< Previousfilhos das pessoas que trabalham em eventos. Perguntamos aos mais jovens se sabiam o que os pais faziam e as respostas foram divertidas e, por vezes, surpreendentes. Um trabalho desenvolvido pela iMotion e pela Clara Amarela Films. “NÓS SOMOS TÃO BONS COMO OS MELHORES” A sessão de abertura do Reinvent contou com a presença de Bernardo Corrêa de Barros, presidente do Turismo de Cascais, região que acolheu o evento do setor dos eventos. O responsável máximo do turismo explicou que “falar de eventos e falar de Cascais é fácil” e que o concelho conta com um portefólio de eventos, de várias tipologias, que servem diversos propósitos e cujas externalidades retiradas são também diferentes. “Um evento cultural posiciona‑nos o território, eu não acredito em territórios que sejam atrativos a nível internacional que não tenham uma cultura forte. Quando fazemos eventos internacionais, o Estoril Open, por exemplo, estamos a apostar numa ativação nacional, mas estamos a apostar muito numa comunicação internacional. Mas quando pensamos num Iron Man, estou a pensar no impacto territorial, na atividade económica, é um © Nuno Ramos Photography WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 30 DOSSIÊ TEMÁTICO retorno directo. São cinco mil pessoas que estão em Cascais durante seis dias, que viajam com as famílias, com um poder de compra muito grande”. Bernardo Corrêa de Barros deu o exemplo do Dragon Winter Series para explicar o impacto dos eventos. “No primeiro ano que tivemos cá o evento, vendemos três casas na Quinta da Marinha. Com o IMT e o IMI o evento ficou pago para os próximos dez anos”, explica. A sustentabilidade está no coração da estratégia de Cascais há muitos anos e o destino é considerado um pioneiro nesta área. “Hoje os grandes eventos que operam em Cascais têm que cumprir uma série de métricas, isso é obrigatório e contratual”. Outro tema incontornável é o da digitalização, e o presidente do Turismo de Cascais acredita que “há muito por explorar na área da tecnologia e na forma como a usamos como potenciadora do evento ou © Yourimage de captação do evento”. Cascais está, neste momento, a desenvolver uma plataforma digital “para vender a urbe como um todo”. Em relação ao mercado dos eventos, Bernardo Corrêa de Barros é perentório: “Somos tão bons como os melhores”. “Fazem‑se muito bons eventos em Portugal mas há ainda uma grande margem para todos ganharmos mais dinheiro”, sublinha. Uma novidade transmitida no Reinvent pelo anfitrião foi da intenção dos eventos de Cascais, elegíveis para o ranking da ICCA, se somarem aos de Lisboa. “Somos pequeninos demais para andarmos sempre a medir cintos”, refere Bernardo Corrêa de Barros, declarando que Lisboa com Cascais “fica melhor” e “mais forte”. SPEAK UP ‑ O DESAFIO DAS AGÊNCIAS DE EVENTOS Pedro Rodrigues, diretor geral da Desafio Global, foi o curador do primeiro painel, intitulado “Speak Up – O desafio das agências de eventos”. Contou com a companhia de Miguel Assis, partner da Voqin’, Nuno Santana, diretor da Niu, e Pedro Santos Costa, diretor da Prestígio, “pessoas críticas e inconformadas” em relação ao setor dos eventos. © Nuno Ramos Photography WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 32 DOSSIÊ TEMÁTICO Este foi um painel recheado de conteúdo, porque os desafios que as agências enfrentam são cada vez maiores, até por causa de uma pandemia que estabeleceu uma “nova normalidade”, em que o físico, digital e híbrido convivem, ainda que com preponderância do primeiro. Miguel Assis acredita, no entanto, que o “futuro é híbrido” porque “é uma pena que quando o conteúdo é bom ele fique apenas com as pessoas que estão no espaço”. Pedro Santos Costa frisa que, por uma questão de eficiência, alguns eventos têm que ficar no digital. O tema da saúde mental, da motivação e da retenção de profissionais surgiu com mais frequência também no © Yourimage pós‑pandemia. O responsável da Niu acredita que “quem traz muito valor para o nosso negócio, tem que ser recompensado por isso. Tem que ser sempre numa perspetiva variável”, refere. Pedro Santos Costa já coloca em prática esta visão há muito tempo. Na Prestígio, todas as equipas “são remuneradas por aquilo que fazem e por aquilo que a agência produz ao final do ano. Todas as pessoas são comissionadas”. Uma forma de motivar e respeitar as pessoas que trabalham nas agências de eventos é, segundo Miguel Assis, “qualificar as oportunidades”. “Não quero que aquelas pessoas vão para casa frustradas com mais uma proposta que nós perdemos. E demos tudo de nós. Se eu não consigo qualificar, estou a dizer que o tempo daquela pessoa da minha equipa é irrelevante”. Um outro problema que