Reinvent 2024: Really Authentic Memories

Reportagem

10-04-2025

# tags: Reinvent , Eventos , Criatividade

A 25 de outubro reunimos o setor dos eventos na 3ª edição do Reinvent the event. Um dia de partilha, de conhecimento e networking, que contou com a presença de mais de 650 profissionais da indústria.

O Centro de Congressos do Estoril foi mais uma vez palco do Reinvent the event, um evento promovido pela Event Point, dedicado aos profissionais de eventos. Depois de, em 2023, termos feito a radiografia do setor, debatendo alguns dos principais assuntos na agenda, este ano optámos por escolher um tema principal, procurando subordinar a maioria dos conteúdos a esta matéria.

Numa era em que é possível “falsear” tudo, em que proliferam as “fake news”, as realidades alternativas, a inteligência artificial, os eventos têm a capacidade única de criar memórias autênticas. “You cannot fake events”, dizia Colja Dams em entrevista à Event Point, e é bem verdade: o que acontece num evento é real e provoca emoções, memórias. “Really Authentic Memories” foi assim o mote da 3ª edição do Reinvent, que desta vez contou com a organização da Niu Brand Activation.


Nuno Santana, Cláudia Coutinho de Sousa e Rui Ochôa | © Nuno Ramos Photography

Os curadores do Reinvent 2024 foram Nuno Santana (Niu), Manuel Vaz (Expanding), Sónia Brochado (Btrust), Paulo Silver (New Sheet) Diana Cunha (Centro de Congressos da Alfândega do Porto) e Gonçalo Castel-Branco (Lohad). A eles coube a tarefa de, além de moderar os respetivos painéis, ajudar a Event Point na definição do programa e dos convidados.

Além das sessões em plenário, as silent-rooms, os pitches, na 3ª edição contamos com mais um formato, o workshop. Patrick Roubroeks, um dos keynote speakers presente, juntou um grupo de 30 pessoas, que se inscreveram previamente na app, e explorou mais a fundo o tema da criatividade em eventos.


Workshop com Patrick Roubroeks | © Nuno Ramos Photography

Numa continuidade com o ano passado, a Live Sketching fez um mural visual do que foi acontecendo durante o Reinvent.

A área de exposição é sempre uma das mais movimentadas do evento e nesta terceira edição houve um reforço na quantidade de soluções e serviços para eventos. 3cket, Embrace, Evolution Cascais-Estoril, Flamingo Boémio, Flashmat, Immersiv Studios, Imppacto, Interprefy, ISAG, merytu, Palácio de Tancos, Quinta do Roseiral, RedDoor e Rinu foram os expositores que apresentaram as suas novidades durante o Reinvent.

O Reinvent the event – Really Authentic Memories contou com o apoio do Visit Cascais e Visit Portugal e teve como parceiros: Niu Experience Agency, Europalco, Imppacto, Centro de Congressos do Estoril, Adlib Strings, Anetours Travel Solutions, Btrust, CICET – FCVC, Delta, event solutions by mad4ideas, Evolution Cascais-Estoril, Femédica, Food Design Lab, goodbag, HelioPromo, Hello Movement, Hotel Inglaterra, Interprefy, ISAG, LSM Audiovisuais, Maria Joana, Nuno Ramos Photography, Palácio Estoril, Pedaços de Cacau, Pestana Hotel Group, Shake It e Tiger Team.

O apoio à comunicação do evento foi feito pela WA Agency – Agência de Marketing Digital e Publicidade. Revista Líder Magazine e Presstur – Notícias de viagens e turismo foram os media partners deste Reinvent, que contou com o apoio institucional da APECATE (Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos), APorEP (Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo), Capítulo Ibérico da ICCA (International Congress and Convention Association), Capítulo Ibérico da MPI (Meeting Professionals International) e Club.E dos Eventos.


Patrick Roubroeks | © Nuno Ramos Photography

A autenticidade real não existe porque todos trabalhamos em conjunto”

Keynote speaker do Reinvent, Patrick Roubroeks, fundador e diretor criativo da Xsaga, a agência mais premiada nos Bea World, defendeu no evento que a autenticidade não existe e que as ideias devem ser utilizadas enquanto inspiração.

