Nervo: “Estamos ansiosos por voltar a juntar pessoas”
27-12-2021
Entrevista a Tiago Tarracha e Miguel Pires, managing e creative partner da Nervo, respetivamente.
Parte do WYgroup, a Nervo celebra em 2022 quatro anos de existência. O percurso começou de forma dinâmica, mas a pandemia obrigou a empresa, e todas as outras, a reinventar-se. O caminho tem sido de aprendizagem e de crescimento constante, e as expectativas não esmoreceram. “Acreditamos que o próximo ano será de crescimento”, dizem Tiago Tarracha e Miguel Pires, managing e creative partner da Nervo, respetivamente, que em entrevista à Event Point fazem um retrato do percurso da empresa, contam como foi a readaptação aos novos tempos e a forma como se prepararam, falam dos desafios da indústria e das expectativas para o futuro.
A Nervo faz em breve quatro anos de atividade. Como pode descrever este percurso?
Acreditamos que o nosso dia-a-dia tem feito jus ao nome que escolhemos. E ainda bem. Se nos dissessem que em metade do nosso percurso de atividade não íamos poder fazer aquilo de que mais gostamos – que é estar perto das pessoas – não íamos acreditar. Mas a verdade é que temos conseguido trilhar um caminho repleto de aprendizagem, de crescimento constante e com a celebração de muitas vitórias, mesmo com todas as restrições que os dois últimos anos nos impuseram. Temos tido o privilégio de trabalhar marcas com que nos identificamos e que estão dispostas a arriscar connosco, e uma equipa que tem crescido connosco, algo que muito nos orgulha.
Que momentos pode destacar deste caminho?
Temos, sem dúvida, alguns momentos especiais e que nos marcaram enquanto agência. Ter chegado ao mercado em 2018 e, nesse mesmo ano, conseguir conquistar a ativação e toda a produção da Moche num dos maiores festivais de verão do país – o MEO SW – foi incrível. Desde a criação do novo palco da marca – o Moche Ring – à a ativação no campismo, passando pela ativação no recinto, à decoração... tudo! Foi a primeira prova de que estávamos efetivamente a fazer algo certo. Outro projeto que, sem dúvida, nos enche de orgulho foi o ‘HPV e Quê?’, desenvolvido para a Liga Portuguesa Contra o Cancro [LPCC]. Um dos maiores roadshows nacionais dos últimos anos, que correu dezenas de escolas pelo continente e ilhas para alertar para os perigos do HPV. Entre a criação de uma música em parceria com um artista que ocupava os tops nacionais, desenvolvimento de experiências em AR e VR, conteúdo de social media e centenas de quilómetros percorridos, fomos ainda capazes de adaptar este formato à realidade que atravessamos e fazer uma segunda edição totalmente digital. Valeu-nos ainda o nosso primeiro prémio criativo no CCP. E, por fim, não podíamos deixar de referir a festa do nosso primeiro aniversário, que já vai longe, em que fomos capazes de juntar artistas de diferentes meios – e até mesmo de outras agências – para criar um manifesto visual com uma mensagem muito forte: ‘Less Bark, More Bite’. Que é como quem diz... fala menos e faz mais, algo que se viria a tornar na assinatura da agência, materializando a nossa atitude perante o mercado. Com este evento fomos ainda capazes de fazer uma angariação de donativos substancial a favor da UPPA – União Para a Proteção dos Animais, materializando assim o impacto social que procuramos em tudo o que fazemos, parte do nosso ADN.
Qual o evento mais desafiante e que é uma referência para a agência?
Possivelmente o anterior [o ‘HPV e Quê?’], pela sua dimensão, complexidade de produção e impacto a nível nacional. Montar uma ação que decorre ao longo de meses pelo país fora e com produção de conteúdo constante, conciliando artistas, escolas, a agenda da LPCC e toda a componente tecnológica que a suporta é um desafio hercúleo, que se tornou ainda mais interessante quanto tivemos de transformar o roadshow presencial em roadshow digital devido à pandemia, atingindo de igual forma todos os objetivos do projeto. Continua a ser uma das nossas grandes referências e algo que ambicionamos repetir, assim que possível.
Nestes quatro anos de atividade, aconteceu o impensável e uma pandemia afetou o mundo inteiro, tendo um forte impacto na indústria dos eventos. Como se reinventaram e resistiram nestes tempos difíceis?
