< PreviousAos futuros gestores de eventos, Ana Félix alertou que, para trabalhar nesta área, é preciso “paixão”, dado o stress e a pressão. Por isso, aconselha a que se lembrem sempre “porque quiseram fazer eventos”. Bárbara Barbosa acrescenta que sejam “resilientes” e que não desistam. Para Nuno Pinto Coelho, quem quer entrar nesta área “deve ter muita atenção ao detalhe e ser muito bom naquilo que faz”. QUE SUSTENTABILIDADE É ESTA? A sustentabilidade aplicada aos eventos deu o mote para uma conversa entre António Fuzeta da Ponte, diretor de comunicação da Worten, Inez Aires, co‑fundadora da Zero Waste Lab, e Rita Oliveira, diretora de marketing da Go Parity, num painel moderado pelo jornalista João Moleira. Questionada por João Moleira sobre o que devemos falar quando abordamos o tema da sustentabilidade em contexto de eventos, Inez Aires respondeu que existem “três grandes dimensões a ser consideradas: a dimensão ambiental e o que fazemos a nível ambiental; a dimensão económica e a forma como organizamos e gerimos a nossa economia, a nossa casa, a casa do evento; e a parte social, a forma como lidamos com as nossas equipas, com os nossos staffs e depois o legado que deixamos ao público”. “Se estas três dimensões estiverem em equilíbrio, podemos realmente ancorar a sustentabilidade”, sublinhou. Segundo Inez Aires, “a nível internacional já se vê um movimento muito grande para a sustentabilidade”, dando como exemplo os festivais, e esse movimento também “se vê em Portugal”, com “um caminho já a ser feito por © Yourimage WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 40 DOSSIÊ TEMÁTICO alguns promotores, alguns com ações avulsas, sem grande planeamento”, que “necessitam de um roadmap um pouco mais robusto”. Contudo, defendeu, “o caminho já está iniciado”. Na opinião de Rita Oliveira, a sustentabilidade é hoje um tema mainstream, o que “traz muitas coisas positivas, nomeadamente o facto de ser mais ou menos óbvio para todas as marcas e todas as pessoas e consumidores que nós temos que ser sustentáveis”, mas depois também “pode trazer alguns exemplos perversos”. “Se nós começarmos a pensar a sustentabilidade a meio do evento então vamos pensá‑la para a comunicar, não vamos pensá‑la na produção do próprio evento”, sublinhou Rita Oliveira, acrescentando que “o facto da sustentabilidade ser uma coisa mainstream faz com que isto aconteça, porque nós somos um bocadinho forçados a fazer isto e pensamos só na perspetiva da comunicação”. António Fuzeta da Ponte, considerou, por seu lado, que as marcas têm “de aprender a ter o cuidado” de perceber “em que eventos entram” e de “como é que podem ter a certeza” de que os eventos a que se associam “são eventos com pegadas [ambientais] relativamente aceitáveis”. Numa reflexão sobre quem deve liderar esta transformação nos eventos, Inez Aires respondeu prontamente que “todos” o devem fazer, desde promotores, a patrocinadores, ao staff, defendendo também que “as autarquias, as câmaras municipais, quem emite as licenças” também o deve fazer. “Nós defendemos que para se dar uma licença a um evento deve haver um mínimo de requisitos de sustentabilidade que tem que ser cumprido”, explicou.Sobre o conceito de greenwashing nos eventos, Inez Aires recuperou a ideia de que as ações não podem ser feitas de forma “avulsa” e que isso “acontece imenso”. A este propósito, António Fuzeta da Ponte considerou que é mais importante “ser sustentável” do que parecer. No Centro de Congressos do Estoril, Rita Oliveira sublinhou ainda que “é preciso acabar com o estigma” de que a sustentabilidade é cara e de que os eventos sustentáveis são mais caros, lembrando que é preciso haver mais criatividade para implementar medidas sustentáveis de forma efetiva. SAÍDOS DA CAIXA BY CLUB.E DOS EVENTOS Saídos