Na talk “From Inspiration to Creation” que promoveu no Reinvent, Patrick Roubroeks começou por defender que todos os dias “criamos momentos” e que “todo o processo criativo tem a sua origem em alguma coisa”. “Não nos lembramos dos dias, lembramo-nos de momentos”, afirmou o fundador da Xsaga, citando o escritor e poeta italiano Cesare Pavese.

Num evento em que o mote foi “memórias autênticas”, Patrick Roubroeks disse que “a autenticidade real não existe porque todos trabalhamos em conjunto” e que todos “usam um bocadinho do talento de cada um”.

Recorrendo a vários exemplos para demonstrar como se sente inspirado pela arte, o diretor criativo da Xsaga inverteu depois a ideia da frase “From Inspiration to Creation” e mostrou alguns dos trabalhos da agência que após serem criados passaram a servir de inspiração em todo o mundo.

Patrick Roubroeks afirmou que “até os maiores criadores” adaptam, lembrando a versão que a cantora norte-americana Beyoncé fez para ‘Blackbird’, tema dos Beatles. “Se Beyoncé, se os Beatles, se Bach não fossem inspirados por outras pessoas esta bonita arte não existiria”, reforçou.

Na opinião de Patrick Roubroeks, “nada é original”, considerando ser normal “roubar de qualquer lugar que seja inspirador ou que dê asas à sua imaginação”.“Devorar filmes antigos, filmes novos, música, livros, pinturas, fotografias, poemas, sonhos, conversas aleatórias, arquitetura, pontes, sinais de trânsito, árvores, nuvens, massas de água, luz e sombras”, explicou.

Patrick Roubroeks defendeu ainda que “não é de onde tiramos as coisas, é para onde as levamos” e que cada um deve “ser autêntico à sua maneira”.


Bernardo Caldas, Tomás Froes, Roberta Medina e Nuno Santana | © Nuno Ramos Photography

Algoritmos: Maestros ou parceiros de dança?

Uma revolução ou apenas uma ferramenta para criar melhores experiências? Afinal, a inteligência artificial é uma aliada ou uma ameaça à criatividade e à diversidade de escolha? O painel “Queremos dançar ao ritmo do algoritmo?”, moderado por Nuno Santana (Niu), com a participação de Bernardo Caldas (Mollie), Roberta Medina (Rock in Rio) e Tomás Froes (Dentsu Creative) debateu algumas das principais questões sobre este tema.

O algoritmo – ou, na verdade, os diversos algoritmos que existem em plataformas, redes sociais e até nas próprias marcas – é, muitas vezes encarado como o “bicho papão”, que dita o que se vê, lê, ouve e pensa. “A nossa capacidade de reagir e de não nos deixarmos influenciar pelo algoritmo está condicionada à nossa biologia e àquilo que somos e nós gostamos da validação e gostamos de coisas parecidas com as coisas que já gostamos. Por isso, aprender a não nos deixarmos ir pelo algoritmo e pelo bicho papão dá trabalho”, considerou Bernardo Caldas, que se assumiu, porém, como “um crente na bondade dos algoritmos e da Inteligência Artificial”.

Para Tomás Froes, “a Inteligência Artificial vai ser de facto uma revolução como foi a da televisão e a da internet e não apenas na área da comunicação, mas também na área da saúde, investigação, da ciência e da economia. Acredita, no entanto, que “uma boa ideia quebra o algoritmo”, apontando como exemplo a campanha do Turismo de Portugal em Times Square, que se tornou viral por si própria: “Correu o mundo. E porquê? Porque não foi a máquina a dizer-me para eu ver, era toda a gente a dizer para eu ver e toda a gente a dizer a toda a gente para eu ver de uma forma que quebrou qualquer código de algoritmo pré-pensado ou pré-planeado. Quando ganha a experiência do evento quebra-se qualquer código e qualquer algoritmo”.

As experiências são, aliás, um dos pontos fortes do Rock in Rio e neste evento, garante Roberta Medina, os algoritmos são uma ferramenta, uma fonte de consulta e não mais do que isso: “Quando a gente olha para um para um line up de um festival, se for exclusivamente pelo algoritmo corre o risco de não vender nenhum ingresso”. Por isso, os seus eventos centram-se, sobretudo, numa curadoria: “Nunca sairia nada diferente se não fosse pelo olhar do humano para o humano”, garante.

