Inflação, pessoas, incerteza e emoção, as palavras que farão parte dos eventos em 2023
02-02-2023
# tags: Eventos , Turismo de Negócios , Meetings Industry , Experiências
Não parece, mas o euro já tem 21 anos. Já temos pessoas a trabalhar em eventos que nunca viram o escudo.
Nestes 21 anos, assistimos a índices de crescimento de preços perto do 0. Com isso, taxas de juro favoráveis que incentivaram criação de empresas e aquisição de habitação, bem como créditos ao consumo. Agora, com taxas de inflação superiores a 8% no final de 2022, que impactos teremos nos eventos?
Fonte: inflation.eu (https://www.inflation.eu/en/inflation-rates/portugal/historic-inflation/hicp-inflation-portugal.aspx)
Em primeiro lugar, nos custos das matérias-primas, transportes, licenças e comunicações, entre outros. Seguem‑se os custos de financiamento para quem os tem ou pensa em optar por esta via. Depois de 2020, 2021 e parte de 2022 com a atividade muito reduzida, com necessidades de tesouraria, pedir empréstimos nesta fase é “caro” e difícil.
O processo inflacionário não termina de um momento para o outro. Mesmo que estanque, demora a “arrefecer” e a taxa de juro não ficará pelos níveis de janeiro de 2023. É uma realidade com que teremos de viver nos próximos anos. Na Economia, taxas de juro perto de 0 são a exceção, não a regra.
Entramos na perspetiva dos recursos humanos, as pessoas. Há espaço para o aumento de remunerações a acompanhar a inflação? Num segmento com problemas de captação e retenção de talentos, com precariedade, ignorar esta questão poderá resultar numa maior taxa de saída para outras áreas por parte dos profissionais da área, e na continuação da dificuldade em recrutar, algo a que se assistiu em 2022.
Nos eventos, ouvimos e lemos a todo o momento que as pessoas são o centro, o foco. Será o setor capaz de as valorizar, remunerar e criar condições para ficarem, neste contexto de aumento de custos? E não sendo possível fazê-lo financeiramente, há oportunidade para o “salário emocional” em novos modelos de trabalho?
A ausência, ou escassez de pessoas, cria incerteza. Com um final de 2022 com muitas oportunidades e eventos a acontecer, existiu também pressão, menos tempo de preparação, dificuldades em gerir espaços, disponibilidades de fornecedores, e fechos de projetos “em cima da hora”.
Se juntarmos a isto a incerteza dos orçamentos, dos custos e margens, 2023 será um ano de muitos pontos de interrogação, pois se temos uma área que está a ficar pujante de novo, do lado da procura, temos do lado da oferta uma maior dificuldade em acompanhar.
Diz a teoria económica que “não há problema”, entram mais empresas, aumentam-se preços, o mercado regula. Mas será assim no setor dos eventos? Teremos capacidade de aumentar a oferta rapidamente, com recursos com formação de qualidade? Haverá, em toda a cadeia de fornecimento de serviços, capacidade de crescimento rápido?
A incerteza cobre também a questão do tipo de eventos que vão ser criados: serão para colaboradores e parceiros ou já mais abertos à comunidade? Serão focados no glamour ou na sustentabilidade, esse chavão que esmorece assim que um evento acaba e vemos o desperdício gerado? Terá a inovação como pano de fundo ou a ligação emocional, o networking pessoal?
Terão ostentação ou serão comedidos para não serem mal-entendidos num contexto económico difícil para muitos cidadãos? O que é que os clientes vão procurar e, acima de tudo, o que é que os participantes valorizarão?
Finalmente a emoção. A palavra que acompanha o objetivo e o resultado esperado dos eventos: causar emoção (positiva espera-se).
Como causar emoção que leve as pessoas a serem impactadas num evento, numa altura onde somos bombardeados de conteúdo e nos tornamos mais resistentes a nos emocionarmos? O que é que os eventos podem trazer de novo para levar as pessoas a participarem de “alma e coração” e não estarem apenas a ver os feeds dos telemóveis enquanto assistem a uma palestra? Teremos espaço para troca de contactos, para a criação de oportunidades, para a tão falada humanização dos eventos?
Ficaram mais perguntas em aberto do que respostas. Depois de em 2020 e 2021 termos uma pandemia, e de em 2022 uma guerra em fevereiro, a dúvida é a nossa única certeza para 2023. Mas existe um conjunto de questões do lado da oferta, de desafios de rentabilidade, de gestão das empresas que oferecem serviços na área dos eventos, que não existiam nos últimos anos.
Que consigamos todos que o setor cresça sustentadamente, que exista espaço para todos, porque a criação de valor é o objetivo final de uma (boa) estrutura económica.
Um ótimo 2023!
© Nuno Seleiro Opinião
CEO da Asserbiz