Tal como grande parte das agências que trabalham em eventos, tivemos que nos adaptar ao digital e montar uma estrutura capaz de suportar lives constantes. Temos o privilégio de ser parte do WYgroup e de ter um anfiteatro à disposição dos nossos clientes, que nos permite criar estúdios de transmissão sempre que necessário. Mas não quisemos ficar por aqui. O contexto pandémico levou-nos a perceber como é que poderíamos continuar a trabalhar a cultura num contexto digital e foi com este pressuposto que criámos o ‘Moche Sai do Quarto feat. Putzgrilla’, um projeto que desafiou dezenas de talentos escondidos nos seus quartos pelo país fora – o background de mais stories e tiktoks durante toda a pandemia – a partilharem o seu talento com o mundo, com a premissa de que poderiam vir a cantar e dançar no próximo hit da banda. Desde a gestão de todos os conteúdos nas redes sociais à produção do videoclipe que fechou este capítulo, foi um projeto super desafiante, porque aconteceu sempre à distância, mas perto de todos os que dele fizeram parte.
Como se prepararam para o 'novo normal' e como está a decorrer a retoma?
Sentimos que o mercado está com tanta vontade de voltar para o terreno como nós, agência. Marcas, produtoras, fornecedores, público. Se em certa altura temíamos que pudesse haver um receio por parte das pessoas de se voltarem a juntar, hoje em dia percebemos que a forma como o podemos fazer já se tornou rotina. Estamos preparados para um 2022 avassalador em termos de trabalho, mas aprendemos muito durante o confinamento e sabemos que podemos continuar a criar e a fazer acontecer ao vivo num mercado que muda de regras a cada quinze dias. A pandemia trouxe também novas oportunidades. Há todo um novo mundo de eventos a acontecer no digital que vão para além dos live streamings e nós estamos ansiosos por encontrar o primeiro cliente que queira experimentar entrar connosco no metaverse e criar eventos em ambientes virtuais com base em NFT, em plataformas como Sandbox ou Decentraland, que atraem cada vez mais público e investimento.
Quais os principais desafios que atualmente se apresentam à indústria dos eventos?
Se antigamente tínhamos vários planos de produção para dar respostas aos vários cenários, depois de 2020 estamos todos formados em segurança, higiene e saúde pública com atualizações quinzenais. Este é o maior desafio: o planeamento antecipado ficou cada vez mais difícil. Por outro lado, os custos de materiais e matéria-prima está a subir, seja dos materiais para stands, dos custos de catering, assim como os novos custos de planos de contingência. Há aumentos na casa dos dois dígitos, que entre a orçamentação e a adjudicação podem inviabilizar projetos.
O que faz da Nervo uma agência diferenciadora?
Sem dúvida, o nosso drive. Colocamos o entretenimento ao serviço das pessoas; as pessoas com quem os nossos clientes querem falar, sendo que as suas marcas aparecem na equação como algo que acrescenta valor e não como um causador de entropia, como se vê frequentemente na ativação de marca. O facto de não nos cingirmos a formatos ajuda neste objetivo, sendo que, por vezes, é difícil explicar o que fazemos, porque não são só eventos, não é só ativação de marca, é tudo o que o entretenimento toca e que possa gerar impacto social e cultural. Tão depressa podemos estar a ativar num festival de verão como a realizar um videoclipe ou a criar uma mini-série. Esta agilidade é claramente um fator de diferenciação.
Como vão assinalar esta data festiva?
Temos algumas ideias na gaveta que a pandemia não nos deixou pôr em prática em 2020; que, curiosamente, se tornam agora ainda mais interessantes, porque estão relacionadas com persistência. Estamos ansiosos por voltar a juntar pessoas, isso é certo.
Quais as expectativas para o futuro da empresa?
Acreditamos que o próximo ano será de crescimento. Reforçámos a equipa para estarmos prontos para os desafios que se avizinham e queremos continuar a criar ações que, independentemente do formato, se destacam pelo impacto cultural e social que causam. Outro dos objetivos que temos para o próximo ano é o de encontrar clientes que queiram trabalhar connosco de uma forma mais consolidada, com um planeamento estratégico partilhado e ações pensadas a longo prazo – sejam eles clientes atuais ou futuros. Sabemos que os eventos e a ativação vêm habitualmente no fim da linha, mas a verdade é que vivemos cada vez mais num ambiente de comunicação, em que são as ideias que vingam e não os formatos. Pensar-se uma estratégia de comunicação a partir de um filme de TV, que resulta em declinações, é algo que pertence ao passado. E é isso que queremos provar aos nossos clientes, demonstrando-lhes que uma maior fatia do seu investimento deve ser aplicada no contacto direto, próximo, com qualidade, e que esta pode ser uma ferramenta principal e não uma declinação.
© Cláudia Coutinho de Sousa Redação
Editora
© Maria João Leite Redação
Jornalista