Max Oliveira: ser host nos Jogos Olímpicos “foi uma experiência de vida”

Entrevista

13-09-2024

# tags: Desporto , Eventos , Jogos Olímpicos

Max Oliveira, da MXM, empresa que organiza o The World Battle e faz produção de eventos, foi o main host da modalidade de breaking, nos Jogos Olímpicos de Paris.

“Foi uma experiência de vida. Foi algo que eu acho que nunca vou esquecer”, começa por contar Max Oliveira, que destaca a dimensão do evento na Praça da Concórdia: “24 mil pessoas; bilhetes vendidos em 24 horas – isto são factos –; bilhetes licitados online a 11 mil dólares; 10 mil pessoas à porta para entrar, sem o conseguirem, que ficaram a ver o evento num ecrã gigante; broadcast que ultrapassou mais de mil milhões de pessoas; e poder conhecer em dois dias uma grande parte dos meus ídolos, que eu não consegui conhecer em anos e anos.” A “cereja no topo do bolo”, acrescenta, foi “poder apresentar e fazer a abertura ao lado do Snoop Dogg”.

Max Oliveira realça toda a experiência. “Acho que nunca vou esquecer isto. O grande orgulho de estar ali com a bandeira de Portugal, sempre que aparecia o meu nome na televisão… Sinto-me muito orgulhoso.”

Até surgir esta oportunidade, houve um trajeto de trabalho percorrido. A organização havia definido a existência de dois hosts do evento, um francês e um não francês. “Foram colocados vários nomes na mesa, obviamente. Há nomes que têm um trajeto semelhante ao meu, de décadas a fazerem hosting e apresentação dos maiores eventos de várias modalidades desportivas, nomeadamente o breaking.”

Em eventos conectados com a World DanceSport Federation e com o Comité Olímpico Internacional, Max Oliveira passou pelos cinco continentes, como host de vários Continental Games e qualificações. Tudo somado, o resultado foi a escolha para host nos Jogos Olímpicos de Paris, “o que me deixou obviamente muito feliz”.

“Achei, efetivamente, que tenho muito para aprender”


Para Max Oliveira, é muito surpreendente “a magnitude organizacional [dos Jogos Olímpicos], que faz com que eu, como organizador e produtor de eventos desportivos, tenha ali, diria, um doutoramento de organização”. A estrutura envolve o comité de organização local [LOC], os oficiais técnicos nacionais [NTO] e internacionais [ITO], diversas entidades e federações. “E a maneira como tudo isto se conjuga é uma lição. Depois, tudo isto se transporta para os eventos que se acaba por fazer no dia a dia, de pequena dimensão.”

Um dos ensinamentos foi a forma como “algo tão visto e tão reconhecido como é o caso de Jogos Olímpicos” pode ser reinventado, desde a cerimónia de abertura ao encerramento, às modalidades escolhidas, explica. “Senti que foi um refresh gigante nos Jogos Olímpicos”.

Destaca ainda a colocação do breaking e das modalidades urbanas na Praça da Concórdia, “numa das zonas mais caras, mais nobres de Paris”; o fator inclusão, porque os Jogos Olímpicos não são “uma reunião dos melhores atletas do mundo, mas uma reunião dos melhores atletas do mundo segundo princípios de universalidade e de inclusão”; e até a estética – as cores, a decoração, as estruturas…

Uma segunda-feira “muito mais política” do que o esperado


Com muita curiosidade para saber como iria ser a segunda-feira após os Jogos Olímpicos, Max Oliveira confessa que foi “diferente” do que tinha em mente, por ter sido “muito mais política do que aquilo que eu esperava”.

E a política continua, “devido ao êxito do breaking”. Refere que outras federações “temem que o breaking continue num lugar de destaque” e que “tiraram proveito desta publicidade absurda à volta da B-Girl Raygun [a australiana Rachael Gunn, que foi alvo de piadas e críticas por não ter pontuado em nenhuma das apresentações nos Jogos Olímpicos] e à volta de outras situações que são as menos importantes”. Max Oliveira sentiu que querem travar o crescimento da modalidade, “obstrução” que, no entanto, se foi diluindo.

“Graças aos Jogos Olímpicos, essa segunda-feira fez com que a modalidade passasse a não ser desconhecida já para a maior parte da população. É isto que sinto. As marcas e as entidades, agora sim, escutam-nos e estão dispostas a conversar sobre futuros investimentos e futuras produções”, indica.

A polémica em torno da participação de Raygun acabou por fazer com que houvesse mais curiosidade em torno do breaking – que “bateu todos os recordes de pesquisa de Google” em relação a outras modalidades –, o que levou a que muitos milhões se deixassem surpreender, pela positiva, com este desporto.

Max Oliveira lembra que a não presença do breaking nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028, nada tem a ver com a polémica, sendo algo que já estava definido, mesmo antes do evento de Paris.

Ouro e Prata no The World Battle


Max Oliveira não faz ideia do que esta experiência vai fazer pelo seu futuro. “Acho que fui descobrindo pouco a pouco o que não queria, mas nunca soube bem o que queria.” Para já, só sabe que tudo isto levantou a curiosidade das pessoas em relação ao breaking e até alguma popularidade.

Por outro lado, Max Oliveira considera que notou algum impacto no The World Battle, que decorreu na Alfândega do Porto, de 28 de agosto a 1 de setembro, e que contou com a presença de milhares de atletas, entre os quais aas atletas que venceram as medalhas de Ouro e de Prata dos Jogos Olímpicos, a quem tira o “chapéu” pela prova de humildade. Afinal, depois de todo o mediatismo, foram ao Porto, onde se sentaram no chão “a comer uma fatia de pizza” e a seguir foram dançar. “E está tudo bem.”

© Cláudia Coutinho de Sousa Redação

© Maria João Leite Redação