< Previousprofissionais, estão ali de paraquedas. Mas eu percebo os fornecedores de catering porque também não têm disponibilidade. Da mesma forma que percebo que não tenho camionetes porque não tenho motoristas, eles também não têm pessoas melhores porque não as há. Portanto, estamos a perder qualidade. No setor dos audiovisuais, idem. Estão permanentemente a recrutar pessoas. Não é só culpa da pandemia. Era um fenómeno que já vinha de trás… Era um fenómeno que já vinha de trás e agravou‑se de uma forma drástica com a pandemia. A forma como este setor gere os recursos humanos, não acho que seja a mais correta. E viu‑se na pandemia, viu‑se que houve muitas pessoas a sofrer com isso. Ou seja, contratam na necessidade. Não contratam de uma forma correta, do meu ponto de vista. E depois, quando deixam de ser necessários, desaparecem. Acho que essas pessoas se fartaram um bocadinho. Porque têm mulher, filhos, sobrinhos, têm uma vida própria. E têm que saber com o que é que contam no dia a dia. Esta indústria não pode ser só trabalho. Nós não passamos neste mundo para passar 24 horas a trabalhar. Nós temos os nossos amigos, as nossas mães, os nossos pais, os nossos irmãos, a quem cuidar. Esta vida não pode ser só trabalho. Tudo aquilo que vemos em termos de festivais, de concertos. É tudo a recibo verde. E depois, como é que essas pessoas vivem? Numa falha, como aconteceu na pandemia, muitas delas mudaram de vida, como nós sabemos. Não estão para isso. Também não sou apologista da estabilidade a 100%, porque quem está estável normalmente acomoda‑se. Gosto muito pouco das pessoas acomodadas. Nesta empresa, todas as pessoas são comissionadas. Não só pelo trabalho que desenvolvem, como o trabalho que a empresa no seu total desenvolve. Todas têm comissões de produtividade. Acho que o nosso grande problema vai ser a mão de obra. E há alguma falta de qualidade. Também na origem desse problema com os fornecedores está o facto das confirmações estarem a ser em cima da hora. Não só os briefings são para amanhã, mas também depois o tempo de execução é cada vez mais curto… Mas acho que isso é um outro problema. Um é a falta de mão de obra, do ponto de vista de produção, etc. Outro problema é a nossa relação com os clientes. Volto a dizer, a culpa é nossa, não é? WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 40 GRANDE ENTREVISTA Um cliente que nos dá um briefing para fazer um evento daqui por um mês para mil pessoas, nos dá uma semana e dois dias para apresentarmos uma proposta. Diz que responde uma semana depois. E passou um mês e ainda não respondeu. Há qualquer coisa que não está bem aqui. E quando responde, passado um mês, já só faltam 15 dias para implementar o evento. Ou uma agência lhe diz na cara que não faz o evento, ou então ele vai continuar a fazer isso e muito pior. Estamos na altura certa para tentar de alguma forma regular um bocadinho. Não é no sentido de regulamentação, mas de educar um bocadinho os nossos clientes. Mas como é que você vai dizer uma coisa dessas a um cliente que é seu cliente há 10 anos? É muito difícil. Porque depois também se arrisca a não ter fornecedores que façam o seu evento… Não ter fornecedores e capacidade interna de os produzir. As equipas não são elásticas e não se multiplicam de um dia para o outro. É um mercado difícil, uma indústria muito difícil. Mas nós estamos cá. Se nós não tivéssemos o jogo de cintura não estaríamos nesta indústria. Só cá está quem gosta muito disto. Essa transformação, “educação” do cliente, é um trabalho isolado de cada agência ou devia ser uma atitude mais concertada? Há muitos anos, a Prestígio e mais três ou quatro agências de eventos criámos uma associação dos organizadores profissionais de eventos. Chamava‑se na altura AOPE. O facto é que nunca tivemos muito apoio das agências. Acredito no associativismo quando é um associativismo profissional. Ou seja, as pessoas que estão lá a trabalhar têm que ser bem