< PreviousARRISCAR OU JOGAR PELO SEGURO? Outro dos temas em análise no Reinvent the event 2024 estava relacionado com o risco: o que é, quando é que vale a pena arriscar numa ideia original e quando é que se deve jogar pelo seguro, o que pode ser feito para mitigar o risco. ‘Risco ou não risco? Eis a questão!’ contou com a participação de Karla Campos (Live Experiences), Tiago Tarracha (Nervo), Paulo Amaral (Made of You) e a moderação de Paulo Silver (New Sheet). Paulo Amaral lembrou também que é preciso haver quem acredite na empresa e que saiba que as coisas têm ‘pernas para andar’. “É sempre um grande desafio convencer uma autarquia ou um município a permitir fazer um evento de grande dimensão num espaço público”, exemplificou. Bilheteira, conseguir o artista para o evento, os diferentes processos de licenciamento pelo país fora – “há câmaras em que é mais difícil conseguir o licenciamento e não se sabe porquê”, de acordo com Tiago Tarracha –, e fazer com que a ideia criativa cumpra os objetivos foram os principais riscos apontados. © LSM Paulo Amaral, Tiago Tarracha, Karla Campos e Paulo Silver WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 50 DOSSIÊ TEMÁTICO Um outro fator de risco é a falta de tempo. “Agora fazemos tudo num ritmo mais acelerado”, referiu Tiago Tarracha, que contou que, por vezes, há ideias criativas e diferenciadoras, mas pouco tempo para a produção as implementar. Mas, com mais ou menos descanso, “tudo se faz”. Karla Campos contou que anda “num trapézio, mas com rede”, lembrando que, perante os riscos associados aos eventos ao ar livre, há sempre um plano B. “Não conseguimos montar um evento sem pensar sempre num plano B”, complementou Paulo Amaral. O risco tem de ser calculado, porque o lado da balança onde está responsabilidade de pagar à equipa e de cumprir os compromissos assumidos pesa muito. Há sempre dúvidas, claro, especialmente quando já foi investido tanto trabalho. Mas, perante o esforço e o dinheiro investido, mais vale entregar um evento de qualidade e fazer tudo bem feito, até para defender a reputação, apontaram os oradores. Perante o desafio de decidir arriscar tudo por uma ideia original que pode falhar ou seguir uma fórmula que já funciona, mas que não tem o mesmo brilho, Karla Campos assumiu que joga pelo seguro. Paulo Amaral também, embora reconheça que na sua equipa há sempre quem o leve por outro caminho. “O que temos de fazer é analisar com responsabilidade”, sublinhou. “O risco deve ser calculado da maneira que cada um entende”, frisou, em jeito de resumo, Paulo Silver. “Superação, valores e coragem” foram as palavras destacadas pelo moderador, para quem não se deve “nunca ter medo de arriscar”. © LSM Paulo Amaral, Tiago Tarracha, Karla Campos e Paulo Silver “A MENTALIDADE CRIATIVA NÃO É MAIS DO QUE UMA ESCOLHA” Fundador da agência MeetMarcel e partner da 62Miles defende que o pensamento criativo deve ser treinado. “The Creative Mindset” foi o tema da keynote que Bartel Van Iseghem levou à terceira edição do Reinvent the event, onde defendeu que “a mentalidade criativa não é apenas uma vantagem competitiva para uma agência ou para o nosso setor como um todo, mas também uma forma muito interessante de viver a vida”. Bartel Van Iseghem sublinhou que quando se fala de pensamento criativo há quatro aspetos a ter em conta: “ser sempre curioso, abraçar as dúvidas, ser sempre ágil e [abraçar] a beleza desconhecida”. Citando Leo Burnett, “o padrinho da indústria da publicidade”, o director da MeetMarcel disse “acreditar firmemente” que “a curiosidade pela vida em todos os seus aspetos continua a ser o segredo das grandes pessoas criativas”. Ao mesmo tempo, explicou, “se quisermos ser disruptivos, se quisermos reinventar normas e reinventar coisas que já existem, as dúvidas serão uma companhia no nosso caminho”. © LSM Bartel Van Iseghem WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 52 DOSSIÊ TEMÁTICO Segundo Bartel Van Iseghem, “a sociedade muda drasticamente e as situações económicas mudam muito, muito rapidamente, à velocidade da luz”. Por isso, afirmou, “ser ágil nestas alturas é muito importante se quisermos ser criativos, bem como pensar de forma divergente”. Aos mais de 650 profissionais dos eventos presentes no Reinvent, o fundador da MeetMarcel