“Cascais tem todas as condições para ser um destino de referência” no turismo de negócios
08-06-2022
# tags: MICE , Eventos , Turismo , Turismo de Negócios , Meetings Industry , Destinos , Cascais
Três perguntas a Bernardo Corrêa de Barros, presidente do Turismo de Cascais, sobre a retoma do setor.
Na edição de outubro passado a Event Point ouviu convention bureaux nacionais. Nessa altura, Cascais já começava a sentir a retoma e havia a expectativa de que no final de 2022 se voltasse a atingir níveis de negócio pré-covid. Certo é que os resultados dos primeiros quatro meses do ano são já “muito satisfatórios”, como conta Bernardo Corrêa de Barros, presidente do Turismo de Cascais, que vê o turismo de negócios como uma mais-valia e um segmento relevante.
Como é que avalia os primeiros quatro meses do ano para o destino em termos de congressos e eventos?
O ano de 2022 é apontado por todos como o ano da retoma do turismo internacional e é expectável que os resultados de 2022 possam alcançar números perto do pré-pandemia. Nos quatro primeiros meses tivemos números muito satisfatórios. Alguns dizem que, eventualmente, poderá ajudar a quebrar a curva da sazonalidade, sendo que, no que a eventos diz respeito, temos de distinguir muito bem o que são congressos reagendados, de 2020 e de 2021, e o que são congressos que não vêm de remarcações passadas. Mas tanto o centro de congressos como outros venues no concelho de Cascais têm tido bastantes eventos e congressos, sendo que também estamos a ser muito impulsionados, no caso de outros venues que não o centro de congressos, por muitos casamentos. Por outro lado, sente-se alguma retração nas viagens de negócios, portanto, nos eventos corporativos, porque as políticas corporativas continuam a influenciar a procura do turismo de negócios, isto por via também das restrições impostas pelas próprias empresas.
Como antevê o resto ano em termos deste segmento?
Bom, as viagens de negócios representam somente 21% das viagens globais, isto referente a 2019. Mas é importante ressalvar que também é um dos tipos de viagens que mais gasta em muitos dos destinos. Portanto, é essencial para a recuperação de todo o setor turístico ou, como gosto de dizer, para toda a indústria do turismo.
Preocupações vejo algumas, alguns problemas evidentes que estão diretamente ligados com a imprevisibilidade da pandemia. Embora tenhamos a segurança da vacinação, temos notícias de novas pandemias e de uma sexta vaga, que eu não acredito que leve a níveis de restrições iguais às restrições do passado, mas que temos que, naturalmente, ter em conta. Assim como esta imprevisibilidade em consequência da guerra com a Ucrânia, o que faz derivar também para um aumento de preços – o que nos leva também a algumas preocupações, não pelo aumento do preço em si, porque esse é um objetivo de Cascais há muito, que os seus hoteleiros e que os serviços relacionados com a hotelaria possam subir para níveis em que o empresário também possa tirar maior rentabilidade, para poder fazer maiores investimentos e para a criação de emprego mais qualificado.
Relativamente ao segmento, as reservas para eventos e congressos têm sido de níveis muito satisfatórios. Tivemos venues completamente cheios, também muito impulsionados pelos casamentos, que estão a acontecer no concelho de Cascais – o Algarve era muito conhecido como um destino de casamentos, mas Cascais também está a ser alvo de muitas reservas de casamentos por parte de estrangeiros, o que nos dá muito alento.
Relativamente ao turismo de negócios como um todo, é naturalmente uma grande mais-valia e tem a vantagem de não ser sazonal. E Cascais tem todas as condições para ser um destino de referência em termos de turismo de negócios. Para estes venues que os recebem, e a preços mais elevados, chegando-se a esta normalização de preços, prevê-se um investimento nas infraestruturas dos próprios venues, que leva à captação de mais e melhores eventos e reuniões e, consequentemente, mais visitantes de negócios para Cascais. Temos sempre que ter em conta que o visitante de negócios pode ser o nosso turista de amanhã. Portanto, naturalmente, é muito relevante e estamos muito expectantes com o desenrolar desta segunda metade do ano, que se prevê com níveis muito satisfatórios e, provavelmente, com níveis superiores a 2019.
Com a retoma, quais são os principais desafios para o destino no que diz respeito ao segmento?
Os principais desafios para o destino também estão a ser verificados por este mundo fora. O maior desafio é darmos por terminada esta pandemia, que tanto impacto teve no turismo – provavelmente, a indústria mais afetada –, mas que também trouxe de mudanças ao mundo dos congressos e dos eventos em geral. A pandemia mudou as prioridades das empresas, relativamente aos congressos e à presença nos congressos; mudou a necessidade de compatibilizar o trabalho com a vida pessoal, que é hoje imperativo para empregadores e trabalhadores; mas também mudou o mundo corporativo, que descobriu o zoom; o setor dos serviços, então, mudou visceralmente e cortou radicalmente nos custos.
Mas também aqui acho que existe uma oportunidade de ouro para Portugal. É sabido que hoje, para destino de férias, e para eventos e congressos, que as pessoas e as empresas procuram territórios mais espraiados, com uma menor sensação de pressão turística, com proximidade à natureza, com políticas de sustentabilidade claras e visíveis para quem as procura no momento da marcação da sua viagem ou do seu evento. E aqui Cascais tem cartas para dar em termos de sustentabilidade e das boas práticas de sustentabilidade. Somos ‘green destination’, temos o nível ‘ouro’ e estamos a trabalhar para chegar ao nível ‘platina’.
Outra oportunidade de ouro é que, transformando-se os eventos em eventos híbridos, penso que a indústria dos eventos tem muito a ganhar com esta mudança, porque existem oportunidades claras de as empresas ganharem muito dinheiro com a parte virtual do congresso, porque existem novas oportunidades de patrocínios, novas oportunidades para se venderem muitos bilhetes, assim como para toda a indústria que gravita à volta da construção de stands virtuais, da parte de design gráfico, a nível da web e por aí fora. Portanto, acredito que existe uma série de oportunidades, juntando-se também uma série de congressos que não cabiam em Portugal pela sua dimensão. Reduzindo o número de participantes físicos e aumentando o número de participantes virtuais, passamos a ter capacidade de concorrer a congressos que, de outra forma, não viriam para Portugal.
Outra preocupação e outro desafio grande tem a ver com a mão-de-obra. A crise de mão-de-obra e a captação de talento é uma preocupação grande para a indústria do turismo, e para a dos eventos não será exceção.
Penso que estes são os grandes desafios para o ano de 2022. Cascais está a preparar-se e vamos lançar até ao final do ano um novo produto, uma nova marca para os eventos, que estará centrada na criação de hubs específicos, que juntam diferentes venues, que passarão a trabalhar em conjunto para conseguirmos captar congressos de maiores dimensões. Um bocadinho à imagem do que é Las Vegas, que recebe congressos para 50 mil pessoas e em que os seus participantes ficam a dormir em diferentes hotéis, que assistem a conferências em diferentes hotéis, em diferentes venues, em diferentes centros de congressos, mas que continuam dentro do mesmo congresso. Vamos fazer isto em Cascais, estamos já a trabalhar e estamos próximos da fase de lançamento. Portanto, face aos desafios, a pandemia também nos fez olhar para oportunidades dentro da indústria dos eventos, para que consigamos desta forma captar mais e melhores eventos, tentando encontrar novas formas de chegar aos decision makers para que o congresso se possa realizar em Cascais.
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