, deveria ter estado no programa Praça da Alegria, RTP1, no Porto e, como habitual, tencionava viajar no Alfa das 7h00. “Por coincidência, foi o dia do ‘terror’ em Lisboa. Ao chegar à Gare do Oriente, pelas 6h00 da manhã, sou informada, na estação, que as linhas estavam inundadas e que não tinham data estimada para o início da circulação. Pensei, de imediato, deslocar‑me de carro garantindo que chegaria ao estúdio da RTP, no Porto, a tempo. Quando chego ao parque de estacionamento, estava inundado e era impossível sair sem auxílio da proteção civil. O caos nas ruas de Lisboa impossibilitava, também, qualquer deslocação”. Cancelamentos de voos que colocam em causa a realização do evento/formação são, para uma “perfecionista e muito organizada, uma realidade difícil de aceitar”. No entanto, “havendo bom senso entre as partes, seguramente que se encontrará uma solução”, conclui. Olga TeixeiraNext >