explicou que para se ter uma mentalidade criativa é também preciso “libertar o desconhecido”. “Muitas pessoas pensam que querem ser cada vez melhores numa determinada coisa. Eu penso que é preciso interessar‑se pelo maior número possível de aspetos e abrir a mente a várias influências”, disse, para depois rematar: “Para mim, a mentalidade criativa não é mais do que uma escolha”. © LSM Bartel Van Iseghem EMOÇÕES E AUTENTICIDADE: O SEGREDO PARA CRIAR MEMÓRIAS “As emoções são uma arma poderosíssima em eventos”. A afirmação de Pedro Ribeiro (Rádio Comercial), sintetiza perfeitamente o conteúdo do painel “Engineering Memories: a arte de criar ligações emocionais”, moderado por Manuel Vaz (Expanding Group) e que contou também com Nádia Reis (Sonae MC) e Mariana Sousa (Turismo do Porto e Norte Portugal). Qual foi o último evento memorável em que estiveram? O desafio de Manuel Vaz foi o mote para uma conversa que mostrou que, seja num evento de música e gastronomia, na promoção de um destino ou num programa de rádio líder de audiências, as ligações constroem‑se através do que é autêntico. E que é na emoção que está o caminho para o coração dos destinatários, sejam eles consumidores, organizadores de congressos ou ouvintes de rádio. “Nesta indústria geralmente estamos muito focados na corrida contra o tempo, nas soluções, na capacidade de entregar a tempo e horas e bem e muitas das vezes deixamos para segundo plano aquilo no fundo que é o nosso produto final, que é o nosso evento ser ou não recordado”, admitiu o fundador da Expanding Group. Criar algo memorável é o desafio diário do Turismo do Porto e Norte, que compete com destinos com orçamentos bastante superiores, mas que, ainda assim, consegue atrair pessoas e grandes eventos, como o 64.º Congresso Mundial da ICCA (International Congress and Convention Association). Neste caso, o segredo passa por transmitir a autenticidade e a essência do destino. Mariana Sousa © LSM Pedro Ribeiro, Mariana Sousa, Nádia Reis e Manuel Vaz WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 54 DOSSIÊ TEMÁTICO salientou que essa autenticidade se refletiu não só em campanhas como a “Ofélia de Sousa”, mas também em momentos profissionais que a levaram a perceber que o grande atrativo da região – e do próprio país – é o facto de ter pessoas e experiências autênticas. E se as experiências memoráveis são facilmente associadas ao turismo, como se cria essa ligação no setor do retalho alimentar? O Festival da Comida Continente é apenas uma das formas como a marca leva emoção a uma relação muito funcional. A componente emocional da comida ajuda a criar essa relação, mas para Nádia Reis há outros aspetos, como a ligação ao futebol, através da seleção, que contribuem para uma democratização do entretenimento e, consequentemente, para essa relação com os consumidores. Lembrou ainda que uma das suas memórias mais marcantes está relacionada com a responsabilidade social, outro ponto importante para estabelecer essa ligação verdadeira com as pessoas. Para Pedro Ribeiro, a ligação começa na vantagem da rádio enquanto meio e o facto de ser talvez “o mais humano de todos os media”. Nos últimos 20 anos a equipa das Manhãs da Comercial tem criado essa relação especial e verdadeira, que passou também a ser celebrada em palco, num evento que teve já 10 edições. “Não precisas de – entre aspas muito fortes – comprar o teu público com prémios se lhes ofereceres uma experiência e se gerares uma relação verdadeira e empática. Quando me dizem que a Rádio Comercial é uma Love Brand isso é um orgulho enorme, porque isso não tem a ver só com ganhar as audiências, tem a ver com ganhar algo de muito mais profundo”, afirmou. © LSM Pedro Ribeiro, Mariana Sousa e Nádia Reis mapeamento do movimento dentro do evento, na tradução simultânea ou na experiência dos participantes. Além disso, a IA pode ajudar a melhorar eventos futuros. Tiago Costa Rocha deu o exemplo da análise do controlo de entradas e saídas das salas de um evento, percebendo como decorreu cada sessão, quais foram os temas A IA É ÚTIL, MAS NÃO SUBSTITUI O CONTACTO E A EMPATIA No painel do Clube dos Eventos, intitulado, ‘AI Revolução: artificial ou inteligente?’, Gilda Mendes (Clube dos Eventos) esteve à conversa com Sara Correia (Springevents) e