O lado humano que é, também, essencial para que a experiência do festival seja vivida ao máximo: “Pode chegar no festival influenciado pelo algoritmo, a pensar em ver alguma atração, uma ativação de uma marca, mas quando chegar lá acabou, porque a potência da energia humana é tão mais forte do que qualquer coisa, é uma sensação muito estranha, como se entrasse num portal, num outro ambiente”.

Uma ideia partilhada por Bernardo Caldas: “No final do dia são pessoas para pessoas. Eu costumo dizer que o truque neste mundo novo da Inteligência Artificial em que a máquina faz quase tudo melhor do que nós, aquilo que nunca vai fazer é ter a nossa capacidade de olhar para o mundo e dizer eu quero que aquilo seja diferente, eu quero ter uma ideia diferente, quero mudar aquilo”.

Tomás Froes acredita que a Inteligência Artificial “não vai substituir nada”: “A AI não preocupa nada, essa só nos ajuda até a criar coisas inspiradas em qualquer coisa. A força da AI de que falámos – e vou simplificar – são milhões de Googles todos a funcionar ao mesmo tempo, o que nos faz ganhar tempo”.


Ricardo Bonacho, Luís Matos Chaves, Joaquim Silva e Sónia Brochado | © Nuno Ramos Photography

Transparência, simbiose e comunicação

Transparência, simbiose, cocriação, colaboração e comunicação foram palavras muito presentes na sessão ‘Os desafios da relação entre fornecedores, agências e clientes’, que contou com Joaquim Silva (Feeders), Luís Matos Chaves (Multilem), Ricardo Bonacho (Imppacto) e Sónia Brochado (Btrust) na moderação.

Luís Matos Chaves referiu que os clientes querem “transparência na relação”, “flexibilidade e agilidade” e ser uma “parte ativa no processo”. E tudo isso obriga a que a sincronização entre a agência e o fornecedor seja “total”. Também Joaquim Silva entende que as cadeias de valor são hoje cada vez mais “pressionadas para responder mais rapidamente e mais agilmente; portanto, o papel entre todos é cada vez mais simbiótico”.

O que se procura cada vez mais nos serviços de catering é cocriação, criatividade, personalização e customização, segundo Ricardo Bonacho, que lembrou que, depois, é a “componente financeira” que acaba por influenciar o resultado final, que pode ser mais criativo, diferenciador ou personalizado.

E os desafios da relação entre fornecedores, agências e clientes, de acordo com o responsável da Imppacto, existem em três dimensões: comunicação, “para gerir as expectativas daquilo que vamos apresentar face àquilo que estão à espera que seja o nosso serviço”; prazos, “o prazo que temos para fazer propostas acaba por não ser nenhum” e quando se fala de comida é preciso tempo; e orçamento, “muitas vezes pretende-se fazer omeletes sem ovos” e assim é difícil “ser criativo, inovador e sustentável”. Defendeu que o catering deve estar envolvido desde o início do processo.

Para Luís Matos Chaves, o desafio é manter o “princípio de excelência”, num contexto de timings apertados e de clientes cada vez mais exigentes. Por isso, toda a cadeia de valor deve ter “disponibilidade e dedicação”. A retenção de talento é também um desafio e lembrou que, nesta área, são precisas pessoas com perfil e aptas para os picos de adrenalina, mas que também é preciso “compensá-las adequadamente”. Afinal, “as pessoas são o maior ativo nesta indústria, portanto, temos de saber cuidar delas”.

Joaquim Silva entende que “tudo se resume a timings, a tempo”; tempo esse que é necessário para procurar soluções disruptivas e sustentáveis. É preciso valorizar o tempo, que é “fundamental”. Em complemento, Luís Matos Chaves defendeu a utilização de ferramentas para que o tempo seja usado de “forma eficiente” e mais transparência nas relações.

Outras ideias deixadas na sessão são que existe uma maior sinergia entre os players da indústria após a pandemia; que os briefings são tanto melhores quanto mais exaustivos forem; que quanto mais transparente, aberta e objetiva for a comunicação entre as partes, mais fácil será gerir as expectativas; e que a ética e a conduta dos parceiros são importantes, tal como a seriedade e a confiança.


