The World Battle: “Portugal merece um festival destes”

Entrevista

17-09-2024

# tags: Desporto , Festivais , Eventos , Porto

No rescaldo de mais uma edição do The World Battle, Max Oliveira, da MXM, considera que Portugal “merece um festival destes”, mas faltam apoios.

De edição para edição, o The World Battle vai ficando cada vez mais apurado. Max Oliveira afirma que todos os anos é melhor do que no ano anterior e que, este ano, “foi exponencialmente melhor” do que no ano passado.

Nesta edição, que decorreu na Alfândega do Porto, de 28 de agosto a 1 de setembro, foram introduzidas novas modalidades e Max Oliveira destaca vários momentos em modalidades como o skate, BMX, rope jump, street soccer, entre outras. Realça também a “onda incrível” do Red Bull FrancaMente e a congregação de atividades desportivas, “tudo dentro de uma linhagem urbana e de festival”.

Max Oliveira tem a ambição de tornar o The World Battle num “festival da cidade”, um festival “bem diferente de tudo o que é normal”, e que as pessoas o vejam como um local onde se podem divertir. “Porque vale a pena”, assegura, vale a pena ir, ouvir música, comer e beber enquanto se assiste à prestação de “incríveis atletas de várias modalidades desportivas”, que podem influenciar “a boas práticas” e a um futuro melhor, “a fazer coisas completamente contemporâneas e que fazem sentido na sociedade em que vivemos”.

O ISAG – Instituto Superior de Administração e Gestão foi parceiro do The World Battle. Por isso, nesta edição, foi realizado um estudo sobre o evento e o seu impacto. É que o festival urbano acolheu, só no que toca à modalidade de breaking, mais de 1.500 atletas de 90 países, que trouxeram família e amigos. Espera-se por isso um impacto turístico muito relevante.

A organização já trabalha no evento do próximo ano e Max Oliveira revela que desportos urbanos gostava de introduzir. “Para o ano, gostava muito de ter a escalada. Já estamos em conversações. E gostava muito também de ter street basket. Se conseguirmos levar isto um bocadinho ali para o mar, também gostava muito de ter surf e bodyboard.”

“Se tivesse mais limões para a limonada…”


Entre os principais desafios de organizar um evento que tem vindo a ganhar dimensão, a questão económica é o primeiro a ser apontado. “O investimento é escasso”, frisa. “Todos os anos, coloco a forca na garganta e espero não morrer. Todos os anos. E é pena que eu tenha sempre que organizar isto a medo, sob areia movediça, pela falta de apoio. Porque os apoios que temos, quando somados, não chegam a uma percentagem minimamente perto do confortável do investimento global.”

Além dos apoios insuficientes, há ainda a inflação que não ajuda, por estar tudo “extremamente caro”. As despesas aumentam a vários níveis: alojamento, alimentação, transportes... Ainda por cima, com a notoriedade que as modalidades estão a ganhar, hoje não chega que um atleta ganhe “um diploma e uma t-shirt”. No The World Battle, no conjunto das modalidades, o prize money esteve perto dos 100 mil euros.

“Se queremos olhar para o topo e ter o topo, o investimento e a estrutura têm que estar de acordo com ele.” No plano da produção, Max Oliveira refere que “se tivesse mais limões para a limonada…” Mesmo sem limões ou ovos, “continuo a fazer as omeletes”. “Sei exatamente o que queria fazer se tivesse os meios para. E, às vezes, não são só económicos”, já que os apoios “podem ser dados de outra maneira”.

Outra “grande dificuldade”, mas já de ordem mais técnica, prende-se com o encaixe de tantas atividades em tão poucos dias. “É muita coisa a acontecer; ou seja, aquilo é uma loucura.” Os dias de evento começam às 10h com formação e terminam às três ou quatro da manhã em festa. “E é isto, desde quarta até segunda-feira. E sempre cheio. Tudo. Por todo lado.”

A logística é muita e há trabalhos em vários sítios, o que obriga ao cumprimento dos horários e à preparação e competência de todos os envolvidos, da organização ao staff, dos oficiais técnicos até aos DJ. E nada pode falhar.