Tiago Costa Rocha (Full Venue). Este último começou por explicar a diferença entre a inteligência artificial (IA) preditiva e generativa: a primeira, que vai fazer poupar tempo, gera informação a partir de informação que já existe; a segunda reside na análise de dados para prever comportamentos e funciona como suporte à gestão e às equipas. Como pode, então, a IA ajudar o setor dos eventos? Sara Correia afirmou que a IA pode ser útil em todas as áreas, otimizando e rentabilizando o tempo, criando textos, analisando e sintetizando propostas e preparando a apresentação ao cliente, por exemplo. E há muitas ferramentas de IA que podem ser utilizadas nos eventos, seja no check‑in, no © LSM Sara Correia, Tiago Costa Rocha e Gilda Mendes WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 56 DOSSIÊ TEMÁTICO mais procurados ou que oradores foram mais ouvidos. “Podemos planear o que vai acontecer e temos a obrigação de olhar para o que aconteceu”, frisou. Sara Correia exemplificou também com um bot desenvolvido na Springevents, que, através da construção de uma história, consegue dar respostas a várias perguntas. E mostrou, em vídeo, como criar um prompt, como criar um assistente para determinada tarefa ou como criar um avatar, que fala várias línguas, para um brilharete numa apresentação. Tiago Costa Rocha lembrou que “estamos na fase da adoção” e defendeu que é preciso ser “aberto” a esta tecnologia e ter capacidade de adaptação e que as lideranças devem deixar os seus trabalhadores testar a IA. Contudo, uma coisa é certa: nada paga o contacto, a mensagem, a empatia com um cliente. Para Tiago Costa Rocha, “a capacidade de interagir com outras pessoas vai passar a ser cada vez mais única”, já que estas soft skills são cada vez mais escassas. “Quem conseguir navegar melhor esta onda de saber fazer uso destas tecnologias e, ao mesmo tempo, não esquecer como se relacionar com uma pessoa, como olhar nos olhos de alguém, vai conseguir singrar.” A IA tem perigos e vantagens e há a necessidade de equilíbrio, alertam os oradores. A legislação ainda é parca, o risco existe e, relativamente às informações, é um ‘work in progress’.CAOS CONTROLADO: UMA QUESTÃO DE PLANEAMENTO O painel “Caos controlado” contou com a curadoria de Gonçalo Castel-Branco (Lohad) e a presença de Angelina Castel-Branco (iMotion), Sandra Santos (Voqin’) e Vasco Teixeira-Pinto (Mossa). Foi uma conversa animada, onde se contaram histórias, casos de eventos com alguns percalços e os oradores explicaram que soluções adoptaram para os resolver. Muitas vezes, há coisas que correm mal nos bastidores, que ninguém nota, que são resolvidas, e o evento é um sucesso. Mais do que pensar no que pode correr bem, é necessário pensar no que pode correr mal e ter um grande planeamento, com planos B, duplicação de material, no caso de avaria, checklists, testes e ensaios. E é necessário ter resistência para pensar em soluções e outros caminhos, às vezes em segundos. A experiência ajuda e dá ferramentas para lidar com o inesperado, sendo certo que há coisas que não se controlam, por muito planeamento que exista. © LSM Vasco Teixeira-Pinto, Angelina Castel-Branco, Sandra Santos e Gonçalo Castel-Branco WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 58 DOSSIÊ TEMÁTICO NATIVOS DIGITAIS NOS EVENTOS: CINCO IDEIAS CHAVE Nascidos num mundo amplamente imerso nas tecnologias, os nativos digitais têm comportamentos distintos, também no contexto dos eventos. E, para os organizadores, compreender esses aspetos torna-se essencial para criar engagement com este público. © LSM O painel “Nativos digitais e os eventos” teve a participação de João Pinto (Terceiro Piso), Leonor Galvão Gomes (Infraspeak) e Miguel Canedo (Liga Portugal) e a moderação de Diana Cunha (Centro de Congressos da Alfândega do Porto) As cinco ideias fundamentais que resumem, na minha opinião, a forma como os nativos digitais se comportam e interagem em eventos são as seguintes: 1. EXPERIÊNCIA DIGITAL E CONECTIVIDADE Antes de mais, há que ter em conta que a experiência começa antes da realização do evento. Cada vez mais, os nativos esperam que os eventos proporcionem uma experiência diferenciadora e integrada com a tecnologia, com recurso a plataformas e apps, como forma de melhorar a imersão OPINIÃO Next >