< PreviousFontes de inspiração Que importância tem a área corporate para um clube da dimensão do Sporting? Em termos de fontes de receita, é significativa? É bastante relevante e tem um impacto grande. Contudo, acho que o objetivo é crescer. De onde vem a maior fonte de inspiração? De fora, de outros clubes de futebol, de outras áreas do desporto? Vem um bocadinho de todo o lado. Todos os anos tentamos melhorar, nem que sejam os procedimentos internos para tornar a vida dos outros e a nossa mais fácil, criar as nossas próprias ferramentas para que possamos ganhar mais tempo para pensar e gastar menos a operacionalizar. Começa muito nesta base de tentar sempre fazer melhor, reinventarmo‑nos e depois, claro, acho que temos de ser humildes o suficiente para olhar para os bons exemplos. Se for para acrescentar valor, venha. Muitas das ideias foram vistas lá fora, mas porque não enquadrá‑las todas num só estádio? E dar‑lhes o nosso cunho, fazê‑las à nossa maneira? Há algum clube internacional que seja particularmente inspirador para si, em termos da experiência que dá? Há várias vertentes e eu olho sempre para aquela mais operacional, da organização do jogo e do impacto da experiência. Como sou o UEFA Main Contact, estou responsável por organizar a parte operacional das viagens e tenho de estar presente como representante do Sporting na organização do jogo. Isso tem‑me dado a oportunidade de ver muitos clubes lá fora e conhecer alguns estádios nos últimos três anos. Acho que absorvemos um bocadinho de todos, mas posso dizer‑vos que fiquei maravilhado com a experiência que pude ter em Tottenham [Londres]. Estamos a falar de um estádio que custou um bilião, mas ao conhecer o venue director do Tottenham, que também é o responsável máximo pela organização dos jogos, fiquei apaixonado ao ouvi‑lo falar, porque realmente aquele estádio custou um bilião, mas eu saí de lá com a sensação de que eles não gastaram mal um cêntimo. O estádio parece que está todo pensado, todas as áreas, em termos WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 20 GRANDE ENTREVISTA de governance, de sustentabilidade, de praticidade. Tenho pena de ainda não conhecer o novo Bernabéu, mas é um dos estádios que gostava de ver. E também já fui a Midtjylland, na Dinamarca, um estádio mais humilde, mas onde também aprendemos com o sentido prático dos nórdicos: a nível operacional era fantástico. Por isso, maravilhado com o estádio do Tottenham, acho que o caminho é esse, mas acho que também tiramos sempre qualquer coisa de todos os sítios onde vamos. “Uma operação enorme” Em relação à celebração do título da época passada, o que é que foi mais desafiante, e o que é que o deixa mais orgulhoso dessa operação? A nossa direção juntou uma equipa de quatro pessoas e começou assim num core muito pequenino. Posso dizer‑ vos que passei pela festa do título e ainda hoje sinto como se não a tivesse vivido, ou que não tivesse estado lá, porque fomos absorvidos por uma operação enorme. Quando vejo as imagens na televisão penso: como é que nós organizámos isto? Lembro‑me que fui particularmente chato com alguns temas, mas, acima de tudo, acho que tomámos algumas decisões inteligentes. Por exemplo, fomos buscar fornecedores que já o tinham feito no passado, porque já existia uma experiência adquirida. Acho que conseguimos juntar uma equipa bastante feliz e contratar as pessoas certas para as áreas certas. Não íamos inventar a roda, agora, tudo o que pudéssemos fazer para dar uma experiência diferente, esse tinha de ser o nosso foco.Desde o primeiro dia em que nos lançaram o desafio, entre juntar os fornecedores, a câmara, autoridades, de repente tínhamos reuniões com umas 150 pessoas, que representavam 100 áreas diferentes. Quando começámos o projeto não tínhamos noção da magnitude que ele podia atingir. Em vez de organizar um jogo para 40 mil pessoas, temos de ir organizar uma festa do título, que se realiza no Marquês de Pombal, para 100 ou 140 mil pessoas, de um momento para o outro. A equipa naturalmente foi crescendo, com