da Caixa foi o nome do painel que o Club.e dos Eventos organizou, durante o Reinvent the Event. À conversa estiveram Gonçalo Castel‑Branco, CEO da Lohad, que desempenhou também o papel de moderador, Nuno Maya, cofundador do OCubo, e Rui Ribeiro, CEO da QSP Summit. A escolha do nome Saídos da Caixa foi a primeira reflexão a ser feita. Nuno Maya considera que no OCubo primeiro “pensam e depois quando apresentam as coisas apercebem‑se que “‘saíram da caixa’”, o que “acaba por ser um desafio”, já que eleva a fasquia para os clientes, que, “no evento seguinte, esperam novamente que se ‘saia da caixa’”. Segundo o cofundador do atelier, trata‑se de “um processo evolutivo”. © Yourimage WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 42 DOSSIÊ TEMÁTICO Para Nuno Maya, em Portugal o principal desafio do OCubo é mostrar aos clientes finais “que é possível fazer algo diferente, que muitas vezes não avança por receio de qual será o resultado”. Fazer com que os clientes saiam da zona de conforto é o maior entrave à inovação. Segundo Rui Ribeiro, na QSP Summit, há “uma ‘caixa’ que tem a ver com o posicionamento e ‘sair da caixa’ é um desafio todos os anos, mas dentro dessa caixa que é o posicionamento existe o conceito do evento, um posicionamento”. “E ‘sair da caixa’ é um desafio para todos nós e para isso temos muitas técnicas para o fazer”, afirmou o CEO da empresa que organiza a conferência de marketing e gestão. Rui Ribeiro admite que a QSP Summit “não tem nenhum problema em inovar”, mas sublinha que em Portugal “há um problema na inovação que se chama investimento”, dizendo no entanto que “o nosso país até é dos mais criativos da Europa porque consegue fazer com muito menos o que outros não fazem melhor com budgets muito maiores”. “É uma obrigação de qualquer evento repensá‑lo, acrescentar valor, inovar. Se não o fizer, o evento terá uma curva descendente”, acrescentou, partilhando que na QSP Summit, na fase de preparação de um evento, a equipa tenta sempre posicionar‑se no lugar dos participantes para avaliar o grau de motivação para irem ao evento. “Um evento não é sustentável se não satisfizer o público”, afirmou.Em sintonia com este exercício, Gonçalo Castel‑Branco sublinhou que na Lohad também “desenham as coisas do cliente para trás e não da produção para a frente, que é uma coisa que normalmente acontece em Portugal”, levando justamente a que sejam feitas algumas perguntas: “Eu ia a este evento? Como é que eu me sentia? Como é que eu interagia com ele, o que é que eu ia gostar, o que é que eu não ia gostar?”. Noutra reflexão sobre a “proteção de ideias” para eventos, Nuno Maya partilhou que “recentemente” o atelier OCubo foi vítima de “um plágio, fora do país, na Arábia Saudita”, em que fizeram um projeto igual ao que a empresa portuguesa “apresentou num pitch”. “E depois apercebemo‑nos que a nível de contrato estava escrito que tudo que era entregue naquele pitch ficava propriedade da entidade. Portanto, basicamente, eles estão legais”, acrescentou. Rui Ribeiro recordou que quando teve “a ideia” de usar a palavra ‘summit’ no evento que realiza “tentou protegê‑la”, mas “a UE rejeitou”. “Hoje qualquer conferência com 100 pessoas chama‑se ‘summit’”, disse, lamentando “a falta de criatividade”. © Yourimage WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 44 DOSSIÊ TEMÁTICO Para o CEO da QSP Summit, estas situações protegem‑se “com inovação”. Na opinião de Gonçalo Castel‑Branco, o “tema da proteção da criatividade resolve‑se com legislação”. “Acho que devemos uns aos outros encontrar um enquadramento que proteja as ideias de pessoas que se calhar não têm recursos para estar a inovar todos os anos”, rematou. SESSÕES PARALELAS Festivais – Palco de oportunidades? O tema dos festivais foi escolhido como uma das