remuneradas, têm que tentar saber o que fazer. Uma associação não vive por si só com os sócios a darem uma perninha ao final do dia. E basicamente foi isso que aconteceu. Nunca se fez nada. Falava‑se de um certificado de qualidade para as agências de eventos. É uma coisa que é relativamente simples de se fazer, mas nunca ninguém o fez. Culpa minha também, porque também estava lá e não me lembro de fazer. É necessário que as pessoas conversem umas com as outras? É. É necessário. E quando estou a dizer umas com as outras não é só do ponto de vista das agências, é do ponto de vista de toda a cadeia de produção. Todos os nossos parceiros de negócio ‑ não gosto de chamar muito fornecedores, porque eu sem eles também não era nada ‑, as agências que estão no mercado, se quiserem juntar os freelancers, juntamos os freelancers, mas o cliente tem que estar metido nisto. A desvalorização que está a ser feita à nossa profissão, hoje em dia, é gigante. E sobretudo agora com esta escalada de preços. O facto é que os nossos parceiros também subiram os seus preços. A mão de obra teve uma escalada brutal. O nosso cliente não entende isso. O que quer é que se desenrasque o problema, mas depois quando chega lá o valor, nem pensar nisso. Eu continuo com as minhas margens. Não aumentei. Com a inflação não estou a ganhar mais. Aquilo que me põem no orçamento é aquilo que eu passo para o cliente. Se o cliente pode pagar ou não, não sei. Mas que da parte do cliente existem também problemas em termos orçamentais, existem. E depois há a pressão connosco. Não podemos ser um saco de pancada para tudo. Temos que pagar os ordenados às equipas, para elas poderem estar com as famílias e alimentar as famílias e viver a vida. Mudanças em curso Onde é que vê os eventos a mudarem daqui para a frente? Mais em termos de tecnologia, nos formatos? Acho que eles têm que mudar em vários níveis e em várias áreas. Sim, vão mudar em tecnologia, isso parece‑me mais do que óbvio. Aliás, eles têm estado a mudar durante todos estes anos em tecnologia. E vimos alguns parceiros a investir agora há relativamente pouco tempo, investimentos importantes do ponto de vista tecnológico para os nossos eventos. Mas vejo‑nos a evoluir em termos conceptuais, a evoluir em termos de envolvimento das pessoas. Aqueles eventos a que nós íamos, em que tínhamos sessões de trabalho durante um dia inteiro e depois ao final do dia tínhamos um cocktail, acho que isso está ultrapassado. Ou seja, nós não podemos maçar tanto as pessoas num evento. Acho que o evento tem que ter uma parte de trabalho, mas tem que ter uma forte componente lúdica. As pessoas levaram muita pancada nesta pandemia, e nesta fase. Já passou a pandemia? Não, não passou. Ela está cá. Ela continua a viver connosco. Muitas vezes nem damos por ela, mas ela continua a viver connosco. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 42 GRANDE ENTREVISTA Antes da pandemia, estávamos até à uma ou duas da manhã à conversa e a beber copos com os nossos amigos. Quantos amigos é que hoje em dia ficam em casa porque dizem que não lhes apetece sair? Habituaram‑se a estar em casa, habituaram‑se a estar em família. E estamos a perder momentos de comunicação entre pessoas importantíssimos. Portanto, de alguma forma temos que agarrar nesses momentos que perdemos e imprimir uma velocidade e uma energia diferente nos nossos eventos. A parte fun tem que aumentar significativamente, em relação àquilo que era. Claro que temos que ter a parte técnica e a parte séria do evento, a parte comunicacional da empresa, aquilo que a empresa tem que passar aos seus colaboradores ou aos seus clientes, mas hoje em dia as pessoas estão ávidas da parte mais fun. Até porque estiveram muito tempo afastadas do escritório… Exatamente. Acho que isto não é uma tendência futura, é uma tendência que já chegou. Já temos muitos clientes a abandonar determinado tipo de formatos, uns por nosso conselho, outros porque já estudaram