Paulo Amaral, Tiago Tarracha, Karla Campos e Paulo Silver | © LSM

Arriscar ou jogar pelo seguro?

Outro dos temas em análise no Reinvent the event 2024 estava relacionado com o risco: o que é, quando é que vale a pena arriscar numa ideia original e quando é que se deve jogar pelo seguro, o que pode ser feito para mitigar o risco. ‘Risco ou não risco? Eis a questão!’ contou com a participação de Karla Campos (Live Experiences), Tiago Tarracha (Nervo), Paulo Amaral (Made of You) e a moderação de Paulo Silver (New Sheet).

Bilheteira, conseguir o artista para o evento, os diferentes processos de licenciamento pelo país fora – “há câmaras em que é mais difícil conseguir o licenciamento e não se sabe porquê”, de acordo com Tiago Tarracha –, e fazer com que a ideia criativa cumpra os objetivos foram os principais riscos apontados.

Paulo Amaral lembrou também que é preciso haver quem acredite na empresa e que saiba que as coisas têm ‘pernas para andar’. “É sempre um grande desafio convencer uma autarquia ou um município a permitir fazer um evento de grande dimensão num espaço público”, exemplificou.

Um outro fator de risco é a falta de tempo. “Agora fazemos tudo num ritmo mais acelerado”, referiu Tiago Tarracha, que contou que, por vezes, há ideias criativas e diferenciadoras, mas pouco tempo para a produção as implementar. Mas, com mais ou menos descanso, “tudo se faz”.

Karla Campos contou que anda “num trapézio, mas com rede”, lembrando que, perante os riscos associados aos eventos ao ar livre, há sempre um plano B. “Não conseguimos montar um evento sem pensar sempre num plano B”, complementou Paulo Amaral.

O risco tem de ser calculado, porque o lado da balança onde está responsabilidade de pagar à equipa e de cumprir os compromissos assumidos pesa muito. Há sempre dúvidas, claro, especialmente quando já foi investido tanto trabalho. Mas, perante o esforço e o dinheiro investido, mais vale entregar um evento de qualidade e fazer tudo bem feito, até para defender a reputação, apontaram os oradores.

Perante o desafio de decidir arriscar tudo por uma ideia original que pode falhar ou seguir uma fórmula que já funciona, mas que não tem o mesmo brilho, Karla Campos assumiu que joga pelo seguro. Paulo Amaral também, embora reconheça que na sua equipa há sempre quem o leve por outro caminho. “O que temos de fazer é analisar com responsabilidade”, sublinhou.

“O risco deve ser calculado da maneira que cada um entende”, frisou, em jeito de resumo, Paulo Silver. “Superação, valores e coragem” foram as palavras destacadas pelo moderador, para quem não se deve “nunca ter medo de arriscar”.


Bartel Van Iseghem |© LSM

“A mentalidade criativa não é mais do que uma escolha”

Fundador da agência MeetMarcel e partner da 62Miles defende que o pensamento criativo deve ser treinado.

“The Creative Mindset” foi o tema da keynote que Bartel Van Iseghem levou à terceira edição do Reinvent the event, onde defendeu que “a mentalidade criativa não é apenas uma vantagem competitiva para uma agência ou para o nosso setor como um todo, mas também uma forma muito interessante de viver a vida”.

Bartel Van Iseghem sublinhou que quando se fala de pensamento criativo há quatro aspetos a ter em conta: “ser sempre curioso, abraçar as dúvidas, ser sempre ágil e [abraçar] a beleza desconhecida”.

Citando Leo Burnett, “o padrinho da indústria da publicidade”, o director da MeetMarcel disse “acreditar firmemente” que “a curiosidade pela vida em todos os seus aspetos continua a ser o segredo das grandes pessoas criativas”.

Ao mesmo tempo, explicou, “se quisermos ser disruptivos, se quisermos reinventar normas e reinventar coisas que já existem, as dúvidas serão uma companhia no nosso caminho”.

Segundo Bartel Van Iseghem, “a sociedade muda drasticamente e as situações económicas mudam muito, muito rapidamente, à velocidade da luz”. Por isso, afirmou, “ser ágil nestas alturas é muito importante se quisermos ser criativos, bem como pensar de forma divergente”.