sessões paralelas do Reinvent, tendo decorrido ao mesmo tempo da sessão dos congressos e dos casamentos. A curadoria esteve a cargo de Rita Barradas, da Think Out Loud, que convidou para o seu painel o músico David Fonseca, a diretora de marca da Vodafone, Leonor Dias, e o fundador da Arruada & Arraial, Pedro Trigueiro. Os festivais têm sido de grande importância para a divulgação do trabalho dos artistas nacionais e os Silence 4 são um exemplo disso, com a primeira atuação no Sudoeste. “Não tenho dúvidas de que isso catapultou a banda, de uma forma muito rápida” para outros patamares, refere David Fonseca, um dos membros. O artista lembra que foram capa da revista do Expresso nessa semana, por terem fechado o cartaz de um dos dias do festival. Os artistas, e alguma imprensa, olham muitas vezes com alguma renitência para a presença das marcas nos festivais, mas as marcas são essenciais para a sustentabilidade destes projetos. Na Vodafone, conta Leonor Dias, não se descura a identidade de um festival, “quase que nos fundimos com ele, no sentido em que ajudamos a criar experiências que achamos que ficam na memória e que levam a marca no coração”. A responsável lembra que no Vodafone Paredes de Coura, a presença da marca está no pórtico, na estrutura vip, ou de vista privilegiada de palco, mas também em coisas como os carregadores do telemóvel”. E lembra as Vodafone Music Sessions, que acontecem em locais inusitados da vila e que são uma experiência única para quem tem a oportunidade de assistir a estes pequenos concertos. Mas o objetivo é “levar a relação” entre marca e evento “cada vez mais longe” e o caminho não é “o do puro exibicionismo e do puro brinde”, refere a diretora de marca. A presença das marcas nos festivais também permite a sua melhoria contínua. Pedro Trigueiro lembra que os festivais evoluíram muito e agora têm uma organização e produção muito cuidada, e as marcas também dão o seu contributo, fazendo com que no todo a “experiência seja memorável para o cliente final”. O fundador da Arruada faz uma comparação com a experiência do tinder “começa numa app, vai para © Yourimage WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 46 DOSSIÊ TEMÁTICO um jantar e acaba numa situação. Não há nada como a experiência física das coisas e se a experiência física num festival não é ok, esse festival não vai para a frente”, ou seja todos os factores, filas, casas de banho, onde se carrega o telemóvel são cruciais e as demandas mudam com o tempo. Na altura da pandemia, apareceram os eventos musicais digitais, uma experiência “péssima para todos”, afirma David Fonseca. Leonor Dias concorda, os eventos musicais têm mesmo de ser presenciais, ainda que possam implicar algumas experiências digitais no local. Casamentos de destino e mercado de luxo: vício ou virtude? Os casamentos de destino também estiveram em discussão no Reinvent the Event. João Fonseca, diretor da Rental Factory, Lucyana Sposito, diretora da LS Weddings, e Sofia Ferreira, diretora criativa da BrancoPrata, estiveram à conversa com a moderadora Susana Esteves Pinto, consultora para o mercado de casamentos em Portugal. Lucyana Sposito começou por revelar que é “apaixonada” por Portugal e pela “cultura” portuguesa. “Portugal tem tudo o que é autêntico, o que eu não via muitas vezes no meu país”, afirmou a fundadora da LS Weddings apontando a arquitetura, as infraestruturas, “a gastronomia incrível”, a meteorologia “com muitos dias de sol” e “profissionais fantásticos” como alguns exemplos para considerar Portugal um “país singular” para receber casamentos. Contudo, a wedding planner critica o aumento dos preços do setor no destino que, na sua opinião, depois não acompanham o serviço que é entregue. © Yourimage Lembrando que o setor dos casamentos de