e já perceberam, sobretudo as grandes multinacionais, que têm todos esses dados muito mais apurados e muito mais estudados e que já vêm com um alinhamento completamente diferente. As festas de verão estão a proliferar por este país. Toda a gente quer fazer festas de verão. Queria falar de um último tema que é o da sustentabilidade. Como é que os clientes o encaram? Todos os clientes, mais as grandes multinacionais, as grandes empresas, estão cada vez mais preocupados e têm inclusivamente nos seus objetivos contribuir para essa sustentabilidade. Mas o problema é sempre o mesmo: não temos orçamento para isto. Na grande maioria das vezes, sim, existe essa preocupação, nós próprios também temos essa preocupação, cada vez mais. Temos em todos os eventos essa preocupação. Hoje em dia, somos nós próprios que aconselhamos o cliente a não fazer determinado tipo de coisas ou, eventualmente, investir um bocadinho mais em produzir coisas com um bocadinho mais de qualidade para que esses mesmos suportes possam ser reutilizados em mais eventos e durante mais tempo. E, quando tem esta lógica de vamos gastar um bocadinho mais e vamos reutilizar, é muito mais bem aceite. Quando é uma coisa de utilização única, o orçamento não dá para isso. Oito perguntas a Pedro Santos Costa Viagem de sonho? Costa Rica e Japão. Cidade para viver? Lisboa, adoro Lisboa. Um restaurante onde gosta sempre de voltar? 50 Maravilhas. Tem algum hobby? Vários. Motas e barcos. Quem mais o influenciou no seu percurso profissional? Claramente a minha mãe. Foi sempre uma pessoa que me apoiou e me incentivou em todos os momentos. Dos muitos eventos que organizou, houve algum que tenha sido inesquecível? Há muitos! Mas talvez esse primeiro evento da Caixa com 4.500 pessoas, pelo marco, pelo salto que a agência deu. Um ensinamento da pandemia? São tantos. Adaptação! Que personalidade gostava de convidar para jantar? Philip Kotler. Cláudia Coutinho de Sousa, com Rui Ochôa WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 44 GRANDE ENTREVISTA O MERCADO APONTA PARA MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS O que mudou no presencial e híbrido? WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 46 OPINIÃO Os eventos presenciais mudaram, porque as expectativas evoluíram! A regra do jogo agora é pensar e entregar diferente, observando o mercado com atenção. O mercado aponta para mudanças significativas na forma como clientes e participantes querem os seus eventos presenciais e híbridos: querem eventos com mais personalização e maior interação! Como já anunciado e reiterado, os eventos híbridos vieram para ficar. E o motivo é simples: combinados, o presencial e o virtual complementam‑se e oferecem inúmeras vantagens para todos os stakeholders envolvidos. Entretanto, mesmo o formato do evento presencial que se procura agora tem referências distintas do que vivenciámos até 2019. O crescimento do interesse pela experiência torna preciosa a automatização de tarefas diárias rotineiras para que o gestor se possa dedicar à gestão e estratégia do evento e, assim, fazer mais com menos. Em todos os sentidos. Pesquisas mostram uma redução do tempo médio de entrega de uma RPF [Request for Proposal] em 14%. Com menos tempo para design e produção de evento, maior quantidade de eventos, que ainda possuem maior complexidade e detalhe, além das mudanças que ainda estão a acontecer, toda a ajuda é essencial. Como contar com dados de mercado em tempo real. Como lidar com tudo isso e entregar eventos memoráveis? 1. EVENTOS HÍBRIDOS COM ENTREGA VIP NO PRESENCIAL A tendência é que: ‑ A maioria dos eventos híbridos tem um número menor de participantes presenciais especiais, mas maior presença digital. ‑ Quem se inscrever para o presencial, terá grandes expectativas na sua participação. Ele quer experiência e opções de envolvimento e networking personalizadas ou exclusivas. 