Sustentabilidade: “O que podemos fazer agora afeta o nosso futuro”

Entrevista

14-02-2024

# tags: Venues , Conventa , Sustentabilidade , Ljubljana

A Conventa esteve à conversa com Maja Vidergar, do Cankarjev dom, venue que vai acolher a cerimónia de entrega dos prémios Meetings Star.

Maja Vidergar é especialista em vendas e marketing de congressos do Cankarjev dom – Centro de Congressos de Liubliana. Formada em Geografia e Antropologia Cultural, é uma forte defensora da proteção ambiental, da sustentabilidade e da economia circular, além de ser uma profissional experiente na indústria das reuniões.

Quando o tema é sustentabilidade, passar das palavras à ação não é fácil. E Maja Vidergar entende que é preciso “sair da nossa zona de conforto e gerir as coisas de forma diferente” e que “a forma como implementamos eventos e reuniões deve seguir um novo caminho sustentável”. Defende também o investimento em melhorias e acredita que, abordada do ângulo correto, a sustentabilidade também pode gerar dinheiro e ajudar a aumentar as receitas de um evento. “E isso dá-me o conforto de que as coisas acabarão eventualmente por mudar para melhor”, frisa à Conventa.

De acordo com Maja Vidergar, “todos temos consciência de que o nosso modo de vida deve mudar se quisermos sobreviver neste planeta”. Admite que afirmar os factos desta forma talvez “seja um pouco melodramático”, mas passar o limite de aquecimento global tem efeitos “devastadores” no planeta, como secas em grande escala, fome, extinção de espécies, perda de ecossistemas inteiros e de terras habitáveis, “empurrando mais de 100 milhões de pessoas para o limiar da sobrevivência”. Por isso, considera que todos devem contribuir para melhorar a situação. “E há pouco tempo... O que podemos fazer agora afeta o nosso futuro.”

Reduzir a pegada de carbono e fazer escolhas mais ‘verdes’


E como é que a sustentabilidade pode ter impacto no orçamento de um evento? “O custo direto da implementação de formas sustentáveis é mais elevado... Mas a sustentabilidade não tem de significar apenas a compra de alimentos orgânicos e materiais caros”, afirma Maja Vidergar, para quem é possível “reduzir significativamente as pegadas de carbono e de resíduos com ações sustentáveis”.

Entre as sugestões, indica o repensar das aquisições (alimentação, decoração, equipamento), a redução onde for possível (trocar a água engarrafada por água da torneira e incentivar os participantes a trazerem as suas próprias garrafas de água, por exemplo), o tornar-se digital (sinalização digital em vez de sinais e cartazes impressos, e uma comunicação sem papel) e o reutilizar (uniformes, mobiliário, acessórios e equipamento).

“Defendo vivamente um sistema de recompensas a nível da União Europeia para os venues ou organizadores que realizem eventos/reuniões com uma pegada de carbono reduzida – para ser sincera, não existem eventos com pegada de carbono zero, apesar de todos os nossos esforços”, lamenta.

No que toca a eventos internacionais, as medições revelam que mais de 80% da pegada de carbono é criada pelos transportes. Mas será que os efeitos sociais positivos compensam a pegada de carbono? Maja Vidergar acredita nos eventos presenciais e nos eventos híbridos, especialmente quando os últimos “são uma forma de reduzir a pegada de carbono e de fazer escolhas mais amigas do ambiente”, ou seja, menos viagens de carro ou de avião.

“Talvez devêssemos voltar a organizar eventos mais pequenos e regionais (facilmente acessíveis através dos transportes públicos e dos caminhos-de-ferro) e passar a organizar eventos grandes e globais apenas de dois em dois ou de três em três anos. Não acredito que os créditos de compensação de carbono possam transformar magicamente o nosso evento num evento neutro em termos de carbono.”

“Aplicar a mudança necessária”


Para Maja Vidergar, “um venue sustentável não contribui de forma alguma para o aumento da pegada de carbono” e “todos os esforços e práticas devem ter como objetivo reduzir os valores atuais”. E isso significa “aplicar a mudança necessária”. Assim, os venues devem ter em conta, pelo menos, cinco áreas nos esforços de serem mais sustentáveis: “energia, água, resíduos, aprovisionamento e projetos comunitários”.

O “dinheiro” e o “conhecimento” são os principais desafios quando se trata de criar um venue sustentável. “Os custos iniciais são mais elevados, mas devemos olhar para o panorama geral. É o investimento para o futuro”, sublinha Maja Vidergar, que, no capítulo do conhecimento, acredita que “quanto mais soubermos, melhor podemos utilizar o nosso conhecimento e, com mais conhecimento, podemos tomar as decisões corretas”, que podem “ajudar a reforçar a notoriedade e a confiança na marca”. Acima de tudo, a comunicação com os clientes “deve ser transparente (factos e números) e verdadeira”, para que a cadeia de confiança não seja quebrada.

Para Maja Vidergar, os clientes estão, de ano para ano, “mais conscientes” dos problemas relacionados com as alterações climáticas, especialmente depois da pandemia. “Atualmente, tornou-se mais importante do que nunca que as empresas se comportem de uma forma mais sustentável e ecológica. Mas será que os organizadores selecionam um local apenas com base nas suas credenciais ecológicas ou sustentáveis? Infelizmente, não. Os organizadores veem o compromisso ecológico de um venue como uma vantagem e não como uma necessidade. Os critérios de seleção continuam a basear-se no formato e nos objetivos de um evento.”

A terminar, Maja Vidergar conta que, de acordo com as reservas existentes, 2024 vai ser um “ano de crescimento” para o Cankarjev dom; “o número de eventos vai corresponder aos níveis anteriores à pandemia e estima-se que cresça ainda mais”, além de esperarem também “um ano forte” ao nível das reuniões. Mas, ressalva, estão “cautelosamente otimistas”, tendo em conta o aumento da incerteza económica (inflação, desafios em termos de fornecedores e de staff, ameaça de recessão).