Aos mais de 650 profissionais dos eventos presentes no Reinvent, o fundador da MeetMarcel explicou que para se ter uma mentalidade criativa é também preciso “libertar o desconhecido”.

“Muitas pessoas pensam que querem ser cada vez melhores numa determinada coisa. Eu penso que é preciso interessar-se pelo maior número possível de aspetos e abrir a mente a várias influências”, disse, para depois rematar: “Para mim, a mentalidade criativa não é mais do que uma escolha”.


Pedro Ribeiro, Mariana Sousa, Nádia Reis e Manuel Vaz | © LSM

Emoções e autenticidade: o segredo para criar memórias

“As emoções são uma arma poderosíssima em eventos”. A afirmação de Pedro Ribeiro (Rádio Comercial), sintetiza perfeitamente o conteúdo do painel “Engineering Memories: a arte de criar ligações emocionais”, moderado por Manuel Vaz (Expanding Group) e que contou também com Nádia Reis (Sonae MC) e Mariana Sousa (Turismo do Porto e Norte Portugal).

Qual foi o último evento memorável em que estiveram? O desafio de Manuel Vaz foi o mote para uma conversa que mostrou que, seja num evento de música e gastronomia, na promoção de um destino ou num programa de rádio líder de audiências, as ligações constroem-se através do que é autêntico. E que é na emoção que está o caminho para o coração dos destinatários, sejam eles consumidores, organizadores de congressos ou ouvintes de rádio.

“Nesta indústria geralmente estamos muito focados na corrida contra o tempo, nas soluções, na capacidade de entregar a tempo e horas e bem e muitas das vezes deixamos para segundo plano aquilo no fundo que é o nosso produto final, que é o nosso evento ser ou não recordado”, admitiu o fundador da Expanding Group.

Criar algo memorável é o desafio diário do Turismo do Porto e Norte, que compete com destinos com orçamentos bastante superiores, mas que, ainda assim, consegue atrair pessoas e grandes eventos, como o 64.º Congresso Mundial da ICCA (International Congress and Convention Association). Neste caso, o segredo passa por transmitir a autenticidade e a essência do destino. Mariana Sousa salientou que essa autenticidade se refletiu não só em campanhas como a “Ofélia de Sousa”, mas também em momentos profissionais que a levaram a perceber que o grande atrativo da região – e do próprio país – é o facto de ter pessoas e experiências autênticas.

E se as experiências memoráveis são facilmente associadas ao turismo, como se cria essa ligação no setor do retalho alimentar? O Festival da Comida Continente é apenas uma das formas como a marca leva emoção a uma relação muito funcional. A componente emocional da comida ajuda a criar essa relação, mas para Nádia Reis há outros aspetos, como a ligação ao futebol, através da seleção, que contribuem para uma democratização do entretenimento e, consequentemente, para essa relação com os consumidores. Lembrou ainda que uma das suas memórias mais marcantes está relacionada com a responsabilidade social, outro ponto importante para estabelecer essa ligação verdadeira com as pessoas.

Para Pedro Ribeiro, a ligação começa na vantagem da rádio enquanto meio e o facto de ser talvez “o mais humano de todos os media”. Nos últimos 20 anos a equipa das Manhãs da Comercial tem criado essa relação especial e verdadeira, que passou também a ser celebrada em palco, num evento que teve já 10 edições. “Não precisas de – entre aspas muito fortes – comprar o teu público com prémios se lhes ofereceres uma experiência e se gerares uma relação verdadeira e empática. Quando me dizem que a Rádio Comercial é uma Love Brand isso é um orgulho enorme, porque isso não tem a ver só com ganhar as audiências, tem a ver com ganhar algo de muito mais profundo”, afirmou.


Sara Correia, Tiago Costa Rocha e Gilda Mendes | © LSM

A IA é útil, mas não substitui o contacto e a empatia

No painel do Clube dos Eventos, intitulado, ‘AI Revolução: artificial ou inteligente?’, Gilda Mendes (Clube dos Eventos) esteve à conversa com Sara Correia (Springevents) e Tiago Costa Rocha (Full Venue). Este último começou por explicar a diferença entre a inteligência artificial (IA) preditiva e generativa: a primeira, que vai fazer poupar tempo, gera informação a partir de informação que já existe; a segunda reside na análise de dados para prever comportamentos e funciona como suporte à gestão e às equipas.