2. EMPODERE O PARTICIPANTE VIRTUAL Assim como acontece no evento presencial, o valor da produção do virtual é refletido diretamente na qualidade dos serviços da marca do evento e dos patrocinadores. A sensação de pertença ao evento está relacionada com as inúmeras ações que pode criar para envolvê‑lo, de modo a que ele não seja apenas um espectador. 3. OFEREÇA LIBERDADE DE ESCOLHA Eles querem escolher o conteúdo que irão consumir e também de poder navegar por diferentes salas virtuais. O engagement está relacionado com fazer escolhas ativas por parte do participante, oferecidas e estimuladas pelo evento. 4. PRIORIZE A QUALIDADE NA PRODUÇÃO Para atender a crescente expetativa por qualidade e experiência, a qualidade na produção e geração do vídeo e som precisam de ser garantidas. 5. PERSONALIZE O CONTEÚDO EM TODAS AS FASES DO EVENTO O passo inicial é conhecer muito bem o seu público. A partir daí, acompanhá‑lo em todas as fases do evento, usando o conceito de data driven para tornar cada vez mais rico o relacionamento com cada um deles. No presencial, aproveite para entregar abordagens para estimular conversas. 6. CUIDE COM CARINHO DA DURAÇÃO, INTERAÇÃO E ENGAGEMENT As novas camadas de pressão no ambiente de trabalho inviabilizaram a duração de eventos como na pré pandemia. Além de serem mais curtos, o evento precisa de redefinir os seus espaços oferecendo na área do evento locais intimistas para encontros de grupos pequenos, tanto para que o participante possa atender ou fazer reuniões de equipa, quanto para facilitar o networking e reconexão com colegas e clientes. 7. ESTRATÉGIA COM FOCO EM 365 DIAS A combinação de mais eventos, com menor público, maior qualidade, conteúdo excepcional, elevação nos custos e valorização do networking obriga a uma estratégia de longo prazo das marcas para conseguirem entregar os resultados desejados. Por isso, a exemplo da estratégia adotada pelo Rock in Rio, além das três fases do evento (antes, durante e pós) estarem mais unidas do que antes na comunicação do evento e na interação entre participantes e as marcas, o melhor resultado é obtido quando ele está integrado no calendário anual dos patrocinadores. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 48 OPINIÃO 8. INCORPORE DIVERSIDADE, EQUIDADE E INCLUSÃO Além de observar etnia, raça, género, orientação sexual, etc. considere também as diferenças de aprendizagem e compreensão para torná‑los mais inclusivos e acessíveis. A lista de opções é enorme: transcrição, tradução em linguagem gestual, salas mais silenciosas, rampas e priorização para cadeiras de rodas. Lembre‑se que eles tendem a investir o seu tempo e energia em empresas e eventos que se alinham com os seus valores pessoais. A dica é: pergunte e ouça as preferências dos seus participantes e oriente as suas ações de acordo com estas respostas e anseios. Mas não há apenas dificuldades. Muito pelo contrário. Quanto mais mudanças, maiores as possibilidades. E nunca foi tão atual e necessário atentar para os pontos levantados por Julius Solaris, que eu também endosso: ‑ Foco – escolha as suas batalhas e torne o seu produto e preços muito competitivos. ‑ Transparência – tenha clareza. Faça promessas que consegue entregar. Entregue mais do que promete. ‑ Conteúdo, conteúdo – escolha com cuidado a abordagem do conteúdo que será oferecido e com muita, muita qualidade. Continuo uma pessoa otimista e também vejo muitas oportunidades no mercado de eventos na atualidade. E se há algo que um cliente ou profissional de eventos deve pensar é em si. Com tantas reviravoltas e transformações recentes e outras muitas por vir, foque‑se no seu bem estar e naquele conhecimento técnico ou pessoal que poderá fortalecê‑lo como profissional atento e conhecedor de tendências, mas que também sabe contrabalançar o pessoal com o profissional. Este equilíbrio é o melhor ponto de partida para o seu sucesso. Vanessa Martin CEO da VM Consultoria e Pesquisas em Eventos. https://www.linkedin.com/in/vanessa‑martin‑649952a/Next >