o aproximar do dia fomos integrando cada vez mais pessoas, mais colegas internos. E o trabalho é aquele que fazemos sempre, zona VIP: o que é que é preciso? Quem é que vamos convidar? Quantas pessoas é que vamos ter? Autocarro da equipa: como é que ele vai chegar? Qual é o percurso? É analisar tudo ao detalhe, montar uma operação com a perspetiva de X pessoas, X entradas, zona VIP, acreditações, media, acessos… A ideia que tenho é que, naquele dia, estiveram a trabalhar quase quatro mil pessoas. No meio disto tudo, existem decisões estratégicas. Quais é que são os timelines de montagem? Uma das decisões mais estratégicas que foi tomada, e esta foi pela administração e pelo presidente, em conjunto também com o futebol, foi quando começar as montagens. No dia em que fomos campeões jogávamos em casa com o Portimonense, e acho que o Benfica jogava fora com o Famalicão. Havia uma decisão para ser tomada: para termos tudo aquilo que queríamos ter, a seguir ao jogo do Portimonense, se ganhássemos, tínhamos de começar a montar algumas coisas da festa. Quais é que eram os impactos? Um é o impacto financeiro, ter de montar e depois desmontar, se não tivéssemos sido campeões naquele dia. E o outro era o impacto mediático, porque, apesar de tudo, isto é futebol e mexe com emoções e estarmos a montar uma festa que depois não ia acontecer, não é uma decisão que possa ser tomada por qualquer pessoa. A festa tinha de ser o mais genuína possível para ter o maior impacto ‑ porque não vamos conseguir conter as pessoas se formos campeões. A decisão foi: aceitamos o impacto mediático e o impacto financeiro, por isso, se ganhássemos ao Portimonense, na hora a seguir ligávamos as máquinas e começávamos a montar tudo. Eu acho que foi a decisão mais estratégica que pudemos tomar para poder ter transformado a festa naquilo que foi. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 22 GRANDE ENTREVISTA Como é gerir um estádio de futebol como um espaço que também pode acolher outro tipo de eventos? Existem 30 jogos em casa por ano, um ano tem 365 dias, se queremos maximizar a experiência, e a parte financeira, temos de dinamizar o estádio. E isso está a acontecer, felizmente, e não é assim tão difícil. Quem está com a área de eventos sabe qual é o impacto dos jogos, quem está nos jogos também sabe qual o impacto dos eventos. Acho que é uma organização bastante simples, ou seja, acho que temos bem definidas as limitações inerentes de um jogo de futebol, que mudam de um jogo de UEFA para um jogo de Liga, e existe uma relação super aberta, super bem definida. Dá é mais trabalho, mas com boa vontade é fácil gerir esta dinâmica. Quando organizam, fazem a gestão toda com a equipa própria ou recorrem também a fornecedores externos? A gestão é toda ela realizada por nós, ou seja, a equipa de eventos ou de jogo, de assembleias gerais, a cabeça toda ela é Sporting. Depois temos é uma série de fornecedores que respondem às necessidades e aos desafios que são lançados, desde os audiovisuais, limpezas, infraestruturas, catering. Temos fornecedores com quem trabalhamos diariamente, e alguns em exclusivo, que nos dão as ferramentas que precisamos para montar um evento. E como é que avalia a qualidade dos fornecedores nacionais? Acho que não posso dizer nada de mal. Quando aquilo que queremos está bem definido, temos chegado sempre ao outcome que desejávamos. Estamos bastante bem apoiados com as soluções que encontramos, que vamos encontrando todos os dias. Oito perguntas a Alexandre Martins Cidade para viver? Essa é difícil, mas vou dizer Lisboa. Destino de sonho? Filipinas. Um livro? “O poder de saber ouvir como um cão”, de Jeff Lazarus. Uma comida? Arroz de marisco. Uma banda? The Black Mamba. Evento inesquecível? Festa do título (a mais recente). Uma pessoa importante na sua carreira? A minha namorada, a Rita. Pessoa mais famosa na lista de contactos? César Mourão. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 24 GRANDE ENTREVISTA EVENTOS, COMUNICAÇÃO, DESIGN - EXPERIÊNCIAS QUE PERDURAM ALÉM DO DIA DO EVENTO WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 26 OPINIÃO Vamos ser sinceros: um bom evento não se faz só do dia do mesmo, nem fica esquecido na manhã seguinte. São os momentos, as narrativas, os ambientes imersivos, as histórias partilhadas, a viagem conduzida, o “uau” inesperado e, claro, as recordações que guardamos, sejam visuais ou não, que fazem do evento um bom evento. E como é que isto acontece? Através da comunicação e do design, que juntos transformam qualquer evento numa experiência memorável. Estas duas áreas, comunicação e design, eram antes vistas como os “bastidores” do evento – serviam de suporte, mas não roubavam a cena (uma sinalética aqui, o fundo de uma apresentação ali, uma personalização de um balcão acolá). Hoje, diria que já não é bem assim. Vejo‑os hoje como os protagonistas, as estrelas que dão vida a cada momento, e criam memórias que permanecem. A comunicação já não é apenas uma forma de informar, mas sim a base criativa que conduz a narrativa do evento. E o design? O design guia‑nos numa viagem visual e imersiva, aquele que nos faz sentir e viver o evento com intensidade, desde o primeiro contacto até ao pós‑evento. Estás a ver uma viagem e tudo o que a mesma implica? Agora imagina os eventos como se de uma viagem se tratasse. Se assim for, o design ocupa um lugar de mapa, mas não um mapa qualquer, ele orienta o participante ao longo do caminho definido, criando uma viagem conduzida, podendo esta ser sensorial, imersiva, e não só. Detalhes como a identidade visual, cores, música, merchandising, bem como a realidade aumentada, realidade virtual, etc., poderão ser todos da responsabilidade do design. Neste caso, a comunicação transforma essa viagem, criada através do design, em algo especial, criando uma narrativa apelativa, desde o convite ‑ pré‑evento ‑ que já pressupõe o despertar de curiosidade, passando por toda a história que é narrada em torno do evento, os momentos ‘wow’, as partilhas, as sensações; até ao pós‑evento com as recordações que ficam, materiais e imateriais.Cada detalhe conta uma história. E é isso que fica. Outro exemplo que gosto de dar para mostrar o poder de uma história bem contada é o da caneca de barro. Imagina que após um evento, por exemplo team building, no momento da saída, oferecemos uma simples caneca de barro a cada participante. Até aqui, nada de especial, certo? Mas e se essa caneca for personalizada pelos próprios participantes ao longo do evento? Ou melhor, e se forem os filhos, ou os pais dos participantes a decorá‑la, tornando‑a única e especial? De repente, aquilo que era um simples gift, uma simples caneca de barro, transforma‑se numa peça com valor sentimental, e com uma narrativa, algo que cada pessoa pode levar para casa com uma história para contar. E é isto que faz a diferença – tudo é apenas “alguma coisa” até adicionarmos uma narrativa, uma camada extra de significado. Adicionar uma narrativa, uma história, criar uma viagem conduzida, é isso que faz um evento. No meu dia‑a‑dia, seja como diretora criativa, formadora de design ou fotógrafa, aprendi que o verdadeiro poder de um evento reside em como o comunicamos e o desenhamos. A combinação certa entre o design e a comunicação tem o poder de transformar qualquer evento numa experiência única. Desenhar eventos que não se apagam da memória, experiências que deixam uma marca, seja através de uma experiência no momento, bem como através de uma fotografia ‘wow’ que fica e prospera no tempo, that’s it! Portanto, da próxima vez que pensares em organizar um evento, lembra‑te disto: não é apenas sobre o momento em si, mas sobre as histórias que queres que as pessoas levem para casa. São essas memórias, essas experiências cuidadosamente desenhadas, que vão fazer com que o teu evento seja mais do que um evento – vai ser uma marca, uma lembrança viva que perdura no tempo. Cremilde Pratas Founder & Head of Creative na Oh mã! - Agência Criativa www.linkedin.com/in/cremildepratas WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 28 OPINIÃO Next >