Como pode, então, a IA ajudar o setor dos eventos? Sara Correia afirmou que a IA pode ser útil em todas as áreas, otimizando e rentabilizando o tempo, criando textos, analisando e sintetizando propostas e preparando a apresentação ao cliente, por exemplo. E há muitas ferramentas de IA que podem ser utilizadas nos eventos, seja no check-in, no mapeamento do movimento dentro do evento, na tradução simultânea ou na experiência dos participantes.

Além disso, a IA pode ajudar a melhorar eventos futuros. Tiago Costa Rocha deu o exemplo da análise do controlo de entradas e saídas das salas de um evento, percebendo como decorreu cada sessão, quais foram os temas mais procurados ou que oradores foram mais ouvidos. “Podemos planear o que vai acontecer e temos a obrigação de olhar para o que aconteceu”, frisou.

Sara Correia exemplificou também com um bot desenvolvido na Springevents, que, através da construção de uma história, consegue dar respostas a várias perguntas. E mostrou, em vídeo, como criar um prompt, como criar um assistente para determinada tarefa ou como criar um avatar, que fala várias línguas, para um brilharete numa apresentação.

Tiago Costa Rocha lembrou que “estamos na fase da adoção” e defendeu que é preciso ser “aberto” a esta tecnologia e ter capacidade de adaptação e que as lideranças devem deixar os seus trabalhadores testar a IA.

Contudo, uma coisa é certa: nada paga o contacto, a mensagem, a empatia com um cliente. Para Tiago Costa Rocha, “a capacidade de interagir com outras pessoas vai passar a ser cada vez mais única”, já que estas soft skills são cada vez mais escassas. “Quem conseguir navegar melhor esta onda de saber fazer uso destas tecnologias e, ao mesmo tempo, não esquecer como se relacionar com uma pessoa, como olhar nos olhos de alguém, vai conseguir singrar.”

A IA tem perigos e vantagens e há a necessidade de equilíbrio, alertam os oradores. A legislação ainda é parca, o risco existe e, relativamente às informações, é um ‘work in progress’.


Vasco Teixeira-Pinto, Angelina Castel-Branco, Sandra Santos e Gonçalo Castel-Branco | © LSM

Caos controlado: uma questão de planeamento

O painel “Caos controlado” contou com a curadoria de Gonçalo Castel-Branco (Lohad) e a presença de Angelina Castel-Branco (iMotion), Sandra Santos (Voqin’) e Vasco Teixeira-Pinto (Mossa). Foi uma conversa animada, onde se contaram histórias, casos de eventos com alguns percalços e os oradores explicaram que soluções adoptaram para os resolver. Muitas vezes, há coisas que correm mal nos bastidores, que ninguém nota, que são resolvidas, e o evento é um sucesso.

Mais do que pensar no que pode correr bem, é necessário pensar no que pode correr mal e ter um grande planeamento, com planos B, duplicação de material, no caso de avaria, checklists, testes e ensaios. E é necessário ter resistência para pensar em soluções e outros caminhos, às vezes em segundos. A experiência ajuda e dá ferramentas para lidar com o inesperado, sendo certo que há coisas que não se controlam, por muito planeamento que exista.


O painel “Nativos digitais e os eventos” teve a participação de João Pinto (Terceiro Piso), Leonor Galvão Gomes (Infraspeak) e Miguel Canedo (Liga Portugal) e a moderação de Diana Cunha (Centro de Congressos da Alfândega do Porto) | © LSM

Nativos digitais nos eventos: cinco ideias chave

by Diana Cunha, curadora do Reinvent 2024
Marketing, Comunicação e Eventos no Centro de Congressos da Alfândega do Porto

Nascidos num mundo amplamente imerso nas tecnologias, os nativos digitais têm comportamentos distintos, também no contexto dos eventos. E, para os organizadores, compreender esses aspetos torna-se essencial para criar engagement com este público.