afeta o dia‑a‑dia das empresas é a questão da propriedade intelectual. “Já tivemos situações em que usaram as nossas ideias”, refere Miguel Assis. Pedro Santos Costa lamenta: “é uma frustração muito grande quando nos deparamos com uma situação destas. Quando 15 dias depois recebes um telefonema de um fornecedor a dizer que o teu evento vai ser realizado por outro. Isto é dramático. Como é que conseguimos incentivar as nossas equipas? Temos de ter uma atitude perante o mercado diferente”. E Nuno Santana diz mesmo que cabe às agências “cuidar do nosso mercado”, apelando a que estas falem mais entre si. © Nuno Ramos Photography WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 34 DOSSIÊ TEMÁTICO Os concursos são provavelmente o tópico mais quente e um dos que mais preocupam as agências. Pedro Rodrigues deu alguns exemplos de “más‑práticas” em concursos: consulta a ‘dezenas’ de agências; pedir propostas para ‘ontem’; uma proposta é aceite por determinados valores e depois o departamento de compras vai procurar negociar o preço, etc. Nuno Santana diz que não vai a concurso com mais de três agências, e esse é o número ideal também segundo a plateia do Reinvent, que foi questionada sobre o assunto. Miguel Assis lembra que só entram em concursos quando o projeto passa o processo de qualificação da Voqin’ e que inclui quatro patamares: relação com o cliente, budget, oportunidade de marketing e volume. Pedro Santos Costa salienta que há clientes com tudo muito bem estruturado, mas em grande parte dos concursos o que conta é o preço, e não a criatividade, experiência, a expertise. Nuno Santana, por outro lado, fica chocado com as propostas que ficam na gaveta e os eventos que não se realizam e levanta a questão do pagamento das propostas. O diretor da Prestígio gostava que as agências de eventos fossem tratadas da mesma forma das agências de publicidade. Por que não “fazer concurso para dois anos, três anos. O cliente tem a ganhar, a relação aproxima‑se, conhecemos o produto, e o output será cada vez melhor e acabávamos com este desgaste diário”. Miguel Assis termina com um apelo: “os clientes deviam revisitar as suas visões e aquilo que transmitem para a sociedade em geral. Cada vez temos menos jovens que querem estar nesta indústria”. © Nuno Ramos Photography SPEAK UP – “O PONTO DE VISTA DO CLIENTE” Inês Simões, diretora de comunicação e marca da Ageas Portugal, Hugo Modesto, diretor Communications da Siemens, Mónica Sacchetti, responsável de ativação de marca, patrocínios e eventos da EDP, estiveram à conversa com a curadora Angelina Castel‑Branco, partner da iMotin. Neste painel foram debatidos os pontos críticos da relação entre clientes e agências. “Defendo muito as relações de longo prazo”, começou por dizer Inês Simões, quando questionada sobre a preferência: procurar agências novas ou construir uma relação mais sólida. Este aprofundamento permite um melhor conhecimento da marca e uma aprendizagem conjunta. No entanto, “também gostamos de olhar para o mercado e perceber o que está a acontecer de novo”, refere a responsável. A decisão final da adjudicação de um evento “é da direção de comunicação” e nesse processo “obviamente o procurement é nosso parceiro”. Os principais critérios para adjudicação são, informa a diretora de comunicação do Grupo Ageas Portugal, a “criatividade, inovação, alinhamento com os objetivos”. Em relação ao budget, ele é comunicado no briefing. “No início nós nunca dizíamos o budget, mas rapidamente percebemos que não valia a pena fazer perder tempo à agência”, sublinha. Outro aspeto salientado por Inês Simões é a pertinência e mais‑valia, por parte do cliente, de transmitir feedback das propostas às agências, de forma a evidenciar os aspetos que podem ser melhorados em futuros concursos. © Yourimage WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 36 DOSSIÊ TEMÁTICO “Para nós também é importante trabalhar em parcerias e relações longas no tempo”, diz Hugo Modesto, mas é importante que as agências “nos desafiem” e que apresentem propostas que tragam algo diferenciador para a marca. Normalmente a Siemens consulta três agências, porque senão “para nós próprios torna‑se difícil fazer o trabalho de análise”. Se o evento é mais pequeno por vezes há ajuste direto. Os briefing são passados individualmente às agências, porque o responsável de comunicação da Simens acredita que deste processo consegue perceber‑se a agência mais sintonizada com o projeto. Na EDP o briefing tem um orçamento, com um tecto, “porque nós aí vamos poder dizer às agências que a criatividade pode ir até aqui”. Dada a cadência grande de eventos, explica Mónica Sacchetti, houve a necessidade