Nuno Lamas: “É aqui, nos eventos, que eu tenho de estar”
04-01-2024
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A certeza de que é no setor dos eventos que tem de estar surgiu a Nuno Lamas no decorrer de um evento, nos primeiros anos como profissional.
A esta área chegou depois de um primeiro contacto com a organização de eventos; esse ‘clique’ despertou em Nuno Lamas a vontade de enveredar por este caminho. Na mudança de século, mudou também a bússola e hoje é brand activation manager na Caetsu Two.
A história começa na época desportiva de 1999/2000. Numa passagem pelo Boavista Futebol Clube, Nuno Lamas teve “a feliz oportunidade de presenciar e participar na organização dos jogos da Champions League. Esta experiência fez evidenciar capacidades inatas e fundamentais na área dos eventos: organização, método, planeamento detalhado, entre outras”.
Para Nuno Lamas, “o sentimento foi muito positivo”. E, com 22 anos de idade, “entendi que era por ali que queria seguir e evoluir” e isso levou-o a “procurar um projeto que me permitisse crescer na área”. No último semestre de 2000, participou num processo de recrutamento da agência Caetsu, para o departamento de eventos que iria nascer em janeiro de 2001. Foi aceite e acabou “por estar no surgimento do departamento, tendo contribuído para o seu crescimento e desenvolvimento até aos dias de hoje”, referindo também o contributo de todos os que estão e os que por lá passaram.
Na Caetsu Two coleciona momentos marcantes, mas destaca dois eventos, que pelo seu contexto temporal deixaram “tatuados bons ensinamentos e memórias”. Um decorreu quando o departamento de ativação e eventos tinha dois anos de existência (“foi escola”) e o outro já teve lugar na era DC – “Depois Covid”.
Em 2003 e 2004, o departamento foi “responsável pelos principais eventos da Canon Mundial”, prime sponsor do Euro 2004. Recorda a Canon Gala Dinner, que juntou no Coliseu dos Recreios os 700 diretores das Canon de todo o mundo. Tudo foi pensado ao pormenor, da apresentação à música, da decoração floral ao nivelamento de toda a plateia, até ter acrobatas franceses a “mergulharem do teto e a sobrevoarem a dois metros das mesas, o que obrigou a estudos de engenharia para cálculos de força exercida”.
Para Nuno Lamas, este foi um evento muito especial, “pelo que aprendi, pela afirmação e confiança”, destacando-se como um dos mais marcantes “pelo momento que o departamento vivia – de construção, aprendizagem –, pela dimensão, pela responsabilidade da marca, pela especial exigência da cultura japonesa, pelo rigor, pela oportunidade de conviver e absorver tanto com tantas pessoas”. Neste momento, teve a certeza: “É aqui, nos eventos, que eu tenho de estar”.
Outro evento marcante – que, na verdade, foram cinco – foi o primeiro de grande dimensão no pós-pandemia; um evento da Fidelidade. “2022 era ano do Pensar Maior; a Fidelidade pensou em explorar o conceito para além do grande evento que decorre habitualmente na Altice Arena.” O trabalho teve início em finais de janeiro de 2022 e o primeiro evento teve lugar logo em março. Foram cinco eventos em cinco meses, de março a julho. O “Road To Pensar Maior” percorreu os caminhos do Porto, Vilamoura, Coimbra, Santa Maria da Feira e Braga, “um evento por mês em cada cidade, com cinco temas e oradores distintos”. A realização do evento “foi exigente, mas deu-nos muito gozo, pela ansiedade e necessidade vital de voltar aos eventos”, mas também “pela relação de verdadeira parceria, sintonia e respeito com a Fidelidade”, além do contributo dos parceiros envolvidos.
“Cada projeto é um projeto, não há rotinas”
Há vários fatores que o motivam nesta profissão: “a oportunidade de proporcionar experiências, fazer acontecer, trabalhar as emoções, a adrenalina do ‘live’, ser criativo em todos os momentos e áreas/serviços que compõem o evento, pegar num conceito e esmiuçá-lo ao mais pequeno detalhe, desenvolver um storytelling desde o momento zero, em que comunico com o participante, até à sua despedida no evento.” Mas não é só. Sendo esta uma atividade dinâmica, a sua motivação passa também pela “evolução, constante aprendizagem e exploração de novas soluções que visam melhorar a experiência nos eventos”.