As cinco ideias fundamentais que resumem, na minha opinião, a forma como os nativos digitais se

comportam e interagem em eventos são as seguintes:

1. Experiência digital e conectividade

Antes de mais, há que ter em conta que a experiência começa antes da realização do evento. Cada vez mais, os nativos esperam que os eventos proporcionem uma experiência diferenciadora e integrada com a tecnologia, com recurso a plataformas e apps, como forma de melhorar a imersão no evento. A conectividade é já vista como uma necessidade para este público uma vez que pretendem participar ativamente nos eventos, ter voz, e compartilharem informação em tempo real, interagindo com outros participantes. Isto significa que as experiências híbridas, que combinam eventos presenciais e virtuais, são atualmente mais atraentes para esta geração informada e exigente.

2. Interatividade e envolvimento

Ao contrário das gerações anteriores, que eram naturalmente mais passivas nos eventos (até porque não existia este mundo novo), os nativos digitais esperam poder interagir de maneira ativa. Estão cada vez mais recetivos a integrarem painéis de discussão, votações ao vivo e partilhas de conteúdo em tempo real. E não é à toa que as redes sociais continuam a ganhar utilizadores. Adeptos de um comunicação bidirecional, este público privilegia também a componente de gamificação, através de desafios e recompensas, sendo esta uma maneira inteligente e eficaz de incentivar a interação e o envolvimento ativo nos eventos. Porque na verdade já não chega fazer check-in e check-out!

3. Personalização da experiência

Para os nativos digitais, a personalização da experiência é uma prioridade. Pretendem que o conteúdo do evento seja ajustado aos seus interesses e preferências individuais. A tecnologia pode oferecer ferramentas que permitam que os participantes escolham as suas sessões, as palestras ou as atividades com base nos seus interesses, facilitando uma experiência mais relevante, valiosa e sem perda de tempo. O recurso ao streaming e ao conteúdo gravado é também bastante apreciado pelos nativos digitais porque permite visualizar onde e quando quiserem o conteúdo do evento, beneficiando assim as suas agendas e priorizando o work life balance.

4. Mobilidade e acesso

Fruto da conjuntura atual da sociedade, assistimos hoje a uma inversão do êxodo rural e os nativos digitais tendem a sair dos grandes núcleos urbanos e a irem para a periferia, não só por questões económicas, mas também para fugirem ao ritmo louco da cidade, conseguindo assim dedicar tempo a outras tarefas que lhes acrescentam valor pessoal. E neste prisma, os nativos digitais são altamente móveis e acedem a conteúdo em qualquer lugar, usando dispositivos como smartphones, tablets e portáteis. Nesta lógica, os eventos devem ser projetados para serem acessíveis em múltiplos dispositivos e em diversos formatos, desde a inscrição online até ao valioso networking pós-evento. Esta otimização permite que participantes possam aproveitar o evento sem estarem limitados ao ambiente físico ou a um computador.

5. Importância da rede (comunidade digital) e das redes (sociais)

As redes sociais deixaram de ser só redes sociais e são atualmente uma extensão da identidade humana e um meio global de conexão com outras pessoas. O recurso a esta “antiga”, mas poderosa ferramenta nos eventos, tende a ser valorizada visto que é cada vez mais essencial compartilhar experiências e aumentar a rede, numa Era em que só existe aquilo que é comunicado. Eventos que incentivam este tipo de dinâmicas, onde a criação de conteúdos próprios ganham visualizadores, tendem a ter uma maior visibilidade e impacto significativo na construção da experiência. Em torno desta dinâmica, a criação de uma comunidade online, de um fórum do evento, onde é possível a troca de ideias e experiências, dicas e discussões, é um ponto crucial para aumentar o engagement.

Conclusão

Em suma, com a evolução tecnológica, os nativos digitais representam uma nova geração de participantes nos eventos, cujas expectativas são moldadas pela conectividade, personalização da experiência e interatividade. Organizar eventos que atendam a essas necessidades não só garantem maior engagement, como também proporcionam uma experiência enriquecedora para os participantes.

Adotar tecnologias que permitam mobilidade, flexibilidade, comunicação em tempo real e construção de comunidades digitais será fundamental para o sucesso dos eventos no futuro, mas há que ter em conta o equilíbrio para satisfazer as necessidades de todos.