Tendo chegado um dia antes do The World Battle, devido à sua participação como host de breaking nos Jogos Olímpicos de Paris, Max Oliveira destaca a sua “equipa extraordinária” e da qual tem muito “orgulho”. Essa confiança permite que o fundador da MXM possa trabalhar ao nível do networking. “Tivemos aqui pessoas do governo do Japão, do Reino Unido, pessoas dos ministérios do Desporto de vários países, imprensa de vários países e é importante também estar disponível para poder receber essas pessoas e dar-lhes um mínimo de atenção”, explica.

Todos os anos, Max Oliveira se questiona se deveria realizar o evento noutro país. E até já teve convites. Atualmente, em cima da mesa estão dois convites oriundos da Ásia e até haverá a possibilidade de lá organizar a qualificação, mas mantendo o main event no Porto. É que para o ano o The World Battle celebra 20 anos de existência, pelo que “não faria muito sentido deslocá-lo”.

Mas não é só por isso. E num cenário ideal, com todos os apoios à disposição, Max Oliveira não duvida que o faria sempre ‘em casa’. “Acho que Portugal merece um festival destes. Acho que é a cara do nosso país, sinceramente. Nós somos a west coast da Europa. E se há um sítio que se assemelha a uma Califórnia para melhor é Portugal”, com a sua costa de praia e “um lifestyle que se coaduna totalmente com este tipo de festival”.

“A minha pergunta será sempre quando é que vou ter esse apoio, como é que ele vai chegar, para poder fazer deste festival um festival realmente para Portugal, sempre e nem pensar na possibilidade de ele sair daqui”, sublinha.

“Estamos a fazer um trabalho consistente e que fala por si”


O festival cresceu e o mercado de eventos da MXM também. A gestão deste crescimento é feita “com muita determinação, muita força de vontade e com uma excelente equipa, acima de tudo”. Max Oliveira deita-se tarde, levanta-se cedo e, pelo meio do caminho, há muito trabalho e muito foco. “Não há tempo a perder, para se poder trabalhar a este ritmo.”

Todo este trabalho tem levado ao reconhecimento da agência. “No mundo dos eventos, a MXM não era conhecida, ainda há pouco tempo. Já está no mundo dos eventos há muito tempo, mas, diria, éramos quase meros fornecedores artísticos”, aponta, acrescentando: “Nos últimos anos, se calhar no pós-pandemia, houve aqui um reconhecimento da MXM como produtora. E a verdade é que a MXM está a ter esse crescimento, porque eu acho que existe qualidade”.

E isso é algo que tem feito com que a empresa tenha vindo a arrecadar muitos clientes. “Sinto que, realmente, vamos ganhando cada vez mais clientes exigentes, bons e de calibre, mas porque estamos a fazer um trabalho consistente e que fala por si.”

E se tudo correr como é previsto, a empresa pode ter “um aumento entre os 30% e os 40%”, ao nível de faturação, ou seja, cerca do dobro do registado no ano passado, cujo o crescimento foi de entre 15% e 20%. “Pode não chegar lá, mas podemos ter esse aumento”, indica.

Ainda assim, as feridas causadas pela pandemia não ficam totalmente sanadas. Segundo Max Oliveira, isso deverá acontecer, no limite, em 2027. Na pandemia, “a maior parte das empresas teve apoios, mas a MXM não tinha para onde se virar… E não despediu uma pessoa, não fechou portas, não fechou nenhuma das suas parcelas, nada. Teve, obviamente, de se comprometer financeiramente. E está a pagar por isso. E isso ainda mantém a empresa num estado mais frágil do que era desejável.”

Se a MXM tivesse “as asas bem abertas para voar”, o evento era algo que até poderia ser feito de outra forma. “Neste momento, não temos como arriscar, porque a qualquer momento... Nós sabemos como oscila o mundo dos eventos. Nada é garantido”, conclui.

© Cláudia Coutinho de Sousa Redação

© Maria João Leite Redação