Autódromo Internacional do Algarve acelera na via da sustentabilidade

Entrevista

18-02-2025

# tags: Algarve , Desporto , Venues , Eventos , Sustentabilidade

A sustentabilidade é uma prioridade para o Autódromo Internacional do Algarve, que tem implementadas várias medidas amigas do ambiente.

O Autódromo Internacional do Algarve (AIA) alcançou recentemente a certificação ISO20121, relativa à gestão de eventos sustentáveis, o que veio reforçar o compromisso do circuito com a sustentabilidade.

Ser mais sustentável é um objetivo e uma prioridade, “desde o início da construção do autódromo e até hoje, porque temos noção de que a sustentabilidade económica, social e ambiental é importante para a comunidade, para os nossos clientes e para nós enquanto vantagem competitiva no nosso mercado”, começa por explicar Jaime Costa, CEO do AIA.

O responsável acrescenta que o circuito sempre reconheceu a necessidade de um compromisso a longo prazo “no que diz respeito ao desenvolvimento e comportamento sustentáveis, de forma a garantir um equilíbrio entre a economia, o meio ambiente e a sociedade”.

Jaime Costa refere que, “além do próprio autódromo ter sido objeto de Avaliação de Impacto Ambiental que se refletiu na sua construção”, há várias outras medidas que têm vindo a ser incluídas no circuito e nos grandes eventos.

Entre as medidas estão a instalação de 27 mil painéis solares, “que geram 6,1 megawatts de energia por ano”, que reduzem as emissões de CO2 em 1,2 toneladas; o controlo remoto de luzes em vários locais do circuito, “de forma a segmentar e a controlar a utilização excessiva de consumos de energia”; e o reaproveitamento de água “para a irrigação das áreas verdes”.

Mas há mais: os pneus e consumíveis são reciclados, “com 30.000 pneus reutilizados no circuito e mais 100.000 enviados para reciclagem”; são utilizadas scooters elétricas no paddock; “a separação de resíduos é feita de forma rigorosa”; os bilhetes para as grandes provas “são todos digitais”; existe uma parceira com o Banco Alimentar contra a Fome do Algarve, para onde são doados os alimentos que sobram dos grandes eventos (a saber que, em 2024, foi feita uma entrega de “mais de uma tonelada de alimentos”); entre outras medidas.

Preocupação em “reduzir ao máximo a pegada ecológica” é cada vez maior


Há também regras para as equipas e uma delas recai sobre a poupança de água. “As equipas têm de utilizar produtos específicos, que não obrigam à utilização excessiva de água, na lavagem dos camiões”, exemplifica Jaime Costa, que adianta que as equipas colaboram na adoção de boas práticas.

“Há cada vez mais uma preocupação acrescida por parte das equipas e organizações dos grandes eventos desportivos, em reduzir ao máximo a pegada ecológica. Existem já normas muito claras e internas, implementadas, até pelas federações, que ajudam a que todos estejam já mais disponíveis a aceitar e a cumprir as regras neste sentido. Um dos melhores exemplos é a regulação do consumo de água pelas equipas nas nossas instalações, para sermos agentes ativos na redução dos consumos no Algarve.”

Neste caminho da sustentabilidade há desafios e, de acordo com Jaime Costa, o maior de todos “é conseguir garantir que todos, num número elevado de pessoas, cumpram as normas”. É que, apesar de estarem informados, “há sempre quem, por uma questão de hábito, não esteja muito familiarizado”.

O responsável considera também que “há ainda alguns pontos em que o próprio sistema nacional não está totalmente preparado para esta nova abordagem, ainda se encontram em desenvolvimento para uma melhor estrutura capaz de dar resposta a eventos de grande dimensão, como é o caso, por exemplo, da recolha e separação do lixo”.

Clientes e fornecedores alinhados com práticas sustentáveis


O autódromo promove a realização de eventos sustentáveis e os clientes dão importância a esse fator. “Mesmo a nível internacional, que são os nossos maiores clientes, há muita essa preocupação”, conta Jaime Costa.

“Entre os promotores dos eventos ou até mesmo as grandes marcas, como a Ferrari, Porsche, Mercedes, etc., procuram locais para os seus testes ou eventos que tenham práticas sustentáveis” e não só durante o período do evento, mas que também “correspondam às suas políticas-base, de sustentabilidade no dia-a-dia de operação do circuito, ao longo do ano”. “Diria mesmo que, para muitos dos nossos clientes, é condição obrigatória”, sublinha.

Neste processo, é preciso encontrar também fornecedores com práticas alinhadas com os objetivos do AIA. “Procuramos sempre promover junto das partes interessadas a consciencialização para a sustentabilidade, através da disponibilização da informação necessária”, refere Jaime Costa, que acrescenta que a grande maioria dos fornecedores do circuito já adotou também “muitas das nossas medidas e práticas de sustentabilidade, de forma a contribuir para uma menor pegada”.

Além disso, o autódromo, ao privilegiar o trabalho com fornecedores locais, está também “a condicionar, logo à partida, que alguns fatores de sustentabilidade sejam incorporados nas nossas compras e parcerias”.

“Desportos motorizados de alta competição podem coexistir com a consciência ambiental e social”


A implementação de um Sistema de Gestão de Eventos Sustentáveis (SGES) e a certificação ISO 20121, recentemente alcançada, revelam-se “um fator relevante e de competitividade, perante outros circuitos e espaços de eventos”, além de serem também “um compromisso de participar na mudança na indústria dos desportos motorizados”.

“O caminho para a certificação foi um desafio para todos.” O trajeto teve início com o fundador Paulo Pinheiro, “que exigiu a análise de múltiplos aspetos das operações no AIA”, no sentido de “criar uma responsabilidade coletiva”. “Não nos limitámos a receber um certificado, mas sim a cultivar uma nova cultura organizacional, pensando na sustentabilidade, e que teve uma grande adesão em toda a empresa”, continua.

No AIA existe a “perfeita noção de que a nossa certificação não é um ponto de chegada, mas sim um trabalho contínuo de melhoria e de gestão responsável de eventos”. Trata-se de “um reforço na nossa ligação às comunidades locais” e de uma demostração à indústria de que “os desportos motorizados de alta competição podem coexistir com a consciência ambiental e social”.

© Maria João Leite Redação