destino está sempre sujeito a alguma imprevisibilidade, e que teve “de se reinventar” com a pandemia de covid‑19, João Fonseca, owner da The Rental Factory, explicou que “o futuro dos casamentos de destino está mais ligado a fatores externos do que internos”. João Fonseca revelou que “começa a ter alguns pedidos de casamentos por portugueses” e que nestes casos eles são “o cliente final”, não têm nenhum organizador, e nota‑se que começam a “querer fazer um bocado diferente”, que vá além dos “pacotes” preparados pelas quintas. Segundo o dono da The Rental Factory, estes clientes portugueses procuram “personalização e profissionalismo” e acredita que estes serão “os principais desafios” do setor, para o qual reclama mais “profissionalização” e “regulamentação”, que considera que ajudará a “elevar o nível” e a “manter Portugal como destino” procurado. Sofia Ferreira, da BrancoPrata, afirmou, por seu lado, que “faz muito mais sentido começarmos a pensar como é que o nosso mercado pode evoluir ganhando ou recuperando a nossa identidade, que está a ser perdida”, acrescentando que “em termos de profissionalismo nós todos os anos estamos a evoluir”. “Mais do que importar um modelo”, Sofia Ferreira disse ser necessário que o setor dos casamentos de destino em Portugal “tente fazer uma coisa nossa que funcione a nível interno, mas também a nível externo”. “Aquilo que eu sinto é que as pessoas cada vez mais procuram coisas únicas”, sublinhou Sofia Ferreira, dando o exemplo de Espanha onde diz que o setor “criou uma identidade muito própria e [as pessoas] ao escolherem Espanha para fazerem o seu casamento vão de facto encontrar uma coisa diferente do que se faz nos outros sítios”. © Nuno Ramos Photography WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 48 DOSSIÊ TEMÁTICO Questionados por Susana Esteves Pinto sobre o que faz falta no setor em Portugal, Sofia Ferreira disse “força”, João Fonseca referiu ser necessário “agrupar as ideias” e Lucyana Sposito afirmou que falta “acreditar que é possível”. “Podem os congressos ser reinventados?” Vasco Noronha, diretor‑geral da Factor Chave, moderou uma conversa em que participaram Daniel Ferreira, diretor clínico do Hospital da Luz Digital, Maria José Alves, head of MI da Associação Turismo de Cascais ‑ Visitors and Convention Bureau, e Paulo Morais, diretor executivo da Phormula. A versão curta da resposta à pergunta que dá nome a este painel é: sim! A circunstância atual é que as pessoas continuam a querer participar em congressos, apesar do formato cristalizado que alguns têm. O modelo expositivo, em que se vai simplesmente ouvir o orador não é a motivação das pessoas, sobretudo numa altura em que a tecnologia nos disponibiliza todo o conhecimento. As pessoas vão aos congressos pelo networking, pela partilha de opiniões e experiências e pelo confronto de ideias. A principal conclusão é que tem que se trabalhar mais nesta vertente. Dar mais tempo livre aos participantes – algo extremamente valorizado ‑, promover o networking, apostar no programa social são algumas das sugestões. Em relação à partilha de conhecimento, a sugestão passa por retirar tempo expositivo e promover tempo de discussão e interação com a audiência. E vão os congressos no futuro ser mais presenciais ou híbridos? A resposta varia. Os grandes congressos devem continuar a manter o híbrido, porque é impossível ter uma classe inteira num evento, mas os pequenos terão tendência a ser só presenciais. A maioria das pessoas ainda prefere estar presencialmente e os custos do híbrido são avultados. Finalmente, um desafio que saiu deste painel foi a necessidade de os venues e os organizadores de congressos trabalharen mais em proximidade, para que os espaços realmente supram as verdadeiras necessidades do evento.Next >