de criar um sistema. “Se não tivéssemos criado uma metodologia, um sistema, que funcionasse para nós, cliente, e que funcionasse para os nossos parceiros, agências, seria difícil de estar naquilo que eu considero uma relação plena, em sintonia com as agências com que nós trabalhamos. Centralizamos o processo e isso traduz‑se num template briefing”, refere. A responsável de ativação de marca, patrocínios e eventos da EDP não tem dúvidas: “um bom briefing vai potenciar uma boa proposta”, e depois a análise é quantitativa e qualitativa. Historicamente a EDP consulta três agências, às quais passa o briefing ao mesmo tempo. Os três convidados concordam que as agências de eventos portuguesas fazem um “ótimo trabalho”. Inês Simões acredita que a palavra‑chave na relação entre cliente e agência é respeito. E também empatia. O cliente tem que tentar perceber a realidade das agências e estas têm de entender que muitas vezes as organizações “são complexas”. Mónica Sacchetti sublinha que a parceria é essencial e que só este trabalho conjunto permite fazer evoluir os eventos que organizam. Em relação a um hipotético cenário de fee de proposta, Inês Simões e Hugo Modesto não ficariam chocados com a sua existência e não seria um factor de exclusão de uma agência. Apontam no entanto que esse valor teria de ser “simbólico”. Mónica Sacchetti levanta questões relacionadas com o volume de briefings que a EDP passa ou a definição do valor de um fee de rejeição. EVENTS UNDER 30 O Reinvent the Event deu voz às novas gerações da indústria, no painel ‘Events Under 30’, com a curadoria de Cláudia Lopes, fundadora da Mud.e. Ana Félix, partner da Mud.e, Bárbara Barbosa, gestora de eventos na iMotion, e Nuno Pinto Coelho partner da 3cket, mostraram como os jovens com menos de 30 anos estão hoje na indústria dos eventos e veem o amanhã. E se alguém pensa que os mais jovens não têm estofo para este trabalho, Bárbara Barbosa garante: “Não somos menos capazes por sermos mais novos.” Os três profissionais sentem que existe abertura para as suas ideias. Também pela proximidade da idade em relação ao público, Ana Félix sente que a sua opinião é valorizada, tentando sempre “inovar”, porque uma nova ideia pode tornar o evento ainda melhor. Bárbara Barbosa confirma a “abertura” às suas ideias pelas chefias, pares e clientes, até porque estes procuram “eventos diferentes, frescos, com ideias inovadoras”. Mas há um outro lado, alerta Nuno Pinto Coelho: “Às vezes, as ideias têm de ser mais bem justificadas para que acreditem nelas…” © Yourimage WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 38 DOSSIÊ TEMÁTICO Todos estão conscientes de que o trabalho é, muitas vezes, feito fora de horas – algo “normal” na indústria, diz Nuno Pinto Coelho. “Nós entendemos perfeitamente as horas que são precisas para fazer o evento acontecer”, adianta Ana Félix. Assim sendo, Bárbara Barbosa defende uma “otimização máxima dos processos”. Talvez seja “mais fácil” para os mais jovens encontrar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, segundo Ana Félix, que considera a sua geração “mais reivindicativa”. “Nós estamos interessados no pacote todo: na remuneração, no tempo livre, no equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal…” Nuno Pinto Coelho diz que para a sua geração, especialmente nesta área, é “bastante fácil haver motivação”: “Vem de nós”. Bárbara Barbosa concorda com a capacidade de automotivação e, para si, esta vem da “paixão” que sente pelos eventos. Ana Félix afirma que se está num evento, “não há nada mais importante” do que isso. Todos concordam que os participantes dos eventos querem viver uma “experiência completamente diferente, enriquecedora”, ter o “fator ‘uau’” e que esse evento seja “muito melhor” do que anterior. A gastronomia é importante, pelo que há novas ideias que podem ser implementadas, como estações de comida pop‑up, comidas de vários cantos do mundo, personalização dos pratos… Afinal, um “evento com comida má, não é um evento bem‑sucedido”, lembram. Ana Félix diz que a inteligência artificial (IA) vai “mudar muito” a indústria e que esta deve acompanhar: “Não podemos ficar para trás!” Bárbara Barbosa frisa que o setor não deve “olhar para isto como uma ameaça”, mas como uma “mais‑valia”, e Nuno Pinto Coelho está “ansioso” por explorar ainda mais as potencialidades da IA. Sobre o rejuvenescimento dos eventos do futuro, Ana Félix, Bárbara Barbosa e Nuno Pinto Coelho deixaram algumas ideias: mais tecnologia, integração da IA, um guião com o alinhamento do evento para todos, concursos a dois ou três anos, regulamentação dos concursos ou a diminuição das hierarquias de tomada de decisão.Next >