E do que mais gosta nesta atividade é que “cada projeto é um projeto, não há rotinas; é uma área dinâmica, com a possibilidade de contactarmos e trabalharmos os mais variados setores”. Nuno Lamas gosta também de “gerir e motivar pessoas” – “dezenas, por vezes, centenas de pessoas, mas onde todos têm um papel fulcral para o sucesso daquilo que durante meses planeaste e idealizaste” – e de arriscar. “Se não tentares fazer diferente, não vais evoluir e vais ficar sempre com a dúvida de como teria sido.”
Em sentido contrário, “penso que todos os profissionais da área já se viram em situações em que ‘mergulham’ num projeto, num briefing aberto sem orientação de budget, gastamos horas, mas estamos entusiasmados, pois se o ‘céu é o limite’ nós conseguimos lá chegar, e... o mais alto que conseguimos ir é à copa de uma árvore”. Ainda assim, ressalva, “não deixamos de trabalhar numa árvore vigorosa, com lindas flores, e o cliente acaba por colher o seu objetivo”.
“Ninguém faz nada sozinho”
Já com mais de duas décadas de experiência, Nuno Lamas vai somando momentos memoráveis. Entre eles, há vários hilariantes, como o que se segue. “Numa gala de entrega de prémios, uma assistente com quem trabalhávamos de forma regular tinha que, a dado momento, entregar um troféu à Mercedes Balsemão, para ela, por sua vez, entregar ao vencedor. A host introduz o prémio em questão, altura em que a assistente devia sair do backstage e levar o prémio. Eu passo-lhe para a mão o troféu e, nesse preciso momento, ela desmaia.” A Nuno Lamas não restou outra solução que entrar em palco “com toda a normalidade” e realizar a tarefa. De referir, acrescenta, que a assistente sofreu uma quebra de tensão; foi prontamente assistida pela equipa da Cruz Vermelha no local e ficou bem.
Tudo não passou de um susto. As coisas não correrem exatamente como planeado é algo que pode acontecer no universo dos eventos. “Por muito que tenhamos um plano b e c para algumas situações, há sempre aquelas coisas que nos fogem ao controlo. Felizmente, até hoje, os imprevistos não foram muitos e os que surgiram foram resolvidos”, frisa.
Nuno Lamas lembra um evento no Terminal de Leixões, uma apresentação de equipa de rally e entrega de prémios. Os convidados já estavam no check-in e no cocktail e a equipa técnica de Ana Moura estava a terminar o soundcheck, num piso diferente. “Eis que o ledwall que tinha sido utilizado durante a tarde, decide apagar-se. No exato momento em que o cliente pede para iniciarmos o encaminhamento dos convidados para o piso do jantar...” Os técnicos puseram mãos à obra para tentar resolver o problema, o que acabou por acontecer, apesar da “correria desenfreada”. Tudo porque equipamentos do catering estavam ligados onde não deviam, apesar dos avisos da equipa…
Quando terminam os eventos, Nuno Lamas gosta de agradecer a todos, sem exceção. Como não consegue comer no decorrer do evento, também gosta, no fim, de ir à cozinha e comer as sobras. No final de um evento para cerca de 1.500 pessoas, que decorreu na Sala Tejo, Nuno Lamas lá foi à cozinha. Já passava da meia-noite, mas, antes de se sentar à mesa, era hora de agradecer à equipa do catering a sua contribuição. “A humildade, alguma vergonha, mas a alegria daquelas pessoas ao ouvir as minhas palavras foi algo único.” A proprietária da empresa de catering que trabalhou no evento, sua amiga, aproxima-se “algo emocionada, dá-me um abraço e apenas diz: ‘não sendo tão visíveis, não é normal eles ouvirem um obrigado do cliente. Ficam sempre esquecidos.’”, recorda.
Por isso, e a finalizar, Nuno Lamas sublinha que “ninguém faz nada sozinho, o sucesso de um evento depende verdadeiramente de todos”.
© Maria João Leite Redação
Jornalista